quinta-feira, 21 de julho de 2005

PIÓDÃO: o drama oito dias depois




A minha solidariedade 


Há oito dias fui conhecer, mais de perto, a Serra do Açor e algumas das suas aldeias. Saí de Arganil e parti ao encontro da Aldeia Histórica de Piódão, como neste espaço dei conta. Deliciei-me com o prazer de tocar as casas típicas, de calcorrear caminhos seculares, de falar com as pessoas, de ouvir histórias, de ler testemunhos. 
Ontem à noite e hoje não pude deixar de ficar perplexo e até comovido por sentir o drama vivido pelos moradores de Piódão, com o fogo a abafar e a querer devorar tudo e todos. Quem conhece os caminhos difíceis para lá chegar, quem recorda a impossibilidade de andar pelas encostas para defender as casas, construídas há séculos em sítios quase inacessíveis, compreende facilmente o drama vivido pelos 60 habitantes daquela Aldeia Histórica. 
Daqui, das margens da Ria de Aveiro, com o oceano à vista, solidarizo-me com o povo de Piódão, alegrando-me por não haver vítimas mortais. 

Fernando Martins

POUPAR ÁGUA É PRECISO

Posted by Picasa Água, um bem a conservar
Começou hoje uma campanha, no sentido de levar todos os portugueses a pouparem água. A grave seca que afecta o País a isso obrigou o Ministério do Ambiente a alertar toda a gente para os riscos da mesma e para a importância de poupar água. A não ser assim, estará em perigo o fornecimento desse precioso e indispensável bem.
Até ao final do mês começarão também a chegar às caixas de correio postais que aconselham a população a ter cuidado com os gastos de água durante as férias. Por isso, ninguém pode deixar a mangueira aberta enquanto lava o carro, sendo necessário evitar regar o jardim nas horas de sol. Estes são alguns dos conselhos escritos no verso dos postais. A falta de chuva nos últimos meses mostrou a todos os portugueses a fragilidade que existe na gestão da água no nosso País.
A ideia errada de que a água é um recurso abundante e barato tem levado a que seja utilizada de uma forma irresponsável. A campanha agora em curso é apoiada com fundos comunitários, pelas cinco comissões de coordenação regionais e pela Águas de Portugal. Os postais contam com o apoio dos CTT.

Um artigo de D. António Marcelino

Um coração à medida do oceano
Encantam-me as pessoas com esperança, sonhos e projectos. Deixam-me triste as pessoas que desaprenderam de olhar mais longe e de se olhar a si próprias, perdendo a consciência da riqueza que lhes vai dentro e das capacidades à espera de um investimento que nunca chega. Na vida há de todos e cada um lá vai vivendo a seu jeito.
Fomos criados para ultrapassarmos cada dia a mediania de quem se contenta com pouco e a rotina de quem se dá por instalado.
Não vejo a educação a acordar a gente nova para horizontes sem fronteiras, nem a cultivar a vontade de ir sempre mais além, com a serenidade de quem sabe esperar e a alegria de quem sabe aproveitar.
Caiu-me debaixo dos olhos um poema de Marie-Annick Retif, que é uma leitura maravilhosa da vida, identificada com barcos de histórias diferentes. Uns que não saem do porto e aí enferrujam; outros que se esquecem de zarpar, com medo do mar tumultuoso; ainda outros tão amarrados que já nem sabem olhar apara além de si e apenas marulham para se sentirem vivos e seguros; barcos ao lado de outros que afrontam o temporal e se arranham nas rotas oceânicas onde os levam os seus manejos; barcos que regressam amassados, mas dignos e fortes e sempre iguais, ainda que o sol de anos os não tenha poupado…
A poetisa conclui, olhando barcos velhinhos, mas ainda e sempre vivos: “Conheço barcos que transbordam de amor quando navegaram até ao seu último dia, sem nunca recolherem suas asas de gigantes, por terem o coração à medida do oceano.”Num fim de um domingo de muitos contactos e trabalhos, uns que traduziam sonhos realizados e outros desejos de renovar o que o tempo pode ter envelhecido, parei num lar de pessoas idosas. Familiares saíam leves e apressados de uma visita de amor ou apenas de obrigação. Entrei. Veio-me ao espírito o poema dos barcos.
Aquele salão pareceu-me, então, um porto amplo onde muitas vidas se haviam ancorado com o mistério que cada uma traduz, guarda e recorda, no silêncio de quem espera. Espera, de novo, uma visita que se repetirá daí a oito dias, um olhar que comporte afecto, um gesto que acorde vida, uma palavra que exprima amor…ou, apenas, mais uma noite longa cheia recordações e insónias, que aviva muitas dores que nunca se irão confidenciar.
Mas há sempre gente que nunca recolhe as suas asas de gigante, que teima em viver e continua a respirar o ar puro da esperança, que dá ao coração a medida dos oceanos. Vivos, sempre vivos, quaisquer que sejam os anos, as dores, as desilusões. Será sempre indecifrável o mistério que se aninha silencioso no coração de alguém que alarga a vida sempre mais e empurra, para mais longe, os anos e os trabalhos que a desgastam.
Temos necessidade de penetrar, com proveito, no mundo dos idosos que sabem viver no outono da vida, em clima e ritmo ascendente! São vidas que transbordam de amor e enchem o mundo de sabedoria e de coragem.

quarta-feira, 20 de julho de 2005

Rosto de CRISTO

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Descubra o que há neste
desenho do Rosto de Cristo

Diocese de Aveiro: nomeações para o serviço da Igreja

O Bispo da Diocese torna públicas, por este meio, algumas nomeações, ligadas ao serviço pastoral, diocesano e paroquial. Outras nomeações e indicações serão ainda feitas, a seu tempo, antes do início do ano pastoral.
Padre Francisco José Oliveira Martins, Pastoral Familiar e ISCRA.
Padre Rui Jorge Neves Barnabé, Equipa do Seminário e Pastoral Vocacional, mantendo a Pastoral Juvenil.
Padre João Paulo Sarabando Marques, pároco de Macinhata do Vouga, acumulando com Valongo do Vouga. Terá a coadjuvá-lo um diácono permanente.
Padre Manuel Mário Ferreira, pároco de Lamas do Vouga, acumulando com Trofa e Segadães.
Padre Abílio Manuel Ferreira Araújo, pároco de Torreira e S. Jacinto.
Padre Augusto Fernandes da Costa, pároco de Talhadas, Cedrim e Paradela.
Padre Alberto Nestor Camões R. Sobral, colaborador habitual das paróquias de Esgueira e Cacia, mantendo os serviços da Cúria Diocesana.
Padre António Graça da Cruz, pároco de Monte, acumulando com Murtosa e Pardelhas.
A realidade sociológica e pastoral, em ordem ao melhor aproveitamento dos agentes pastorais existentes na zona, e a tentativa de organização de uma pastoral orgânica ou de conjunto, levam à constituição de algumas unidades pastorais, integrando, para já, presbíteros, diáconos e religiosas consagradas. Unidade Pastoral de Águeda: Águeda, Barrô, Borralha, Castanheira do Vouga, Macieira de Alcoba, Préstimo, Recardães, a cargo dos Padres José Camões Rodrigues Sobral (moderador) Padre António Martins Costa Leite, que manterá a seu cargo a paróquia de Fermentelos, Padre Jorge Manuel Matos Fragoso, párocos “in solidum”, ordinando José Carlos Gabriel Pereira e diáconos permanentes Afonso Henrique Campos de Oliveira, Augusto Manuel Gomes Semedo e Francisco Cravo e Irmãs Doroteias, comunidade religiosa de Recardães.
Unidade Pastoral de Sever do Vouga: Dornelas, Rocas do Vouga, Sever do Vouga e Silva Escura, a cargo dos Padres Licínio Manuel Figueiredo Cardoso (moderador) e Carlos Shimura (Instituto dos Padres de Schoenstatt) e Irmãs da Apresentação de Maria, comunidade de Sever do Vouga.
Por motivos de idade e de saúde, foram dispensados da paroquialidade, ficando disponíveis para a ajuda pastoral que lhes for possível:
Padre António Nunes da Fonseca, a completar 85 anos em Setembro, deixa a paróquia do Monte.
Padre Joaquim Martins de Pinho, a completar 82 anos em Outubro, deixa a paróquia de Sever do Vouga.
Padre Manuel Marques Dias, a completar 77 anos em Dezembro, encontra-se, em sua casa, a recuperar de doença grave. A paróquia de Cacia, foi entregue, pelo tempo necessário, à responsabilidade do Pároco de Esgueira e de quem o coadjuva.
O Padre Ângelo Manuel Pereira da Silva, até agora pároco da Torreira e de S. Jacinto, foi autorizado, a seu pedido, a fazer, durante um ano, um experiência de discernimento, em ordem à vida monástica.

Prémio Literário Vasco Branco

Posted by Picasa Vasco Branco, artista multifacetado, patrono do Prémio Literário que tem o seu nome
A obra premiada será editada
pela Casa das Letras O “Prémio Literário Vasco Branco”, com organização da Câmara Municipal de Aveiro, destina-se a galardoar, anualmente, o melhor inédito em Língua Portuguesa apresentado a concurso até às 18.30 horas, do dia 15 Agosto. A obra premiada receberá cinco mil euros e será editada pela Casa das Letras. Os interessados devem enviar os seus trabalhos para “Prémio Literário Vasco Branco”, Biblioteca Municipal de Aveiro, Largo Jaime Magalhães Lima, Apartado 1074, 3800-156 Aveiro. Para mais informações, telefonar para 234 400 320.

Regata de Moliceiros

Beleza do Moliceiro e da Ria em destaque 

Moliceiros no Canal Central

No último sábado de Julho, dia 30, vai realizar-se a já tradicional Regata de Moliceiros, integrada na Festa da Ria. Trata-se de uma organização da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro, com sede na Murtosa, e conta com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro e da Região do Turismo Rota da Luz. Mais de três dezenas de Moliceiros deverão participar nesta Regata, que é, também, uma festa e um convívio de muitos que cultivam o gosto pelo barco típico da laguna aveirense e, ainda, de quantos apreciam a beleza da Ria de Aveiro. 
A Regata de Moliceiros inicia-se na Torreira, estando a concentração dos participantes marcada para as 9 horas. Segue-se uma missa de acção de graças pelas 10.30 horas, na Praia da Torreira, após o que haverá animação com sardinhada e jogos tradicionais. A partida, com destino a Aveiro, será pelas 14.30 horas, estando a chegada prevista para as 16 horas. 
Depois, será a corrida de Bateiras, no Canal Central, o arraial com porco no espeto e a entrega dos troféus e lembranças. Os interessados em participar devem inscrever-se na Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro, Cais da Ribeira, Pardelhas, 3870-168 Murtosa, até ao próximo dia 25. 
A inscrição para o almoço e lanche, a que ninguém deve faltar, custa 15 euros. 

F.M.

Entrevista de Freitas do Amaral ao DN

Diogo Freitas do Amaral, ministro de estado e dos negócios estrangeiros: "Não seria estranho se saísse do Governo para ser candidato"
Num hotel de Lisboa, ao fim da manhã do passado domingo, Diogo Freitas do Amaral deu ao DN a sua primeira grande entrevista na qualidade de ministro de Estado, falando mais de política nacional do que de política externa. Mas foram os Negócios Estrangeiros que "emolduraram" a conversa de pouco menos de uma hora, que começou atrasada porque o ministro estava reunido com o seu homólogo de Cabo Verde e acabou pressionada pelo tempo, pois Freitas tinha que apanhar um avião daí a pouco.
Ao aceitar o convite para fazer parte do Governo de José Sócrates colocou definitivamente de parte a hipótese de poder ser candidato às próximas eleições presidenciais?
Eu acho que uma coisa não tem a ver com a outra. E que, portanto, o facto de ter aceite o convite para integrar o Governo não me impede a mim, como não impede nenhum outro membro do Governo, de eventualmente ser candidato a esse ou outros cargos electivos. Agora, não lhe posso adiantar mais nada sobre a questão presidencial, porque acho que não devo ser o único cidadão português a falar antes daqueles que se sabe que estão pessoalmente muito interessados em ser candidatos presidenciais. Quando esses ficam calados, acho que os outros têm o direito de também continuar calados.
Tem consciência que com essa resposta abre caminho a todas as especulações, nomeadamente a de poder daqui a um mês ou dois deixar o Governo para ser candidato presidencial.
Não abro nenhum caminho a nenhuma especulação, estou muito bem onde estou, estou a fazer uma coisa que gosto muito. Desde a última eleição presidencial, que foi a da reeleição de Jorge Sampaio, que eu decidi e tornei público que não faria nada para uma candidatura presidencial. Não fiz diligências, não fiz iniciativas, não publiquei autobiografias, não convoquei jornalistas para conversar sobre o assunto, não fiz contactos com independentes, não me reuni com antigos governadores civis, não fiz rigorosamente nada. Portanto, salvo o devido respeito, parece-me que é excesso de especulação estar sempre a pensar que eu tenho esse objectivo escondido, quando a verdade é que eu não faço rigorosamente nada para atingir o tal objectivo. Há outros que o fazem, mas eu não faço e isso quer dizer que não estou empenhado na corrida às presidenciais.
(Para ler a entrevista toda, clique aqui)

Um artigo de António Costa Pinto, no DN

"PORTUGAL HOJE"
Com Portugal, Hoje. O Medo de Existir, publicado no final do ano passado, o filósofo José Gil transformou-se numa referência do nosso Pensar Portugal durante este Inverno de todas as crises. Que melhor frase expressa a conjuntura dos últimos tempos do que esta? "Perdemos - estamos a perder uma oportunidade única. E o nosso frágil tecido económico esboroa-se dia após dia. Portugal arrisca-se a desaparecer"(p. 71).
A esta ameaça do "desaparecimento" de Portugal, tema recorrente das elites intelectuais portuguesas pelo menos desde o século XIX, junta-se talvez a mais dramática das análises que alguém pode fazer sobre uma sociedade a tentativa de encontrar no passado factores de bloqueamento a qualquer mudança. José Gil não deixa grande margem de manobra a actores sociais, políticos e económicos. As heranças culturais, que a longa duração do salazarismo consagrou, armadilham qualquer "inscrição" da mudança e impedem-nos de ser uma democracia moderna, como as outras. "Em Portugal nada se inscreve, quer dizer, nada acontece que marque o real, que o transforme e o abra. É o País por excelência da não inscrição" (p. 43).
José Gil apresenta um retrato pessimista da sociedade portuguesa que quadra como uma luva no senso comum de uma parte importante das elites. Retirando alguma das suas dimensões conjunturais (o santanismo já não é Governo), a obra filia-se numa tradição ensaística que estava arredada do campo universitário. O autor acha que se aproxima da História das "Mentalidades", mas diz que o campo é indefinido. Ensaísmo, no melhor sentido da palavra, parece-me mais apropriado para caracterizar a obra e aqui começam os problemas. A grande alavanca de identificação com este Portugal Hoje é a facilidade com que qualquer leitor adere a muitas das características que Gil apresenta dos "portugueses" e das "inércias" herdadas do passado "irresponsabilidade, medo que sobrevive a outras formas, falta de motivação para a acção, resistência ao cumprimento da lei, etc., etc." (p. 43). Mas o facilitismo discursivo que atravessa algumas partes do ensaio e a ausência de alternativas merecem crítica, até pelo respeito intelectual que tenho pelo autor.
A primeira crítica é a da quase total ausência da integração no ensaio da já extensa produção das chamadas "ciências sociais" sobre a mudança social e política de Portugal. Era possível ignorá-la 20 anos atrás, mas não hoje. Sabemos agora muito mais sobre o que mudou e não mudou na sociedade portuguesa. O que foi "inscrito" e "não inscrito". Quais a consequências de não ter sido decidido isto ou aquilo. O que é que as elites são e que pensam disto e daquilo, o que bloqueou o desenvolvimento e o que o abriu. Ora quase nada deste património é integrado neste pessimismo culturalista de Gil e os exemplos abundam os portugueses vivem ainda com "o medo" herdado do salazarismo, "que sobrevive com outras formas"; e é este medo "que impede a crítica". Quem é que lhe disse isso? Qualquer estudo de opinião não o confirma, antes pelo contrário. "Portugal conhece uma democracia com baixo grau de cidadania e de liberdade" (p. 41). Sem dúvida, sobretudo no primeiro caso, mas que factores é que a caracterizam, e explicam? Já sabemos muito mais do que Gil escreve e a mera constatação ajuda pouco.
A segunda é a ausência de relativismo comparativo na análise. A obsessão com Portugal fá-lo cair num estranho "nacionalismo analítico". Tudo é diferente em Portugal. Aqui até o falar é diferente. "Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar", saltitam de um assunto para o outro e não sabem ouvir. E onde é que ouvem todos? Qual é a referência? Mais, menos, um bocadinho mais, um bocadinho menos? Sem comparação mergulhamos no absoluto.
A terceira crítica remete para a quase inexistência de autonomia das decisões que provocam uma "inscrição". No pessimismo de Gil não há lugar para variações. Ainda há poucos dias na sua crónica neste jornal, só para dar um exemplo, o eng. João Cravinho salientava um estudo que correlacionava alfabetização no século XIX com o sucesso económico no seguinte. Um tema clássico da nossa História Contemporânea porque é que o nosso liberalismo nos fez chegar a 1900 com 80% de analfabetos e que impacto essa decisão teve?
Um conhecido politólogo norte-americano, Robert Putman, escreveu um livro fascinante, onde tentava responder ao clássico problema da profunda divergência económica Norte-Sul em Itália. O seu ponto de partida foi a regionalização aprofundada em 1970. Porque é que com os mesmos fundos as municipalidades do Sul continuaram mal e as do Centro Norte bem. Putnam recua alguns séculos para explorar a hipótese segundo a qual o Centro Norte, por razões que não cabe aqui explicar, já tinha no século XVI uma rica sociedade civil e um grande capital social, e isso não se cria em 20 anos com fundos estruturais.
Aqui a História condiciona para bem e para mal, mas para Gil ela é uma canga que não dá margem a mudança. Ainda que muito do diagnóstico de José Gil seja fascinante, o método parece-me representar um recuo preocupante para um ensaísmo sem ancoragem analítica no que de melhor tem sido escrito sobre a sociedade portuguesa.

terça-feira, 19 de julho de 2005

Descobertas de férias

Posted by Picasa Livro do Dr. Vasco de Campos
O João Semana da Serra do Açor As férias, para além de tudo o que nos oferecem, ainda nos podem levar à descoberta de curiosidades. Tenho por hábito descobrir gente que escreve e outros artistas não tão conhecidos como mereciam. Longe dos grandes centros e das tertúlias culturais, quantos escritores, por exemplo, não chegam aos escaparates das livrarias e às apostas das grandes editoras. Mas nem por isso deixam de mostrar as suas artes, que são reflexos de vidas plenas entre o povo anónimo que servem ou serviram. Na Serra do Açor, que atravessei em dia de férias, como já assinalei, encontrei um escritor desses, que se mantém na memória das gentes a quem se deu, como médico, qual João Semana que Júlio Dinis tão bem cantou nas “Pupilas do Senhor Reitor”. É ele Vasco de Campos, natural da Ponte das Três Entradas, concelho de Oliveira do Hospital, onde viu a luz do dia em 2 de Julho de 1904. Faleceu na mesma freguesia no dia 17 de Julho de 1991, mas ficou sepultado na vila de Avô, onde trabalhou como médico municipal. Poeta sensível, Vasco de Campos também legou à literatura páginas bonitas das suas vivências como médico do povo perdido pelas serranias de Açor. Ao jeito de “Retalhos da vida dum médico” do também escritor Fernando Namora. Dele diz o antigo Presidente da Assembleia da República António de Almeida Santos, que “morre, com o Dr. Vasco de Campos, a mais perfeita incarnação do médico de família. (…) Ele foi o verdadeiro apóstolo do bem que se faz e não do bem que se prega. E do bem que se faz sem alarde e do sacrifício que se aceita, sem queixume, antes com alegria. Nessa medida, imagino-o, por entre as dores com que a sorte tão duramente o puniu, um homem em paz consigo.” E a terminar o seu depoimento sobre o médico da Serra do Açor, Almeida Santos conclui deste modo: “São homens destes que justificam a esperança no futuro do Homem. Semeemos a sua memória nos nossos corações e confiemos numa boa colheita de bondade.” Fernando Martins Um poema de Vasco de Campos SERRA! A minha despedida Serra do meu destino, Por onde andei Entre urzes em flor E giestais doirados! Altar alpestre Onde rezei A via-sacra Dos meus cuidados! Ínvios caminhos Que percorri Em missão de amor; Cireneu do povo, Estranho sonhador! Moléstias que curei… Dores que aliviei… Lágrimas que evitei… Eis o penhor Que irei depor Aos pés de Cristo, Pedindo perdão Por Lhe dar só isto!