terça-feira, 22 de maio de 2007

Um artigo de António Rego


MOTE
PARA UMA TELENOVELA



Primeiro, a imaginação. Nem censura, nem re-pressão, nem redução de meios, nem diminuição de notícias. Apenas isto: libertar o povo da inquietação desatinada dos telejornais. Caiu um avião com 400 pessoas na Patagónia? Não há necessidade de afligir potenciais viajantes com essa notícia. Um tornado arrasou 20 cidades? Que adianta a notícia? Explodiram 20 bombas e mataram 800 pessoas? O vereador roubou e fugiu? Mais uma criança raptada? O desemprego aumenta? Mas não há outras novidades?
Para tranquilidade do povo, as televisões fizeram um pacto: dar apenas boas notícias, agradáveis, que o povo já tem muito com que se atribular. Assim, uma troca de horário: às 20 horas a telenovela em forma de notícias. Depois, em ficção, todos os dramalhões da terra, que são verdade, mas não naquela hora. As pessoas divertir-se-iam com a violência da irrealidade e a irrealidade do bem e da paz. Longe da fúria e da barbaridade das imagens acontecidas no dia, na hora, em directo.
Que há, neste todo, de mentira e verdade? Como ficam um cidadão e uma sociedade navegando nestas águas que ninguém sabe analisar como límpidas ou salobras?
Vem a pergunta: o problema será da tecnologia que tornou inevitável sabermos tudo sobre a hora ou mesmo antes de acontecer? E a rádio, a televisão, o telemóvel, a net e o correio electrónico?
De que falam as pessoas? Que factos e fantasias enchem as suas mentes, alimentam os seus monólogos, diálogos, discussões, afirmação, recusa, instintos e nobreza? Falam bem do chefe, do colega, da sogra, do presidente? Em cada ser começa esta complexidade. Na educação das crianças com as suas agressões, transgressões, mentiras. Nos jovens que desafiam, em rotura, qualquer lei convencionada e sobretudo imposta. E por aí adiante, nos mecanismos do afecto, da sexualidade, da auto-afirmação, da defesa como castelo do eu, da intriga, divertimento... ou nos simples desaires da aldeia…
Será o ser humano apenas um animal com vastas áreas de selva e curtas fímbrias de nobreza e transcendência? Será que o bem, o belo, a dádiva, a festa, a harmonia, não têm dimensão e brilho suficientes para preencher o quadro da vida que todos nós gostamos de desenhar na nossa existência?
Uma pergunta mais: os agentes de comunicação sujeitos ao poder económico e político como podem gerar outro tipo de media? E quem teria autoridade e capacidade de os controlar? O poder? Económico, político, popular anónimo?
Bom mote para uma telenovela não muito cor-de-rosa.

domingo, 20 de maio de 2007

Monumentos de Aveiro



EGAS MONIZ NÃO ESTÁ ESQUECIDO
:
O sábio avancanense e Prémio Nobel da Medicina não está esquecido. Quem vai ao Hospital Infante D. Pedro, logo à entrada, do lado direito, pode apreciar um singelo monumento de homenagem ao médico, docente universitário, político, investigador, diplomata, coleccionador e escritor, que elevou bem alto o nome de Portugal. Egas Moniz, personalidade multifacetada, ainda pode e deve ser recordado, para que as actuais gerações nele se inspirem, cultivando, ao máximo, as suas capacidades. Dizem que no dia-a-dia apenas aproveitamos ou utilizamos cerca de 10 por cento dos dons que Deus nos deu. Então, urge dar um pouco (ou muito mais!) do que possuímos. Para nosso bem e para bem da sociedade.




Dia Mundial das Comunicações Sociais


DEVEMOS ACEITAR O BOM
E REJEITAR O MAU



Há muitos anos que o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado no Domingo da Ascensão do Senhor, me leva a reflectir sobre a importância da comunicação, em geral, e sobre os órgãos de comunicação social e jornalistas, em especial. Vivemos na era da comunicação, com novas tecnologias a transformarem o mundo numa aldeia global, onde tudo se torna vizinho. Era suposto sentirmo-nos próximos uns dos outros, mas nem sempre isso acontece. E quando acontece, a solidariedade universal deixa raízes no coração do homem sensível.
Como a comunicação se transformou numa indústria, que inevitavelmente tem como uma das suas metas o lucro, às vezes a qualquer preço, este Dia Mundial das Comunicações Sociais leva-me a sugerir que se incremente a formação para a utilização dos media por cada um nós, numa perspectiva de podermos fazer, com capacidade crítica, a selecção daquilo que podemos e devemos ler, ver e ouvir. Do mundo das notícias, das informações, das propagandas e das publicidades, das formações e do entretenimento, das reportagens e das propostas ideológicas, urge saber distinguir, com lucidez, aquilo que importa guardar e aquilo que deve ser rejeitado e atirado de imediato para o caixote do lixo.
Não é possível, numa sociedade com tantas solicitações, umas boas e outras más, umas que nos enriquecem culturalmente e outras que embrutecem os menos cautos, dar atenção a tudo o que nos chega, via rádio, televisão, internet, jornais, revistas, filmes, vídeos e por tantas outras formas. Sendo assim, a auto-educação é uma obrigação que se impõe a todos nós e, a partir de nós, a quantos nos cercam.
Partindo do princípio de que há nos mais diversos órgãos de comunicação social gente honesta e bem formada, com o sentido das responsabilidades apurado, não podemos ignorar que também há profissionais tendenciosos e desonestos, não faltando patrões para quem o lucro justifica todos os meios. Estas realidades devem fazer-nos pensar, para depois agirmos em conformidade, isto é, aceitando o bom e rejeitando o mau.

Fernando Martins
:
Nota: Aconselho a leitura das mensagens do Papa e do Bispo de Aveiro para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 24


A BRUXA
COM A ASICA PARTIDA


Caríssima/o:

Pedalando por terras de Vagos, forçoso é ir de abalada até Vimioso, concelho de onde, menina e moça, veio um dia para a Gafanha uma das minhas Avós. Teve artes de encantamento e por cá lançou profundas raízes.
Num livro que está para ali esquecido, cheio de poeira, podemos ler, diria antes, relembrar, estórias da nossa meninice, quando, assustadiços, nos metíamos no xaile de nossas mães enquanto uma das mais velhas ia desfiando...

“Feiticeiras há muitas,
Diz um velho desta povoação;
Devemos crer que as há,
Mas não crer quem são.”

Lê-se na página 313 , de «Vimioso – notas monográficas», de padre Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, e dr. Adrião Martins Amado, Coimbra, 1968 [tudo leva a crer que foi escrito entre 1946 e 1948], informando que esta quadra foi colhida em São Joanico, concelho do Vimioso.
E logo nas páginas 317/318, nos delicia com esta asica da bruxa Berta:


«Ao nosso diligente e culto informador padre Félix Lopes contou-lhe a tia Letícia Cleto Fernandes, do Vimioso, velhota de 81 anos, que seus avós tiveram uma vaca de raça fina que parira um vitelo igualmente arraçado, amamentando-o a primor. Tempo andando, o vitelo entrou a definhar e atribuindo o caso a feitiçarias, ficou na quadra uma noite o criado à espreita. Alta noite, entrou uma [bruxa] pelo buraco da porta e chupou o leite todo à vaca sem nada ficar para o bezerro.
O criado agarrou a bruxa, chamou pelo amo, que a manteou bem manteada com um cacete, só a largando quando prometeu de não mais o maleficiar, pedindo-lhe ela que a não descobrisse.
Passado pouco tempo, uma filha do dono da vaca, vendo passar junto à cortinha, onde andava com os cordeiros, uma velhota chamada Berta com um ombro empalmado, perguntou-lhe que tinha no ombro: se era reumatismo. «Não, filha, volvera a velhota, foi teu pai que me partiu a asica deste ombro com uma paulada, mas deixa estar que as não botou em saco roto, ele mas pagará».


E efectivamente, acrescentava a tia Letícia com ares de convicção inabalável, que diríamos convincente, se não fosse chochice, passado pouco tempo seu avô mandava baptizar um filho, um primor de criança, mas a tia Berta foi à igreja, pôs nele um olhar repassado, a criança entrou a chorar convulsivamente e morreu dentro de poucos dias.
Pelos dizeres da tia Letícia, há 103 anos que isto sucedeu.»
Para poderes entrar bem na trama, silencio-me.

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


DEBATE SOBRE A RELIGIÃO
NO GRANDE ORIENTE LUSITANO



No passado dia 5, o Grande Oriente Lusitano realizou o Encontro Internacional de Lisboa - Religiões, Violência e Razão, onde me coube falar sobre os fundamentos essenciais do diálogo inter-religioso.
Crentes, agnósticos, ateus vivem no mesmo mundo, cuja realidade ambígua exige interpretação. Ora, como nota o teólogo Andrés Torres Queiruga, não é porque se é crente, agnóstico ou ateu que se interpreta o mundo de uma determinada maneira; pelo contrário, é-se crente, agnóstico ou ateu, porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao não crente, respectivamente, como a melhor forma de interpretar o mundo comum.
É neste horizonte que se enquadra o diálogo entre as religiões, com quatro pilares fundamentais.
1. Desde que se não oponham ao Humanum, pelo contrário, o afirmem e promovam, todas são reveladas e verdadeiras, o que não significa que sejam iguais.
2. Todas são relativas, num duplo sentido. São relativas porque nasceram num determinado contexto geográfico, social, económico e até religioso. São relativas também no sentido de que estão todas referidas ao Sagrado, mas nenhuma o diz plena e adequadamente. Precisamente por isso, devem dialogar para melhor tentarem dizer o Mistério que a todas reúne e transcende.
Assim, o diálogo inter-religioso não se impõe apenas pragmaticamente, para evitar a violência, nem é simples tolerância, que ainda diz, subtilmente, superioridade face ao outro tolerado. Ele é exigido pela própria compreensão autêntica do que significa ser religioso, portanto, em relação com o Sagrado Infinito, que nenhuma religião nem mesmo todas juntas podem dizer.
Precisamente porque é necessário salvaguardar a transcendência do Sagrado, impõe-se a separação das Igrejas e do Estado. A distinção entre a esfera política e a esfera religiosa não é decisiva apenas em ordem à paz e à convivência pacífica entre todos os cidadãos. É exigida pela religião, que tem consequências políticas, mas não pode aceitar que o Sagrado seja transformado num ídolo político ou instrumentalizado para legitimar interesses económico-políticos.
Torna-se claro que é necessário tirar outra consequência fundamental. Se as diferentes religiões nascem num determinado contexto histórico, geográfico, cultural, moral e até religioso, isso também implica que os textos sagrados das diferentes religiões não são ditados de Deus e, por conseguinte, não podem ser lidos literalmente - exigem uma leitura histórico-crítica.
Ao contrário do que possa pensar-se, isto não significa de modo nenhum relativismo, pois é de perspectivismo que se trata. O relativismo implica negação da verdade. O perspectivismo, ao contrário, afirma a verdade, mas sempre presente ao Homem em várias perspectivas.
3. Deste diálogo fazem parte todos os seres humanos, também os ateus. Por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, porque o que, antes de mais, nos une a todos é a humanidade e o que se refere à Humanidade. Ora, também a religião e as religiões são questão da Humanidade. Depois, porque foram e são eles - os ateus e os agnósticos - que podem prevenir para o perigo da superstição e da desumanidade das religiões.
4. Se a religião e as religiões estão ligadas ao Mistério, ao Sagrado, que tudo penetra e envolve, o respeito pelo outro ser humano, crente ou ateu, e a salvaguarda da criação, não são algo acrescentado à religião - são exigidos pelo seu próprio dinamismo.
Critério decisivo da religião verdadeira é o ethos a favor de todo o Homem e do Homem todo. Seria levado a pensar que é neste sentido que as Constituições dos Franco-Maçons, 1723, declaram: "Embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da Religião, qualquer que ela fosse, desse país ou nação, julga-se agora mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião com a qual todos os Homens concordam, deixando a cada um a sua opinião particular, isto é, serem Homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir."

sábado, 19 de maio de 2007

Aveiro: Feira do Livro

Rossio à vista e à sua espera


LIVROS PARA TODOS OS GOSTOS
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Hoje, pelas 16 horas, Aveiro e sua região vão ter mais uma Feira do Livro. Até 3 de Junho, no Rossio, os amantes do livro e curiosos terão à sua disposição, assim creio, mais um certame de muito interesse cultural. Haverá livros para todos os gostos e animação para atrair quem precisa, no fundo, de boas obras, para seu enriquecimento. Eu não faltarei, como é da tradição. Vá lá também. Olhe que em 50 stands, com 21 livreiros, sempre há-de haver um bom livro para si. Pense, por exemplo, nos livros que gostaria de ler nas férias, que se avizinham.

Ares da Primavera


ROTUNDA DO HOSPITAL
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A rotunda do Hospital está com ares de Primavera. Relva, árvores e flores convidam-nos a olhar. Nem sempre, porém, o fazemos. A pressa é muita. Uns vão para o Hospital, a correr, outros para a Universidade, com os seus múltiplos pólos, outros para o Seminário de Santa Joana Princesa, outros para o Bairro de Santiago, outros ainda rumo a diversas paragens. O trânsito à volta da rotunda é muito, normalmente. A atenção exige cuidado. Não há tempo para parar e para olhar.

Um dia no Hospital




UM DIA ENRIQUECEDOR.
APRENDI PACIÊNCIA, HUMILDADE E…



Ontem estive umas boas horas no Hospital Infante D. Pedro. Para consulta de rotina e como acompanhante de um familiar com um incómodo que aconselhava o Serviço de Urgência. Olhando pela positiva, foi um dia enriquecedor. Aprendi paciência, humildade, respeito pelos outros, compreensão pelas dificuldades de profissionais e utentes, aceitação do sofrimento, atenção aos mais idosos, apreciei a disponibilidade de muitos, tentei ler o que vai na alma de alguns. O tempo de espera deu para muito.
Aos hospitais chega de tudo. Gente idosa e mais nova, gente que vem acompanhada e gente que vem só, gente que tem tudo e gente a quem falta tanta coisa, gente que sofre e gente tranquila, gente com dores e gente que sabe consolar, gente que se senta e gente que procura ajudar quem chega.
Para ajudar, não faltou a oferta de chá, café, leite e bolachas, graças à colaboração de voluntários hospitalares. Eram duas senhoras simpáticas e bem dispostas, que não se cansavam de chamar a atenção para a oferta. "Ninguém paga nada", diziam.
Nas salas de espera do Hospital Infante D. Pedro está o que gosta de contar estórias e o que gosta de se rir, o que critica tudo e o apaziguador, o inquieto e o calmo. Nos rostos havia marcas de sofrimento e de algum desespero pela incerteza do diagnóstico médico. Uns acompanhantes perdiam a calma, outros aguardavam serenamente.
A meu lado havia quem gostasse de ler. Os desdobráveis que dão conselhos, os cartazes que fazem recomendações, as revistas com marcas de muito uso, jornais e livros. Os faladores nunca se calavam. Os calados raramente falavam. Eu era um destes. Mas lia estórias de Manuel Jorge Marmelo. Daquelas que se lêem depressa e não cansam. À minha esquerda um paciente lia “Porque não sou cristão”, de Bertrand Russell. O livro, de edição antiga, tinha sinais de ter conhecido muitas mãos. Interiormente, imaginei-me a formular votos de que não ficasse por aí e que lesse outros. Por exemplo: “As minhas razões de crer”, de Jean Guitton; “Em que crê quem não crê”, um diálogo sobre a ética no final do milénio, entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini; “Diálogos sobre a Fé”, de D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho; a “Bíblia”, que o escritor brasileiro Erico Veríssimo tinha como livro de mesa-de-cabeceira, apesar de na altura se dizer não crente, mas que considerava como o melhor código de vida; e tantas outras obras que nos podem ajudar na caminhada espiritual, rumo ao encontro com Deus. Também li “Porque não sou cristão”, mas não fiquei por aí. Seria muito redutor fixar-me simplesmente num livro como o que escreveu o filósofo Bertrand Russell.
Já me esquecia de referenciar os serviços do Hospital Infante D. Pedro. Olhando pela positiva, tudo está aparentemente bem. Médicos e paramédicos atenciosos, demais funcionários em correria constante para atender a muitas solicitações. No fim, nos casos a que estive ligado, tudo normal. Os exames deixaram-me muito tranquilo. Foi um dia cheio, apesar de algumas inquietações. Aprendi muito. Quando me deitei, por volta da meia-noite, adormeci tranquilo. Acordei com outro ânimo e aqui estou, logo de manhã, com votos de que o fim-de-semana corra bem a toda a gente. E sem hospitais, claro.

Fernando Martins

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Dia Internacional dos Museus

Museu Marítimo de Ílhavo: bateira caçadeira de pesca

OS MUSEUS NÃO PODEM
SER ESPAÇOS MORTOS


Sempre me impressionou saber que os museus não são tão visitados quanto se desejaria. Têm visitantes, é certo, mormente à custa, imensas vezes, das escolas e instituições, que vão tendo o bom gosto de canalizar para lá alunos e utentes, em viagens de estudo. Isto é por demais conhecido, quando pelos museus passamos, em especial em épocas em que o tempo vai permitindo as deslocações.
Pessoalmente, sempre tive o cuidado de sensibilizar alunos, professores, familiares e amigos para a importância de usufruirem das aulas e ensinamentos que os espaços museológicos proporcionam, se para tanto soubermos e quisermos aproveitar quanto os nossos antepassados nos deixaram e outros souberam coleccionar e expor.
Penso que os museus não podem nem devem ser espaços mortos nem depósitos de objectos angariados sem qualquer nexo. Importa utilizar as melhores técnicas e organizar as colecções para que elas possam transmitir às gerações actuais as sensibilidades e a arte dos que nos precederam. Importa ainda que os responsáveis pelos museus saibam expor, temporariamente, obras de arte por séculos ou temas, por artistas e por estilos, por profissões e correntes artísticas, sempre na esperança de elevar o nível cultural das pessoas. Outras iniciativas, como conferências e debates, espectáculos e colóquios, publicação de livros e revistas, brochuras e desdobráveis, filmes e programas radiofónicos e televisivos, artigos nos jornais e demais publicações devem merecer a melhor atenção dos directores e outros técnicos dos museus.
Que cada um de nós, também, saiba e queira falar dos museus de que gostou, para que outros os visitem o mais depressa possível. Este será um bom serviço que podemos prestar em nome da cultura. E não custa dinheiro.

Fernando Martins

Dia Internacional dos Museus


O Dia Internacional dos Museus comemora-se hoje, com várias acções de animação sociocultural que decorrem nos vários museus do distrito
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Museu de Aveiro
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DIA ABERTO EM MUITOS MUSEUS
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O Dia Internacional dos Museus comemora-se hoje, com várias acções de animação sociocultural que decorrem nos vários museus do distrito. Na maior parte destes espaços museológicos é, hoje, Dia Aberto, e as entradas são livres. As crianças são o alvo privilegiado neste dia, tendo a possibilidade de realizar visitas guiadas aos museus, no sentido de ficarem a conhecer melhor o seu património. Nalguns destes espaços culturais decorrerão, ainda, concertos, representações teatrais, exposições, mostras de artesanato, entre outras actividades. Aqui ficam algumas sugestões.

Leia mais no Diário de Aveiro

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Imagens de Aveiro

Clicar na foto para ver melhor

VALE A PENA PARAR E OLHAR
:
De quando em vez vale a pena parar e olhar. É certo que andamos sempre a correr e sem tempo para nada. Hoje, porém, deu para parar uns minutos na cidade e olhar para o lado. Vi esta placa toponímica e gostei de ficar a saber mais alguma coisa. Leiam e digam se é ou não verdade.

Um artigo de D. António Marcelino


OS VELHOS REFORMADOS
DAS MARINHAS

De vez em quando, corto a manhã e vou tomar café ao Bairro de Santiago. Ali, na Rua de Espinho, onde também há flores a precisar da água da atenção e do amor. Preciso de ver aquela gente e ela também gosta de me ver. No café onde entro, as ciganas logo cochicham, passam palavra e sorriem a dizer que me conhecem. Eu saúdo, também sorrio, falo, saio desejando um bom dia. No café do Bairro toda a gente se conhece.
Foi no Domingo e a cidade estava mais buliçosa. Era a bênção dos finalistas e via-se gente com ar festivo por todo o lado. Também fui a Santiago. Ao meu café.
Um homem, bem idoso pela aparência, de bengala e boina larga, encostado à parede, acolhia o sol lindo da manhã. Das poucas coisas que os pobres e os velhos podem gozar sem ter de pagar o que quer que seja, ou de pedir licença a quem que seja. Dirigi-me a ele e saudei-o com respeito e carinho. Respondeu-me sorridente, com palavras de quem me conhecia. E de facto conhecia. Deu para falar mais à vontade.
Os chinelos deixavam ver uns pés feridos de sofrimento. Contou-me que foi do sal das marinhas, onde sempre trabalhara ao longo da vida. Pensei que andasse já pelos oitenta e disse-lho. Tinha setenta e três, e recordou-me logo que era mais novo do que eu, adiantando, com a certeza de quem não se enganava, a conta certa da minha idade.
Este encontro inesperado de simplicidade, não conseguiu, porém, esconder um mundo de preocupações que se lhe liam nos olhos e espalhavam sombras no seu rosto. Sim, andava a tratar-se dos pés, coisa grave e morosa, foi dizendo e, também, de uma bronquite crónica, que só aliviava com a bomba para ajudar a respirar. Meteu a mão ao bolso e mostrou. Era mesmo assim.
Morava ali no Bairro com a família. E tal era a pensão de reforma? Indaguei eu. Depois de uma vida longa de trabalho duro, uma miséria de quarenta contos, respondeu. Casa, comida, roupa, remédios… Já viu? Como é isto possível? Ao ouvi-lo, já tinha feito a pergunta a mim mesmo. Já me tinha visto e metido, como pude, na sua pele. Ele é um de muitos, que se vêm por aí ao sol, quando há sol. Como é isto possível?
Teve possibilidade de falar e desabafar. Ficou mais aliviado naquela manhã de Domingo. Não do peso do dia a dia, nem do beco sombrio para onde o empurrara uma vida de luta, depressa esquecida por quem dela beneficiou. O estado dá-lhe agora, em jeito e patrão generoso e por favor, uma esmola que não pode negar, umas pobres migalhas que não dão para o pão.
Partilhamos ali um pouco do nosso tempo e do mais que a vida nos permitiu. Ele, verdade, preocupações e dores. Eu, atenção, amor e respeito e um pouco do meu pão. Ficamos ambos mais ricos, que nem só de dinheiro se enriquece a vida.
Neste dia fazia-se a recolha para o Banco Alimentar contra a Fome. A fome é uma realidade. Fome de pão, de justiça, de respeito, de carinho, de reconhecimento, de uma migalha de atenção de quem passa e pode nem olhar quem está.
Os berços onde se nasce, não são de ouro, como às vezes se diz, nem de madeira tosca, como também acontece. Nasce-se sempre num berço igual. O do colo da mãe que acolhe com alegria o que trouxe escondido no seu ventre. Depois, há berços diferentes, até ao momento em que de novo tudo volta a ser igual, para ricos e pobres.
Naquele Domingo era ainda o Dia a Mãe, a que nunca se esquece, a do amor igual.
Os velhos são um tropeço a dificultar o caminho de quem só vê dinheiro. Dinheiro que os “grandes” recebem aos milhões e os “pobres” aos cêntimos.
A reforma das marinhas é igual a tantas outras de gente que sempre trabalhou no duro. Nunca dará para viver com dignidade e conforto. Mas isso não incomoda os que estão confortados Os pobres não fazem greves. Podiam clamar por pão e, mais ainda, por justiça. Mas uma sociedade apressada não dá pelos injustiçados. Pobres dos pobres!

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Ainda o caso de Maddie

Um artigo de Alexandra Lucas Coelho,
no PÚBLICO de hoje
A HISTÓRIA
A QUE NINGUÉM ESCAPA
É o que podia acontecer a todos, quase aconteceu, nunca aconteceria. Por identificação ou rejeição, com alívio e ansiedade, a história de Maddie tornou-se num fenómeno inédito em Portugal. A cobertura dá a volta ao globo e a PJ nunca viveu isto Uma mulher levanta-se perante 832 mil espectadores. Esteve sentada a ouvir criminologistas, advogados e repórteres em directo da Praia da Luz, onde a britânica Madeleine McCann, de quatro anos, está desaparecida há 13 dias. Agora, a autora do programa da RTP Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira, dá-lhe a palavra "em nome das mães que têm filhos desaparecidos". E os espectadores vêem os olhos azul-cinza de Filomena Teixeira, que viu o filho Rui Pedro pela última vez quando ele saiu para ir andar de bicicleta há nove anos. É uma mulher muito bonita, de grande cabeleira puxada para trás, com maquilhagem brilhante. Vê-se isso e mal ela começa a falar vê-se uma mulher que viveu cada dia dos últimos nove anos como se nenhum tivesse passado. Se Filomena Teixeira veio de Lousada a Lisboa para participar num programa de televisão e voltar a fazer umas centenas de quilómetros no dia seguinte foi por acreditar que mau é o silêncio em que as coisas desaparecem. A comunicação social tem sido boa e a Polícia Judiciária também tem ajudado, diz Filomena aos telespectadores, mas há nove anos a Judiciária era meia-dúzia de polícias que lutavam em todos os casos sem especialidades, e o sigilo é um pau de dois bicos, aos pais faz mal e à investigação faz bem. Durante todo este tempo, diz Filomena, não houve ninguém que fizesse nada, simplesmente ouviram-na, não havia meios, organização, pessoal, ela queria saber se colar cartazes ajudaria, ou outra coisa, mas ninguém a aconselhava, entravam e saíam de casa dela. Os media são essenciais porque fazem pressão, diz Filomena, mas após nove anos ela está na mesma, como o retrato que agora aparece no ecrã, um menino a rir com grandes olhos e grandes orelhas arrebitadas que não foi actualizado desde que Rui Pedro tinha 11 anos e foi andar de bicicleta, e agora Filomena vê a filha que vai fazer 18 anos, vê como estão diferentes os amigos do filho, agora Rui Pedro tem 20 anos, é um adulto, e basta olhar para a cara dela para ver como nem um dia passou.
: Leia mais no PÚBLICO, no caderno P2

Conferência no CUFC

Hoje, pelas 21.15 horas
:




"O Papel Insubstituível do Pai
na Família e na Sociedade"

O médico João Paulo Malta, membro do Conselho da Ordem dos Médicos e professor da Universidade Católica, profere hoje, 16 de Maio, em Aveiro, uma conferência sobre "O Papel Insubstituível do Pai na Família e na Sociedade".
A conferência é promovida pela Fundação Sal da Terra e Luz do Mundo, ligada à Diocese de Aveiro, e terá lugar no Centro Universitário Fé e Cultura (CUFC), às 21.15 horas, com entrada livre.
O tema surge num contexto em que "o pai" parece estar a desaparecer ou pelo menos a ficar enfraquecido nas sociedades modernas. Recorde-se que a pergunta lançada aos portugueses no dia 11 de Fevereiro, no referendo sobre o aborto, referia apenas "por opção da mulher"...
Por outro lado, a diluição da autoridade em geral, as famílias monoparentais, os casais formados por pessoas do mesmo sexo, uma certa terminologia que prefere falar em "progenitor A e B", entre outros factores, questionam claramente a figura paterna. Onde pára o pai? A sua figura está a esbater-se? O seu papel vai desaparecer? Estas são algumas questões a reflectir na conferência.

Um artigo de António Rego


O CAMPEÃO

Entre um sorriso e uma raiva escondida se cruzam as grandes discussões sobre futebol. Não será bom cidadão quem não diz, nalgum momento, que gosta deste ou daquele clube, próximo ou longínquo do lugar de origem ou donde vive. Ou, por imperativo dos jornais, relatos e transmissões desportivas, aderiu a uma massa informe de gente que grita no estádio ou nos milhares de estádios domésticos, convertidos numa final de taça ou campeonato que a televisão converte em templo.
É uma realidade. E quando se fala em milhões por uma transferência ou compra de atleta, é disso que se trata: milhares e milhões de pessoas que sustentam essa máquina, com os ouvidos e os olhos devoradores do espectáculo, num estádio como se fosse um templo, um relvado como altar ou ara de imolação e triunfo.
Todos entram neste jogo, directa ou indirectamente. Mesmo aqueles, ou talvez aquelas, que detestam gritos e discussões em torno dum assunto que não estão interessados em perceber. Mas não podem ignorar. Os ritmos dos serões familiares alteraram-se e o tema das conversas com os amigos passa sempre pelo desporto, pelo futebol, na sua versão mais singular: o jogo, a vitória, a derrota, as estratégias, as jogadas, os erros, os resultados, os comentários.
E todo o complexo emocional que envolve o jogo: o investimento extremo de energias, o ensaio de esperança no meio dos grandes desesperos, a catarse de todas as raivas, a naturalidade de todos os vocabulários. Ninguém admite que seja real, que tudo não passe duma cena momentânea que põe em jogo o ego, o saber, a intuição, o apoio, a aniquilação, a força, o poder. Muito raramente intervém a razão, a não ser para conter impulsos que transbordem o sensato. Mas em poucas matérias o razoável vai tão longe. A cada um se permite o parêntesis no porte e na dignidade. Desporto, claro que não é. É jogo. No plural e no simbólico.
E, todavia, no estádio se exibem grandes valores da humanidade. Na equipa, entreajuda, entrega esgotante, inspiração livre, para tratar um objecto imprevisível no capricho da sua esfericidade. A superação de impossíveis obstáculos naturais ou artificiais. Lutar de igual para igual com respeito pelas regras. E obedecer a sentenças que são, muitas vezes, obviamente injustas. É a recriação dum espaço real ou um ensaio da vida quotidiana. O futebol. O campeonato. O campeão. O maior. Com milhões. É assim. O melhor. A lógica é o menos. O campeão é o máximo. E chega. Já é muito.