quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CUFC: Carreira das Neves fala de São Paulo

Ontem à noite tive o privilégio de assistir a mais uma Conversa Aberta, do Fórum::UniverSal, no CUFC. Digo privilégio porque não é todos os dias que temos entre nós um homem com larguíssimos conhecimentos da Bíblia. O padre franciscano Joaquim Carreira das Neves é um conceituado biblista e Prof. Catedrático, jubilado, da Universidade Católica Portuguesa. Tem, ainda, uma característica importante: apesar de retirado do ensino superior, continua a actualizar-se, em Portugal e no estrangeiro, porque a Bíblia é um desafio permanente à sua capacidade de estudar e de descobrir. Quem dera que fosse assim para muitos de nós. Carreira das Neves veio falar de “Paulo de Tarso e os Desafios do Cristianismo”, num tom que lhe é peculiar, explicando, de forma simples, questões por vezes complicadas. Ouvi-lo é aprender sempre muita coisa. De São Paulo, de quem se fala tanto, mas nem sempre com a profundidade que “o apóstolo” merece, ainda há imenso que aprender. Sabe-se, hoje, que Saulo, depois Paulo, nasceu na Palestina, mas não em Tarso. Para Tarso terá emigrado com a família, e ali terá sido um judeu extremista, um “Talibã”, no dizer de Carreira das Neves. Daí os registos de que andou a perseguir os cristãos. Depois veio a sua conversão, cujos moldes, históricos, ainda estão por esclarecer. Sabe-se, segundo palavras suas, que foi “apanhado” pelo mestre. Depois desse “encontro”, assumiu-se, a si próprio, como “apóstolo de Cristo”, embora nunca tenha estado com Ele. Por isso mesmo, e porque não fazia parte dos doze, chegou a ser perseguido. O Paulo do Evangelho é um apóstolo nada interessado nas tradições que vinham de Moisés, porque só Jesus lhe bastava. Por essa razão, foi incomodado inúmeras vezes. Mas nunca abdicou do princípio de que “a nova humanidade começou com Cristo”. E quanto mais sofria, “mais se animava”, lembrou o biblista convidado do CUFC. Segundo o conferencista, Paulo foi “um fenómeno da esperança”, pregando que Jesus é o Senhor e que a salvação vem por Ele, e só por Ele, e pela Sua ressurreição. Carreira das Neves falou com paixão da paixão de Paulo pela causa do Evangelho; da força que o impeliu a percorrer 20 mil quilómetros, de burro e de barco; das “lutas” que teve de travar com as Igrejas da escola de Jerusalém, onde pontificava Pedro; e do primeiro concílio para se chegar a um entendimento, para bem do Evangelho. No final, acabou por sair vencedora a sua tese, de que, com Cristo, já não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher. A nova humanidade está, pois, assente na fé em Jesus Cristo, que veio, até nós, de forma gratuita.
Fernando Martins

Dia Mundial da Alimentação

Celebrar o Dia Mundial da Alimentação, em termos de quem sempre teve pão em abundância, implica duas formas de ver a questão, no meu entendimento: a de quem tem muito que comer e a de quem deve pensar nos que estão no pólo contrário. A primeira diz-nos que, quando há possibilidades de comer o que se quiser e quando se quiser, devemos ter cuidados com o excesso. Os excessos são, como é sabido, prejudiciais. Comer apenas o necessário, procurando uma alimentação sadia e adequada à idade, tendo em conta que mais vale prevenir do que remediar, é o que se propõe. A segunda questão deve levar-nos a pensar que, se uns têm tudo, outros não têm nada. E se passamos a vida a reclamar a construção de uma sociedade global e solidária, então há que contribuir, de forma positiva, para que tal aconteça. Em Portugal, toda a gente sabe, dez por cento da população passa fome e outros tantos estão no limiar da pobreza. E se não podemos ajudar os que estão longe de nós, ao menos olhemos para o lado da nossa porta, para matar a fome a quem precisa. Esse será o primeiro passo. O segundo é lutar, por todas as formas ao nosso alcance, para que haja políticas que ajudem a resolver o problema da falta de pão em muitas famílias. Se fizermos alguma coisa disto, já não será mau. Não apenas neste Dia Mundial da Alimentação, mas todos os dias do ano. FM

JORGE GODINHO E A ALEGRIA DE VIVER

Ana Maria Lopes na apresentação do seu livro
Professor fascinante que tinha por amante uma guitarra
Quando uma pessoa, pelos seus méritos, deixa memórias entre os que a conheceram, é bonito confirmar que se mantém viva no meio de nós. Isso mesmo senti ontem, no ISCA-UA, na apresentação do livro “Jorge Godinho”, da autoria de Ana Maria Lopes, como já aqui disse noutros registos. O ISCA-UA quis prestar, muito justamente, um tributo ao seu antigo docente, falecido há 36 anos. E então, tanto tempo depois, foi muito bom ouvir Joaquim Cunha, ex-presidente daquela escola superior, a trazer até nós, num tom intimista e por vezes emocionado, o colega e amigo, com quem privou de perto. Um jovem que tinha “uma guitarra por amante”, que foi um “professor fascinante”, que nunca deixou de cultivar a alegria e que jamais perdeu “a capacidade de sonhar”, apesar da doença que ele sabia irreversível. Joaquim Cunha revelou que a fatídica doença – leucemia – nunca impediu Jorge Godinho de leccionar, acabando por morrer “no fim da Primavera” de 1972, sem poder concretizar alguns sonhos que tinha entre mãos. A biografia do nosso Nobel da Medicina, Egas Moniz, que lhe havia sido sugerida por Vale Guimarães, ao tempo Governador Civil de Aveiro, era um desses sonhos, que ele alimentou até ao fim dos seus dias terrenos. O ex-presidente do ISCA-UA testemunhou quanto a doença do seu amigo fez de si “um homem mais sereno”, confirmando que a certeza de que Jorge Godinho está entre nós se manifesta, de forma muito clara, “quando lhe roubamos as suas frases e recordamos a sua alegria de viver”.
Fernando Martins

João Paulo II foi eleito há 30 anos

UM PAPA QUE MUDOU A HISTÓRIA
O dia de hoje assinala a eleição do Papa João Paulo II, há precisamente 30 anos. Muito se tem dito e escrito sobre o papel do Papa que veio da Polónia para dirigir os destinos da Igreja Católica, numa época de sonhadas mudanças, mas julgo oportuno recordar esta data. Para mim, que vivi grande parte da minha vida sob a imagem tutelar do Papa do diálogo ecuménico e inter-religiosos e da capacidade de perdoar e de pedir perdão, João Paulo II foi um exemplo preclaro de como é preciso denunciar as injustiças, mas também da urgência de a Igreja se abrir ao mundo. Foi um Papa da proximidade e do saber estar com todos, das multidões que o aplaudiam e o escutavam, das encíclicas e outros documentos que propunham a reflexão. João Paulo II foi um Papa que defendeu, em inúmeras circunstâncias, a dignidade das pessoas e os direitos humanos, tantas vezes espezinhados. Foi um Papa com uma coragem rara de perdoar e de pedir perdão pelos erros e injustiças praticados pela Igreja e pelos católicos, ao longo dos tempos. João Paulo II foi o Papa de Nossa Senhora de Fátima e da celebração do Novo Milénio, projectando iniciativas que mexeram com o mundo. Foi o Papa que assumiu o seu papel até ao fim da vida, com uma dignidade impressionante. E na sua morte recebeu as homenagens de todos os grandes e de todos os humildes da Terra. O Papa do diálogo e da concórdia, da paz e do amor universais, já foi, há muito, canonizado pelo povo. Resta à Igreja a missão de oficializar a vontade de todos os homens e mulheres que o souberam escutar e que o seguiram, directa ou indirectamente. Fernando Martins

Um Poema de Maria Donzília Almeida






Ao Dr Laranja Pontes...

“Com mãos se faz a paz, se faz a guerra,

Com mãos tudo se faz,” diz o poeta.

Mas as mãos que eu contemplo como asceta,

São as mãos de um artista aqui se encerra!

Lavram campos, semeiam os trigais,

Desbravam selvas, constroem, orientam.

Esp’ranças pequeninas acalentam,

Quase inventando em nós, seres imortais! 

São as mãos de um homem especial,

Que por vezes parece divinal,

Pois lhe presto aqui veneração.

Não são mãos, são tesouros bem à vista,

P’rás quais a vida é um dom, uma conquista

E que merecem esta exaltação!

Maria Donzília Almeida

17-Julho-1999

DIA CHEIO

Ontem foi um dia cheio. Recebi contactos de portugueses de vários cantos. Todos com as suas histórias. Um deles tocou-me particularmente. Veio do Brasil, de um vaguense ali radicado há 52 anos, mas com um apego especial às suas raízes, que perduram no seu coração, alimentando nele as saudades. Prometeu dar notícias que terei muito gosto em publicar no meu blogue. Que outros o imitem, são os meus desejos.
Durante a tarde tive a dita de participar na homenagem que o ISCA-UA prestou ao seu docente, de há 36 anos, Jorge Godinho. À noite ouvi um biblista famoso, Joaquim Carreira das Neves, no CUFC, que fez o retrato possível de Paulo de Tarso, que afinal não era de Tarso. Destes dois momentos darei conta, aqui no meu blogue, possivelmente ainda hoje. Conforme as forças. De permeio, recebi um livro de Georgino Rocha, um amigo que muito prezo, que não pára de me surpreender com a sua capacidade de trabalho e de um raro sentido de oportunidade. Do livro, quando o ler, ficará por aqui a minha opinião.
Entretanto, ao arrumar papéis, veio-me à mão um jornal de 1940, com o discurso do Padre João Vieira Rezende, que foi pároco da Gafanha da Encarnação, proferido na inauguração do Cruzeiro daquela vila, com sublinhados interessantes. Estou a transcrevê-lo, para publicação no meu outro blogue, Galafanha, quando puder, já que não consigo escrever tudo o que gostaria.
Tarde, muito tarde, deitei-me cansado, mas satisfeito. Afinal, por mais limitadas que sejam as nossas forças, temos ainda muito para dar. Não se diz que o homem, no seu trabalho diário, consome, apenas, 12 por cento das suas capacidades?
FM

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

A roda da Alimentação
1. Temos o privilégio de nos alimentarmos com regularidade neste lado do mundo. Tal facto também quer ter um rosto apreciador e cooperante dos que muito têm para os que nada têm para comer. Se nunca sentimos fome jamais compreenderemos o grito da angústia faminta. Pura e crua verdade! Desde 1981 que o dia 16 de Outubro é o Dia Mundial da Alimentação, efeméride celebrada em mais de 150 países do mundo. É uma rica ou pobre oportunidade para reflectir sobre os excessos e a escassez dos alimentos na vida das populações. Cada ano a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura apresenta relatórios e propõe soluções. 2. Faz-nos bem a nível local apercebermo-nos da problemática global. Um novo conceito «glocal», que alia as duas, dinâmica provinda do grito ecológico «pensamento global, acção local» gera oportunidade de despertar, logo a partir das mais tenras idades, para o valor dos alimentos e o privilégio da alimentação. O que se desperdiça nos «restos» de comida dá para garantir VIDA a muita, muita gente… Sabermos desta realidade não pode soar a qualquer “moralismo” vazio pois o que está em causa não são ideias mas é própria sobrevivência. Também o facto de não termos as soluções todas à mão e da distância geográfica ser muita não pode desmobilizar nesta causa de todos. 3. Diz-se, volta e meia, que em Portugal há mais de 200 mil pessoas que passam fome, e que na conjuntura de crise a pior fome continua a ser camuflada. Na possibilidade discursiva do relativo das estatísticas também se ergue o absoluto de mais se sensibilizar para se viver pessoal e socialmente uma certa «nobreza» simples e generosa, evitadora dos milhentos supérfluos que até fazem mal à saúde. Saber-se alimentar bem não condiz com aquele anúncio publicitário em que uma criança no intervalo da escola deitava a sandes fora e comia o chocolate «kinder». Não (nos) enganemos!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Um livro de Rosário Sarabando

"Quero ver o meu filho crescer"
Ainda não estou totalmente refeita do choque emocional de domingo passado. Com efeito, isto deveu-se a um evento que teve lugar na Biblioteca Municipal de Ílhavo, concretamente, a apresentação dum livro de Rosário Sarabando, intitulado, “Quero ver o meu filho crescer”. A apresentação de um livro à estampa não teria nada de anormal, não fosse o caso de a autora ser uma mulher com características especiais. Na verdade, o que chocou profundamente o auditório daquela Biblioteca, naquele dia, foi a constatação da extrema tenacidade duma mulher, perante o infortúnio que a acometera. Portadora duma doença rara, degenerativa, que lhe foi minando a saúde progressivamente, esta mulher é exemplo ímpar duma vontade, duma resistência, dum heroísmo que nos tocam bem lá no fundo. Havia comoção, na assistência; lágrimas mais ou menos silenciosas, corriam livremente e desaguavam num mar de compaixão! O ambiente era pesado! Muitos testemunhos de pessoas que têm ajudado a Rosarinho, ao longo da evolução da sua doença, foram dados, ressaltando as provas de coragem desta Mãe Coragem! Evoco aqui o Bertolt Brecht e rendo toda a minha homenagem a esta grandiosa mulher! Grandes, não são só os que fazem grandes empreendimentos! Grande é esta mulher, que apesar de todo o infortúnio que a assolou, tem para nós, pessoas cheias de saúde, aquilo que nós esquecemos muitas vezes! A Rosarinho deixou-me a mim e a todos uma grande dádiva: o seu SORRISO! Obrigada, Rosarinho! Acho que não mereço!
Madona

REGATA DOS GRANDES VELEIRO


Há prazeres que só imaginados. Os vividos por alguns a bordo do Creoula (navio português integrado na Regata dos Grandes Veleiros, comemorativa dos 500 anos da fundação da cidade do Funchal, com as celebrações dos 200 anos da abertura da Barra de Aveiro de permeio) devem ficar para a história pessoal de cada um. Imagino sem medo de errar... Estas fotos, enviadas pela Joana Oliveira, fazem parte do album de Luís Costa, um dos felizardos. No Funchal, num local que já conheço, ainda houve tempo para passear pela cidade que já tem meio milénio de vida, com marcas indeléveis do esforço de tantos dos nossos antepassados que por ali se radicaram.

O Fio do Tempo

O umbigo da Extrema riqueza
1. As crises económicas geram sempre oportunidades de rever hábitos e processos de injustiça que se foram instalando até serem tidos como “normais”. Notícia de última hora que ouvimos agora era o caso do treinador do milionário Inter de Milão (José Mourinho) estar interessado nos serviços de Pepe, jogador do todo-poderoso Real Madrid, cuja cláusula de rescisão está num patamar de 150 milhões de euros. Neste género de escândalos (com os dias contados, esperemos!) pode-se juntar toda a novela macro-económica de Cristiano Ronaldo, dos 100 milhões de Euros dispostos a dar pelos madrilenos ou dos 150 milhões que o Manchester City disse há semanas garantir. Pode-se, ainda, juntar os milhões do petróleo de Abramovich, este que garante a vida de rico do Chelsea. 2. Tudo precisa de ser revisto. A crise destas semanas tem este lado positivo: nada pode ser como dantes, é o novo imperativo ético das sociedades actuais. Não só neste mundo das emoções do desporto ou do espectáculo mas dos próprios vencimentos de gestores e administradores de todos os sectores de actividade humana. A “mão salvadora” aplicada nestes dias, na generalidade pelos Estados provindo dos contribuintes, obriga, como refere a Chanceler Ângela Merkel, a uma revisão de todo esse processo, dos altos vencimentos às mega-reformas. Quem não se lembra há dias do escândalo das rápidas férias de luxo (até aos 300 mil euros gastos) de alguns ex-administradores da recém-falida seguradora AIG?! 3. O umbigo, qual resort, dos que crescem desmedidamente às custas sabe-se lá de quê(m) é o novo escândalo gritante. A Consciência Humanitária emergente grita aos “ouvidos” que vivem na Riqueza Extrema que parem e olhem para o lado. Se não o fizerem qualquer dia terão de fugir para habitar noutro planeta. A distribuição dos bem essenciais à sobrevivência de todos os seres humanos não é uma “caridadezinha”, é uma questão de JUSTIÇA. A (r)evolução nasce aí!

ISCA-UA: Tributo a Jorge Godinho

O Conselho Directivo do ISCA-UA, aproveitando o lançamento do livro «Jorge Godinho» da autoria da Dr.ª Ana Maria Lopes, organiza no próximo dia 15 de Outubro, pelas 18.30 horas, uma sessão pública para prestar tributo ao Professor Jorge Godinho – membro do corpo docente do instituto no primeiro ano lectivo de funcionamento como escola integrada no ensino público, e falecido em 1972.

Vidas Exemplares

Ouvi esta manhã, na Terra Nova, uma entrevista com membros da ORBIS, Carina e Pedro Neto, sobre as suas experiências de vida, no campo missionário e na área da cooperação para o desenvolvimento. O próprio entrevistador, habituado a conversar na Terra Nova com gente de todos os quadrantes, políticos, religiosos, sociais, artísticos e profissionais, deixou transparecer alguma emoção pelas histórias que ia ouvindo e estimulando. O que eu quero aqui sublinhar é o empenhamento de muitos jovens, incansáveis na luta por um mundo melhor, com sacrifício, inúmeras vezes, das suas vidas privadas. A Carina e o Pedro Neto bem procuraram sublinhar que são jovens como outros quaisquer, com gostos semelhantes a outros jovens. Mas não concordo inteiramente com eles, neste ponto. É que eles não se ficam pela vida fútil de tantos jovens que conheço. Vidas sem objectivos elevados, sem princípios solidários, sem preocupação pelos que mais sofrem, sem gosto por um mundo mais fraterno. A diferença está precisamente nisto. A Carina e o Pedro deixaram tudo para se enriquecerem no contacto com outras culturas, com pessoas que nada têm, para além do ar que respiram. Foram para se darem e acabaram por regressar mais enriquecidos. Quando olho para tantos, jovens e menos jovens, que apenas cultivam o egoísmo, que passam a vida a olhar-se ao espelho para narcisicamente se envaidecerem, esses nunca saberão o que é contribuir para um mundo novo, mais humano. Mas reclamam da sociedade mais prazeres, riqueza, divertimentos estonteantes, trabalho sem esforço, liberdades para tudo.
FM

Carta Aberta contra a Pobreza e a Desigualdade

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Museu Marítimo de Ílhavo: Exposição de fotografia

No próximo dia 19 de Outubro, pelas 17 horas, será inaugurada uma exposição de fotografia, “A Maritime Album – 50 fotografias e as suas histórias”, com selecção de John Sarkowski e textos de Richard Benson. Esta exposição, que se integra na celebração do 7.º Aniversário da Ampliação e Remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo, foi cedida pelo Mariner’s Museum, Virgínia, EUA).

O Fio do Tempo

O significado de Família
1. Uma das questões que saltam à vista nos debates sobre as pretendidas alterações legislativas para o casamento de pessoas do mesmo género é a confusão, que faz despertar a urgência, em se considerar o que é a família ou o que não o é. O aliciante táctico das temáticas ditas de fracturantes, chamando de modernidade a cada nova fractura, é o novo aliciante de algumas convicções políticas. Por trás dessa modernice está o pano de fundo ideológico da rasgada “liberdade” em desprestigiar, quando não até ridicularizar, tudo o que tem o nome de tradicional. Nas modas, novelas e cinemas, a família, comunidade primordial, sofre as maiores afrontas… 2. Chamar-se intencionalmente de «família tradicional» à família de sempre será o maior engano que se vai multiplicando. Também é estratégica a colagem à noção única de família de outras formas de contratos (ou mesmo sem estes!). Encostando-se à família como comunidade vital e consagrada, reivindica-se um conjunto de direitos (afastando-se os deveres) para assim conseguir levar a água ao moinho, até no plano legal. Se todas as formas de vida merecem o saudável e tolerante respeito, todavia, todas as opções, eticamente, quererão ser aprofundadas à luz da consciência e dignidade humana, e não ser trampolim ideológico-político ou bandeira de generalização social. 3. A família com o pai, mãe, filhos, filhas, netos, avós, tios, merece hoje uma forte apologética em sua defesa, para o bem social. As novas formas que esquecem a diversidade (até de género) são já o reflexo da ausência em fechamento das complementaridades, facto que empobrece o ideal da experiência humana. Os tempos sociais são de não pensar muito e de juntar tudo no mesmo saco, e puxar pelo nome família para reivindicar direitos. Salvo o devido respeito, em consciência recta, não será por aqui que o tecido social conseguirá garantir um conjunto de princípios e valores insubstituíveis às comunidades… A caravana passa!

(Des)compensação

Era a 1.ª aula desse dia, do início da semana. Tudo indiciava que depois de um fim-de-semana, as energias repostas, quer pela parte docente, quer pelos discentes, o trabalho escolar, fluiria como os acordes de uma melodia! Estava a “Sora”, corruptela da corruptela “Setora”, a fazer um registo escrito no quadro, ainda de ardósia preta, em vias de extinção nas escolas hodiernas, quando é interpelada por um aluno, educadamente. Interrompendo a tarefa, em que estava concentrada, consciente que a aula é um processo dinâmico em que interagem várias forças em simultâneo, escuta, atentamente, o aluno e passa a inquirir a causa daquela interpelação. Ficou surpreendida, tanto mais, por que aquele aluno era dos tais a quem apetece passar a mão pelo pêlo, isto é, fazer uma carícia no cabelo, fazer uma brincadeira, etc. Ele não era daqueles a quem, se o professor dá um dedo, arrebanha logo o braço inteiro. Era educado, dócil e… até tinha uns olhos verdes que lhe faziam renascer a esperança... à “Sora”! É importante referir que isto se passou numa aula de gente miúda, que está ainda, na 1ª década da sua existência. Diz lá J..., estou pronta a ouvir-te! Replica a Profª, brandamente. – Aqui pode-se jogar às cartas? – Já disse que não quero que aqui, na aula, se acusem uns aos outros! Mais cedo ou mais tarde, eu descubro aquilo que estão a fazer! – Não é nada disso, “Sora”! É que isto é uma seca! A Profª... que no seu mister é obrigada a falar pelos cotovelos, a Profª... que atinge o limite dos decibéis permitidos pelos ouvidos e pelas cordas vocais... emudeceu! Não sei quanto tempo, não sei que expressão perpassou pelo seu rosto... mas um pensamento pungente ensombrou aquela criatura, que falou com os seus botões: – Gastei parte do fim-de-semana, a preparar o trabalho das aulas, incluindo as diversas partes que devem compor uma aula: a didáctica e a pedagogia, sempre presentes! No final… recebo este “bouquet” de flores, como (des)compensação)! E… há, ainda, quem não compreenda, valorize, respeite o trabalho dos Professores! Madona

Carreira das Neves no CUFC

BÍBLISTA FALA DE SÃO PAULO
Na próxima quarta-feira, 15 de Outubro, o biblista Carreira das Neves, Prof. Jubilado da Universidade Católica Portuguesa, vai falar sobre São Paulo, na perspectiva dos desafios que “o apóstolo” lança ao cristianismo. O encontro, integrado no Ano Paulista, começa às 21 horas, no CUFC, e destina-se aos crentes e não crentes. Também aos não crentes, porque a cultura não tem fronteiras nem limites. Já agora, permitam-me que acrescente que se destina a gente de todas as idades, porque o conferencista sabe falar da Bíblia numa linguagem que todos entendem. Dá gosto ouvi-lo, pela profundidade dos seus conhecimentos, apresentados num tom muitas vezes intimista.

O DESGRAÇADO QUE COMPROU O 'LISA'

Habituámo-nos a viver na sociedade em que nascemos. E de tal modo estamos identificados com ela, que nem sequer pensamos que se torna urgente contribuir para uma nova ordem social, que nos dê segurança e nos proporcione um futuro mais feliz. As recentes crises, no entanto, acordaram-nos para a triste realidade de que vivemos numa sociedade periclitante. Ora sentimos que vivemos num paraíso de liberdade total, ora acordamos com a ideia de que a justiça social e o bem-estar pessoal e colectivo não passam, quase sempre, duma miragem. O artigo de João César das Neves no DN de hoje faz-nos pensar um pouco. “A essência do nosso sistema económico é a liberdade de iniciativa. Cada um pode apresentar no mercado os produtos que quiser e, se forem preferidos pelos clientes, terá sucesso e prosperidade. Foi este sistema que gerou o incrível desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. Mas é também este mecanismo de experiência e tentativa, risco e atrevimento, que cria a instabilidade latente e recorrente na nossa vida. O tumulto não é acidente fortuito, mas elemento nuclear. Pode dizer-se que o capitalismo só floresce à beira do abismo.”

domingo, 12 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

Martti Ahtisaari
O Diálogo Nobel da Paz
1. A mediação e o diálogo foram reconhecidos com o Nobel da Paz 2008. Teoricamente defendem-se os diálogos: ecuménicos, interculturais, inter-religiosos, e até estamos em 2008 – Ano Europeu para o Diálogo Intercultural. Na prática concreta, eles continuam a ser olhados com desconfiança, medo e mesmo mesquinhez, como se a aceitação clara do diálogo para determinados sectores da vida das sociedades significasse a perca da própria identidade. Quando tal acontece – e esse receio persiste – estamos diante de identidades fechadas; qual cegueira que impede o aprofundamento do seu essencial, este que gera pontes de entendimento e cooperação com as outras diversidades. A actualidade respira este desejo do diálogo mas também este lento impedimento bloqueador da ilusória segurança. 2. Felizmente a academia elegeu a capacidade de MEDIAÇÃO DE PAZ como digna de mérito, no sublinhar os rasgos máximos da conciliação humana. O professor, antigo presidente finlandês, Martti Ahtisaari, que ao longo de três décadas realizou numerosas mediações (re)conciliadoras em três continentes, tendo sido eleito entre 197 personalidades e organizações, é o laureado deste ano com o Prémio Nobel da Paz. Nasceu na Rússia, a 23 de Junho de 1937 e, diz-se pelo seu percurso, andou desde criança com a mala às costas, como peregrino da reconciliação dos povos e da Paz. Com 71 anos de idade, este Santo dos tempos actuais coloca no mapa dos destaques internacionais as práticas de diálogo, mediação e cooperação como o caminho… 3. Da nomeação Nobel recorda-se que Martti Ahtisaari teve uma série de sucessos nas mediações de paz tendo sofrido um importante revés, o Kosovo. Também esta mesma realidade sofrida nos ajuda a compreender que os percursos da história não são lineares mas têm recuos e que, por isso, também na complexidade das conjunturas actuais, o diálogo como plataforma de encontro superador vale mais que todo o crude do mundo! Seja! Alexandre Cruz

Portas da Cambeia

As Portas da Cambeia, chamadas antigamente, ao que julgo, Comportas da Cambeia, foram construídas em 1865. Hoje passei por ali e lembrei-me de registar a data da sua construção, para que não caia no esquecimento. Felizmente, as obras recentes do Jardim Oudinot preservaram este símbolo da nossa indentidade história.