sábado, 17 de outubro de 2009

Pecado original e política


Mistério de uma liberdade
humana ferida

Já várias vezes tentei aqui explicar que o chamado pecado original tal como habitualmente é interpretado - um pecado de Adão e Eva, de origem sexual e transmitido sexualmente - foi sobretudo obra de Santo Agostinho e não tem raiz bíblica.

Mas há uma verdade no pecado original: quer referir-se ao mistério de uma liberdade humana ferida. Porque é que a vontade não é sempre boa? Há um lado obscuro da liberdade. Somos seres morais, mas não fazemos sempre o bem, de tal modo que R. Niebuhr afirmou que o pecado original é a única doutrina cristã empiricamente verificável. E o filósofo agnóstico M. Horkheimer também disse que era um dogma que ele aceitava.

Três impulsos fundamentais movem o ser humano: o prazer, o ter e o poder. Provavelmente, o mais forte e abrangente é o do poder, de tal modo que Adler poderá ter mais razão do que Freud. No limite, o homem sonha com a omnipotência, porque ela o libertaria da morte, e aí está a razão por que o poder é a tentação maior. Como escreveu E. Canetti, "Dos esforços de uns tantos para afastar de si a morte surgiu a monstruosa estrutura do poder. Para que um só indivíduo continuasse a viver, exigiu-se uma infinidade de mortes. A confusão que surgiu disso chama-se História".

Nunca estaremos suficientemente gratos aos gregos pela invenção da democracia, segundo a qual todos os cidadãos têm direitos políticos iguais. Ninguém está acima da lei, que deve ser obedecida por todos. Que mandem todos não é natural. Natural é que mandem os mais fortes, os mais espertos, os mais ricos, os que estudaram mais, os astutos, os santos. Como escreveu Fernando Savater, "que o poder seja coisa de todos, que todos intervenham, falem, votem, elejam, decidam, tenham ocasião de equivocar-se, procurem enganar ou permitam que os enganem, protestem... isso não é coisa natural, mas um invento artificial, uma aposta desconcertante contra a natureza e os deuses. É uma obra de arte. Os gregos foram grandes artistas: a democracia foi a obra-prima da sua arte, a mais arriscada e inverosímil, a mais discutida".

A política é actividade nobre e são de saudar sempre aqueles que generosamente se entregam à causa pública. Mas há a advertência de Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, exceptuando todas as outras." Também para avisar que não é perfeita e que tem defeitos. A ameaça maior é o poder e o seu exercício.

Afinal, o que fará correr tanto tantos políticos? Lá andam eles e elas a palmilhar o país de cima abaixo, de lés a lés. Dormirão bem e o suficiente? Têm de ouvir o que ninguém gosta. Beijam quem lhes não agrada, enrugadas e mal cheirosas. Apertam mãos sujas. Nas famosas arruadas - que palavra que tão mal soa! -, esbanjam sorrisos, têm de sorrir, sorrir sempre, mesmo sem vontade. Têm de fazer promessas que sabem não poder cumprir. Em vez de esclarecerem os cidadãos, tentam tantas vezes enfeitiçá-los com discursos de sofistas. Claro que a política também é jogo, mas há tanta intriga e inveja e cilada que o espectáculo é, por vezes, pícaro e deplorável...

O poder traz prestígio, mesmo que suposto. E benesses de todo o género. E sedução e luxos e exposição e fama. E precedências e continências nas paradas e guardas de honra. E dinheiro e convívio com os grandes deste mundo. E a ilusão de que se deixa uma marca na História. E a imposição da própria vontade. E a aparência da imortalidade pelos feitos. O poder - quem o repetiu foi um político nosso, famoso - é o maior afrodisíaco.

Não é sempre assim, mas o perigo espreita. O risco é servir-se em vez de servir. Ou servir alguns apenas e não o bem comum. Corromper e deixar-se corromper. Não respeitar a separação de poderes e, concretamente, a independência do poder judicial. E que acontecerá quando o poder, mesmo conquistado legitimamente, se exerce sem competência intelectual, moral e técnica?

A tentação é tamanha que mesmo na Igreja se esqueceu a revolução única do cristianismo: Deus não se revelou como omnipotência abstracta, mas força infinita do amor criador. E Cristo disse: "Não vim para ser servido, mas para servir."

Anselmo Borges

In DN



Uma boa notícia para começar o dia: Portugal recebe primeira edição literária da Bíblia



Evangélicos lêem mais a Bíblia

"A Sociedade Bíblica vai anunciar uma nova tradução da Bíblia, inédita em Portugal: pela primeira vez, estará disponível uma edição literária, isto é, sem indicação de capítulos, versículos ou subtítulos. Esta edição, preparada por uma equipa de tradutores católicos e protestantes, será apresentada a 20 de Outubro pelo escritor Francisco José Viegas. A comercialização será feita pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates.

Na mesma ocasião, serão apresentados os resultados de uma sondagem inédita sobre a leitura da Bíblia em Portugal. De acordo com alguns dados a que o Público teve acesso, quase toda a população (mais de 97 por cento) conhece a Bíblia. No que toca à leitura, quase dez por cento já leram o texto integral, enquanto 90 por cento dizem ter lido passagens soltas.
As categorias que menos lêem a Bíblia são os católicos não-praticantes e os ateus. Dez por cento dos que responderam ao inquérito consideram-se ateus e agnósticos. Entre estes, nove por cento de ateus e seis por cento de agnósticos não conhecem a Bíblia e manifestam resistência à ideia de conhecer o texto. Os que mais lêem estão entre os protestantes/evangélicos e as Testemunhas de Jeová - em conjunto, são 2,3 por cento da população, mas todos leram a Bíblia e quase todos têm um exemplar."

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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dia Mundial da Alimentação




An Apple a day, keeps the doctor away!


Hoje, dia 16 de Outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. Uma data para reflectir e é bom que faça gerar alguma controvérsia, entre as pessoas.
Por ironia do destino, ao chegar ao local de trabalho deparei com um acréscimo de iguarias, no bar, constituídas por doces suculentos e apelativos. Não que houvesse qualquer intencionalidade de contrariar os objectivos pedagógicos da efeméride, mas simplesmente como resultado do sentido de partilha que se vive na Escola. Ainda não percebi muito bem, ou talvez não queira aprofundar a questão, do motivo, pelo qual os aniversariantes, festejam a alegria, do dom da vida, com os famigerados bolos de aniversário, ou outros de qualquer espécie!
Por que não oferecer uma cenoura, que contendo caroteno, contribui para embelezar os olhos, tão do agrado das senhoras? Um tomate, cujo componente licopene, antioxidante, combatendo os radicais livres, mantém a juventude das células por mais tempo? Uma maçã, que segundo a tradição, comida à razão de uma por dia, afasta o médico? (An Apple a day, keeps the doctor away!) Tudo isto seria a alternativa ao consumo excessivo de glicose e contribuiria para uma vida mais saudável. Mas.....ninguém tem esta ideia peregrina de ser vegetariano, no dia do seu aniversário!
É um hábito salutar nesta instituição de ensino, a partilha da alegria da comemoração, consubstanciada numa fatia de bolo! Hoje, que todos deveríamos comungar do desiderato de viver + saúde, ninguém se absteve de degustar o sabor excelente da dádiva dos colegas. Por que será que a doçura vem indelevelmente associada à alegria, à felicidade? Amarga, já basta a vida! - dizem alguns! Por isso, o sweetheart inglês, traduz bem essa interligação entre dois prazeres diferentes: o físico e o espiritual! Andam de braço dado, como os amantes!
No entanto, isso não impediu que uma reflexão pairasse na minha mente sobre os desequilíbrios que existem no planeta terra, no concernente ao tema. Durante o dia de hoje, fui bombardeada com notícias sobre o factor obesidade que engrossa os seus números, especialmente no grupo da infância /juventude.
Ainda recordo as cenas que pela vida fora tenho observado, dos malabarismos que as jovens mamãs fazem para “enfiar” a sopinha aos seus rebentos, quando eles fazem birra e rejeitam o alimento. Desde as “aterragens” forçadas dos aviões na careca dos avôs, dos passeios pelo quintal, distraindo as adoráveis criancinhas, como se estivessem a infligir-lhes algum suplício (Comer para elas parece que é!), até às mais estranhas cenas de persuasão e ou intimidação, tudo acontece para dar de comer a quem não o quer!
Do outro lado está essa multidão de crianças e adultos, que morre à fome e não tem uma côdea de broa para mitigar a fome. É revoltante, chocante e deprimente constatar esta discrepância entre a abastança de alguns que engordam desmesuradamente e aqueles que numa subnutrição escandalosa, definham e morrem à míngua.
As desigualdades sempre me fizeram pensar e sofrer, pois há crianças que são vítimas inocentes da má distribuição da riqueza.
E......há muita gente que come mal, muito mal, por excesso e falta de critério de escolha, basta relembrar os malefícios do fast food; outros sem possibilidade de escolha não têm uma migalha para deitar à boca! Esses nem sequer comem!
Estranha esta injustiça humana, que não pára de crescer! Ainda há pouco tempo circulava na net, a imagem cruel duma criança desnutrida, a sucumbir à fome e a ser cobiçada pelas garras de um abutre!
Era bom que os detentores do poder fizessem alguma coisa para minorar estas diferenças e atenuassem o sofrimento dessas crianças. Há muito ainda por fazer e que urge ser alvo de consideração.

M.ª Donzília Almeida

16.10.09

COLÓQUIO: Falas do Mar / Falas da Ria

O Colóquio “Falas do Mar / Falas da Ria” resulta de uma colaboração entre o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (IELT) da Universidade Nova de Lisboa – com especial relevo para os projectos “Falas da Terra: Natureza e Ambiente na Tradição Popular Portuguesa” e “Práticas da Cultura” – , o Museu Marítimo de Ílhavo e o Centro de Estudos Interculturais (CEI) do Instituto Politécnico do Porto.
“Falas do Mar / Falas da Ria” é dedicado a todo o riquíssimo património oral, literário, documental, pictórico, fotográfico e multimédia existente – do passado e do presente – sobre as práticas culturais, representações, valores, comportamentos, simbologias e discursos ligados ao Mar em geral e à Ria de Aveiro em particular.
A perspectiva interdisciplinar deste Colóquio conta com a contribuição de investigadores, criadores e narradores capazes de encetar uma busca comum e comparada do conhecimento, com a preocupação de ligar a investigação bibliográfica e multimédia à experiência de vida e do terreno.
Ciente de que as comunidades do Mar e da Ria organizam o seu quotidiano em diálogo constante com o meio circundante, este Colóquio explora o modo como a tradição canta, conta, simboliza, representa, desenha, transfigura, questiona e perpetua essa interacção, tanto no real como no imaginário.
As rotas desta navegação pelas Falas do Mar e da Ria passam pelos usos da memória, pelas histórias de vida, processos artísticos e sociais, hábitos de trabalho e mobilidades, tempos, territórios, identidades, cerimónias, técnicas e rituais. Viaja entre - e intra-culturas, não só no espaço e no tempo, mas também entre os diversos conceitos de cultura. Um projecto inter/intracultural coordena em si as leituras plurais do termo, incluindo desde a cultura popular, a cultura de massas e as definições sócio-simbólicas da cultura, até à cultura erudita, académica e institucional. Para que a viagem do conhecimento possa seguir rumos por todos navegáveis, sem se perder nos meandros do hermetismo erudito.

Contactos:
Museu Maritimo de Ílhavo www.museumaritimo.cm-ilhavo.pt - museuilhavo@mail.telepac.pt
Av. Doutor Rocha Madail, São Salvador, Ílhavo - 234 329 990
IELT/FCSH/UNL www.ielt.org - instielt@gmail.com
CEI / ISCAP / IPP www.iscap.ipp.pt/~cei - cei@iscap.ipp.pt

Fonte: Texto promocional do Colóquio

No Museu Marítimo de Ílhavo: Humanismo cívico e horizontes universais em Camões



José Carlos Seabra Pereira, catedrático da Faculdade de Letras da Universiadade de Coimbra, vai estar em Ílhavo no próximo dia 24 de Outubro, sábado, pelas 18.30 horas,  no museu, para proferir uma conferência, subordinada ao tema Humanismo cívico e horizontes universais em Camões, inserida nas comemorações  do 8.º aniversário da ampliação e remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo. A iniciativa é da Câmara Municipal e da Confraria Camoniana de Ílhavo.

A falta de cinemas na Gafanha da Nazaré

Ao ler o artigo do meu amigo Fernando Martins (FM) sobre o lançamento do CD de Jacinta e o facto de não existir na Gafanha da Nazaré um espaço onde se possa ver cinema trouxe-me à memória vários episódios que devem pôr FM e os seus leitores de sobreaviso.

Nos meus tempos de Coimbra existiam na cidade quatro salas de cinema e todas elas concorriam entre si e raro era o fim-de-semana em que as salas não estavam esgotadas. Isto, é claro, porque não existia a televisão e mesmo no início tudo decorria com normalidade.

Em Aveiro havia quatro salas também sempre com boa frequência e em Ílhavo havia um cinema que, segundo os naturais da época, dava para as despesas, além de cinema no Illiabum Club.

O mundo não pára e, em Coimbra, neste momento, das quatro salas, só existe uma, além, é claro, das salas dos Centros Comerciais, que pertencem a grupos privados internacionais. O mesmo acontece em Aveiro, e em Ílhavo acabaram, à excepção de, recentemente, existir cinema no CCI, com filmes que estão actualmente no circuito comercial.

Mas, segundo FM, devia ser a iniciativa privada a dinamizar um cinema na Gafanha da Nazaré. Desculpa, amigo, mas é pura demagogia e isto porque, quem é o empresário que investe para perder dinheiro? Ou será que passados uns dias estaria a pedir subsídio à Câmara, porque estava a prestar um serviço público como algumas instituições privadas têm feito?

Aveiro com dois espaços onde existem várias salas, com sessões em que não há ninguém nas salas. Em Ílhavo, e segundo a minha observação, em média são 10 a 20 espectadores por sessão e, volto a repetir, em filmes actuais.

Estas observações fazem-me lembrar um responsável partidário do Concelho que um dia me diz: Não vou e não aconselho ninguém a ir a manifestações sejam quais forem, que, de alguma forma, possam aumentar a estatística de realizações do actual executivo camarário. E, FM, não é que é mesmo verdade!

Sou visitante do Museu de Ílhavo, da Biblioteca e do CCI. Pois bem, há gente de Ílhavo que eu conheço que, nestes 12 anos, nunca foi a estes espaço de cultura, mesmo quando há grandes manifestações culturais, acontecendo muitas vezes estar mais gente de fora do que residentes na cidade.

Como podem os privados ganhar dinheiro com a cultura?

Aproveito para te sugerir que publicites no teu blogue os filmes que decorrem no CCI. É uma forma de contribuíres, ou melhor, de continuares a contribuir para a cultura desta região que, por vezes, é tão maltratada pelos seus “naturais”.

C. Duarte

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A minha resposta

Meu caro Carlos Duarte

Não queiras, por favor, retirar-me a capacidade e o direito de sonhar e de acreditar que os privados também podem e devem investir na cultura, sem pensarem sempre no (malfadado) lucro. Estás a pensar, se calhar, nos pobres privados que mal ganham para comer. Há por aí empresários com muita capacidade, que bem podiam tornar-se nuns mecenas. Mas se não houver, paciência… Pode ser que um dia isso possa acontecer. Sobretudo se por algum passar um raio luminoso e inspirador de valores mais altos, para além da conta no banco.

O cinema é uma extraordinária fonte de cultura, considerada até a sétima arte. Nessa linha, por exemplo, seria interessante que o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré passasse a oferecer cinema de qualidade algumas vezes por mês.

Afinal, as muitas salas de cinema dos centros comerciais, onde tenho ido, ainda não fecharam, apesar de terem sessões com apenas meia dúzia de pessoas. E se assim é, temos de crer que é possível haver cinema para quem quiser, com regularidade. Aliás, disseste que a concorrência, em Coimbra, ajudou a encher salas aos fins-de-semana. Em Ílhavo, como não havia concorrência e a sala não era grande coisa, teve logicamente de fechar.

Acredito que toda a actividade, cultural ou outra, pode sobreviver com projectos concebidos e desenvolvidos com apoio de especialistas, à altura de criarem estruturas rendíveis. Não sou eu nem tu, certamente, que vamos pensar em projectos económico-culturais, mas não posso deixar de imaginar que outros o possam fazer. O cinema de hoje não precisa de salas grandes e de despesas incomportáveis, penso eu. E podiam, com sentido de oportunidade, ser aproveitados espaços polivalentes e funcionais, abertos a várias vertentes artísticas e com promotores à altura. Como está a acontecer com bastantes Centros Culturais do país. Tal como em Ílhavo. E neste caso, ainda não ouvi a nossa autarquia a queixar-se com falta de clientes da cultura. O cinema, sozinho, não será economicamente atraente para os empresários. Mas não seria viável associar um conjunto de artes compatíveis, de forma a que o prejuízo de umas fosse coberto pelo lucro de outras?

Sobre a participação do povo nos espectáculos, concordo que não está muito bem. Há gente que prefere ficar pelos cafés e em casa a ver a triste televisão que temos; há gente que gosta mais de frequentar bares, à noite, para beber uns copos (direito, lógico, que lhes assiste), do que ir ao cinema. Há quem prefira ler e escrever, pintar ou ouvir música. Neste momento, por sinal, estou a ouvir a Antena Dois… É quase meia-noite. Mas se o cinema ainda mantém o seu mistério e a sua actualidade, que a todos fascinam, então podemos e devemos sonhar, coisa que não faz mal a ninguém. Eu, pelo menos, continuarei a sonhar, porque o sonho, tenho a certeza, comanda a vida, como diz o poeta.

Quanto às divulgações que faço, daquilo que considero importante, cá continuarei, apesar de não ter muito tempo para isso. Se calhar, talvez devesse sair um pouco mais de casa, para ir ao cinema. Pode ser que amanhã o faça, se houver filme que me cative. Em Aveiro, claro, porque na cidade da Gafanha da Nazaré não há salas de cinema.

Um abraço, sem demagogias

Fernando Martins



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mais um Livro de Aida Viegas



Só a arte de viver
nos proporciona o equilíbrio

“Rios de Fogo e Madrugadas de Luz” é mais um livro de Aida Viegas, que vai ser apresentado no sábado, 24 de Outubro, pelas 16 horas, no Espaço Museu da Sé de Aveiro. A sessão terá animação musical do Grupo de Bandolins da Academia de Saberes.

Mais um livro de Armor Pires Mota


“Igreja de Oiã
no altar da memória”

“Igreja de Oiã no altar da memória”, a mais recente obra de Armor Pires Mota, irá ser apresentada, quarta-feira, 28 de Outubro, dia de São Simão, Padroeiro da Freguesia de Oiã, por D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro.
É um completo e rigoroso registo documental sobre a Igreja Matriz, Igreja-Mãe da Freguesia de Oiã. O esforço de recolha documental foi ao ponto de o autor ter conseguido reconstituir a listagem dos párocos de Oiã durante três séculos, acompanhada de pequenas biografias.
Esta é uma obra para nos lembrar o importantíssimo papel que a Igreja, nas terras de Oiã, tem desempenhado na salvaguarda do seu património que, no fundo, também o é de todos nós.
Esta obra literária é apenas mais uma contribuição a juntar a uma vastíssima bibliografia que faz de Armor Pires Mota o autor desta terra (e da Bairrada) mais produtivo das últimas décadas e dos seus escritos matéria incontornável para quem queira saber algo da história, da cultura ou do património oianense e concelhio.
“Igreja de Oiã no altar da memória” foi oferecido na sua totalidade à Fábrica da Igreja Paroquial de Oiã pelo autor e a receita das vendas reverterá a favor do Museu Paroquial.
Depois da celebração da eucaristia, pelas 20 horas, presidida pelo Bispo de Aveiro, seguir-se-á a apresentação do livro por D. António Francisco, que prefaciou a obra, no Centro Paroquial.

 

O FIO DO TEMPO: A inquietude de Saramago(s)

1. Logo que no ano 2005 saiu a obra As Intermitências da Morte do escritor José Saramago, veio a claro a inquietude de não deixar indiferente a questão do sentido da vida e do destino humano para além do visível. A frase inicial dessa obra é lapidar: «No dia seguinte ninguém morreu…». Abre, assim, uma ampla reflexão sobre a vida e a morte, o vazio ou o sentido da existência. Haverá que ter olhos para ler e compreender Saramago, particularmente nestes últimos anos. Todos os autores têm tantas fases literárias como etapas humanas de sua reflexão e mesmo filosofia de vida. Ninguém duvida que na fase da inteira autonomia humana, na época de todas as forças físicas pessoais e da lucidez mais apurada um certo “super-homem” se pode apoderar de si mesmo gerando ideias de dar valor absoluto ao que é só humano…

Um Livro de Teresa Reigota


“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”

“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia.
Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional.
Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante não só manifestar a agradável impressão que a sua leitura me suscitou, mas também estimular a nossa juventude para que se embrenhe nestes estudos, fundamentais à cultura da identidade do povo que somos e que queremos continuar a ser, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos valores que enformam a nossa sociedade.
Garanto, aos meus amigos, que a leitura deste trabalho da Teresa Reigota, inacabado como todas as obras do género, suscitará em cada um a revivência de estórias iguais ou semelhantes às que a autora agora nos oferece. E como recordar é viver, estou em crer que todos aceitarão a minha proposta.

Fernando Martins

Comunhão e pluralismo na igreja



Concílio para limpar
o rosto da Igreja


Os meios de comunicação social falaram largamente da intervenção do Cardeal José Policarpo, no Simpósio do Clero. Alguns viram nas palavras proferidas uma clara advertência a bispos e padres quando, na Igreja, expendem opiniões que põem ou podem bulir com a unidade, a comunhão e a aceitação do magistério do Papa.

Não está em causa que a unidade da fé, a comunhão na caridade e a adesão fraterna ao Sucessor de Pedro são elementos fundamentais para a vida da Igreja de Cristo. Também não está em causa que defendê-las e estimulá-las é missão diária do bispo e, logicamente, dos seus mais imediatos colaboradores, os presbíteros. No entanto, é necessário que, ao mesmo tempo, se tenha presente que, na Igreja, não há só verdades intocáveis, mas há, também, um espaço de liberdade de opinião, aceite e recomendado, para saber interpretar e estimular a vivência, à luz da realidade, pessoal e social, das verdades de sempre. A leitura dos sinais dos tempos, recomendada pelo Vaticano II, não é privilégio, direito ou dever da hierarquia, mesmo entendendo esta, como deve ser, um serviço permanente, em nome de Deus, à Igreja e ao mundo das pessoas.

Na Igreja, sem que se tenham apagado ou esquecido as verdades essenciais, foram-se multiplicando, ao longo da história, costumes e hábitos, que geraram normas e orientações, encostados à doutrina. Em muitos casos não eram mais que fruta de uma pobreza espiritual em que o essencial da fé andava arredado das preocupações de muita gente. Muitos responsáveis da Igreja deixaram-se invadir pela tentação de esta ser uma sociedade vazada à maneira de senhores, fidalgos e poderosos, e modelada por critérios meramente temporais e profanos. Assim se foram introduzindo situações espúrias, marcadas pelos ventos do tempo, que recolhiam o proveito de quem na Igreja, as desejava, admitia e por elas lutava. Criou-se, então, uma sociedade semelhante àquela que Jesus Cristo, por via de uma revolução activa, mas pacífica, denunciou e alterou, por ser contrária aos seus valores. Foi neste contexto que pregou o Reino de Deus, chamou e formou os que livremente aceitaram segui-lo e se tornaram Seus discípulos. O Seu projecto não podia ser alterado e deviam estar atentos a quanto o podia desvirtuar. Um trabalho que se foi fazendo ao longo do tempo, por cristãos fieis e corajosos, profetas e santos, sempre com não poucas dificuldades.

Porém, os séculos que identificaram a Igreja com o mundo, no propósito de que todo o mundo fosse Igreja, levaram esta a obedecer a critérios e a seguir caminhos que não eram os seus, carregando-a de excrescências inúteis onde não cabiam os valores evangélicos. Muitas delas ainda aí estão, visíveis e luzidias, a ilustrar tempos que passaram e não são de recordar, mas que parecem agradar a quem prefere mais os ornatos e as aparências passageiras, que a verdade permanente e consistente.

O Espírito que dá a vida e renova todas as coisas, foi dando luz e fortaleza a membros da Igreja - bispos, padres, religiosos e leigos - para denunciarem caminhos de uma uniformidade que não nascia da fé e limparem inutilidades, que pesavam sobre os cristãos e suas comunidades, e denunciavam, à maneira profana, uma grandeza que não vem da fidelidade a Deus, nem ao Evangelho. Os profetas escolhidos foram fieis à sua fé, mas desprezados e perseguidos por gente que defendia interesses instalados. Francisco de Assis encarnou a denúncia de um Evangelho que não era o de Cristo. Chamaram-lhe louco. Rosmini ousou, corajosamente, apontar as “chagas” da Igreja. Foi condenado e só muito mas mais tarde recuperado como profeta. A lista podia continuar.

João XXIII surgiu inesperado. Convocou um Concílio, dizia ele, para limpar o rosto da Igreja, em muitos aspectos confuso e conspurcado. Também para ele e para aqueles que apoiaram a sua intuição, como sinal do Espírito, a vida não foi fácil.

António Marcelino

José Estêvão

15 de Outubro de 1984

Nesta data, "voltou a ser colocada junto do Edifício da Assembleia da República a estátua do insigne parlamentar aveirense José Estêvão Coelho de Magalhães, que fora inaugurada em 1878 em Lisboa, no Largo das Cortes, e daí retirada em 1935. No mesmo dia, o Parlamento prestou ao grande tribuno uma significativa homenagem, falando os representantes dos principais partidos políticos."

In Calendário Histórico de Aveiro

Novo CD de Jacinta estará à venda no dia 26


Jacinta

Temas de Bob Marley, Stevie Wonder, Beatles,Nina Simone, Bee Gees, Beach Boys, entre outros, fazem parte do novo CD de Jacinta, denominado  "Songs of Freedom-Hits from the 60s,70s,and the 80s".
Esta podução discográfica representa a apresentação de Jacinta no seu último espectáculo,  no Centro Cultural de Ilhavo, que voltou a encher com um público participativo e entusiasta, não só da música de Jazz, mas também da voz da artista da Gafanha da Nazaré.

Uma pergunta: Para quando um espectáculo na Gafanha da Nazaré?! Será por não haver sala condigna? Penso que sim. Aliás, o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré está em obras de ampliação e reestruturação. Depois, penso que a Jacinta já terá espaço à altura da sua arte e dos seus muitos fãs.
Já agora, permitam-me mais uma achega. Quando eu era jovem, a Gafanha da Nazaré tinha sala de cinema e teatro, na Cale da Vila, de iniciativa privada. Era, então, uma simples aldeia. Depois, talvez pela concorrência de Aveiro, morreu. E presentemente, cidade, a Gafanha da Nazaré não tem uma sala de cinema. Apenas o Centro Cultural, da responsabilidade da Câmara Municipal, está aberto a espectáculos. Penso que já era tempo de os privados apostarem nas artes. É que, os que gostam de cinema, em sala própria, que dá outro encanto aos filmes, têm de ir a Aveiro, como eu o faço de quando em vez.

Conto maravilhoso


Zé da Rosa

15 de Outubro de 2009

Foi num canteiro deste belo jardim, à beira ria, nos primórdios do século passado, que aquela rosa desabrochou. Não foi numa Primavera florida, tampouco num Verão escaldante, mas num Outono incipiente, que a flor deu o seu fruto. Um bebé redondinho de feições, com uma boquinha bem desenhada e que seria portador do genes dos grandes homens! Foi a alegria de sua mãe, que assim deu mais um irmão à família.
De tão amado e acarinhado pela sua mãe, passou a ser conhecido pelo Zé da Rosa! Todos o conheciam assim, mesmo quando as suas feições de menino deram lugar àquele rapagão, alto, bem parecido que fazia andar à roda, a cabeça das moçoilas do seu tempo.
Sim, o Zé, como todos os mancebos da sua idade, andava na mira duma moça que lhe enchesse as medidas! Um dia, apareceu aquela rapariga trigueira de olhos azuis... ah... essa ... foi a Luz dos seus olhos, que nunca mais a perderam de vista. Com a ajuda do Cupido, os dois se enamoraram e até casaram! Coisa inusitada nas sociedades modernas, em que os juramentos de amor têm a duração da época estival! É curta e efémera!
Naqueles tempos antigos, ainda era uma realidade concreta, o compromisso entre pessoas e a dedicação era exclusiva e ad aeternum!
Dessa Luzinha, resultaram clarões luminosos, que haveriam de iluminar a vida de ambos. Cinco, pelo menos, ficaram para a história e também se multiplicaram noutros feixes de luz... que passaram a alumiar o mundo.
Com ascendência da Rosa e numa forte envolvência da Luz... só poderiam ter resultado uns belos rebentos que haveriam de fazer as alegrias dos pais.
A autora destas linhas.... nasceu no apogeu da vida de ambos os progenitores.... 30 anos! Daí...
Este pai esfalfou-se durante toda uma vida, aquém e além fronteiras, para que nada faltasse aos seus descendentes. Fez os possíveis, e hoje tem... quem lhe perpetue a memória e a robustez do carácter. Do carácter e do corpo, pois é um vivo exemplo do princípio “Mens sana in corpore sanu”.
Devo referir que é o responsável pelas “proezas” que esta criatura tem feito ao longo da vida.... não arcando, contudo,... com a responsabilidade das “avarias”(!?) .... que a mesma tenha praticado! Estas, se as houve, são da exclusiva autoria da mesma!
Esta personagem, quase de conto de fadas é a pessoa que hoje completa nove décadas de existência!
E... augúrios de uma ainda gratificante jornada é o que lhe manifesta esta descendente... orgulhosa da sua herança genética!

M.ª Donzília Almeida

17.09.09

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Para pensar... Muito!




E24: a grande solução para a educação


Às vezes, até me apetece bater em mim mesmo. Vejo e leio notícias de que discordo, plenamente, e fico calado, comodista, indiferente, como se não houvesse nada para dizer. Depois  decido-me a escrever. O tempo passa e nada digo. Vêm outros assuntos, outras tarefas, outras sestas e o que é importante ficou na gaveta dos esquecidos.
Vem isto a propósito de uma achega que me enviou o Ângelo, com a recomendação de que lesse. Li e aqui fica, para pensar... Muito!

FM

Crónica de um Professor: A romã




N’ aula d’ Área de Projecto,
Desenhámos uma romã!
Foi um trabalho bem concreto,
P’ra começar uma manhã!

Iniciar a manhã, com um pequeno-almoço substancial, prepara-nos para enfrentar os desafios de um novo dia, com coragem e energia. Assim preconizam os Britânicos que se abastecem com as salsichas, ovos estrelados com bacon, cereais, sumos etc.
Para alimentar esta filosofia, os hotéis apresentam, no seu cardápio, as duas variedades de pequeno-almoço, numa panóplia de acepipes, que satisfazem o apetite do hóspede mais exótico.
Foi nessa perspectiva de um início de dia, revigorante que decidiu tomar a 1ª refeição do dia, em pleno pomar! Agora no Outono, com novas roupagens e os frutos da estação a brilhar nas árvores, é uma iguaria para os sentidos! Não a quantidade calórica do English breakfast na sua diversidade de alimentos, mas na outra componente mais nutritiva para o espírito e menos para o corpo!
O orvalho da manhã, no passeio pelo pomar, conduzido por essa vereda estreita, foi a lufada de ar fresco, energético que lhe encheu os pulmões e a alma! A quietude das coisas fazia sentir o aroma da terra, que rescendia a frutos maduros. As luzes da aurora iam abrindo caminho, acordando as espécies de vida, do torpor da noite.
Foi nessa paz doce e aromática que os seus olhos se fixaram naquela romãzeira que mais parecia uma árvore de Natal cheia de luzinhas vermelhas. Belo espectáculo a motivar a teacher para a aula que iria iniciar a sua manhã, nesse Outono estival.
A sua mente, sempre aberta a novas ideias, novos desafios, concebeu ali mesmo a pedra de toque para a aula de Área de Projecto. Nesta altura do ano, em que se definem objectivos, estratégias e actividades, surgiu como bênção do céu aquele elemento da natureza.
Sem mais delongas, ali mesmo, ficou decidido o elemento motivador para a aula. A romã, retirada, cuidadosamente da mãe, daí a pouco estava “sentada” num palanque improvisado na sala de aula. Todos os alunos iriam observar minuciosamente o objecto e tentar reproduzi-lo, o mais fielmente possível.
A Professora aproveitou o ensejo para despertar nos discípulos, o sentido estético e o amor à natureza. A interdisciplinaridade foi posta em prática e todas aquelas cabecinhas ficaram a pairar em volta do modelo observado. Era tão vermelhinha aquela romã, com os bagos rubros a extravasar da fenda que eclodira, que o mais apático aluno não ficava indiferente!
Fizeram um registo de observação e verificaram, que afinal, não era nada transcendente, reproduzir no papel, a forma cilíndrica do fruto, tal qual aquilo que viam. Pior foi para aqueles, cujo ângulo de observação lhes impunha registarem a abertura sinuosa do pericarpo, vulgo racha da romã!
Claro que apareceram as formas e tamanhos mais díspares, segundo aqueles olhares pueris, mas a romã, vedeta desta exibição tomou forma em cada uma daquelas cabecinhas.
No fim dos trabalhos e da aula prolongada, de 90 minutos, cada aluno recebeu na concha das suas mãozinhas, a fracção de bagos vermelhos que a divisão do fruto lhes proporcionou. E......diga-se, à guisa de conclusão que aquela romã tinha um coração muito generoso....um grande coração!

M.ª Donzília Almeida

12.10.09

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO: Colonialismo espiritual





1. Decorre em Roma o II Sínodo para África. Este encontro com o Papa procura repensar a comunidade africana na sua renovação contínua e na relação com a comunidade universal. De 4 a 25 de Outubro a organização local africana encontra-se com a organização universal em reflexão sobre os caminhos andados e os percursos a trilhar. Na mensagem de abertura Bento XVI confirma o reconhecimento da grandeza e originalidade do continente africano, exaltando o seu «imenso pulmão espiritual para toda a humanidade». Simultaneamente, o Papa alerta para os perigos das “patologias” do materialismo e do fundamentalismo religioso. Num continente pródigo de beleza natural mas ao longo dos séculos muito sofrido na exploração pelo ocidente apressado e interesseiro (é um facto histórico), é hora de nova consciência autonómica sobre o continente africano.

2. A referência ao «colonialismo espiritual» apresentar-se-á como um dado preocupante, numa transferência do plano político ao espiritual; diz Bento XVI que «neste sentido, o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente.» Não é fácil, com toda a carga história secular, abordar o assunto do colonialismo espiritual. À liberdade de propor deve presidir a liberdade de aceitar e a face humana de instituições como a Igreja mostra factualmente também elos menos positivos; quantos caminhos desandados nas questões delicadas da imposição da fé?! Continua a ser de grandeza eminente aquele persistente e lúcido «pedido de perdão» do peregrino da paz, o Papa João Paulo II. A “purificação da memória” em terrenos tão delicados como o da inculturação da fé transborda para todos os quadrantes numa responsabilidade de nunca impor mas de propor.

3. Na verdade de que nunca se pode ajuizar com os olhos de hoje os séculos passados (seriam juízos anacrónicos, fora do tempo), o certo é que só na chave de leitura de um pluralismo ecuménico é que se poderá ver a luz ao fundo do túnel. Não é missão fácil; mas possível no enobrecer do essencial.


O que é um cristão cultural?



Os «não-praticantes» têm também
as suas expressões que é preciso reconhecer


A categoria “católico ou cristão não praticante” faz pele de galinha a muita gente que assim reage contra o conformismo dos que receberam uma herança cristã sem nunca verdadeiramente a ter assumido. Engrossam as estatísticas mais genéricas, reconhecem-se num determinado conjunto de referências e partilham até uma esporádica ou difusa atmosfera religiosa, mas afastaram-se de uma integração prática e plena na dinâmica eclesial. Por isso, são olhados, tantas vezes, como um peso-morto que a Igreja tem de carregar e em relação ao qual pouco ou nada pode fazer.


Ora, sem simplificar aquilo que é complexo, deve-se dizer, porém, que eles representam também um imenso desafio. Hoje alguns autores da sociologia da religião preferem mesmo utilizar a designação “cristão cultural” para descrever este povo que, talvez de modo apressado, se chamava de “não-praticantes”. Verdadeiramente, os “não-praticantes” têm também as suas expressões que é preciso reconhecer: no seu modo de viver há práticas que persistem e outras que vão sendo transformadas; há um confronto com o Absoluto e um sentido do Transcendente, talvez soletrados com outra dicção, mas não necessariamente despojado de intensidade; há a procura dos valores evangélicos, mesmo quando explicitamente já não tomam o Evangelho como referência… Claro que nem tudo é igual, e há uma explícita maturidade cristã que tem de ser anunciada com desassombro. Mas isso não é incompatível com uma arte do encontro (e do re-encontro) que precisamos todos, praticantes e não-praticantes, de descobrir.

Da passagem recente de Enzo Bianchi entre nós, anotei, por exemplo, estas palavras, que nos obrigam certamente a pensar: «Creio que também há lugar para uma espiritualidade dos agnósticos e dos não-crentes, daqueles que se colocam à procura da verdade porque não se satisfazem com respostas pré-fabricadas e definidas de uma vez para sempre. É uma espiritualidade que se alimenta da experiência da interioridade, da procura de sentido e do sentido dos sentidos, do confronto com a realidade da morte como palavra originária e da experiência do limite; uma espiritualidade que conhece também a importância da solidão, do silêncio e do meditar».

José Tolentino Mendonça

In Ecclesia

A ABRIR: Poesia para este dia










ENTARDECÍAMOS EM DEUS

Entardecíamos em Deus. No doce
apuro da sua dádiva.
Era um Outubro cúmplice, por onde
o lúcido licor vinha às palavras
Explicitar-se. E ao seu lume a pôr-se
no júbilo do espírito e das águas.
Decantava-se sermos o suporte
desse momento. Da doçura amarga
que altíssima subia pela morte
e dava em vida. Que só Deus nos dava.


Fernando Echevarria (n. 1929)

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO: Arregaçar as mangas!





1. Se fosse possível quantificar a energia investida nas campanhas e esta ser transferida para o «day after (dia seguinte)» aos actos eleitorais não havia país que não avançasse! Mesmo integrando as diferentes formas de olhar o futuro…, a verdade é que no “meio” dos programas a realizar muito terreno resulta como semelhante em ordem ao bem comum e a uma sociedade mais justa. É a hora de arrumar a tenda das campanhas, é momento de tirar os cartazes e devolver às rotundas das nossas avenidas a sua autêntica finalidade circulante. Cada acto eleitoral mobiliza ao seu jeito. Das europeias às nacionais (legislativas) e destas às locais (autárquicas), chega a hora de arregaçar as mangas em ordem a cada dia fazer o melhor possível.

2. Como já não havia memória, o país viveu três actos eleitorais seguidos. A esperada mobilização, e sendo verdade que a sequenciação das eleições daria razões para crescente interesse e mais participação, deu lugar a uma certa saturação e indiferença. Das campanhas e do estilo argumentativo de “fazer” política muitas são as lições que sempre se podem tirar, bastará haver grandeza e interesse para tal. Haverá? Nunca no dia seguinte se pode aceitar comodamente que tudo continue como dantes. Diante de tantos desafios da sociedade actual, é sentido esse «rasgo» constante que impele ao sentido dinâmico e evita o fecho do descompromisso? A cidadania activa e participativa não se pode acomodar no final do acto eleitoral, deve, antes, procurar implementar dinamismos novos, estimulantes e comunitários.


3. São heróis e grandes portugueses os que servem no designado poder local, na condição de se viver para servir. Na limitação dos meios de que dispõem têm de fazer o milagre da multiplicação e do contínuo mobilizar de recursos tirando o melhor de cada rua, terra, paisagem, tradição com inovação. “Esmiuçou-se” cada cartaz e cada ideia nas campanhas que dá para arrepiar como ainda estamos aí… Avancemos, arregaçar as mangas!

Alexandre Cruz

Universidade Sénior: início de uma caminhada

Ponte da Cambeia

À descoberta da Gafanha

Hoje foi dia de animar um grupo de trabalho na Universidade Sénior da Fundação Prior Sardo. Para iniciar a caminhada, à descoberta da Gafanha, marcaram presença 15 pessoas, adultas, aposentadas, reformadas ou em vias disso, ávidas de conviver e de trocar experiências. Penso que vai ser bom partilhar saberes, sentimentos, impressões e emoções. E sabores, quando houver motivos para isso. Abrindo a alma aos outros, à descoberta, ao conhecimento, porque o homem e a mulher não nasceram, unicamente, para viver isolados e fora do mundo. A solidão, quando desejada, também terá o seu lugar.
Gostei dos primeiros contactos. Gostei de ouvir as razões por que se inscreveram na Universidade Sénior, na Gafanha da Nazaré, recentemente criada. Gostei de sentir que ainda há gente capaz de compreender que é óptimo pôr em comum anseios, alegrias, inquietações e até algumas tristezas. Gostei de ver o espírito de abertura de todos os participantes. A naturalidade com que falavam, a serenidade com que ouviam, a indiferença com que viram o tempo passar. Sem pressas.
Quando penso em tantos reformados e aposentados fechados sobre si próprios e sobre o mundo que os rodeia, quantas vezes presos e conformados à mesa do café, ou tristes a olhar o céu azul e sem capacidade para se abrirem a horizontes novos, tenho pena que não descubram a importância de estar com os outros, alimentando projectos de vida com sentido.
Na próxima segunda-feira, e seguintes, a caminhada continua, à descoberta da Gafanha.

Fernando Martins

Para começar o dia: eleições autárquicas



Glória aos vencedores; honra aos vencidos

Os meus parabéns aos vencedores (que foram muitos, por várias razões) e também aos vencidos, que viveram, de forma concreta, a beleza da democracia. Uns e outros merecem o meu aplauso e a minha promessa de estímulo e de apoio, para que possam continuar a fazer-se eco dos anseios, a diversos níveis, das populações que povoam a nossa sociedade. Afinal, todos saíram vencedores, quanto mais não seja, pela coragem e determinação com que defenderam e propuseram os seus ideais para um mundo melhor. Por isso, "Glória aos vencedores; honra aos vencidos".

FM

domingo, 11 de outubro de 2009

Morreu o único padre casado em Portugal


Rádio Renascença:

Aos 86 anos, o Padre Saul de Sousa
não resistiu a um problema renal



Em 1968, e ainda na Igreja Lusitana, ramo português da Comunhão Anglicana, que permite o casamento dos padres, pediu dispensa para ser aceite na Igreja Católica.
Maria Fernanda de Sousa, recorda como o processo do seu marido esteve três anos no patriarcado: “Até que um dia o Arcebispo de Cízico, que era um senhor assim com barbas muito grandes, numa reunião presbiterial perguntou: ‘Ó Sr. Cardeal (era o cardeal Cerejeira), quando é que manda para Roma o processo do Pe. Saul?’”
O Patriarca mostrou-se renitente, “mas os bispos fizeram tanta força que ele resolveu mandar a carta para Roma. Passados 15 dias Paulo VI respondeu-nos dizendo que podia entrar, só tinha que actualizar a formação católica”
A ordenação deu-se em 1971, e foi a última celebração presidida pelo Cardeal Cerejeira. Nos 38 anos seguintes Saul de Sousa exerceu um ministério único em Portugal, como padre casado.

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Bispo de Aveiro encerra na Gafanha da Nazaré a semana Nacional da Educação Cristã



D. António Francisco:

Riquezas mal distribuídas atrofiam a liberdade e impedem a generosidade




“O olhar triste de tanta gente que connosco cruza nos caminhos da vida deve-se tantas vezes ao excesso de riquezas mal distribuídas que atrofiam a liberdade e impedem a generosidade.” Este foi, no momento que atravessamos, um alerta oportuno do Bispo de Aveiro e membro da Comissão Episcopal da Educação Cristã, D. António Francisco dos Santos, proferido na homilia da eucaristia conclusiva da semana nacional dedicada a este tema, celebrada na igreja matriz da Gafanha da Nazaré e transmitida pela Rádio Renascença, hoje, pelas 11 horas.

Depois de sublinhar a importância que a Igreja Católica dá à família, à escola e à comunidade, “como elos essenciais da sociedade e servidores da educação das crianças, dos jovens e dos adultos”, D. António afirmou que a “vida das nossas terras tem mais sentido e maior encanto com a presença e com o trabalho das escolas ao longo do ano lectivo e com a acção pastoral das comunidades”.

Lembrou “quanto recebemos da família, da escola e da comunidade onde nascemos, crescemos e vivemos”, sendo certo que elas ”modelam o nosso ser e o nosso agir”, preparando-nos para o futuro “como pessoas, como cidadãos e como crentes”.

O Bispo de Aveiro, ao dirigir-se aos sacerdotes, recomendou que todos devem dar especial atenção à catequese em todas as idades, fazendo dela “uma actividade prioritária, suscitando e alimentando nas comunidades uma verdadeira paixão” pela transmissão da fé, nos diversos espaços catequéticos.

D. António Francisco considerou particularmente importante no ministério dos sacerdotes e na acção da Igreja “uma articulação e relação entre a comunidade, a escola e a família”. E acrescentou: “Este diálogo deve implicar um trabalho conjunto entre párocos, famílias, catequistas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica e outros agentes educativos, a fim de se apoiarem na sua missão, de lhes proporcionarem um enquadramento comunitário e de procurarem uma maior harmonia entre as acções pastorais, desenvolvidas nas famílias, nas escolas e nas paróquias.”

O prelado aveirense ainda manifestou a esperança de que neste trabalho e nesta missão haja “abertura e co-responsabilidade em todos os que hoje vão ser eleitos para o serviço das autarquias locais”. E frisou que a educação, estando cada vez mais vinculada às autarquias locais “como serviço de proximidade”, deve merecer, a quantos exercem este serviço, “uma progressiva atenção na certeza de que da qualidade do serviço educativo depende o bem das crianças e dos jovens e a construção do bem comum”.

Fernando Martins

O FIO DO TEMPO: O Nobel da expectativa



VOTO DE CONFIANÇA
PARA OBAMA

1. No dia 10 de Dezembro deste ano será o presidente Barack Obama a receber o Nobel da Paz. O facto surpreende pela prematuridade do acontecimento em relação a quem ainda está a começar. Normalmente é mais para o final da vida, com todas as provas dadas, que a atribuição Nobel é concedida. Obama tem antecipado muitas etapas, talvez porque os anos precedentes haviam revelado profundos desencantos e pessimismos. São vastíssimas as reacções ao Nobel que não deixa ninguém indiferente. Se as atribuições do comité norueguês têm sempre um cariz sociopolítico, este ano todas as expectativas foram superadas. De ondas de entusiasmo às suspeitas cépticas, de tudo um pouco pode-se confirmar nas reacções ao Nobel.

2. Poder-se-ão compreender tanto o entusiasmo como a dúvida vigilante. A verdade é que a «Esperança» de Obama surpreendeu a Humanidade e em tempo recorde conseguiu mobilizar os pensamentos num novo olhar diante de problemas antigos. Este voto de confiança e de responsabilidade sobre Obama – ele que muito tem proclamado a Nova Era de Responsabilidade – deixa em aberto o terreno concreto que nas acções precisa dessas inspirações. Como conciliar as ideias inspiradas com a prática crua e dura? Como activar a vontade a roçar a utopia com decisões políticas concretas? Na lógica normal, a atribuição do Nobel viria mais adiante, depois das acções confirmarem as intenções. É neste cenário que esta entrega no 10 de Dezembro, Dia Dos Direitos Humanos, é especial.

3. Se Obama só apresentou até agora «expectativas», então este é mesmo o Nobel das expectativas. O mundo pós-11 de Setembro 2001 precisava delas, pois que os pessimismos também de crise financeira careciam de uma luz de lucidez, nem que fosse só no plano das expectativas saudáveis. A eleição (multiétnica) de Obama abriu esse tempo novo, uma nova mundividência no plano das ideias. Obama é maior que ele próprio. Ele sabe disso. Venham as acções!

Alexandre Cruz

Para começar o dia: A Beleza do Douro



"Beleza não falta em qualquer tempo, porque onde haja uma vela de barco e uma escadaria de Olimpo ela existe." 

Miguel Torga

In Portugal

sábado, 10 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 152

BACALHAU EM DATAS - 42


Maria Frederico



A FROTA DO ESTADO NOVO

Caríssimo/a:

1943 - «De acordo com o discurso oficial, nasceria a “Frota do Estado Novo”, de barcos fabricados de madeira nos estaleiros nacionais e por operários portugueses, do “tipo CRCB” um modelo caracterizadamente português. Caracterizavam-se as novas unidades da seguinte forma: comprimento total aproximado dos 54 m, deslocação de 1500 t, motor principal de 500 a 650 CV e motores auxiliares de 20 CV movidos a óleos pesados. Capacidade de carga de 720 a 780 t de bacalhau e uma tripulação de 60 pescadores e marinheiros. [...] Dos mais de 15.000 pinheiros calculados para o efeito em Abril de 1943 já tinham sido abatidos 7.000 árvores nos pinhais de Leiria. Apenas os motores viriam a ser adquiridos no estrangeiro, o que , em plena Guerra Mundial, foi visto à luz do discurso oficial como um triunfo dos negociadores portugueses.» [Oc45, 112]

«Em 1943 seriam lançados à água outros navios de referência desse tipo: o BISSAYA BARRETO e o COMANDANTE TENREIRO, ambos de madeira e ambos armados pela Lusitânia, da Figueira da Foz.[3.º momento ainda da renovação da frota bacalhoeira nacional]» [Oc45, 100] (Vd. 1939 e 1941)

É fundada a Sociedade Gafanhense de Pesca, com dois barcos de pesca à linha e um arrastão, empregando à volta de 240 homens.

1944 - «Servindo-se dos seus estaleiros privativos, localizados na Gafanha da Nazaré, a Empresa de Pesca de Portugal, L.da, lançou à água, em 1944, um lugre-motor em madeira, delineado para a pesca do bacalhau, o MARIA FREDERICO. Era um lugre de três mastros, com “linhas airosas”, dois castelos e proa americana, possuidor de 48 m de comprimento, 800 t de deslocação e capacidade para carregar perto de 1000 t de bacalhau. Este navio traçado pelo engenheiro construtor naval Valente de Almeida, ocupou na sua construção 100 operários, orientados por António Pereira da Silva, sócio da empresa armadora.» [Oc45, 114/115]

Neste ano de 1944, 11 dos 41 barcos da frota bacalhoeira eram provenientes da Figueira da Foz.

Entre 1939 e 1944 dos 1639766 quintais de bacalhau, 222806 foram pescados pela frota figueirense.



Manuel

O TESOURO MAIS VALIOSO


Madre Teresa



O tesouro mais valioso é a pessoa humana


A maior aspiração da pessoa humana é alcançar o tesouro mais valioso da sua vida. Como o jovem rico de que fala o Evangelho. Faz tudo o que está ao seu alcance. Comporta-se segundo as regras do tempo: no campo social, económico, familiar e religioso. É íntegro e honesto em tudo e para com todos. Mas algo lhe falta.


Corajoso, vence as resistências interiores e parte à procura. Confiante, corre para o caminho por onde Jesus passava. Ousado, aproxima-se e reconhece a excelência de quem lhe pode valer. Humilde, abre o coração, expondo a sua preocupação inquietante: Que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?


Este jovem “habita” em nós e manifesta-se de vez em quando. A sensação de que algo importante nos falta: a cura de certas feridas psicológicas e espirituais, a realização de sonhos apaixonantes, a capacidade de “segurar” o eterno da vida que vai escapando e nos convida a alargar os horizontes de Infinito.

A corrida do jovem é também nossa. Há urgência de obter resposta, de encontrar o que se pretende, de saborear o que tanto se deseja. De contrário, a insatisfação abre as “fendas” do mal-estar, da ansiedade e frustração.

“Um coisa te falta” – adianta Jesus na sua proverbial sabedoria.

Falta-lhe rever a sua relação com os bens a fim de ser livre. Falta-lhe abrir-se aos pobres e ser compassivo e solidário. Falta-lhe aceitar que por esta relação passa a sua realização pessoal definitiva. “Vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres” e terás o tesouro definitivo da tua vida.


Ser livre é saber gerir os bens e não se deixar possuir por eles. É saber ser seu dono e não se sujeitar à sua tirania. É saber trabalhar com honradez e viver com sobriedade, abrir-se aos outros em sintonia afectiva, fazer suas as necessidades alheias e ajudar a minorá-las, sempre que possível.

Ser livre é cortar as “amarras” com que os bens prendem os seus possuidores e progressivamente os desumanizam. Ser livre é disponibilizar-se para servir em qualquer circunstância, amar os feridos e amargados, e progredir com eles nos caminhos de libertação.

O tesouro maior da humanidade e da Igreja é o coração liberto, a inteligência desinibida e peregrina da verdade, a vontade firme e persistente na prática do bem. O tesouro mais valioso é a pessoa humana, chamada à plenitude do seu ser e conviver, que encontra em Jesus Cristo o modelo da sua auto-realização.


Georgino Rocha

Dia Mundial dos Cuidados Paliativos

Mais um Dia Mundial para nos fazer pensar na pertinência do tema "cuidados paliativos". A (quase) certeza do sofrimento, físico ou outro, nosso ou de quem nos rodeia, deve levar-nos a estar atentos para a informação necessária. Laurinda Alves, voluntária em Cuidados Paliativos, escreve sobre a sua experiência. Veja aqui.


Neurociências e liberdade




Com a biotecnolgia o novo continente científico é o cérebro, e a pergunta é se, com os avanços neste domínio, o enigma do homem será finalmente superado ou se, pelo contrário, ele permanecerá. Grandes debates se travam entre as neurociências e a filosofia, precisamente por causa de temas candentes e incendiários, como a subjectividade, a autodeterminação, a vontade livre.



Sobre estas questões, o conhecido filósofo e professor da Universidade de Tubinga Manfred Frank acaba de dar uma longa entrevista ao alemão DIE ZEIT. O que aí fica reflecte esse debate.



A questão da subjectividade pertence ao núcleo da reflexão humana. Embora algumas correntes filosóficas falem da sua dissolução, penso que o sujeito é ineliminável. Argumento, mostrando que a condição de possibilidade de objectivar - no caso do homem, de objectivar-se - é o sujeito, de tal modo que, por mais que objective de si mesmo, o homem nunca se objectivará completamente, já que continuará a ser o sujeito que (se) objectiva.



M. Frank também afirma que nunca será possível reduzir a consciência e o espírito a processos neuronais, e isso "por razões de princípio". Há uma questão de princípio: como explicam as neurociências a passagem de processos físicos inconscientes a processos mentais conscientes? "Não é possível substituir o saber sobre nós mesmos por um saber objectivo sobre o mundo." A subjectividade cai fora do mundo, não pertence ao mundo dos objectos.



O "eu" do autoconhecimento não é redutível àquilo a que nos referimos com nomes ou caracterizações. "A autoconsciência é um conhecimento único, reflexivo, no qual uma pessoa se refere conscientemente a si mesma, mas a si mesma em posição objectiva. Como poderia ela, porém, captar este eu-objecto como ela mesma enquanto sujeito, se, antes desta apresentação objectiva, não tivesse tido uma consciência inobjectiva de si?" Esta consciência inobjectiva quer dizer vivida, pré-reflexiva.



Permanece uma questão: "Quando identifico espírito com matéria, não identifico matéria com matéria." Trata-se como que dos dois lados de uma moeda, mas as condições de verdade do neuronal não se identificam com as do espírito: as primeiras encontram-se num tratado de fisiologia enquanto as dos estados mentais são verificadas introspectivamente, como viu Descartes. Isso é experienciado também ao nível do vocabulário, que é diferente para descrever o psíquico e o estado físico correspondente: não teria sentido exprimir a inclinação amorosa por alguém, descrevendo os processos electromagnéticos no cérebro.



A tese de neurocientistas que afirmam não haver, por detrás do alegado livre arbítrio, senão processos neuronais, que determinam a vontade, contradiz não só a compreensão jurídica de responsabilidade mas também a nossa própria autocompreensão: queremos ser autores racionais de mudanças no mundo - tentamos "tomar decisões racionais".



Para lá dos sistemas jurídico-penais, que pressupõem a liberdade, um exemplo. Suponhamos que alguém tropeça, sem querer, e, ao cair sobre outra pessoa, esta é apanhada por um carro e morre. Distinguimos muito bem esta situação daquela em que alguém empurra intencionalmente outra pessoa. E há esta virtude admirável: resistir moralmente à maioria. Os opositores ao Terceiro Reich "merecem o nosso sumo respeito", precisamente porque foram poucos e capazes de enfrentar a morte. Aí, "os neurocientistas têm muito para justificar no sentido de dar conta do correcto normativamente dessas decisões a partir de processos neuronais".


Tudo o que é essencial, quando pensamos na humanidade, "vinculamo-lo ao pensamento da subjectividade e não à nossa representação do cérebro. São sempre pessoas, sujeitos, que consideramos como criadores de literatura, cultura ou religião". Afinal, "temos cérebros e somos eus". Daí poder formular-se o imperativo categórico de Kant nestes termos: "Nunca trates os seres humanos como coisas, mas sempre como sujeitos e pessoas." Se o mundo consistisse só em objectos, não haveria ninguém a quem dirigir o preceito: "Porta-te decentemente com os outros sujeitos."



Para começar o dia


Grande Veleiro Canadiano Concordia entre nós



No seguimento da Regata dos Grandes Veleiros, realizada em 2008, com reconhecido sucesso que instituiu o Município de Ílhavo e o seu Porto de Aveiro com “friendly port”, vai estar entre nós mais um grande veleiro, o Concordia, pertencente a uma universidade privada do Canadá, a “West Island College International”.

O “tall ship class A” - SV Concordia - chega ao Porto de Aveiro no próximo dia 14 de Outubro, quarta-feira, aqui permenecendo durante cinco dias (largada a 18 de Outubro), com visitas em horário a definir proximamente.

A sua tripulação de 57 pessoas (dos quais 48 Alunos) terá um programa cultural e turístico durante o tempo da estadia, com centralidade no Município de Ílhavo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

País real ou "Portugal dos pequeninos"?




Cada vez aparece mais lúcida e actual a expressão “país real”. Esse país que, de norte a sul, trabalha no campo ou nas empresas, nos serviços ou nas escolas, que luta pela justiça e pelo bem-estar, que sofre injustiças de que ninguém se acusa, solta gritos que ninguém ouve. País real, como lhe chamou Sá Carneiro, é este povo desconhecido de muitos que dele falam eloquentemente e até dizem que é ele quem ordena, e se julgam mesmo, ciclicamente, os legítimos delegados e defensores dos seus direitos.

Só conhece o país real quem se cobre com o pó dos seus caminhos, suja os pés na sua lama, gasta tempo a ouvir quem nele luta e é a reserva nacional do bom senso, da honestidade, do trabalho, do respeito, da verdade e da justiça a toda a prova. Povo que cresceu com a chave sempre na porta, aberta, como o coração, a quem chegava e, agora, se vê ameaçado e inseguro nas suas pessoas e bens, vendo admirado, incólumes e à solta, os profissionais da mentira, do assalto aos bens alheios, do ataque infame a idosos indefesos, do crime frequente. Povo com centenas de milhares de portugueses que não querem o pão dos subsídios, mas o salário justo de um trabalho certo.

Pó e lama deste povo significam a dor e os sacrifícios de milhões de portugueses que, aqui ou lá fora, lutam para viverem uma existência de pessoas, que muitos não a tiveram antes, e poderem transmitir aos filhos, com a educação que os prepare para a vida, os valores duradoiros que a tornam digna.

Pó e lama é a carência sofrida de muita gente que ainda não dispõe de meios para cuidar a tempo da saúde, nem possibilidade de uns dias de férias repousantes, necessárias e justas. É o esforço inglório de milhares de jovens para quem um diploma de curso é pouco mais que um papel inútil, e vêem voar o tempo, sem lobrigarem trabalho e condições para constituir uma família com estabilidade. É a dor inconsolável de muitos idosos que trabalharam uma vida inteira sem horários, antes do sol nascer e para além do sol se pôr, e, que hoje, sofrem com a míngua do pão, cada dia mais caro, e a premência de ter de contar os tostões para poder comprar remédios indispensáveis. Os passeios gratuitos por todo o país, com almoço incluído, que os políticos lhes proporcionam, não apagam carências essenciais do dia a dia, nem enxugam lágrimas choradas no silêncio das noites sem fim e, agora, de uma casa sem gente.

Muitas coisas melhoraram neste pai real. Mal seria se assim não fosse. Mas não se atribuam honras próprias ao que se faz por dever e sempre com o dinheiro que não é dos que governam. Nenhum bem social é favor, a que título seja, de políticos generosos.

Ao lado deste país há outro que, também, é Portugal. Quem vir os canais de televisão em concorrência, onde cada vez mais vale tudo, ler os jornais que procuram fugir à falência, vendendo títulos enganosos, folhear, ainda que só nas salas de espera dos consultórios médicos, as revistas cor-de-rosa que desvirtuam a vida e os sonhos de muita gente; quem reduzir os seus horizontes humanos e sociais ao mundo do futebol, perceber os objectivos, públicos e ocultos, de algumas juventudes partidárias, e mesmo de gente adulta que navega nas mesmas águas, observar a saída apressada das tocas e esconderijos dos que nela escondidos na hora da luta, investem logo que lhes cheira a proventos possíveis da morte ou da infelicidade de outros do seu mundo, ficará, com uma ideia razoável, ainda que não perfeita, do que é o “Portugal dos pequeninos”.

Intrigas e coscuvilhices políticas, até ao extremo, dão horas intermináveis a politólogos, jornalistas, políticos profissionais, gurus do pensamento e do saber, que esclarecem pouco e intoxicam muito. Tudo gente que só tem certezas, fala e não deixa falar, só as suas opiniões são verdades incontestáveis. Neste momento, Portugal são apenas duas pessoas. O resto é gente que não interessa. Neste país de gente pequena, os modelos em promoção reduzem-se a políticos vazios, futebolistas de milhões, gente fútil de telenovelas e passarelas… O povo que trabalha, esse não tem história.

António Marcelino

Para começar o dia: OBAMA Prémio Nobel da Paz


Obama

Acrescidas responsabilidades para Obama


Para começar o dia e o fim-de-semana nada, nada melhor do que uma excelente notícia. Obama, o Presidente dos EUA, é Nobel da Paz. Não pela obra feita, mas essencialmente pela esperança que espalhou no mundo de uma nova ordem social. Uma nova ordem social de mais paz, de mais solidariedade, de mais justiça.
Por mais justos que sejam os prémios, por mais oportunas que sejam as distinções e as honras, há sempre quem desdenhe, quem critique, quem discorde e quem diga mal das escolhas feitas. Contudo, penso que neste caso as discordâncias até servem para sublinhar a importância do Nobel da Paz atribuído a Obama. O Presidente da mais poderosa nação da Terra recebe com o prémio, talvez o mais apetecido, uma acrescida responsabilidade nas respostas aos problemas que dele todos esperam.

FM