sábado, 6 de dezembro de 2025

PÁRA E PENSA: O pecado original. Com uma excepção?

Crónica Semanal de Anselmo Borges 

Aconteceu-me, há muitos, muitos anos — era ainda jovem —, que, no final de uma conferência, no período das perguntas, uma senhora me atirou: “Sempre é verdade o que dizem: o senhor nega dogmas da Igreja!” Pedi-lhe para dar exemplos. Ela: que tinha negado o dogma do pecado original.
Aí, perguntei-lhe se tinha filhos. E ela: “sim, tenho duas filhas”. Dei-lhe parabéns sinceros e desafiei-a a dizer-me se acreditava sinceramente que as duas filhas tinham sido geradas em pecado e que ela tinha andado nove meses de cada vez carregando com duas filhas em pecado dentro dela. Ela: “Eu?! Nem pense nisso! É claro que não”.
Fiquei então, mais uma vez, a saber que, frequentemente, há na religião o que se chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não se acredita nela, porque se pensa outra coisa. Aquela senhora, confrontada com a questão, viu claramente que não podia acreditar que uma criaturinha inocente, concebida com amor, tivesse sido gerada e tivesse nascido em pecado, um pecado de que não era autora nem culpada. Mas ao mesmo tempo acusava de heresia quem dissesse o contrário do que lhe ensinaram que devia dizer, sem pensar. Ora, a fé não pode entregar-se à cegueira, abandonando a razão. O pecado original não se encontra na Bíblia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Gafanha da Nazaré - Notas Soltas


 

Por um Natal mais próximo

O Município de Ílhavo, através do projeto Maior Idade, volta a dinamizar nesta quadra natalícia a iniciativa “Por um Natal mais próximo”, que visa proporcionar momentos de atenção, carinho, acolhimento e conforto às pessoas com 65 ou mais anos que se encontrem sozinhas nesta época do ano.
A autarquia procura identificar, com o envolvimento direto da comunidade local, pessoas com 65 ou mais anos, residentes no concelho, que estejam sós na noite de Natal. O apelo dirige-se a instituições, vizinhos, familiares ou qualquer cidadão que conheça alguém nesta situação. A sinalização deve ser feita através do número 234 025 416 ou do e-mail maioridade@cm-ilhavo.pt. A informação enviada deve incluir o nome, a morada, a idade e o contacto telefónico da pessoa identificada.
Na manhã de 24 de dezembro, a iniciativa promove o encontro com as pessoas sinalizadas para entregar um presente de Natal, oferecer uma palavra de conforto e esperança e proporcionar um momento de convívio e animação.

NOTA: Transcrito, com a devida vénia, do Correio do Vouga

sábado, 29 de novembro de 2025

Velas ao Vento


 Velas ao Vento. Momento único.

Memórias de férias

 Aldeia Serrana

Quem nasceu e vive com o som do mar a embalar o seu adormecer, e sente, ao acordar, as ondas a espraiarem-se nas dunas, não pode deixar de sonhar, também, com a silhueta dos picos da serra, que ao longe nos desafia. A primeira vez que fui à serra, e à medida que me aproximava dela, os meus olhos de menino pouco viajado ficaram deslumbrados. Senti um não sei quê na alma, um prazer inexplicável que ainda hoje, tantos anos depois, é um mistério no meu espírito. À serra vou sempre que posso e às vezes até juro a mim mesmo que um dia por lá hei de ficar uns tempos largos, para calcorrear montes e vales, entre vegetação luxuriante ou entre penedos com formas estranhas de figuras fantásticas que enriquecem o imaginário de qualquer um.
Há dias fui ao Caramulo à procura desses ares límpidos, alimentados, e de que maneira, pelo verde que tudo enche, ao som de regatos que deslizam do cimo dos montes, por entre pedregulhos que amplificam o cantar da água saltitante que apetece beber a toda a hora. E quando a sede aperta, como apertou depois de um almoço de vitela assada que só por ali tem um sabor como em nenhuma outra parte, então foi um regalo beber uns bons copos de água de fonte natural, recebida em bilha de barro vermelho que a tornou mais fresca.
Campo de Besteiros, São Tiago de Besteiros, Guardão, Janardo, Pedronhe e Cabeço da Neve foram alguns recantos da Serra do Caramulo que uma vez mais pude contemplar em dia partilhado com amigos que não esconderam o sortilégio que estas terras transmitem a todos os que chegam. Ruas e estradas amplas ao lado de ruelas empedradas que lembram tempos ancestrais, histórias de lutas travadas entre íncolas serranos e povos invasores, casario a cair de podre porque gente teve de emigrar, habitações com sinais de quem regressou à terra depois de muito trabalhar e de lutar na estranja, sanatórios abandonados porque os tuberculosos já se curam em casa, sem a ajuda dos ares puros da serra, de tudo um pouco se foi fixando na retina dos meus olhos, que nunca se cansaram de apreciar miradouros naturais a paisagem a perder de vista.

O HOMEM E O TEMPO

Crónica  Semanal de Anselmo Borges 
no Diário e Notícias 

Porque estamos no Advento, que deveria preparar para o Natal, fica aí uma breve reflexão sobre o ser humano e o tempo. De facto, seria tremendamente lamentável que este tempo se reduza a compras compulsivas numa sociedade de consumo materialista e, no limite, niilista e, tanto quanto se pode observar, por isso mesmo, profundamente infeliz e sem sentido.
Característica essencial do ser humano é que conjugamos os verbos no passado, no presente e no futuro. Há quem julgue que a salvação está no passado. Há sempre os saudosistas do passado: antigamente é que era bom. É a saudade do Paraíso perdido... Também há aqueles que não querem preocupar-se nem com o passado nem com o futuro. O que há é o aqui e agora, o presente a que se segue outro presente. A salvação consiste no amor e fruição do presente... Depois, há os sonhadores e os ascetas. Fogem do agora, para refugiar-se no amanhã. Nunca estão no presente, pois a sua morada é só o futuro… Ora, pensando bem, se, por um lado, não podemos instalar-nos no passado, por outro, nenhum ser humano pode abandonar o passado, como se fosse sempre e só o ultrapassado. De facto, quando demos por nós, já lá estávamos, o que significa que vimos de um passado que nem sequer dominamos. E temos de aprender com o passado, nosso e dos outros, para, a partir dele, nos decidirmos no presente.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Papa João XXIII

Na Gafanha da Nazaré encontra-se uma rua que homenageia o Papa João XXIII. A placa toponímica é anterior à beatificação e canonização desse Papa que convocou o Concílio Vaticano II. 
João XXIII nasceu com o nome de Ângelo José Roncalli, em Sotto il Monte (Bergamo, Itália), no dia 25 de novembro de 1881. Com a morte de Pio XII, foi eleito Papa, em 28 de outubro de 1958. Faleceu em 3 de junho de 1963. Foi beatificado por João Paulo II, durante o Grande Jubileu de 2000, e canonizado pelo Papa Francisco, em 27 de abril de 2014.

C.F.

No Correio do Vouga