no PÚBLICO
A suspensão dos rituais presenciais desta Quaresma e desta Páscoa realiza o supremo critério de sabedoria humanista e religiosa de Cristo.
1. Custa, e muito, mas é preciso tudo fazer para que não se repita o actual cenário obrigatório desta Quaresma e desta Páscoa. Os católicos cumprem o seu dever, testemunhando um comportamento cívico que ponha acima de tudo a saúde das pessoas. A suspensão dos rituais presenciais da Quaresma e da Páscoa, que a pudessem afectar, realiza o supremo critério de sabedoria humanista e religiosa de Cristo: as prescrições rituais são para o ser humano e não o ser humano para os rituais.
No ano passado, o Papa sozinho, na Praça de S. Pedro, sem o aparato habitual, fez a celebração mais eloquente de quantas já se realizaram naquele espaço. Não quis inaugurar um novo ritual, fez apenas da extrema necessidade virtude.
Ao escrever isto, estou a esquecer o que mais importa. Uma Igreja que se ocupasse, apenas e principalmente, com rituais litúrgicos e com as normas quaresmais que vigoraram em diferentes épocas da sua história, não parece ser uma Igreja com as preocupações de Jesus Cristo.
As normas prescritas para esta quadra litúrgica, ao longo da história da Igreja, foram diferentes de época para época. As pessoas da minha idade ainda se lembram das ridicularias sobre jejum e abstinência e a bula conseguida, pela astúcia dos portugueses, para não se importarem com essas esquisitices. O Papa Francisco, como tem sentido de humor, acaba de prescrever um “jejum que não dá fome” – o das coscuvilhices das maledicências – e lembrou a importância de ler todos os dias uma passagem dos Evangelhos, levando-os para todo o lado, no bolso, na bolsa, para incentivar a abrir o coração a Deus.