terça-feira, 8 de setembro de 2020

Seis meses com o Covid-19


Se não me engano (não tenho tempo para confirmar), seis meses passaram com a batuta do Covid-19 a dirigir as nossas vidas. Restrições, preocupações, leis e medos ditaram comportamentos para todos, com as habituais ideias de alguns que se comportam como se isto fosse uma brincadeira, mas não é. 
Pelo que tenho visto, lido e ouvido, os mais jovens têm resistido aos ataques do vírus, o que não acontece com os mais idosos, que continuam a engrossar as estatísticas que hão de ficar para a história como as vítimas maiores da pandemia. Para que conste, eu estou na lista da chamada terceira idade. 
Certo do perigo que corro, uso máscara quando saio e em casa quando recebo alguém. Lavo as mãos e desinfeto-as frequentemente.  Quem chega, tem de a usar. E quando lembro a razão do uso da máscara, que até me incomoda quando encaixo os óculos para ler, informo sempre que o faço porque não sei se estou infetado ou se quem chega é portador do coronavírus. Que não, retruca um ou outro, afiançando que não andou por zonas de risco... que posso ficar descansado! Pois é... mas ninguém exibe o atestado médico comprovativo da sua saúde. E mesmo que o tivesse, de nada serviria, pois o visitante poderia ser contaminado pelo caminho.
Apesar de me sentir com coragem para resistir aos efeitos do isolamento, reconheço que preciso de sair para arejar, ver pessoas, conviver dentro do possível e receber da natureza, com toda a sua beleza, o ar livre e refrescante e o calor purificador. Contudo, o medo vem sempre sorrateiro... 
Pessoalmente, afirmo que tenho feito um natural esforço para me adaptar às circunstâncias, ocupando o tempo em atividades agradáveis, porém, reconheço que muitos da minha idade talvez não tenham possibilidades físicas e mentais para enfrentarem a situação calamitosa conhecida. Será  urgente, por isso,  que famílias e instituições se debrucem sobre as necessidades dos mais velhos, que não podem nem devem ficar esquecidos ou deixados a um canto. 

Fernando Martins

Santuário de Schoenstatt

Postais Ilustrados 


 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Pela Positiva - Há dez anos


«Se passa, desacanhadamente, da "Escolha de peixe" no sul da Costa Nova para o "Mercado de Cabinda"; se transfere as tintas do glauco da Ria para os amarelos gritantes da seara madura; se da peixeira esbelta resvala para a ceifeira maciça e do pescador ágil e bailarino para o pastor imóvel na paisagem pasmada, isso não lhe obnubila a fidelidade à ambiência onde, pela primeira vez, experimentou os pincéis e a que está ligado por uma afectividade toda tocada de ternura.»

Frederico de Moura

In "Homenagem do Município de Ílhavo – C. Teles – Desenhos"

APA aposta em melhores acessibilidades


No dia 1 de setembro, a APA – Administração do Porto de Aveiro, S. A. iniciou o “Estudo da Melhoria das Acessibilidades Marítimas do Porto de Aveiro”, que tem como objetivo geral “avaliar medidas e obras que possibilitem a melhoria das acessibilidades marítimas, de forma a permitir o acesso a navios com maiores dimensões, em melhores condições de segurança e em qualquer condição de maré”. Este estudo, que foi adjudicado ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), conta com a colaboração da Universidade de Aveiro. O estudo deverá ficar concluído no prazo de nove meses.

Homenagem às mulheres das secas


Deolinda - bons anos depois

A Deolinda veio de Fafe para a nossa terra em 1955. Tinha 11 anos e como habilitações possuía a 4.ª classe. Também já tinha feito a Profissão de Fé. Quando chegou, foi trabalhar com as irmãs, Maria da Luz e Ilda, para a seca do Milena. Na Cale da Vila. Como ela, assim menina, havia outras. Na altura não se reparava no trabalho infantil.
A Deolinda não teria verdadeiramente a noção do trabalho, mas sentia que tinha de ajudar a família. A primeira tarefa que lhe deram resumia-se a guardar o bacalhau que secava pendurado nas redes da vedação da seca, não fosse algum transeunte tentar-se e sacar algum peixe ainda não completamente seco. Outro era estendido nas mesas de arame.
O tempo ali especada a olhar custava a passar. Vai daí, começou, para se entreter, a jogar “à macaca”, um jogo muito habitual naqueles tempos entre a criançada. E assim ganhava a vida. «Os patrões eram amigos e boas pessoas», confidenciou-me.
Depois, estendeu bacalhau pelas mesas e ao fim do dia de sol recolhia-o até à manhã seguinte, se a temperatura fosse adequada e se houvesse vento. Saltou a seguir para as tinas, onde se lavava o peixe mais consumido pelos portugueses naquela época. Era miúda e mal conseguia esfregar o fiel amigo. Não ganhava tanto como as mulheres, mas já nem recorda o preço da jorna. Era de facto pequena, a Deolinda. Mas uma irmã, mais crescida e mais sabida, apressa-se a sugerir-lhe, para se assemelhar às adultas, ganhando como tal:
— Estica-te, Deolinda, para pareceres uma mulher!

Fernando Martins

Nota: Reedição para mostrar  aos mais jovens

O Papa e a pandemia

«De algum modo a pandemia atual levou-nos a redescobrir estilos de vida mais simples e sustentáveis. A crise deu-nos, em certo sentido, a possibilidade de desenvolver novas maneiras de viver. Foi possível constatar como a Terra consegue recuperar, se a deixarmos descansar: o ar tornou-se mais puro, as águas mais transparentes, as espécies animais voltaram para muitos lugares donde tinham desaparecido. A pandemia levou-nos a uma encruzilhada. Devemos aproveitar este momento decisivo para acabar com atividades e objetivos supérfluos e destrutivos, e cultivar valores, vínculos e projetos criadores. Devemos examinar os nossos hábitos no uso da energia, no consumo, nos transportes e na alimentação. Devemos retirar, das nossas economias, aspetos não essenciais e nocivos, e criar modalidades vantajosas de comércio, produção e transporte dos bens.»

domingo, 6 de setembro de 2020

Rua Direita e o turismo



Andámos pela Rua Direita um dia destes, por vontade expressa da Lita. Dizia-me que a rua estaria mais voltada para os turistas que demandam Aveiro, não só pelos canais de Ria, mas também pelos moliceiros que já não andam ao moliço e pelos ovos-moles de sabor único, decerto pelo seu  fabrico secreto... Diz-se que foi assim batizada, apesar de ser às curvas, por nos conduzir mais depressa ao olho da cidade. Pode ser... Se não for, que alguém nos esclareça. E o que vimos? 
Não havia por ali nenhuma multidão, mas notava-se quem era turista: Olhos bem abertos nas montras das lojas, com destaque para os ovos-moles, artesanato e bares. Nesse vaivém, que não foi tão demorado quanto desejado, reparámos que havia lojas renovadas e algumas à espera disso. Fixei os meus olhares numa dessa e recordei então que ostentava um símbolo digno de ser protegido e salientado. Trata-se do velho prédio que ilustra esta mensagem onde se vê, claramente, a vieira ou concha que denuncia a hospedagem de peregrinos de Santiago. Segundo a tradição, os peregrinos que estacionavam em Albergaria, procediam a um desvio para venerarem a Padroeira de Aveiro, Santa Joana, que afinal ainda é a Beata Joana, à espera que o Papa se decida por declará-la digna dos altares a nível universal. Os aveirenses, contudo, já a "canonizaram". 

F. M.

RETALHOS: Mário Cláudio

Assim começou um romance 

“Um velho no Inverno é a morte soprada, o tempo dorido, os fantasmas que a paciência esfarrapou. Põem-lhe aos pés a braseira, remexe as cinzas à procura de um rosto mais claro, aquieta-se nos reposteiros da sombra que o habita. Agasalha-se o velho no capote de castorina, puído nos lugares do atrito dos gestos, salpicado pelos oceanos que imaginar. Está calado, e sente frio, não lhe perguntem da justiça dos homens que conheceu, nem da obra completa, nem do paraíso que pelo mundo andou buscando.” 


Do livro “Peregrinação de Barnabé das Índias”, 
1.ª edição, Maio de 1998

sábado, 5 de setembro de 2020

O Laguna está na Laguna


Tanto quanto posso deduzir, o Laguna, que está na Laguna, é um café-restaurante ou bar que desafia os que circulam nos acessos à cidade de quem vai para as praias da Barra e da Costa Nova ou delas regressa a Aveiro. É óbvio que, para confirmar a natureza daquela oferta turística, terei de a visitar, nem que seja, apenas, para saborear um café. E não acrescento mais nada para não errar. De qualquer forma, a ideia da sua presença ali é muito feliz e convidativa.

Dia Internacional da Caridade


“A Cáritas pede que, neste dia, ninguém deixe de ter um gesto de auxílio em favor de quem esteja em necessidade. Uma visita, um donativo, um abraço, uma diligência, …são algumas das formas de viver, de verdade, este dia. Neste dia que ninguém em sofrimento seja esquecido”  

 Eugénio Fonseca
Presidente da Cáritas Portuguesa

Nota: Foto da rede social