terça-feira, 28 de julho de 2009

MAR e RIA no olhar de Carlos Duarte

(clicar na foto para ampliar)
Carlos Duarte, o fotógrafo com sensibilidade que muitos conhecem, vai expor na Costa Nova do Prado, na Residencial Azevedo, de 4 de Agosto a 30 de Setembro, fotografias que reflectem o seu olhar, atento e curioso, sobre o nosso mar e a nossa ria. A abertura será no próximo dia 4, pelas 17 horas.

Uma ideia para um país novo

O jornal i tem publicado, diariamente, "Uma ideia para Portugal", de figuras mais ou menos públicas. São textos com duas ou três frases, simples, mas interessantes. Hoje vou transcrever mais uma ideia, com o convite aos meus leitores para que me enviem ideias inovadoras, para um país novo.
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FM
"Mais que para Portugal, esta é uma ideia para os portugueses. Na saída do trabalho, esqueça-o! Pense como vai ser bom chegar a casa e estar com a família ou com os amigos, vivendo em pleno o que resta desse dia. Isto por uma razão muito simples: a vida foi-nos dada, mas só a merecemos se a dermos também."
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Pedro Henriques,
Árbitro de futebol

Encontrar um lugar

É mais fácil tentar quebrar a cadeia
pelo seu elo mais fraco
do que questionar,
a fundo, todo um sistema
Com a chegada do tempo de férias, são muitos os que partem à procura de um lugar, diferente, que ajude a quebrar rotinas e a retemperar forças. Nessa dinâmica, cada vez menos massificada - Agosto já não é um mês a menos no calendário laboral - tende-se a "desligar" de muita coisa que merece a nossa atenção constante, tendência acentuada pelo mito da "silly season" que leva muitos a dar destaque a factos menores que, no resto do ano não mereceriam mais do que uma linha ou 10 segundos de atenção. Crises e dramas humanos continuam a existir, em todo o mundo, e não tiram férias.
Em muitos casos, esses dramas forçaram homens e mulheres do nosso tempo a sair (fugir, mesmo) dos seus lares, em busca de uma vida melhor em sociedades que acreditam ser mais desenvolvidas. Não contam, por certo, com a intolerância e a discriminação que lhes estarão reservadas, por parte de vários, à sua chegada. A crise económica e financeira tende a acentuar estes comportamentos xenófobos e racistas, como justamente têm alertado vários responsáveis da Igreja Católica. É mais fácil tentar quebrar a cadeia pelo seu elo mais fraco do que questionar, a fundo, todo um sistema e os seus responsáveis máximos, que levaram à situação em que o mundo se encontra. A questão merece, por isso e acima de tudo, um olhar humano: pessoas como nós estão à procura de um lugar, um lugar melhor, para esquecer as mágoas de um passado muitas vezes dolorosos e construir um futuro melhor, para si e os seus. Aconteceu milhões de vezes, em Portugal, com avós, pais, irmãos, primos, amigos e vizinhos de cada um nós que também partiram. E partem. Basta dar a cada um dos que imigraram para este país o tratamento que gostaríamos que fosse dado aos nossos, lá fora. Esta é uma matéria que também merece um olhar atento, na hora de decidir em que partido votar. O Verão deste ano será diferente, por certo, em função das duas eleições que se aproximam e do desfile de promessas, acusações, barulho de fundo e cortinas de fumo a que iremos presenciar na busca de um lugar (lá está), que para muitos não é de serviço, mas de interesse(s) - confessados e inconfessados. A receita será, em larga medida, a mesma: acima de tudo, está cada ser humano e a maneira como, na nossa sociedade, ele será tratado em cada momento da sua vida. Para que todos possam, em condições dignas, encontrar o seu lugar. Octávio Carmo

FÉRIAS EM TEMPO DE CRISE: para meditar

Permanecer em paz Permanecer em paz que é a harmonia dos poderes para lá (certamente) do turbilhão para lá da abstenção serena para lá do abandono voluntário dos heróis na harmonia dos poderes coincidindo com a mais humilde humildade isto, na mediocridade dos dias sem altivez, sem saber e algumas vezes sem graça. Maurice Bellet

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Rir faz muito bem

No jornal i, de hoje, há um texto que merece ser lido, 
sobretudo pelos carrancudos e pessimistas.


Há quanto tempo não se ri às gargalhadas?

Um dia, Madan Katuria, um médico de Bombaim, decidiu estudar a importância do riso na saúde. Reuniu-se com um grupo de amigos, num jardim da cidade, e juntos não faziam mais que contar piadas e rir. Só que a graça durou pouco tempo e o grupo foi diminuindo. Mas Madan não desistiu e encontrou a solução junto da mulher, instrutora de ioga: uma terapia nunca antes vista, chamada Ioga do Riso. A notícia espalhou-se, a ideia correu mundo e hoje existem seis mil clubes do riso por todo o globo.

Leia mais aqui

Serra da Boa Viagem, com ferida à vista

FERIDA POR CICATRIZAR
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De passagem pela Serra da Boa Viagem, cuja beleza me não cansa, voltei a ver a ferida que lhe fizeram, em nome da indústria e do chamado progresso. A ferida, que ainda não está cicatrizada, ali ficou à vista de todos, como que a pedir que não repitam a agressão. Estarei errado?

Festival JOTA em S. Jacinto

"Estamos reunidos em nome de Deus e convocados por Ele, para juntos procurarmos desvendar o futuro e partilhar dons e talentos que queremos colocar ao serviço do bem comum.
Queremos vencer o medo sentido pelos que pensam que têm pouco para repartir e receiam ficar sem nada. Partilhamos a alegria dos que desvendam o segredo de que quando se reparte o que temos contagiamos os outros para que não falte nada a ninguém."
Da Homilia do Bispo de Aveiro, D. António Francisco

Comemorar José Afonso, um imperativo de liberdade

No dia 2 de Agosto, domingo,
pelas 22 horas, no Auditório
do CETA, junto ao canal
de S. Roque, Aveiro

José Afonso nasceu em Aveiro, em 2 de Agosto de 1929. Há oitenta anos! Se o seu nome não é apenas património da nossa cidade, a nós Aveirenses cabe-nos uma responsabilidade maior na evocação e defesa do seu legado de liberdade. Aqui viveu «numa espécie de paraíso». Daqui partiu o «grande trovador moderno», como lhe chamou Manuel Alegre, para unir os «filhos da madrugada» numa roda de utopia, de esperança e alegria, para mobilizar e dar voz a todos os que sonham e lutam no dia-a-dia por um mundo livre, justo e solidário.
Porque uma comemoração é uma comunhão, porque comemorar é lembrar em conjunto, o Grupo Poético de Aveiro (GPA) e o Círculo Experimental de Teatro de Aveiro (CETA) quiseram dar início às comemorações do 80.º aniversário do poeta-cantor de Grândola Vila Morena, em Aveiro, com um espectáculo de poesia e canto capaz de unir todos, novos e velhos, homens e mulheres, em torno da sua obra poético-musical. Comemoração e festa! 
É de festa, de celebração que falamos, não obstante as inúmeras dificuldades e incertezas do presente. Ou até por isso. Celebremos o poeta, o cantor, o compositor, o intérprete de grande sensibilidade que foi José Afonso. Festejemos a «inconfundível qualidade da sua voz». Festejemos José Afonso, o «trovador da inquietação», no dizer de Carlos do Carmo. Celebremos o companheiro, o cidadão, o amigo que veio por bem. Festejemos e demos as mãos em defesa do seu legado, que é feito de ternura e subversão, de liberdade e rebeldia, de contínuo aperfeiçoamento, de inconformismo com as injustiças e opressões dos senhores do mundo, de recusa do dogmatismo e do paternalismo, de desprezo pela intriga e pela inveja. Aproveitemos esta efeméride para conhecer melhor a obra de José Afonso como desafio para nos conhecermos melhor a nós mesmos. 
Ao longo de mais de 30 anos de actividade, José Afonso gravou 28 discos, abarcando vários géneros, do “fado de Coimbra” à “canção popular”, da “balada” à “canção de intervenção”. A obra de José Afonso — em boa medida ainda desconhecida — é referência natural para inúmeras bandas, músicos e escritores de canções dos nossos dias. Todavia, como afirma José Mário Branco, noutro contexto, «este tesouro» «teria sido um grande nome mundial da canção». 

CETA e GPA 
com o apoio da Livraria Buchholz Aveiro

domingo, 26 de julho de 2009

Crianças austríacas na Gafanha da Nazaré

Lancei há dias, no Pela Positiva, um desafio, junto dos meus leitores, no sentido de recolher informações sobre as crianças austríacas que vieram para a Gafanha da Nazaré, depois da segunda grande guerra. Através dos comentários possíveis no blogue, apenas me chagaram duas respostas, embora outras pessoas me tivessem contactado, com informações imprecisas. Tentarei conseguir mais. Veremos se tenho sorte…As duas achegas aqui ficam, à espera de mais… 

*** Na casa onde fui criado (Casa das Caçoilas),também foram acolhidas pelos meus avós, algumas dessas crianças, segundo relato da minha falecida mãe. Não as conheci pessoalmente, mas vi fotografias dessas pessoas, tiradas aquando da sua permanência na Gafanha. 
Abraço Leopoldo Oliveira 

*** Fernando: É uma recordação interessante, que nos leva à nossa meninice. À criança que ficou com o Padre Bastos, chamava-lhe ele "A escotinha" por ser tão pequenina! Na casa do Cap. Fernandes, ficaram dois moços. Recordo-me do nome de um deles, pois ao ouvir um avião a aterrar, fugiu rapidamente para dentro de casa, a tremer! Só quando o chamámos ele veio, desconfiado, para a rua brincar connosco. Chamava-se Rudy Plescou (a pronúncia era esta, não sei se se escreveria assim!) O Cap. Óscar, poderá melhor pronunciar-se sobre este assunto.
Saúde 

Ângelo Ribau

Nova Lei Eleitoral precisa-se, urgentemente

LISTAS DOS PARTIDOS
COM GENTE QUE NEM NOS CONHECE
À medida que as listas dos partidos para as Legislativas vão surgindo, toda a gente de bom senso reconhece que algo continua errado neste mundo da política. Não é por acaso que nos sentimos cada vez mais divorciados da vida parlamentar. Nem vale a pena gastar mais cera com tais defuntos, sobre os porquês desta situação. É que, na prática, os eleitos, por vezes, nada têm a ver com os interesses das terras de que se dizem representantes. Eu sei que os deputados, uma vez eleitos, passam a ser, oficialmente, deputados da nação, e não das regiões pelas quais foram eleitos. Mas na realidade, nós, os eleitores, gostamos de nos rever nos que elegemos… Assim, a meu ver, seria mais lógico que, ao menos, as listas dos partidos fossem, verdadeiramente, compostas por gente da região. Esta ideia de os nossos representantes nem sequer nos conhecerem, não faz sentido nenhum. FM

Crianças austríacas na Gafanha da Nazaré

No meu blogue Galafanha vou tentar recolher informações sobre as crianças austríacas que vieram para a Gafanha da Nazaré, depois da segunda guera mundial. Gostaria de documentar, mas nem sei bem por onde começar. Quem poderá dar-me uma ajuda? Fico à espera.

Moinho na Serra da Boa Viagem




Na serra da Boa Viagem, Figueira da Foz, ainda é possível apreciar um velho moinho, de madeira, que gira ao sabor do lado do vento, sobre rodas, também de madeira, com as suas velas. Não consegui saber se está ali para cumprir a sua missão, de fabricar farinha, ao gosto do freguês, ou simplesmente para turista ver. Seja como for, apreciei o velho moinho como sinal de tempos que não voltam. Hoje, a ASAE não deixaria, julgo eu, circular no mercado as farinhas dos moleiros tradicionais.

Campanha em marcha, com Revisão da Constituição na agenda

Praticamente, começou a campanha eleitoral para as legislativas, com a revisão da Constituição em agenda. Como panorama de fundo, temos uma guerra aberta entre alguns partidos, com ofensas pessoais bastante agressivas. O normal, infelizmente. Sobre a Constituição Portuguesa, António Barreto, na sua habitual crónica dominical, no PÚBLICO, denuncia as “inutilidades, afirmações gratuitas, obstáculos à liberdade dos cidadãos e travões à soberania do povo e do seu Parlamento”, que a constituição mantém, acrescentando que a urgência da revisão se impõe. E sublinha a “necessidade de uma profunda e radical limpeza”. Diz que a revisão da Constituição deve ser feita com regras, a começar pela eleição dos constituintes,”caso contrário estamos a entrar no terreno pantanoso dos déspotas, esclarecidos ou não, e dos plebiscitos demagógicos ou das cartas outorgadas”. Depois, afirma que a revisão com regras “só se faz em resultado de negociações partidárias, de concessões e intransigências e de elaboradas negociações. Sobretudo, de equilíbrios efémeros e circunstanciais. Não conheço partido que se disponha a rever uma Constituição com horizontes de uma ou duas gerações, sem que tenham vantagens e lucros imediatos”. Com este panorama, apontado por um sociólogo credenciado e conhecedor do nosso País, nas suas mais variadas vertentes, o que é que será possível esperar? FM

sábado, 25 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 141

BACALHAU EM DATAS - 31
ANTÓNIO RIBAU
Caríssimo/a:
“...[D]ois barcos de pesca à linha: ANTÓNIO RIBAU e LUÍSA RIBAU.”: assim terminava o último “Tecendo ...”. Como é minha convicção de que sempre temos tratado mal os nossos Avós, regresso hoje ao Timoneiro, e desta feita ao ano de 1990, ao mês de Dezembro, para nos deliciarmos com o “TOCA A MARCHAR!...” de Marcos Cirino e O. Louro, e do qual transcreverei pouco mais do que as partes relativas ao senhor António Ribau. «Diz a lenda regional que em tempos que já lá vão fabricou-se o rico sal nesta linda população. [...] “Com a deslocação da Barra , em meados do século XVII para próximo de Mira (...) o número de 500 marinhas (no salgado de Aveiro) estava reduzido em 1778 apenas a 178. A crise da barra e os consequentes assoreamentos na Ria foram causa do abandono e desaparecimento das marinhas das Gafanhas desde Vagos e desde a Costa Nova. Pelo sul da actual ponte da Cambeia também desapareceram a Marinha Velha, a dos Gramatas e bem assim a dos Mil-Homens que ficava pelo norte do Forte Novo ou Castelo da Gafanha.” [...] É daqui oriundo o mais, ou pelo menos, um dos mais antigos armadores da frota bacalhoeira. De facto, a não ser que se conhecessem documentos do século XVII ou do XVIII, e até prova em contrário, vamos considerar o senhor António Ribau o primeiro a mandar fazer um navio. Mandou fazê-lo na Murtosa, sendo posterior o chamado NAVEGANTE I, feito em 1921 pelo Mestre Mónica. Quando este barco foi feito, o senhor António Ribau deu uma quota de 1.000$00 a cada filho – e eram onze – e sabe-se que o preço médio dum navio nessa década de 20 rondava os 14.000$00. Foi então que surgiu a empresa ligada à pesca e secagem de bacalhau denominada Empresa Naval Ribaus, Lda. [...]
Vamos contar um episódio curioso. Voltemos ao senhor António Ribau. Nas suas deslocações tinha uma bicicleta com travões de cinta. Naqueles tempos era costume, nos bacalhoeiros ou na arte xávega, irem à bruxa para dar sorte nas pescas. Ora nestes primeiros anos do século XX não havia comunicação entre os bancos do noroeste atlântico e Portugal. O barco do senhor A. Ribau não aparecia e já lá vão mais de seis meses. Que faz ela! Diz: “O navio aparece amanhã e tem de entrar, senão vai ao fundo, porque se aproxima um ciclone.”
O mar estava ruim. Que fez ele? Carregou a pistola e na antiga cadeia do Forte, que pertencia aos pilotos da Barra, tomou posição e mandou entrar o navio que entrou mesmo. Se a sua ordem desse para torto, seria o seu último dia de vida. Tal não sucedeu. A propósito de superstições e bruxas a desenfeitiçar pescarias leia-se a curiosíssima página do livro “Nossa Senhora da Nazaré” referente à fundação da capela do senhor dos Aflitos ou a correspondente da Monografia.
Hoje a empresa de que falámos é do seu neto senhor José Ribau e outras empresas, quatro ou cinco, tiveram a sua origem no avô corajoso e investidor. A Marinha Velha possui [...] uma seca de bacalhau e, em construção, o novo porto de pesca costeira, um futuro de esperança.»
Aí fica, para os nossos mais novos e um ou outro curioso, esta página de antologia do nosso Bacalhau!
Manuel

OS MILAGRES DE JESUS PASSAM PELAS NOSSAS MÃOS

O RAPAZINHO DO FARNEL
Não estranhes, bom moço, receber uma carta aberta escrita em português corrente. Ainda não aprendi, como os teus colegas, a fazer a “escrita inteligente”. Tenho pena, mas paciência! Sou um padre que vive à beira-mar, junto do Atlântico. Estou a ficar idoso e, desde muito novo, apreciei o que se diz de ti no Evangelho da multiplicação dos pães, recordas-te?! São duas coisas que me impressionam muito: o seres novo e o teres procedido daquela maneira. Estou convencido que também foi isto que mais despertou a atenção de quem escreveu aquele episódio. Olha que nem registou o teu nome, nem o dos teus pais, nem da tua terra. Só aquelas duas coisas. Tu, se calhar, gostarias de ser tratado pelo nome, e eu também, porque o nome tinha um significado próprio e dava a conhecer quem nós éramos no sonho de Deus. Acho interessante que sejas conhecido por “o rapazinho do farnel”. Sabes porquê?! Eu dou-te a minha explicação. Este nome indica a maravilha da tua idade e a grandeza da tua acção. De agora em diante, todas as pessoas são convidadas a serem como tu: atentas e amigas, confiantes e próximas, ousadas e previdentes, generosas na doação, joviais no espírito, discretas na acção. O farnel manifesta o teu modo de ser e a quantidade de alimento a tua maneira de proceder. Agora tenho uma pergunta a fazer-te. Por que levaste cinco pães e dois peixes? Não era demais só para ti ou preocupava-te outra coisa? Inclino-me mais para esta segunda hipótese porque a bondade do teu coração desejava ouvir Jesus ainda que tivesses de correr alguns riscos. E também aceito que pressentias algo mais: a fome que podia vir, o descuido de alguém sem alimento, a possibilidade de seres útil. Parece-me que a tua imaginação abria horizontes ao teu coração. Ou então o episódio tem ainda outro sentido. É quase certo! Admiro a prontidão do teu gesto. Confiante, partilhaste. Entregaste a André o que tinhas. Filipe olha estupefacto. Jesus assume o teu farnel, agradece a Deus a sua bondade e multiplica a tua generosidade. E a multidão sacia a fome com o alimento repartido. Obrigado, rapazinho do farnel! Pela tua mocidade que se revela ser garantia da esperança de todas as idades da vida. Pela tua doação que rasga horizontes de proximidade. Pela partilha “do pão e do peixe” que manifesta uma nova relação com os bens. Pela atitude confiante que desvenda outro rosto de Deus no proceder de Jesus: É um Deus que se preocupa com a sorte da humanidade, que não é auto-suficiente, que aprecia a eficácia e a organização, que não prescinde da nossa colaboração. Obrigado, rapazinho do farnel. A tua discreta intervenção põe em evidência para sempre uma grande mensagem: os milagres de Jesus passam pelas nossas mãos; os cristãos são convidados a comportar-se como pão que se parte e reparte por um mundo novo, por uma sociedade onde haja lugar para todos no banquete da vida. Aceita o meu abraço amigo e agradecido!
Georgino Rocha

Um poema de Domingos Cardoso

Voltar atrás?... Ao olhar para mim não me revejo No petiz que eu fui, jovem que sonhou, Parecendo que a fé já se esfumou Na tortuosa estrada em que mourejo. Em adulto perdi todo o ensejo De fazer o que sempre me animou E a vida tão sonhada se mudou De grande sinfonia em fraco harpejo. No tremor alquebrado dos joelhos Sinto que foram vãos esses conselhos Que tanto me previram este fim. Tentar voltar atrás de nada vale Por não haver regresso que me cale A saudade que sofro já por mim! Domingos Freire Cardoso

Aventuras de um boxer

Férias de Verão
Neste Verão é bom ouvir: As férias estão a chegar! E a minha dona sentir P’lo meu pêlo a mão passar!
A palavra férias soa agora com a magia de sempre! Numa altura meteorológica que se assemelha mais a um Outono tardio, ou até a um Inverno pesado, elas aí estão. Animadoras dos espíritos cansados do trabalho! Mas como em muita coisa na vida, parece haver alguma contradição, pois ouço dizer aos humanos que o trabalho dá saúde! Será assim? Ah, percebo agora por que razão andei adoentado, com a cabeça metida num funil, que me tornou tão infeliz! Eu que gosto de meter o nariz em todo o lado, até naquilo em que não sou chamado! Aqui, neste particular, não me demarco dos humanos, pois há muitos que padecem da mesma enfermidade, p’ra não dizer moléstia! Pela lógica humana, se trabalhasse tanto como a dona, teria a saúde de ferro que ela ostenta! Mas...eu passo a vidinha toda em férias! Até pareço um reformado que não tem horas para nada! Tem o tempo todo do mundo! Era isso mesmo que ela dizia a um dessa classe e que não gostava nada de a ouvir! Ficava tão amofinada a criatura! Até se zangava e tudo! O que vale é que a minha dona deixou de dizer esses desaforos! Queria viver em paz com todos e por isso passou a respeitar a isenção de horários dos retirados do trabalho! Ah! Mas que bom é sentir o clima de férias que se vive em meu redor! A casa parece que ganhou outro brilho! Há mais luz, mais calor humano! Este é alimentado pelas visitas que cá vêm e que me vão passando a mão pelo pêlo! Será alguma tentativa sub-reptícia de sedução? Que queiram conquistar alguma coisa, vá que não vá, mas eu sou desconfiado! Quando a esmola é grande, o pobre desconfia! Mas que é bom o ar de férias, lá isso é! Até o rancho melhorou para os meus lados! Vejo a dona a usar o barbecue com mais frequência, há mais comensais à mesa...enfim, também sobra sempre alguma coisa p’ra mim! Apesar de apreciar o fast food, sempre ali prontinho a comer, lambo-me todo quando vejo aproximar-se de mim o prato com aqueles petiscos que a minha dona tão bem prepara! Que delícia! Sou, na verdade, um cão sortudo e não faço nada jus ao aforismo popular referente a uma qualquer criatura que parece abandonada ao seu destino cruel e suscita a evocação, dita com ar de desdém: “vida de cão”! Pertenço ao rol daquelas avezinhas do céu, citadas na Bíblia, que não semeiam nem colhem e têm a mesa sempre posta na natureza! Eu... tenho-a em casa, desfrutando do dedicação afectuosa e exclusiva dos meus donos! Agora em férias, privamos ainda mais tempo, o que até certo ponto é contraproducente, pois no dizer da dona sempre crítica e nunca abstraindo do seu tom pedagógico, eu fico estragado com mimos! Mas... um cão que se preze é sempre um cão, com toda a dignidade que a espécie lhe confere! Eu vou continuar a desfrutar destas férias do pessoal cá de casa e aproveito todas as mordomias que me fazem. Para alguma coisa sou o guardião desta mansão e nunca deixei os meus créditos por patinhas alheias! M.ª Donzília Almeida

FÉRIAS EM TEMPO DE CRISE

Livros para momentos de lazer
A leitura é ainda um prazer indispensável em tempo de férias. Quem tem o hábito de ler, nunca deixa de aproveitar a oportunidade da pausa maior da actividade profissional para pôr a leitura em dia. E como sugeri há dias umas visitas turísticas à cidade de Aveiro, proponho hoje a leitura de dois livros referentes à nossa capital do distrito. Permitam-me que indique, então, o livro "A PRINCESA SANTA JOANA E A SUA ÉPOCA (1452-1490)", de João Gonçalves, que nos revela o essencial sobre a padroeira da cidade e Diocese de Aveiro. Do mesmo autor, "AVEIRO 2009 – Recordando Efemérides", que nos oferece uma excelente resenha de acontecimentos e pessoas que ajudaram a construir a velha cidade, que tem estado a celebrar os seus 250 anos de existência.

A Igreja e o social (2)

O amor é o princípio
de toda a acção humana
individual e colectiva
O amor é o princípio de toda a acção humana individual e colectiva. Evidentemente, não pode existir sem a justiça, embora a supere. Mas o amor e a justiça têm de ser iluminados pela verdade, sendo esta luz da verdade simultaneamente a da razão e da fé. "Só com o amor - "caritas" -, iluminado pela luz da razão e da fé, é possível conseguir objectivos de desenvolvimento com um carácter mais humano e humanizador", segundo o princípio: "Se não for do Homem todo e de todos os homens, não é verdadeiro desenvolvimento." A partir deste fundamento, a encíclica, lembrando que "a Igreja, estando ao serviço de Deus, está ao serviço do mundo em termos de amor e de verdade", acusa os desvios e problemas dramáticos do desenvolvimento, ao mesmo tempo que avança com princípios e propostas. Assim, previne para o risco de confiar todo o processo do desenvolvimento apenas à técnica, segundo a mentalidade tecnicista, que "faz coincidir a verdade com o factível". Critica as posições neoliberais, cujo único objectivo é o lucro. Contra a pretensão de o Homem encontrar, sozinho, a solução dos problemas, afirma: "A razão, por si só, é capaz de aceitar a igualdade entre os homens, mas não consegue fundar a fraternidade" e, por isso, "a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos mais próximos, mas não mais irmãos." Como admitir que a riqueza mundial cresça em termos absolutos, mas aumentem também as desigualdades? Encontra-se corrupção e ilegalidade nos países ricos e também nos países pobres. "Há formas excessivas de protecção dos conhecimentos por parte dos países ricos" e "as ajudas internacionais desviaram-se frequentemente da sua finalidade por irresponsabilidades tanto nos doadores como nos beneficiários". É um equívoco pensar que a economia de mercado precisa de uma quota de pobreza e de subdesenvolvimento para funcionar melhor. Os organismos internacionais de ajuda deveriam perguntar-se pela eficácia real dos seus aparelhos burocráticos de alto custo. As organizações sindicais nacionais não podem ignorar os trabalhadores dos países em vias de desenvolvimento. Para o seu correcto funcionamento, a economia precisa da ética, "uma ética amiga da pessoa". O comércio mundial tem de ser justo. O desenvolvimento tem de respeitar a ecologia ambiental, humana e social, pensando também nas gerações futuras. No quadro da interdependência global, impõe-se que nos tornemos seus protagonistas e não vítimas, sendo urgente uma nova síntese humanista para um humanismo integral e uma globalização orientada pela relacionalidade, comunhão e participação de todos, no vínculo indissolúvel de solidariedade e subsidiariedade. É neste contexto que aparece a proposta mais sublinhada por todos: "Perante o imparável aumento da interdependência mundial e também face a uma recessão de alcance global, sente-se intensamente a urgência da reforma tanto da Organização das Nações Unidas como da arquitectura económica e financeira internacional, para que seja possível uma real concretização do conceito de família de nações. De igual modo sente-se a urgência de encontrar formas inovadoras para pôr em prática o princípio da responsabilidade de proteger e dar também uma voz eficaz nas decisões comuns às nações mais pobres. Isto revela-se necessário precisamente no âmbito de um ordenamento político, jurídico e económico que incremente e guie a colaboração internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos." Para conseguir o governo da economia mundial, o desarmamento, a segurança alimentar e a paz, a salvaguarda do meio ambiente e a regulação dos fluxos migratórios, "urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial", "que deverá ser reconhecida por todos, gozar de poder efectivo para garantir a cada um a segurança, a observância da justiça, o respeito dos direitos". Anselmo Borges In DN

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Crianças austríacas entre nós, depois da segunda grande guerra


Quem me ajuda a recordar?

O Presidente da República, Cavaco Silva, está de visita oficial à Áustria, onde recebeu homens e mulheres que, depois da segunda grande guerra de 1939-1945, foram acolhidas por famílias portuguesas. Na altura, fugiam à miséria provocada pela guerra. Segundo se diz, foram cerca de cinco mil. A responsável pela vinda das crianças foi a Cáritas Portuguesa, criada, na altura, para responder a esse desafio. As notícias da visita do Presidente da República referem que algumas dessas “crianças”, agora na casa dos 70 anos, manifestaram a sua alegria por este encontro, com o País que as acolheu. Recordo-me, perfeitamente, do dia da chegada de um grupo dessas crianças à Gafanha da Nazaré, concretamente, junto à Escola da Ti Zefa, que eu frequentava. O prior da freguesia, o Padre Bastos, é que orientava a distribuição. Ele próprio ficou com uma menina, que o visitou há poucos, em Trofa do Vouga, tanto quanto sei. Recordo algumas famílias que receberam as crianças austríacas. Contudo, não publico hoje o que sei, na esperança de que alguns conterrâneos me possam ajudar. Fico a aguardar.

 FM