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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Poema de Miguel Torga: Último Natal

A Virgem Gloriosa e as Sibilas
 - Livro de Horas da Duquesa de Borgonha.
 Museu Condé, Chantilly

ÚLTIMO NATAL

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça,
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.

Miguel Torga 



In "POESIA COMPLETA". 
Este poema foi escrito em 24 de Dezembro de 1990,

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ares de Outono: poema de Miguel Torga



Outono

Outono.
(A palavra é cansada…)
Tudo a cair de sono,
Como se a vida fosse assim, parada!

Nem o verde inquieto duma folha!
O próprio sol, sem força e sem altura,
Olha
Dum céu sem luz e levedura.

Fria,
A cor sem nome duma vinha morta
Vem carregada de melancolia
Bater-me à porta.

Miguel Torga

Leiria, 11 de outubro de 1940, 
em “Poesia Completa” 

domingo, 4 de outubro de 2015

Ares do outono — folhas das vinhas



OUTONO

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga

In “DIÁRIO”, 1968





segunda-feira, 15 de junho de 2015

Recordando um passeio — Arganil em 2005

Arganil: Consultório de Adolfo Rocha

No Hospital de Arganil procurámos o “Consultório” do Dr. Adolfo Rocha. Não foi difícil. Já sabíamos que ele estava lá, mas não sabíamos em que espaço. À nossa pergunta, uma transeunte respondeu logo: "No portão de ferro, lateral, logo à entrada, lá encontra o “Consultório” de Miguel Torga." E assim foi. Quem conhece a obra de Miguel Torga, sabe que ele trabalhou em Arganil alguns anos e que sempre ficou indelevelmente ligado à terra e suas gentes. A foto mostra o possível e na base, em placa explicativa, pode ler-se: “Material doado pelo Doutor Adolfo Rocha (Miguel Torga) ao Hospital de Arganil, onde trabalhou muitos anos.”

Julho de 2005

 E agora, um poema 



CONQUISTA

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua! 

Miguel Torga

In "Cântico do Homem"

NOTA: Quando me não apetece escrever, lanço o desafio às minhas memórias. Hoje, sem saber porquê, fui até Arganil, em julho de 2005.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um poema de Miguel Torga



CORDIAL

Não pares, coração!
Temos ainda muito que lutar.
Que seria dos montes e dos rios
Da nossa infância
Sem o amor palpitante que lhes demos
A vida inteira?
Que seria dos homens desesperados,
Desamparados
Do conforto das tuas pulsações
E da cadência surda dos meus versos?
Não pares!
Continua a bater teimosamente,
Enquanto eu,
Também cansado
Mas inconformado,
Engano a morte a namorar os dias
Neste deslumbramento,
Confiado
Em não sei que poético advento
Dum futuro inspirado.

Coimbra, 30 de Janeiro de 1991

 In “Miguel Torga – Poesia Completa”

quinta-feira, 24 de julho de 2014

UM AMIGO...


«Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!»

Miguel Torga
 Diário - 1935

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Natal


Natal 

Outro Natal.
Outra comprida noite
De consoada,
Fria,
Vazia,
Bonita só de ser imaginada.


Que fique dela, ao menos,
Mais um poema breve,
Recitado
Pela neve
A cair, ao de leve,
No telhado. 

Miguel Torga

Diário, 
S. Martinho de Anta, 24 de dezembro de 1975

sábado, 14 de dezembro de 2013

Natal




Natal

Nem pareces o mesmo,
Deus menino
Exposto
Num presépio de gesso!
E nunca foi tão santa no teu rosto
Esta paz que me dás e não mereço.

É fingida também a neve
Que te gela a nudez.
Mas gosto dela assim,
A ser tão branca em mim
Pela primeira vez.


Miguel Torga

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Caminho do Natal - 6


Foto do Cortejo dos Reis, Gafanha da Nazaré, 
2010, meu arquivo 

Natal

Um Deus à nossa medida…
A fé sempre apetecida
de ver nascer um menino
divino
e habitual.
A transcendência à lareira
a receber da fogueira
calor sobrenatural.

Miguel Torga
 (Diário)

domingo, 8 de abril de 2012

Miguel Torga - Páscoa

Páscoa 

Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.

Miguel Torga
In Diário XVI

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

COMUNIDADE DE LEITORES NA BIBLIOTECA DE AVEIRO

O Grupo Poético de Aveiro, na sua missão de estimular a leitura e a partilha das reflexões de obras, irá promover um total de seis sessões durante o presente ano aos sábados de manhã: 25 de fevereiro, 7 de abril, 26 de maio, 21 de julho, 8 de setembro e 10 de novembro. Valter Hugo Mãe e Miguel Torga são alguns dos autores que serão abordados em sessões que contarão com a moderação de membros do Grupo Poético de Aveiro – Aida Viegas e Rita Capucho.

Ler mais aqui

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páscoa: Sinos a Repicar


Páscoa 

Um dia de poemas na lembrança 
(Também meus) 
Que o passado inspirou. 
A natureza inteira a florir 
No mais prosaico verso. 
Foguetes e folares, 
Sinos a repicar, 
E a carícia lasciva e paternal 
Do sol progenitor 
Da primavera. 
Ah, quem pudera 
Ser de novo 
Um dos felizes 
Desta aleluia! 
Sentir no corpo a ressurreição. 
O coração, 
Milagre do milagre da energia, 
A irradiar saúde e alegria 
Em cada pulsação. 

Miguel Torga 
In Diário XVI

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Poesia para começar o dia




HOSSANA!

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...
Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

NATAL - 6

Miguel Torga 




  ESTRELA DO OCIDENTE 

Por teus olhos acesos de inocência 
Me vou guiando agora, que anoitece. 
Rei Mago que procura e desconhece 
O caminho. 
Sigo aquele que adivinho 
Anunciado 
Nessa luz só de luz adivinhada,
Infância humana, humana madrugada. 
Presépio é qualquer berço 
Onde a nudez do mundo tem calor 
E o amor 
Recomeça.
Leva-me, pois, depressa, 
Através do deserto desta vida, 
À Belém prometida... 
Ou és tu a promessa?