domingo, 24 de março de 2019

Dia Nacional do Estudante - Estarei sempre com eles


O Dia Nacional do Estudante comemora-se anualmente no dia 24 de março, para relembrar as dificuldades que os jovens enfrentaram nas décadas de 60, aquando da crise académica que aconteceu no nosso país. Em princípio, importa preservar a história das lutas travadas em nome de prioridades por cumprir em tempos idos. Contudo, sinto que nos nossos dias e sempre há e haverá justas reivindicações em prol de uma Escola livre, libertadora e capaz de se orientar por princípios de justiça e de integração de todos os estudantes, independentemente das suas origens e condições sociais. 
Sou do tempo em que a Escola era só para alguns, porque a pobreza exigia de todos a luta pelo pão de cada dia. O trabalho infantil, que agora condenamos, ao tempo era o pão nosso de cada dia. Completada a 3.ª ou 4.ª classe, era normal a procura de emprego em trabalhos nada condizentes com as capacidades físicas dos adolescentes. E para alguns, como aconteceu na minha meninice e adolescência, os estudos somente teriam lugar à noite ou muito mais tarde. Felizmente, com o passar das décadas, tudo foi melhorando, paulatinamente, embora subsistam lacunas em pleno séc. XXI. 
Presentemente, os estudantes têm outra visão do mundo e do seu futuro. Sabem o que querem, teimam em lutar contra o status sem horizontes e reivindicam o que consideram justo e lhes é negado por uma sociedade muitas vezes egoísta e castradora. Estou eles neste dia e sempre. 

Fernando Martins

Anselmo Borges - Uma Quaresma para o mundo


«Hoje, sabemos que o jejum e a abstinência contribuem em grande medida para a saúde e até para a beleza. Quanto à espiritualidade, não há dúvida. Significativamente, a sabedoria de todas as religiões esteve sempre aberta ao jejum sadio.»

1. Uma ilustre Catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto entrou em contacto comigo, porque queria saber algo sobre a relação entre o jejum e a espiritualidade. 
Lembrei-me então de que estamos na Quaresma. Ela é mais para os católicos, que durante 40 dias se preparam, pelo menos, deveriam fazê-lo, para a festa que constitui o centro do cristianismo, a Páscoa. De qualquer forma, animam-na ou devem animá-la valores que são universais, de tal modo que poderíamos fazer a pergunta: Como seria o mundo, se tivesse anualmente a sua Quaresma, tendo na sua base esses valores: jejum, abstinência, oração, silêncio, esmola, sacrifício, conversão? 

2. O que se segue é uma breve reflexão que tenta responder a esta pergunta. Começando pela urgência de um retiro. De facto, a Quaresma refere-se aos 40 anos que os judeus passaram no deserto a caminho da Terra Prometida e aos 40 dias que Jesus esteve no deserto, em retiro, preparando-se para a sua vida pública, na qual o centro seria a proclamação, por palavras e obras, do Evangelho, a mensagem da salvação de Deus para todos os homens e mulheres. 
Aí está: retirar-se para meditar e reflectir. O que mais falta faz hoje. Quem se retira para fora do barulho e da confusão do mundo, para meditar e reflectir, ir mais fundo e mais longe, ao essencial? O sentido dos 40 anos e dos 40 dias: a libertação da opressão e da escravidão, a caminho da liberdade e, consequentemente, da dignidade. Para a felicidade, evidentemente. 
Neste contexto, os valores da Quaresma. 

Bento Domingues: Deus não sabia o seu nome?

"O que importa é libertar a catequese,
as homilias, a teologia de rotinas
que impedem a alegria do Evangelho
para os dias de hoje."

1. Se Deus fala, é porque tem boca e diz coisas com sentido. Se tem boca, tem de ter um rosto. Se tem um rosto, tem uma cabeça. Quem já viu essa boca a pronunciar palavras? Numa reunião de catequese, a catequista viu-se surpreendida com essa pergunta de uma criança, já não tão criança. Ela própria ficou tão embaraçada que lhe disse: ó menina, isso não é pergunta que se faça, é uma maneira de dizer. A criança insistiu: mas Deus fala ou não fala?
No ambiente litúrgico e catequético, e até na linguagem corrente, os líderes das comunidades cristãs não se dão conta, pelo hábito de falar sem se explicarem, dando por sabido o que nem eles sabem, de que estão a preparar pessoas para confessar um credo e praticar rituais, mas sem a mínima inteligência do que dizem e fazem. Com o tempo, estão a preparar descrentes.
Já na Idade Média, Tomás de Aquino afirmava que, quando se pretende levar alguém à inteligência da raiz da verdade que confessa, tem muito que investigar para responder à pergunta: como é que é verdade aquilo que confessas ser verdade? Não basta recorrer a argumentos de autoridade. Nesse caso, o ouvinte fica sem ciência nenhuma e vai-se embora de cabeça vazia [1]. Não é boa recomendação a fé ignorante.
No âmbito religioso, estamos tão habituados a um certo uso da linguagem que julgamos estar sempre perante comunidades que merecem o elogio de S. Paulo: “Tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de seres humanos, mas como ela é verdadeiramente: palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais.” [2]
A criança a que nos referimos diria ao apóstolo: e como é que sabes que é palavra de Deus, se todas essas palavras são humanas, criadas por seres humanos?

sábado, 23 de março de 2019

Santuário de Schoenstatt - O silêncio está à nossa porta



Uma passagem pelo Santuário de Schoenstatt, hoje, sábado, deu para sentir quanto vale o silêncio que ali se respira. Envolvido pelo arvoredo com recantos ajardinados, cuidados e com bom gosto, sem ruídos perturbadores, somos levados à contemplação e à procura do encontro com o divino. 
Entrámos no Santuário e fomos contagiados pelo recolhimento de quem estava em oração, perante o Santíssimo Exposto. Há situações que nos despertam para a procura do transcendente, sem ser necessário procurar longe das nossas portas o que temos de mão beijada ao atravessar da rua. Passem por lá para poderem confirmar.

FM

sexta-feira, 22 de março de 2019

Sinal de Progresso...

"Muitas vezes, o desacordo honesto 
é um bom sinal de progresso"

Mahatma Gandhi,
líder nacionalista indiano (1869-1948)

DIA MUNDIAL DA ÁGUA - PARA PENSAR E AGIR

São Miguel, Açores: a água atrai os nossos olhares
Lita e Aidinha no Luso: a sede era muita
Celebra-se hoje, 22 de março, o Dia Mundial da Água. Todo o mundo consciente sabe que a água é um bem fundamental à vida. Sem ela, tudo morre, mas nem com esta certeza somos capazes de olhar para a realidade nua e crua de que a água é um bem perecível. Falamos e escrevemos sobre a água, cantamos loas aos seus benefícios e gritamos contra os que a desperdiçam e conspurcam, mas não passamos daí. 
Este dia tem a virtude de nos alertar para a escassez deste líquido preciosos, mas logo a seguir nos descuidamos, como se a água não corresse o risco de  faltar. E no entanto, sabemos muito bem que há continentes onde se luta tenazmente para obter um cântaro de água potável. E também sabemos que a abertura de um simples poço, em zonas desertificadas, é motivo de festa para muitos. 
Por estes dias tem sido notícia a falta de água no nosso país por escassez de chuvas nas épocas próprias, insistindo-se na necessidade de a poupar. Os campos ressequidos geram pobreza e fome. O gado não tem pastagens e a poluição ajuda a empobrecer as reservas líquidas nas zonas freáticas. Com a falta de água, diz a lógica primária que os produtos alimentícios se tornam mais caros, mas a vida continua até o povo, que somos nós todos, tomar consciência de que a água é já um bem escasso. 
Sei que estou a dizer coisas banais, mas nem por isso quero deixar de assinalar este dia, na esperança de que saibamos tomar consciência da importância da água no dia a dia de todos. Aqui e no mundo inteiro.

FM

Georgino Rocha: Dar fruto enquanto é tempo

Georgino Rocha
«Há que ‘cuidar do mundo’, cuidando ‘da qualidade de vida dos mais pobres’. A solidariedade não pode permanecer no abstrato. A missão da Cáritas é despertar para esta solidariedade no concreto”.»


Jesus toma conhecimento, por comentário popular, de duas trágicas notícias: a da matança de galileus ordenada por Pilatos e a do esmagamento de vítimas da torre de Siloé. Toma conhecimento e reage de forma estranha, fazendo perguntas e dando sentenças. Não se detém no que tinha ocorrido, mas centra-se na oportunidade que lhe proporciona: lançar um veemente apelo a estar atento ao que acontece, a saber situar-se no tempo, a cultivar a vigilância do espírito, a envolver-se com todas as energias para fazer dar fruto o que parece seco e estéril. A corrigir ideias falsas de Deus, que não é vingativo, mas paciente e misericordioso.
Lucas, o evangelista compositor, situa o diálogo na série de encontros em que Jesus com maior vigor interpela os ouvintes e apela à conversão. “Se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo”. Que impacto teria esta afirmação sentenciosa nos portadores da notícia funesta?! E que admonição deixa aos futuros discípulos persistentes seguidores dos passos de Jesus?! Vamos tentar encontrar alguns elementos que nos ajudem na caminhada quaresmal que estamos a percorrer.
A notícia espalha-se pela rede popular de comentários. É fruto da livre iniciativa de quem vê ou ouve e sente a urgência ou o gosto de transmitir ou propalar. E assim chega longe. Frequentemente reveste a forma do boato ou outro dito, semelhante ao “passe-a-palavra”, tipo “fofoca” ou murmuração. Jesus faz de ouvinte, e, mestre da escuta como é, resolve tirar partido da ocorrência. Deixa que os factos falem por si e o seu eco fique a ressoar para sempre.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Nó rodoviário das praias vai ser inaugurado

Foto da CMI

A Câmara Municipal de Ílhavo vai inaugurar, no próximo sábado, dia 23 de março, pelas 17 horas, o Nó Rodoviário das Praias da Barra e Costa Nova, convidando a população a estar presente nesta cerimónia pública. 

Aquando da construção do nó rodoviário das praias, de que fala o convite dirigido à população, no sentido da participação de todos na cerimónia pública, muito se falou sobre o projeto. Diziam uns que não seria a solução adequada para resolver o problema da fluidez do trânsito, sobretudo no verão. Acrescentavam outros que tudo estaria certo se a ponte suportasse o fluxo oriundo das praias no final do dia, clamando os críticos que essa era outra questão.

Depois da abertura, fui enumeras vezes às praias da Barra e Costa Nova, mas nunca encontrei dificuldades em circular, quer na ida, quer no regresso. Senti, isso sim, problemas no estacionamento na Barra, mas não sei como achar uma solução viável. Agora, fico para ver, se Deus quiser, o que vai acontecer na próxima época balnear. Será o tira-teimas para a fluidez do trânsito. Se tudo correr bem, tudo estará certo, se não houver complicações em circular,  terei de dar a mão à palmatória.

FM

Dia Mundial da Árvore - Um poema de Fernando Pessoa



D. DINIS

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Fernando Pessoa 

Miguel Esteves Cardoso: Moçambique


Segundo o PÚBLICO “a Unicef estima que sejam precisos 20,3 milhões de dólares para dar resposta à passagem do ciclone Idai”. Dos três países, Moçambique é o mais afectado, “prevendo-se que sejam necessários dez milhões de dólares para recuperar os danos causados”. 
Portugal começou por dizer vergonhosamente que iria ajudar através da União Europeia e da ONU, como se Portugal nada tivesse que ver com Moçambique ou fosse incapaz de ajudar sozinho como país soberano que é. “Portugal vai ajudar Moçambique através da União Europeia, que disponibilizou um financiamento de 3,5 milhões de euros.” Se há 28 países na União Europeia, isto dá uns generosíssimos 125 mil euros por país. 
Felizmente houve respostas de câmaras municipais que avançaram com mais do que esses 125 mil euros. Mesmo assim é preciso dizer o que parece mal referir: 20 milhões de dólares é muito pouco dinheiro para a União Europeia. O dinheiro necessário para reconstruir o que foi destruído em Moçambique pelas cheias também é pouco para Portugal. Podia-se fazer já a transferência. E deveria fazer-se já. 
Deveríamos saber quais foram as organizações que mais ajudaram os moçambicanos no terreno para podermos reforçá-las e apoiá-las. Deveríamos ouvir com a máxima atenção o que nos dizem os moçambicanos. Deveríamos ter mais humildade na maneira como falamos de Moçambique e na facilidade com que a diagnosticamos. Aprendi importantes lições de vida — de dignidade e elevação — graças à sorte que tive de conhecer moçambicanos. 
A altura é de ouvir e ajudar.

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO

NOTA: Subscrevo e aplaudo.