quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Notas do meu diário – Uma passagem por Santa Cruz da Trapa

AO  POVO - Os filhos e amigos de Santa Cruz da Trapa - 1926
A Lita junto à Cruz no Largo do Calvário



Homenagem da Freguesia de Santa Cruz da Trapa ao saudoso santacruzense Agostinho Valgode

Centro Cultural - Biblioteca César Rodrigues 

Homenagem à Casa do Povo
Poema no Largo do Calvário

Poema no Largo do Calvário

Hoje foi dia de passar por Santa Cruz da Trapa, terra que conheci há uns 40 anos, aquando da nossa ligação, em tempo de férias, a Serrazes. Quase a não reconhecemos, mas disso já estamos habituados. O Turismo alertou-nos para uma curiosidade a ter em conta: O povo quer que a sua vila seja conhecida como terra de poetas, havendo já dois livros publicados a partir de recolhas ou seleção; e como prova desse interesse, no largo há poemas para sublinhar essa pretensão. 
Há décadas, quando por ali cirandámos, demos um saltinho a São Cristóvão de Lafões. O mosteiro  em ruínas, com existência lavrada por volta de 1123, teria sido mandado edificar por D. João Peculiar, que veio a ser Bispo do Porto e Arcebispo de Braga, onde está sepultado. Este D. João Peculiar foi uma personalidade marcante e conselheiro de D. Afonso Henriques. Foi a Roma para convencer o Papa a reconhecer D. Afonso como rei. Tal reconhecimento estaria, como esteve, na base da fundação do Reino de Portugal. 
Quis colher informações, mas o Centro Cultural Casa do Povo e a Biblioteca César Rodrigues estavam encerrados, antes do meio dia de hoje. Um transeunte deu-nos  como provável razão o período  de férias. Paciência... ficará para a próxima visita, se tal vier a acontecer.

Fernando Martins

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Notas do meu diário - O Vouga vai ficar limpo e asseado

o rio em plena caminhada 

Rio assoreado, presentemente

Os homens teimam e vão conseguir limpar o Vouga

1. O rio Vouga nasce na serra da Lapa, em Quintela, Sernancelhe, Viseu. Um fio de água que nasceu a sonhar com o oceano atlântico, mar que me habituei a ver desde tenra idade. Isto aprendia-se na escola primária e ficava para a vida. Hoje não tem grande interesse, que o mundo das juventudes atuais tem mais que fazer. Com um clique, os telemóveis dizem tudo em segundos.

2. Depois, na sua passagem, batizou com as suas águas virgens terras que ainda hoje se orgulham do seu padrinho: Sernada do Vouga, Sever do Vouga, Macinhata do Vouga, Pessegueiro do Vouga, Mourisca do Vouga, Valongo do Vouga, Arrancada do Vouga, Lamas do Vouga e nem sei que mais. Contudo, no seu caminhar, ora manso ora agitado, vai adotando outros filhos que lhe perpetuam a existência. São os afluentes: Águeda, Caima, Mel, Gresso ou Branco, Lordelo, Mau, Sul, Teixeira e Zela. Aqui, em Sever do Vouga, mora o Sul. Daí o nome desta ridente cidade. 

3. Com os anos e com os tempos de fogos as cinzas e outros detritos, mas também com diabruras de gentes descuidadas e da natureza por vezes madrasta... o rio ficou assoreado. Fechadas comportas, represas ou sistemas semelhantes que nem ousei indagar, o homem, com a sua teimosia e visão de futuro, que o turismo termal a isso obriga, vai torná-lo limpo e asseado. Todos merecemos e precisamos disso. 

F. M.

A saúde é coisa preciosa

ESCRITO NA PEDRA 


"É coisa preciosa, a saúde, e a única, em verdade, que merece que em sua procura empreguemos não apenas o tempo, o suor, a pena, os bens, mas até a própria vida; tanto mais que sem ela a vida acaba por tornar-se penosa e injusta" 
Michel Eyquem de Montaigne 
(1533-1592), ensaísta e escrito


No PÚBLICO de ontem 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Notas do meu diário - Estávamos mesmo a precisar de sair

Com toda a calma do mundo 
O calor aperta 
Sem pressas 
Estávamos mesmo a precisar de fugir de alguma monotonia da vida. Deixámos para trás os ares marinhos para podermos respirar as tranquilidades serranas. Os ares do oceano e da laguna, que nos acompanham desde o desabrochar para a existência terrena, voltarão quando descermos das serranias, em São Pedro do Sul, rumo ao mar, com o rio Vouga a tiracolo. 
Quando nos afastámos da ria, uma boa hora depois uns chuviscos refrescaram o ar, mas o sol, fulcro de vida e doce companheiro, que acompanhamos desce o seu nascer até se esconder no oceano,  à tardinha, voltará à ribalta onde quer que estejamos. E as férias verdadeiramente começaram. 
Não há projetos de almoço nem de jantar, não há horários a cumprir, não há gatos a correr nem cães a ladrar à roda da nossa residência de todos os dias, desde há 54 anos, não há jardim nem árvores para regar (outros o farão), não há galinhas a cacarejar, não há campainha nem telefone a tocar... Eu e Lita estamos por aqui. E disso darei nota ao sabor do vento que passa, mansinho até ver.

F. M.

Nota: Reeditado em 18-09-2019, pelas 18h14

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Bento Domingues - Ampliar as perguntas


"Quando se fala das dificuldades do diálogo da Igreja com a sociedade, parece admitir-se que está consumado o exílio da fé cristã no mundo da cultura ocidental e que já não existem pessoas e grupos com sede e fome do Evangelho de Jesus."

1. O mês de Setembro, a ritmos diversos, abre um novo Ano Pastoral. As dioceses, as paróquias e os diversos movimentos começam a executar programas previstos para alimentar, nos praticantes da vida eclesial, formas inovadoras de ir ao encontro das pessoas e dos grupos que parecem longe, indiferentes ou hostis às igrejas.
O programa da diocese de Lisboa, para 2019-2020, tem uma formulação muito generosa, mas que se pode prestar a alguns equívocos: “Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias!” Dito assim, até parece que Cristo está ausente das periferias, esperando que alguém se lembre de o conduzir para fora de portas.
De facto, em regime de Cristandade, a pastoral mais corrente – não a única – resumia-se em apresentar, na Catequese, as verdades a crer, os mandamentos a observar e os sacramentos a receber. Na saída para fora dos espaços da Cristandade, supunha-se que era o missionário que levava Cristo para as terras onde Ele nunca tinha chegado. Ele teria de propor aos gentios o Credo cristão, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, assim como administrar os Sete Sacramentos.
Com o advento da Modernidade, as sociedades ocidentais, com ritmos, formas e em graus diversos, emanciparam-se da tutela das Igrejas e das Religiões. Alguns falam da secularização, não só da sociedade, mas também da vida privada. Antes, nascer e tornar-se cristão eram acontecimentos quase simultâneos. O ambiente cultural exigia a transmissão dos rituais da fé. Com a liberdade religiosa, cada um terá de fazer a sua escolha. As referências cristãs passam a estar fora do ambiente cultural. Por vezes, sobretudo onde vigoravam programas estatais de ateísmo militante, tentou-se eliminar as próprias marcas que tinham deixado na cultura.

domingo, 15 de setembro de 2019

Anselmo Borges - Francisco em África para o mundo

Papa Francisco em Moçambique
“Em Moçambique fui semear sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que tanto sofreu no passado recente por causa de um longo conflito armado e que na passada Primavera foi vítima de dois ciclones que causaram danos muito graves.” 

Papa Francisco 

1. O Papa Francisco voltou a África. Numa viagem de contrastes: por um lado, Moçambique e Madagáscar, dois dos países mais pobres do mundo — Moçambique, com 70% dos 28 milhões de habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza, é o décimo mais pobre; Madagáscar é o quinto mais pobre —, e, por outro, a República de Maurício, onde a economia cresce cerca de 5% ao ano, é uma ilha onde fazem férias turistas ricos. Francisco levava na bagagem objectivos essenciais: uma paz duradoura, o cuidado com o meio ambiente, o diálogo inter-religioso, um mundo globalizado justo. Numa visita multitudinária, em todo o lado foi recebido em festa e júbilo, com danças e tambores, como só os africanos sabem fazer. 
A viagem decorreu entre 4 e 10 deste mês de Setembro. Ele próprio, no passado dia 12, já em Roma, descreveu o seu périplo por África e o que o moveu: “O Evangelho é o mais poderoso fermento de fraternidade, de liberdade, de justiça e de paz para todos os povos.” 

1.1. “Em Moçambique fui semear sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que tanto sofreu no passado recente por causa de um longo conflito armado e que na passada Primavera foi vítima de dois ciclones que causaram danos muito graves.” 
Em Moçambique, clamou perante as autoridades: “Não à violência que destrói, sim à paz e à reconciliação.” E, sobre o processo de paz, no qual tem tido papel fundamental a Comunidade de Santo Egídio, quis exprimir o seu “reconhecimento”, dele e de grande parte da comunidade internacional, pelo esforço em ordem à reconciliação, que, sublinhou, “é o melhor caminho para enfrentar as dificuldades que tendes como Nação”. “Vós tendes uma missão valorosa e histórica a cumprir: Que não cessem os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem tecto, operários sem trabalho, camponeses sem terra: bases de um futuro de esperança porque é futuro de dignidade. Estas são as armas da paz.” 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Georgino Rocha - Alegrai-vos comigo e façamos festa!

DOMINGO XXIV 

Filho pródigo
A misericórdia de Deus é o centro do Evangelho da liturgia de hoje apresentado a partir de três parábolas acessíveis: a da ovelha e a da moeda perdidas e a do filho “pródigo” lançado na aventura da sua liberdade. Em cada uma, há um protagonista diligente que aponta para mais longe: o agir de Deus para com a humanidade, para com o seu povo. Parábolas narradas por Jesus ao ver a multidão que o acompanha. Lc 15, 1-32.
Lucas, médico de grande sensibilidade e ternura, anota as “intenções” dos que seguiam Jesus e o contraste que se ia acentuando. Os indesejados da sociedade escutam-no com interesse. Os defensores da ordem estabelecida fazem-se ouvir em comentários críticos. Publicanos e pecados aproximam-se. Fariseus e escribas distanciam-se. Jesus, como sábio narrador de contos e “histórias”, aproveita a circunstância para realçar, uma vez mais, a sua missão de dar a conhecer o autêntico rosto de Deus Pai. E que bem que o faz!
Recorre a exemplos da vida corrente: pastor que busca a ovelha perdida, dona de casa que procura moeda desaparecida e pai de dois filhos com comportamentos diferentes. Em cada um destes casos, destaca traços que configuram o modo de ser e agir de Deus: o apreço pela harmonia e proximidade que se alteram inesperadamente: a ovelha perdida do rebanho, a dracma desaparecida na casa da dona e o jovem aventureiro ansioso de liberdade e de novas experiências.
Este apreço constitui uma autêntica novidade que supera a simples tolerância e se situa no amor generoso. Novidade provocante numa sociedade que dificilmente aceita o diferente, respeita o diverso, admite o estranho.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Faleceu José Manuel Sacramento

A roda dos amigos continua a encolher a passos largos. Paulatinamente, os elos físicos vão caindo como as folhas no outono. Ficam os elos das recordações e amizades imorredoiras. Ontem foi o José Manuel Sacramento que conheci há muito, sobretudo depois que segurou o leme de O Ilhavense. De seu pai, que também evoco hoje, herdou o gosto pelo jornalismo e a paixão pela sua terra que defendia com coragem, sem nunca renunciar aos princípios da verdade e da frontalidade. 
Particularmente, facilitou-me pesquisas nos arquivos do seu jornal, dando-me informações preciosas sobre temas dos meus interesses. 
O nosso último contacto aconteceu em finais de Novembro, dando-me conta da doença que o inquietava. Nunca pensei, nunca pensamos, que pode ser fatal. E foi. 
Ontem, partiu para Deus, que sempre e tudo perdoa. Até um dia, amigo Sacramento. 
Os meus pêsames a toda a família. 

Fernando Martins

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Cruzeiro dos Centenários na Gafanha da Encarnação

Para memória futura: 
Discurso do Pe. Rezende, 
primeiro prior da Gafanha da Encarnação, 
na inauguração do cruzeiro em 1940

Cruzeiro renovado (foto da Junta de Freguesia)



Lê-se no Correio do Vouga, jornal católico e órgão da Diocese de Aveiro:

Pe. Rezende
"Conforme prometemos no último número deste jornal, publicamos hoje [14 de Setembro de 1940] o discurso proferido pelo Rev. P.e João Vieira Rezende, na inauguração do Cruzeiro dos Centenários, na Gafanha da Encarnação:

"Eis-nos aqui, em frente dêste monumento histórico, que na algidez e dureza da sua pedra, ficará a atestar pelas eras em fora a nossa fé e a nossa piedade. Alem disso, será êle também um documento e um testemunho de que nós, o povo da Gafanha da Encarnação, não quisemos ficar insensíveis e indiferentes a êsse movimento de fé e de patriotismo, que há quási dois anos tem alastrado de norte a sul de Portugal.
Colaboraremos também nós, com essas entusiásticas e vibrantes manifestações dos dois amores lusitanos: o amor de Deus e o amor da Pátria. Êste humilde plinto, encimado pela cruz (símbolo de fé e de fraternidade) foi edificado por nós neste cantinho da frèguezia, em comemoração dos dois centenários, dessas festas evocativas da rota gloriosa que Portugal traçou no mundo, desde o seu providencial nascimento em Ourique até aos tempos auspiciosos que vão passando. Nós queremos também neste ano jubiloso de 1940, relembrar os feitos heróicos, praticados pelos portugueses, quer nas horas festivas da nossa Independência, quer nas horas redentoras da nossa Restauração, quer ainda nestas horas que passam, de verdadeira e reconstrutiva Revolução social.
Quando D. Afonso Henriques combatia pela nossa Independência nos campos de Ourique, viu no Céu o sinal que lhe prometia a vitória. Na Cruz que Cristo lhe mostrava lá no alto, estavam garantidos o milagre e a promessa que, em pouco tempo, se haviam de realizar. In hoc signo vinces - Com êste sinal vencerás! estava lá escrito. E o príncipe venceu. E aquela hora que Deus marcou com êste sinal, no Céu, firmou a nossa Independência, já oito vezes secular, e, o que Portugal foi durante êsses oito séculos dí-lo a nossa História cheia de heroismos, repleta de tradições gloriosas.
A Cruz do Céu de Ourique, tinha-se ligado num amplexo imorredoiro à espada victoriosa do Rei Conquistador, e aquele abraço da Cruz e da Espada naquele campo histórico, foi o pronúncio do eterno cantar, sempre glorioso e cavalheiresco, da alma nacional.

Alexandrina - A primeira batizada na Gafanha da Senhora da Nazaré

Alexandrina Cordeiro
Não se sabendo quando, de facto, se concretizou a aplicação do decreto do Bispo de Coimbra da ereção canónica da freguesia, apesar de o Padre João Vieira Resende dizer que tal aconteceu no dia 10 de Setembro de 1910, sabe-se, todavia, que o primeiro Prior da Gafanha da Nazaré, Padre João Ferreira Sardo, batizou, no dia seguinte, 11, Alexandrina, “na Capella da Calle da Villa, d’este logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilhavo, Diocese de Coimbra”, na qualidade de pároco encomendado. 
Alexandrina, a primeira pessoa batizada na nova paróquia, com o assento n.º 2, nasceu em 26 de Agosto de 1910, sendo filha legítima de Domingos Ferreira e de Joana de Jesus, jornaleiros, naturais desta freguesia e nela residentes e recebidos na freguesia de Ílhavo. 
O assento n.º 1 apenas apresenta o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a informação de que faleceu a 28-11-1910. 
Sobre Alexandrina Cordeiro, como sempre foi conhecida, podemos adiantar que durante toda a vida foi uma pessoa envolvida na comunidade católica, tendo integrado, inclusivamente, uma comissão que se deslocou aos EUA para angariação de fundos destinados à construção do Lar Nossa Senhora da Nazaré. 
Frequentou na infância a catequese dada pelo Padre Sardo, que lhe ministrou, depois, a primeira comunhão. E na inauguração da estátua do nosso primeiro prior, no Jardim 31 de Agosto, foi distinguida com a honra de descerrar o monumento, a convite do então Governador Civil de Aveiro, Gilberto Madail. Mulher dinâmica, faleceu em 12 de Outubro de 1995. 
E de onde vem este apelido Cordeiro, assumido pela família, já que os seus pais não assinavam tal apelido? Segundo sua filha Dália, o apelido nasceu de seu avô, Domingos Ferreira, que guardava um rebanho antes de casar, imitar na perfeição os balidos dos cordeiros. De tal forma, que o Cordeiro, enquanto apelido, se impôs, passando, naturalmente, para os filhos e netos. 

Fernando Martins