A música é realmente o melhor antidepressivo
| Josué Ribau |
O fascinante mundo da música volta este mês ao Timoneiro com outras facetas, entrevistando um entendido nas áreas do colecionismo, construção e restauro de instrumentos de corda, com o bandolim na linha da frente de um conjunto de 80 peças, cada uma com a sua história, de origens diversas.
Josué Ribau Teixeira, 65 anos, casado com Maria Aldina Matias, um casal de filhos e duas netas, professor de Educação Física aposentado, resolveu aprender música há três anos. Solfejo e teoria musical, dedicando-se também ao bandolim, foram as suas opções. «Dá-me gozo tocar para mim e isso me basta», não tendo pretensões de exibições públicas, sublinha. Não toca de ouvido, mas segue a leitura da pauta, estando já familiarizado com símbolos e sinais. E sobre as músicas, frisou que tudo está mais facilitado, porque estão à venda na Net a preços acessíveis. «Os portes são mais caros que as próprias músicas, por vezes», disse.
Na altura, o fumador, que o foi durante 40 anos, resolveu cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro agora poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garante que vai continuar a investir nesta sua paixão, nunca com a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz.
Embora reconheça que a sua família, quer do lado paterno quer materno, teve, no passado, executantes musicais, e que os quatro irmãos mais velhos — Manuel, Ângelo (falecido), Plínio e Diamantino — seguiram o rasto dos seus antepassados, a verdade é que o Josué foi durante décadas indiferente aos seus gostos, tal como sua irmã Maria de Fátima não foi por essas artes, sendo uma das mais antigas catequistas da nossa paróquia.
| Na hora do ensaio |
O Josué desabrochou para a música tardiamente, mas com um calor não muito frequente. Fala deste seu prazer com um entusiasmo que cativa, até porque aborda questões não muito usuais entre leigos e não só.
No seu gabinete de trabalho, há instrumentos um pouco de todo o mundo que ele tem comprado através de leilões que a Internet ajuda a frequentar. E deles conta pormenores relacionados com a descoberta, estudo prévio e outros pormenores do que lhe interessa, porque um colecionador não é nem pode ser um armazenista de coisas.
Na conversa que mantivemos com o Josué Ribau, ficámos a saber que o waldzither é um instrumento que só existe na Alemanha e que é levemente aparentado com a nossa guitarra; que o charango é da região dos Andes e feito antigamente com a carapaça do tatu; A domra é próxima da balalaica e é originária da Rússia. Depois, exibiu a tamburica, da antiga Jugoslávia, a bandurria, originária da Espanha e que se espalhou pela América Latina. Ainda possui um quatro de Porto Rico. E de Portugal, não faltam bandolins, bandolas, guitarras clássicas, violas, cavaquinhos e o bandoloncelo, equivalente ao violoncelo, entre outros.
O nosso entrevistado procura contactos com quem possa ajudá-lo, enquanto se debruça sobre o que há escrito acerca dos instrumentos musicais, técnicas de restauro e construção, mas ainda afinação. E destaca Fenando Portela, um amigo de Viana do Castelo, que gosta de ensinar a arte de construção e restauro de instrumentos de corda e que bastante o tem auxiliado.
Com os conhecimentos que foi adquirindo em apenas três anos de dedicação, o Josué constrói todas as partes dos instrumentos até aos acabamentos finais, frisando que «para a colocação dos trastes nas escalas, existem programas na Net que fazem o respetivo cálculo», que ele segue rigorosamente.
Considera que o mercado alemão relacionado com instrumentos «é fabuloso em termos de bandolins, em especial», salientando que «o bandolim da Alemanha é diferente do nosso, mas eles dizem que é de origem portuguesa». E acrescentou que a Alemanha tem bastantes orquestras de bandolins, tal como os japoneses e os chineses; neste último caso, «os bandolins têm afinação própria e quatro cordas».
Presentemente, o Josué está a debruçar-se sobre a afinação da guitarra portuguesa de Coimbra, «porque há músicos que andam a tocá-la como se fosse uma guitarra de Lisboa», lembrando que não podemos confundir o Fado de Lisboa com a Canção de Coimbra. E referiu: «A canção de Coimbra é mais antiga que o fado de Lisboa, porque é cantada apenas por homens, enquanto no fado há mulheres e homens», explicando que a presença da mulher indicia «uma época mais recente».
Falou das tradicionais tunas académicas, adiantando que em Portugal o instrumento predominante é o bandolim e em Espanha é a bandurria, com afinação totalmente diferente do nosso bandolim, sendo certo que algumas costumam introduzir outros instrumentos, porventura condizentes com a origem das canções regionais que apresentam nos seus concertos.
O Josué Ribau salienta que a música «é realmente o melhor antidepressivo» garantindo que, «enquanto se ouve música ou trabalha em instrumentos musicais, fazemos atuar as células do cérebro e retardamos o envelhecimento».
Fernando Martins
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