quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A PAZ AO ALCANCE DE TODOS


Abertos ao Infinito de Deus

A guerra, em qualquer das suas formas, atormenta a consciência de uma parte da humanidade. Fere o que de mais sagrado há em nós. Avilta, destrói, mata. A paz expressa a harmonia do ser humano em comunhão com o universo. É natural, apesar de supor algumas tensões. É “artificial” pois exige relação, aceitação do diferente, tolerância, justiça e equidade. A pobreza imposta surge como um factor “provocatório” de situações conflituosas. Cada vez mais. E em maior extensão. Daí a urgência de se empreenderem esforços para erradicar a pobreza. Em todas as suas formas. Nas mais diversas situações. De âmbito material e de outros: menosprezo de si mesmo, instabilidade interior e inversão de valores, despiste no sentido da vida, imaturidade relacional, desnorte ético, preconceitos inibidores, secura de espírito, mediocridade banal, horizonte redutor face à beleza da visão integral do ser humano e da plenitude das suas capacidades. Também aqui se verifica que “a águia atrofia na capoeira” e a galinha cansa-se depressa no seu voo rasante. A paz supõe a compreensão e aceitação da dignidade comum. Expressa na mesma natureza. Enaltecida pelas culturas de cada povo ou etnia. Configurada pelo direito positivo ou por declarações universais (como a da ONU de 1948). Respeitada e promovida pelos vários códigos. Espelhada na lei corrente e potenciada pelas políticas concretas. O teste à vontade comum sobre a paz tem aqui a “sua prova de fogo”. Examinar as políticas específicas e aferir da sua justeza. Colocar-se no lugar das vítimas espoliadas da sua dignidade e sentir a voz da humanidade a clamar por atenção e respeito. Armazenar anos e anos de privações humilhantes agravadas pela desconsideração oficial e pela exploração do seu nome, história e bens. Aguentar o insulto supremo de ver manipulada a verdade e de ser tratado como um excedente da humanidade. A paz é a harmonia periclitante de toda a criação. Cresce e adquire consistência na medida em que assenta na solidariedade e visa construir o bem comum. Lança raízes num estilo de vida digno da condição humana: próximo no relacionamento entre as pessoas, grupos e povos; moderado e sóbrio no desejo, posse e uso dos bens; generoso e altruísta na atenção aos outros e, sendo necessário, na abdicação de benefícios individuais em prol dos mais necessitados; aberto ao Infinito de Deus, acolhedor dos seus dons que reparte largamente em comunicação benfazeja e amiga. Georgino Rocha

"New York Times" esteve na Gafanha da Nazaré


O jornal norte-americano “New York Times”, um dos mais prestigiados em todo o mundo, esteve na Gafanha da Nazaré para fazer uma reportagem sobre o bacalhau. A reportagem saiu na edição de 16 de Dezembro com o título “Tradição portuguesa enfrenta futuro congelado”. 
A jornalista Elaine Sciolino considera o bacalhau “a coisa mais perto de ser símbolo nacional” e compara-o ao peru que os americanos comem no Dia de Acção de Graças. Refere ainda que no tempo da ditadura o bacalhau foi a grande fonte de proteínas para os portugueses. 
A jornalista visitou a empresa Rui Costa e Sousa, conversou com Gonçalo Guedes Vaz e observou o trabalho de preparação do bacalhau. Gonçalo Guedes Vaz afirmou que o futuro do bacalhau passa pelo venda em congelado, pronto a confeccionar, sem dar grande trabalho a quem tem pouco tempo. As vendas de bacalhau congelado representam 17 por cento da produção da empresa, mas o responsável espera que representem 50 por cento dentro de cinco anos. 
A Elaine Sciolino viajou até Lisboa e falou com cozinheiros, vendedores e apreciadores, que mostraram preferência pelo bacalhau tradicional, que é preciso demolhar, mas que “sabe a verdadeiro bacalhau”.


Fonte: "Timoneiro" de Janeiro

Fim de Ano na Madeira

Para trás ficou a saudade 
de uma ilha paradisíaca




Logo à saída do aeroporto de Santa Catarina, fomos acariciados no rosto pela brisa morna da noite madeirense. O encanto prolongou-se até à entrada para os autocarros, que nos esperavam, onde dois simpáticos jovens madeirenses, envergando trajes típicos da região, nos presentearam com o perfume de uma orquídea e um minúsculo barrete simbólico. Fomos conduzidos ao centro de Juventude da Madeira, onde ficámos muito bem instalados, durante a nossa estada na ilha. Dado o tardio da hora e o cansaço da viagem, feita de noite, não pudemos apreciar a qualidade e a beleza das instalações. Só na manhã seguinte nos foi possível contemplar todo o empenho e encanto das ornamentações de Natal. Louvor seja feito às mãos meticulosas que deram o seu toque a toda a casa, realçando a exuberância dos enfeites e o colorido das formas. Durante a nossa permanência, demos a volta à ilha, em autocarro, e eu não posso esquecer o fascínio e sedução que senti por esta terra encantada; fiquei totalmente rendida a esta obra do Criador. Os grandes penhascos arrojando-se para o mar; as encostas repletas de vegetação luxuriante; as extensas plantações de bananeiras, a desafiar o apetite do mais esfomeado; a aldeiazinha perdida no Curral das Freiras, observada do altaneiro miradouro da Eira do Serrado; as temperaturas mais baixas, do Pico do Areeiro, a convidar à compra do barrete do “Alberto João”... e alguns não resistiram à tentação; o almoço em Porto Moniz, onde saboreámos o famoso espada da Madeira; as temperaturas amenas das águas do mar, cativas em piscina natural; quantos de nós não sentiram a nostalgia do “maillot”, arrumado a um canto, lá no velho continente!... Ficaram as fotos para recordar! Ao longo da viagem, em autocarro, iam sucedendo em catadupa, ora encostas ensolaradas, ora picos altíssimos que se adivinhavam por entre um nevoeiro cerradíssimo. Daí a pouco tempo, o sol vencia de novo o seu antagonista, deixava-nos admirar as polícromas e variegadas flores que ofereciam ao forasteiro, o sortilégio das suas formas: agapantos, orquídeas, buganvílias, sobrálias, antúrios, hibiscos, maçarocas, estrelícias, etc. Fascinou-me a garridice das “manhãs de páscoa” que proliferavam em muitos jardins madeirenses, a fazer inveja às nossas raquíticas “estrelas de natal”, aprisionadas em pequenos vasos e oferecidas, na época natalícia. Fiquei embriagada de cor e beleza, com as casinhas de colmo de Santana; o colorido das madeiras, a contrastar com a alvura das paredes, fizeram as delícias dos Companheiros. E que dizer das ornamentações soberbas das ruas, do presépio gigantesco que é toda a baía do Funchal, do mar de luz que ofuscava o transeunte... E para cumular toda esta beleza, a apoteótica passagem de ano com o majestoso fogo de artifício e toda a euforia dos espectadores. Não tenho palavras adequadas para traduzir todo esse arrebatamento. Só a alma o sente e o guarda para memória futura. Mas, para que todo esse “clima” fosse possível, não devo esquecer todo o empenhamento dos nossos Companheiros da revista Campismo, - a solicitude do Manecas - e a simpatia dos nossos compatriotas da Madeira, na pessoa do Companheiro Isidro. Este fez questão de nos acompanhar no convívio da passagem d’ano, onde houve de tudo à mistura: petiscos saborosos, cantorias, dança... Os Companheiros puderam dar largas ao que lhes ia na alma. Cantámos e dançámos até às tantas, havendo apenas a preocupação de chegar ao Centro de Juventude antes das suas portas fecharem. Houve alegria, camaradagem, confraternização sã. O resto da noite foi para ganhar forças para a viagem de regresso. O tempo passou num ápice ... e... para trás ficou a saudade duma ilha paradisíaca! A todos quantos nos permitiram esta inolvidável experiência, o nosso grato reconhecimento. Bem-hajam!
Mª Donzília Almeida Viagem realizada de 27.12. 1994 a 01.01.1995

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ainda o Estatuto dos Açores

Paisagem açoriana - São Miguel 

"O Presidente da República reafirmou ontem os princípios fundamentais que o levaram a vetar politicamente o Estatuto dos Açores, princípios de fidelidade à Constituição que o levaram ontem a aceitar o novo voto do Parlamento e a mandar promulgar um diploma de que discorda profundamente.
Já aqui escrevemos e repetimos: o Estatuto dos Açores possui normas absurdas, que violam o equilíbrio de poderes, e só foram aprovadas por puro oportunismo político de todos os partidos. Todos, repito. As razões do Presidente são claras e só num país analfabeto politicamente se compreende que se tenha perdido mais tempo nas últimas semanas a discutir o método que escolheu do que a substância do que estava em causa.
Triunfou a politiquice, perdeu-se mais uma oportunidade de explicar aos portugueses a importância de cumprir as regras no jogo democrático. E como se tudo isso já não fosse suficientemente mau, viu-se o primeiro-ministro a procurar explorar politicamente um conflito que ele contribuiu para criar, se é que não foi mesmo o principal responsável ao determinar que o PS não alteraria uma vírgula na norma em causa do Estatuto dos Açores.
No fundo ficou provado que em Portugal são raros os que se mantêm fiéis aos seus princípios e numerosos os que preferem adaptar-se aos tempos que correm, gracejando ou desculpando-se, conforme for mais conveniente.
Vivemos os anos que vivemos num regime autoritário, e vivemos esses anos todos com uma oposição bem mais anémica do que seria natural, porque já éramos assim. E porque muitos acham que ter princípios é ser dogmático e sectário, quando é exactamente o contrário: quem tem princípios sabe guiar-se em terrenos pantanosos sem sacrificar o essencial, quem não os tem apenas sabe ser autoritário ou servil em função das conveniências do momento."

José Manuel Fernandes,
no Editorial do PÚBLICO

Presidente da Junta quer prendas para os gafanhões


Centenário da freguesia da Gafanha da Nazaré 
quer oferecer alguns melhoramentos à população

Manuel Serra
A celebração do centenário da criação da freguesia da Gafanha da Nazaré, em 2010, quer oferecer alguns melhoramentos à população. Assim nos garantiu Manuel Serra, Presidente da Junta de Freguesia, em conversa sobre a efeméride, que vai ser comemorada durante todo o ano de 2010. A Junta está atenta a essa realidade e “tudo fará para que datas importantes e simbólicas sejam dignamente recordadas”, disse. 
A criação da freguesia, em 31 de Agosto de 1910, mas também a elevação a vila, em 1969, e o salto para cidade, em 2001, vão ser, sem dúvida, “datas que possam proporcionar boas reflexões sobre a terra que fomos, somos e queremos ser”, na perspectiva do autarca da Gafanha da Nazaré. 
Nessa altura, quem circular habitualmente pela Avenida José Estêvão vai experimentar uma alteração significativa, na zona da igreja matriz. Aí, passa a haver um só sentido para o trânsito automóvel, “entre o cruzamento das Caçoilas e o acesso que conduz ao Centro Cultural, com passeios mais largos e arranjos modernos, sem estacionamentos”, referiu Manuel Serra.
Ao lado, na área correspondente ao antigo mercado, vai nascer “um amplo e funcional edifício”, para sede da Junta de Freguesia e Correios, de forma “a responder às exigências actuais”, garante o autarca. Este novo largo, com estacionamento subterrâneo, “vai tornar-se num novo centro cívico da cidade”, com ornamentação condigna e zona lúdica “próprias da celebração do centenário da freguesia”, acrescentou. 
Apesar de estes projectos resultarem de um concurso de ideias, o presidente da Junta fez questão de sublinhar que “as alterações aplicadas resultaram de sugestões dos moradores”, durante o período de discussão pública. Entretanto, o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré também vai passar por obras de melhoramentos e remodelação, resultantes de “carências sentidas ao longo dos 14 anos da sua existência”, como nos confirmou o presidente da Junta. 
Manuel Serra adiantou que o palco foi dado “como desadequado”, e que “as comodidades dos espectadores, em festas e outros eventos, amplamente justificam o que vai ser feito”. O novo palco avança para o anfiteatro exterior, melhorando-se o interior, que ficará maior e “mais digno, com galerias para artistas e outras pessoas do espectáculo”. 
O autarca da Gafanha da Nazaré lembrou que o Centro Cultural já foi contemplado com diversas obras laterais, “criando-se novas funcionalidades”, sendo certo que os trabalhos agora programados vão ser “mais significativos”. Oferecem-se, deste modo, novos espaços para o desenvolvimento de actividades culturais e sociais, num esforço de responder, objectivamente, “às necessidades das populações”, frisou.
Em jeito de conclusão, Manuel Serra garantiu-nos que estes melhoramentos foram agendados, de certa forma, tendo em conta as celebrações do centenário da criação da freguesia. Nessa linha, admite que tudo vai ser feito pela Câmara Municipal de Ílhavo, com o apoio da Junta, para que 2010 possa oferecer aquelas prendas ao povo da Gafanha da Nazaré. 

Fernando Martins 

NOTA: Texto publicado no "Timoneiro" de Janeiro

Crise para a história

Personalidades de diversas áreas analisam o ano que termina e falam em fim de ciclo
Uma crise histórica que mudou a forma como vemos o mundo. É assim que várias personalidades auscultadas pela ECCLESIA avaliam os acontecimentos de 2008, lembrando ainda factos e personalidades que ficam para a história.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CAVACO ZANGADO COM RAZÃO

POLÍTICA BARATA
A política tem destas coisas. Dá a impressão que os nossos políticos têm um certo prazer em criar problemas, mexendo em temas que não dão pão a ninguém. Vai daí, toda a gente se envolve em polémicas, com análises, debates, editoriais, discussões e protestos, prós e contras. Mas as carências, as fomes, as crises, os desempregos, as guerras, tudo isso é posto de lado. Se eu fosse pessimista, ousaria dizer, como alguém um dia disse: "Adeus Portugal que te vais à vela!"Mas como sou optimista, vou acreditar que esta questão dos Açores, para já, não vai dar em nada. E um dia qualquer, outro parlamento nacional, da mesma forma, dará a volta ao texto e tudo fica como antigamente. Afinal, até parece que vivemos uma política barata, daquelas que nem aquecem nem arrefecem. Existe, mas é como se não existisse.
Para já, se tiverem paciência, podem ler a comunicação que o Presidente da República fez hoje ao País.

Santa Maria Manuela, na hora da partida para Espanha

O Leopoldo Oliveira, sabendo da minha impossibilidade de ver sair, barra fora, o Santa Maria Manuela, a caminho de Espanha para os acabamentos necessários, apressou-se a enviar-me uma foto da partida. Obrigado, meu caro, pela partilha, tão oportuna. Então, cá esperamos o Santa Maria Manuela, lá para Outubro, para nosso regalo.

Santa Maria Manuela regressa ao mar

Santa Maria Manuela volta ao seu meio natural
Noticia o Diário de Aveiro que hoje, à tarde, o Santa Maria Manuela vai regressar ao mar. Vai ser, para quem gosta de navios e do mar, um belo espectáculo, a não perder. Uma arreliadora e persistente constipação não me deixa estar presente, neste momento simbólico e depois de profundas obras de recuperação do navio, outrora dedicado à pesca do bacalhau. Mas estou em crer que não hão-de faltar os apaixonados por estes temas.
Ler mais no DA

Seminaristas de Aveiro

Dúvida sobre o futuro marca a vida de oito seminaristas
:
"Quando entro no Seminário, tenho a certeza que é isto que quero para o meu futuro, mas quando chego à escola e vejo as minhas colegas já não sei se quero ser padre". O desabafo de um seminarista ao padre João Paulo Soares traduz um dos principais dilemas que atormentam os jovens candidatos a párocos, como os oito que estão no Seminário Santa Joana Princesa, em Aveiro.
Leia mais no JN

domingo, 28 de dezembro de 2008

Rua Júlio Dinis

Um primo do escritor tinha na GAFANHA 
uma elegante propriedade rural 

A homenagem ao escritor Júlio Dinis, de seu nome de baptismo Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), é mais do que justa. Autor de romances célebres, dos mais lidos da literatura portuguesa, bem compreendidos pelo povo, figura com propriedade na toponímia da Gafanha da Nazaré. E se soubermos que o romancista andou pela nossa terra e dela falou em termos encomiásticos, então mais naturalmente aceitaremos a razão por que o seu nome é lembrado a toda a hora pelo nosso povo e por quem nos visita. 
A Rua Júlio Dinis começa, podemos dizer, junto ao café Palmeira, quando se sai da Av. José Estêvão para o lado sul, serpenteando a Marinha Velha, até encontrar a Rua António Sardinha. Atravessa uma significativa parte daquele lugar da nossa terra, cujo nome herdou de uma velha marinha de sal que por ali existiu. 
Identificada a rua, que tem à vista o Porto de Pesca Costeira e a ponte que liga às praias da Barra e da Costa Nova, vamos então voltar ao nosso homenageado, autor de romances que nos encantaram na nossa adolescência. A Morgadinha dos Canaviais, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Uma Família Inglesa, As Pupilas do Senhor Reitor e Serões da Província, entre outros escritos, mostram-nos uma alma pura e simples, ávida de felicidade.
Como médico que era, facilmente sentiu que a tuberculose pulmonar o minava, condenando-o a uma morte prematura. Procura saúde em ares diferentes, mais sadios, e também esteve na Gafanha. Em 28 de Setembro de 1864, escreveu ao seu amigo Custódio Passos, de Aveiro, como se lê em Cartas e Esboços Literários. E diz: “Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.” Depois, acrescenta, como que a querer dar-nos uma lição: “Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.” 

Fernando Martins

O Nosso Mar

Nós, os da beira-mar, gostamos de ver o nosso mar. Pode não haver nenhum motivo especial, mas essa vontade de contemplação e, por que não dizê-lo?, de êxtase, acontece-nos frequentemente. Hoje, por exemplo, alguém me desafiou para experimentar esse prazer. Compromissos inadiáveis impediram-me a curta viagem que nos separava do oceano. Mas como não fiquei de consciência tranquila, aqui estou a manifestar a necessidade que sinto de o olhar de perto e de frente. Não fui até ele, mas peguei numa foto, há tempos fixada pela minha digital, e deste modo manifesto o sabor que o nosso mar me dá. Nos dá.
FM

Em tempo de festas

Serviço Cívico Europeu
A Comunidade Ecuménica de Taizé inicia hoje, em Bruxelas, o Encontro de Jovens de toda a Europa. Mais de 40 mil vão viver, até ao dia 1 de Janeiro de 2009, uma experiência de fé, de oração e de comunhão, em torno do tema “Por uma Europa Aberta e Solidária”. Foi já anunciada, como tarefa a seguir, a proposta da implementação do serviço cívico europeu, como forma de levar à prática iniciativas de solidariedade entre povos e nações. Os jovens entendem que, face à crise económica que se vive, à escala mundial, importa criar mecanismos de auxílio para apoiar os países e as pessoas mais pobres. Ainda sugerem, com toda a generosidade que caracteriza a juventude capaz de pensar, que, à mundialização da economia, se associe uma mundialização da solidariedade. Em tempo de tantas festas, carregadas de nadas, onde muitos jovens e menos jovens se afogam no efémero de prazeres egoístas, importa lembrar, aqui e agora, que, felizmente, ainda há quem queira pensar e viver de forma diferente. FM

Suave Aparição

Eu sou AQUELE...
Desde que fora assolada por violenta tempestade, na sua vida, procurava, afanosamente, a sua alma gémea, a sua companhia de jornada, o seu alter ego! Desde os píncaros gelados e puros do Kilimanjaro, onde a atmosfera rarefeita condiciona a existência de vida, até aos pântanos nauseabundos da WWW, onde a diversidade biológica é surpreendente, tudo fora analisado e estudado, minuciosamente! Se no primeiro lugar, mal deparara com algum exemplar da espécie humana, no segundo, pululavam aos magotes, atropelando-se e “chafurdando” no lodo! Dalila, empurrada para uma solidão forçada, ainda acreditou que a Divina Providência a recompensaria por todo o seu empenho e esforço, na construção de caminhos úteis. Afinal, a vida havia-lhe demonstrado que são os mais ousados, os mais hábeis que singram na vida! Serão? Não se arrependera, no entanto, de ter conduzido toda a sua vida, com abnegação e espírito de sacrifício! Deus, que tudo ouve e tudo vê, haveria de a recompensar. Deixava fluir os dias, e numa atitude de dádiva aos outros, repartia-os, entre as suas atribuições profissionais e os seus hobbies que lhe preenchem as ânsias da alma. Era neste cenário que se preparava para a vivência de mais um Natal. Sentia uma alegria genuína, uma serenidade, há muito arredia, e a sua casa era disso um sinal bem evidente. Luzes multicores, acordes natalícios, numa ornamentação colorida, em amplexo envolvente, recebiam as visitas e os amigos, nessa quadra calorosa. Já pela noite dentro, depois de satisfeita a curiosidade das prendas, quando se preparava para ir assistir ao ritual da missa do galo, eis que se abre a porta, lenta e suavemente... Uma luz diáfana envolvia uma figura resplandecente, que balbuciou: - Estou aqui! Eu sou o J... o Jesus... o José, o Jorge, o João... aqueles que, nas procelas da vida, estiveram presentes e nunca te desampararam. Dalila teve um rebate... Aquele... demarcava-se dos outros, daqueles... que, antes de estenderem um braço, já o outro apresentava o orçamento! Sou... Aquele que, quando te sentias desamparada, a calcorrear, sozinha, os caminhos da vida, eram as minhas pegadas que vias, nos sulcos da areia, pois pegara em ti ao colo! Mª Donzília Almeida 21 de Dezembro de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 110

FÉRIAS
Caríssima/o: Logo que o Professor se despedia, era uma corrida desenfreada para a Borda que nos atraía qual íman benfazejo: naquelas águas transparentes, nos moliços verdes, nas pedras lamacentas, nos miopores, nos macios, nas Portas d'Água, na Cambeia, no Paredão Arrunhado, no Esteiro Pequeno e no Grande, no Jardim Oudinot e em toda a zona envolvente residia agora o nosso novo mundo de estudo e de experiência. A roupa ia sendo desenfiada à medida que corríamos para o Esteiro que nos apanhava já descontraídos e na mais aferroada das competições nas travessias e mergulhos. E as pescarias? Não havia pedra que ficasse por virar e o cesto ia-se enchendo...Os robalitos também não deviam estar muito satisfeitos: em cada maré apanhávamos algumas dezenas... A serradela levava cá uma destas tareias que nem vos conto! É que para iscar os anzóis era precisa muita e nós lá andávamos pelo lamaçal em busca dos melhores sítios (a lama mais rija e areenta com muitos buraquinhos como que a dizer-nos que as bichas estavam lá por baixo à nossa espera... era só dar a cavadela, virar e, rápidos, apanhá-las pelas cabeças e puxá-las sem as partir!...) Dias e dias se passavam entre a ria e o jogo da bola; era um corropio e uma animação, apenas e só interrompidos quando um ralhete da Mãe nos chamava para tomar conta de um irmão mais pequeno! Oh, céus! Grande desconsolo... Por vezes, os mais velhos permitiam que assistíssemos aos seus jogos, mas tínhamos de estar caladinhos como cordeiros mansinhos: nem pio! O mais animado era o jogo do xui! Claro, na Cambeia, só os mais velhos estavam autorizados a nadar; os mais novos podíamos dar umas pajadelas mas só se um irmão mais crescido rondasse por perto. Entretanto, o tempo passava muito depressa, tão rápido que já não se sabia quais eram os trabalhos marcados para férias e até o poiso dos cadernos e dos livros se foi... Mesmo, mesmo no último dia, lá se corria a casa de companheiro cuidadoso e num lufa-lufa apertadinho tudo ficava em ordem ... Uf! [Agora com o magalhães não há o perigo de perder o TPF... Há que aproveitar as vantagens...] Não esqueço que alguns e algumas passavam umas férias amarguradinhas sempre atrás do rabo da vaca, na rega, até esvaziar o velho estanca-rios ... e em todos os trabalhos agrícolas próprios da época; de vez em quando lá davam uma escapadela para integrar o nosso grupo de natação no Esteiro! E por estes lados aproveitamos a escapadela para desejar um fim de ano à nossa maneira e que seja o prenúncio de um ANO NOVO repleto de saúde e de tudo o que de melhor a vida nos pode reservar.
Manuel

A Família

PRESENTE COM FORÇA DE FUTURO
O ser humano é familiar por natureza. Começa na família de sangue e vai crescendo em horizontes progressivos de toda a humanidade e, sendo crente, da própria religião a que vem a aderir. Sempre a família o acompanha, ainda que seja como nostalgia de a haver perdido ou a de verificar que as regras pedidas pelo coração estão a ser alteradas. Toda a família humana cria um estilo de vida relacional típico que facilita a cada membro ser ele mesmo, ganhar identidade própria, desenvolver a sua personalidade, expandir as suas capacidades, buscar espaços para a sua realização integral. Este crescimento vai-se fazendo de muitos modos, sendo o mais básico e comum a relação recíproca, a de ser amado e aprender a amar, a de dialogar partilhando emoções e experiências, a de receber e dar confidências, a de gerar certezas e enraizar convicções. Emerge assim, condicionado também por outros factores, um tipo de pessoa capaz de se afirmar perante outras e de aceitar benevolamente o que são e como são, consentindo nas diferenças e procurando dar-lhes harmonia construtiva. Sem uma personalidade estruturada nas suas diversas funções e em harmonia com as demais, dificilmente o companheirismo e a vizinhança se desenvolvem, as associações de convivência e lazer, de cooperação e reivindicação, de crenças e religiões encontram a consistência indispensável para estar ao serviço do bem comum. Sem consistência, irrompe a insegurança e a fragilidade, o medo da aventura e o risco da surpresa frustrante. Sem consistência, nem a liberdade alcança os seus voos atraentes e sedutores próprios dos espíritos desinibidos face à verdade e à sua aceitação incondicional. A família, alicerçada na verdade do seu ser, é um valor escolhido livremente que exige cultivo constante. Como os outros valores. Como as árvores de rega. Pode assim atingir uma qualidade de vida em sintonia com as aspirações mais profundas e constantes do coração humano. Pode assim construir-se como uma história de vivências e recordações, de envelhecimentos progressivos, de memórias inesquecíveis, de sonhos e expectativas, de cumplicidades aliciantes, de amizades confiantes. O estilo de vida familiar facilita ou dificulta o crescer do seu ser e o afirmar da sua verdade. Neste vaivém, não diminui, desaparece ou se destrói aquela realidade que, à maneira de sonho ideal, aumenta a apetência e aguarda realização. Uma família, para quem a vê com olhos de fé cristã, emite sinais da presença de Deus, espaço da realização do seu amor, fonte de vida em relação, oportunidade especial de encontro e comunhão. Não sendo a única nem frequentemente a mais publicitada, é certamente a mais válida e qualificada escola de educação e humanização, a melhor configuração do espaço de partilha de experiências de vida, a mais promissora e eficaz força de esperança no futuro. Georgino Rocha

sábado, 27 de dezembro de 2008

IDOSOS ABANDONADOS

Francisco José Viegas, escritor e director da revista LER, afirmou, na sua pequena mas oportuna crónica do Correio da Manhã, transcrita depois para o seu blogue, A Origem das Espécies, o seguinte, que aqui ofereço aos meus amigos, para reflexão:
"Segundo parece, o 'jantar de consoada' é cada vez mais encomendado de fora ou servido nos hotéis. Nas sociedades tradicionais, as festas tradicionais são essencialmente domésticas, caseiras, familiares – e Portugal está a mudar de hábitos. Não vem daí grande mal, a não ser a revelação de que as pessoas já não sabem nem gostam de cozinhar. Ou não têm tempo para isso, porque trabalham muito. Também não têm tempo para os seus velhos, e isso é mais grave: por esta altura, há famílias que entregam os seus velhos nos hospitais e dão, em troca, números de telefone falsos para não serem incomodados. Uma sociedade sem generosidade nem compaixão, fria e sem paciência – e com vergonha dos seus velhos, que incomodam e relembram que todos morremos e envelhecemos. É um retrato abjecto."

INVERNO

Assumindo como indiscutível que todas as Estações do Ano têm o seu encanto e a sua beleza, não quero deixar de assinalar, aqui, essa verdade, que sempre me acompanhou na vida. Desde tenra idade. Eu até costumava dizer, como ainda agora digo, que um dia de chuva não deixa de ser belo, tanto quanto nos permite saborear o aconchego da nossa casa e dos nossos recantos dentro dela. Ouvindo a chuva a bater nas vidraças, enquanto se lê um bom livro ou se ouve uma música melodiosa, sentimos um não sei quê que nos faz olhar para o nosso interior, quantas vezes em busca de sonhos à cata de verem a luz do dia. Hoje sinto isso, impedido de sair com uma constipaçãozita arreliadora. Por isso, aqui desta minha tebaida, vendo o sol muito tímido coado pela vidraça e tecido pelos ramos hibernados da árvore, gozo o prazer de alimentar os meus anseios.
Bom fim-de-semana para todos. Fernando Martins

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM

Há 60 anos, exactamente no dia 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em Paris a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Havia precedentes. Por exemplo, a famosa Charta Magna libertatum - a Magna Carta -, de 1215. Mas ela começa assim: "Estas são as demandas que os barões solicitam e o senhor rei concede", acabando, portanto, por abranger apenas os "homens livres". A Declaração de Direitos (Bill of Rights) do Bom Povo de Virgínia, de 1776, já reconhecia os direitos dos indivíduos enquanto pessoas, mas não se estendia a todos, pois não incluía os negros, considerados "uma espécie inferior". Em 1789, a Assembleia Nacional Francesa promulgou a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas este Homem era ainda só o varão branco e proprietário. Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclama-se, pela primeira vez, que toda a pessoa humana, independentemente do sexo, condição social, raça, religião, nacionalidade, é detentora de direitos fundamentais, que devem ser respeitados por todos, pois são universais e valem em todo o tempo e lugar. Mas não houve consenso. Oito países abstiveram-se de votar a favor. A Arábia Saudita e o Iémen puseram em causa "a igualdade entre homens e mulheres". A África do Sul do apartheid contestou o "direito à igualdade sem distinção de nascimento ou de raça". A Polónia, a Checoslováquia, a Jugoslávia e a União Soviética, comunistas, contestaram que alguém pudesse invocar os seus direitos e liberdades "sem distinção de opinião política". Entretanto, em 1966, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o "Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais" e o "Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos", que, para entrarem em vigor, precisariam de ser ratificados pelo menos por 35 países membros, o que só aconteceu dez anos mais tarde. Embora a sua violação continue uma constante, como permanentemente informa e denuncia a Amnistia Internacional, há uma consciência universal crescente dessas duas gerações de direitos - civis e políticos, e económicos e sociais -, a que veio juntar-se uma terceira geração, cujos titulares não são os indivíduos, mas os povos, como o direito ao desenvolvimento, o direito à autodeterminação, a um meio ambiente sadio, à paz. Continua o debate sobre a sua universalidade, que J.-Fr. Paillard sintetizou nesta pergunta: "Um instrumento ideológico ao serviço do Ocidente", para impor ao resto do mundo a sua visão do bem e do mal? M. Gauchet, por exemplo, disse: "Do ponto de vista de um dirigente chinês, indiano ou árabe, os direitos do Homem são antes de mais os direitos do homem branco a exportar o modelo de civilização que os tornou inteligíveis." No entanto, ainda recentemente - Junho de 1993 -, na Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos do Homem, os Estados reafirmaram: "Todos os direitos do Homem são universais, indissociáveis, interdependentes e intimamente ligados." E, considerando a diversidade cultural em conexão com este universalismo, acrescentaram: "Se importa não perder de vista a importância dos particularismos nacionais e regionais e a diversidade histórica, cultural e religiosa, é dever dos Estados, seja qual for o sistema político, económico e cultural, promover e proteger todos os direitos do Homem e todas as liberdades fundamentais." No início de um novo ano, que melhores votos que os do cumprimento pleno destes direitos? Referindo o Preâmbulo da Declaração - "Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; considerando que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar, de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem..." -, um caricaturista do El País pôs Deus a ler e a exclamar: "Que preâmbulo! Não tinha lido nada tão bom desde o Sermão da Montanha."

Procura...

Há um ser errante em meu destino Que procura, busca um sentido; P’ró Além se sente impelido, Numa vida que tem sido um desatino! Há castelos no ar, nunca alcançados Fímbrias de nuvens passageiras, Emboscadas por vezes traiçoeiras Sonhos não vividos, mas sonhados! E minh’alma sedenta do eterno, Procura em ti esse apoio fraterno Que como bálsamo para a dor existe! Mas a busca vem de longe e não termina Neste espaço sideral não se confina E no fundo do meu ser a dor persiste! Maria Donzília Almeida Dezembro de 2008