sexta-feira, 16 de outubro de 2020

MAIS QUE UMA QUESTÃO DE IMPOSTOS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o DOMINGO XXIX


«Pagar o imposto – questão tão actual – é dever de todo o cidadão, 
não um dever cego, mas ilustrado por uma consciência informada 
e desejosa de cooperar para o bem comum da sociedade»

As controvérsias dos opositores a Jesus vêm crescendo. Os domingos anteriores narram algumas dessas controvérsias. Quase sempre, as perguntas são capciosas e as parábolas respondem com sabedoria, habilidade e subtileza. No evangelho de hoje surgem os fariseus aliados aos herodianos que “passam ao ataque”. Mt 22, 15-21. Trata-se da questão dos impostos a pagar (ou não) a César, imperador de Roma que dominava também naquelas terras. 
«É lícito ou não pagar tributo a César?», questiona a delegação enviada. É uma pergunta armadilhada que não pode falhar. Havia que pôr cobro ao agitador Nazareno que se movimenta tão livremente na esplanada do Templo e desafia o mais sagrado das práticas judaicas. 
Leva consigo uma estratégia aliciante: tecer elogios que, se não fossem hipócritas, eram verdadeiros e reconheciam o agir correcto do Mestre. Pagar ou não tributo, eis a questão crucial. Se dizia sim, era colaboracionista com o ocupante romano e, por isso, insolidário com o povo oprimido. Se respondesse não, caía sob a alçada da lei e podia ser acusado de subversivo e revolucionário. E o exército imperial não tardaria a fazer-lhe o que havia feito a Judas, o Galileu, aquando da sublevação por ocasião do censo destinado a conhecer a população e a introduzir nova carga de impostos, cerca de seis anos antes de Cristo. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Covid-19 ataca em força



O Covid-19 ataca em força e o Governo decreta o uso obrigatório de máscara na rua e a utilização da aplicação StayAwuay covid em contexto laboral ou equiparado, escolar e académico, sob pena de multa até 500 euros. Isto significa que o coronavírus continua a agir, aumentando dia a dia o número de infectados, ao mesmo tempo que mata os mais fragilizados. Os trabalhadores do SNS estão exaustos e vão permanecer nessa situação, infelizmente  sem fim à vista. 
Pelo que tenho visto e lido, vamos ter ainda muito que sofrer. Os cientistas prosseguem no esforço de encontrar a chave de uma vacina e medicamentos que respondam ao ataque do vírus que campeia por todo o mundo,  provocando estragos mortíferos, deixando no escuro sequelas inimagináveis. 
Esforço-me por cumprir o determinado pelos entendidos e aconselhado pelo bom senso. Máscara que utilizo por sistema, mesmo em casa quando entra alguém, mas nada me garante que não possa vir a ser contaminado. No entanto, pelas reportagens da comunicação social e por conhecimento pessoal vou percebendo que não falta gente avessa a ter os cuidados necessários, no sentido de evitar ser infectado ou a infectar com quem se cruze. 
Todos sabemos que a grande maioria das pessoas consegue resistir aos ataques do coronavírus, mas os idosos, os mais fragilizados pela doença ou pela idade, permanecem na linha da frente dos condenados. 
Vêm estas considerações a propósito da decisão do Governo que veio recordar-nos, com veemência, que é mesmo preciso respeitar o uso da máscara e evitar situações de risco. Pela aplicação acima referida, hoje não me cruzei com infectados. 

F. M. 

POSTAL ILUSTRADO: Cais dos Pescadores

Gafanha da Encarnação - Costa Nova do Prado



 

RECORTES: Mia Couto

Do romance Jesusalém

                                                   

                                                                          

Livro Um 

                                                                    A HUMANIDADE

                                                Sou o único homem a bordo do meu barco.
                                                Os outros são monstros que não falam,
                                                Tigres e ursos que amarrei aos remos,
                                                E o meu desprezo reina sobre o mar.

                                                […]
                                                E há momentos que são quase esquecimento
                                                Numa doçura imensa de regresso.

                                                A minha pátria é onde o vento passa, 
                                                A minha amada é onde os roseirais dão flor, 
                                                O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
                                                E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.


                                                    Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 11 de outubro de 2020

Nada de novo. Tudo novo

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO



A nova encíclica de Bergoglio é um grito brutal. 
Quanto ao seu poder mobilizador, é o que ainda não sabemos.

1. Pode parecer estranho, mas a questão política tornou-se inseparável da fidelidade à memória cristã mais antiga.
Creio que foi de um de poeta brasileiro que li, há muito anos, uma brevíssima narrativa sobre a insuportável visão de um crucificado. Manuel Bandeira nunca podia entrar em casa sem dar com os olhos nesse horror. Teve, várias vezes, a tentação de descrucificar aquela imagem. No momento em que ia executar esse gesto libertador, recuou: enquanto houver vidas humanas crucificadas, não posso arrancar da cruz a vítima inocente, condenada por uma coligação dos poderes de dominação das nações gentias e dos povos de Israel, executada com declarado apoio popular. É assim que se lê nos livros mais santos da humanidade [1].
Por outro lado, segundo S. Paulo, foi também, desde o começo do movimento cristão, que se tentou eliminar essa memória vergonhosa. Era, com efeito, uma estupidez e uma loucura, tanto para a cultura grega como para a cultura judaica, no seio do império romano, apresentar como salvador um crucificado, um derrotado, um anti-herói, um condenado à pena de morte mais horrorosa. Não podia ser essa a imagem de um caminho novo para o sentido da vida verdadeira.

POSTAL ILUSTRADO - Trajes antigos


Trajes antigos em gafanhoas atuais. Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. 

Gafanha do Carmo - Mestre Daniel Gonçalves

Figuras da nossa terra


Na Gafanha do Carmo encontramos a rua dedicada a Mestre Daniel Gonçalves. Este topónimo foi uma proposta da Junta de Freguesia da Gafanha do Carmo em 16 de março de 1978 (Ata JFGC 4/1978-03-16). 
O Mestre Daniel Gonçalves nasceu a 31 de dezembro de 1897, sendo natural da Parada de Cima, que na época pertencia à Freguesia de Covão do Lobo. 
Devido às poucas perspetivas de vida que a sua terra natal lhe oferecia, decidiu partir em busca de trabalho na Gafanha, à semelhança de muitos outros compatriotas. O próprio Mestre Daniel, nos primeiros tempos em que esteve na Gafanha do Carmo, ficou alojado em casa de uns tios, que tinham tomado decisão idêntica. 
Estes jovens, que rumavam para as Gafanhas, assumiam profissões nos ramos da construção naval e civil e foi pela sua atividade neste sector que o Mestre Daniel será recordado. 
Ser construtor civil significava, naquele tempo, especializar-se em várias áreas que o sector exigia, desde produzir materiais, como os adobes, assim como trabalhar a madeira e o ferro, destinados a portões, janelas e portas. O Mestre Daniel Gonçalves tinha mesmo, para este fim, uma oficina devidamente equipada em sua casa. 
De referir que esta casa ainda hoje é conhecida como a Casa da Palmeira, devido às duas palmeiras que estavam no jardim. Foi também sede de diversas associações cívicas, culturais e religiosas, em que Daniel Gonçalves participava ativamente, visando sempre a melhoria das condições de vida do povo da Gafanha. Destas destaca-se a Comissão de Melhoramentos da Gafanha do Carmo que muito lutou para que a freguesia tivesse o seu próprio cemitério. Os defuntos tinham de ser enterrados em Ílhavo, causando grandes transtornos às populações, uma vez que a estrada que liga a Gafanha do Carmo à Vista Alegre era um caminho de areia muito difícil de percorrer. 

sábado, 10 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 1

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Bom Samaritano, 1849, Eugène Delacroix

Há sombras negras que pairam no horizonte, 
obrigando a pensar e a exigir que se mude de rumo

1. “FRATELLI TUTTI” (irmãos todos) é o título da nova encíclica do Papa Francisco, abrindo horizontes novos para a Humanidade mergulhada numa profundíssima crise global. Cita Francisco de Assis escrevendo aos seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida segundo o Evangelho, convidando-os a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço: feliz quem ama o outro, “o seu irmão que está longe ou que está perto”. Inspira-se, pois, em Francisco de Assis: não é acidental que, publicada com a data de 4 de Outubro, a tenha ido assinar na véspera sobre o seu túmulo, em Assis. Não é a única fonte de inspiração: estão também presentes outros líderes espirituais e políticos, como Charles de Foucauld, Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi... 
O subtítulo da carta: “Sobre a fraternidade e a amizade social”, explicitado nestes termos: “Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas actuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras.” Embora partindo das suas convicções cristãs, quer dirigir-se a todas as pessoas de boa vontade, num diálogo sincero e plural, para a realização de um sonho comum de dignificação de todos. “Sonhemos como uma única Humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma Terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos.” 

GAFANHA - Água abençoada



À Gafanha, a Verdemilho, a São Bernardo e à Presa eram os passeios que eu mais preferia nas minhas férias de professor de Coimbra.
Quem me levava sobretudo à Gafanha era a água que, taumaturga por excelência, com o seu contacto, com o seu murmúrio, com as suas frescas exalações, me aquietavam brandamente os nervos, mais ou menos fora do ritmo pela continuidade das excitações académicas; e para tal ela não precisava mais do que duma sessão: à primeira vez era logo.»

D. João Evangelista

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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

D. António Marcelino faleceu há 7 anos

Evocando um bispo dinâmico e interventivo

Na tarde de 9 de Outubro de 2013, faleceu no Hospital Infante D. Pedro D. António Baltasar Marcelino, que foi Bispo de Aveiro. Foi um bispo que muito me marcou. Ordenou-me diácono permanente e convidou-me para tarefas ligadas à informação: coordenador do secretariado diocesano das comunicações  sociais e diretor do semanário "Correio do Vouga". Apreciava nele o dinamismo interventivo e contagiante, a rapidez na forma de agir, a capacidade de decisão e a frontalidade corajosa. 
Talvez por me ter envolvido na comunicação social, tarefas a que me dediquei com entusiasmo, até ao limite das minhas capacidades, partilho hoje, neste meu blogue, um artigo que escrevi sobre a sua ação nesta área, que foi publicado na revista "Praxis"