terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Isabel Cristina Caçoilo: O Natal da minha infância

Aquecíamos os pés ao Menino Jesus








Nasci e vivi a minha infância e parte da adolescência numa aldeia, "Campo de Jales", também conhecida por Minas de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar, Distrito de Vila Real de Trás-os-Montes. 
A ceia ou noite de consoada, como lhe costumávamos chamar, era passada em família. No caso da minha família, a mesa era bem preenchida: recebíamos as minhas irmãs com respetivos maridos e filhos. Eu era a mais nova da família. Quando eu era criança e já mesmo adolescente as minhas irmãs e irmão já não viviam na aldeia. Por norma, iam passar o Natal com os pais, podendo um ano por outro ser o contrário. 
Em minha casa, a mesa era composta pelos pais, filhos e netos. No entanto, o uso na minha aldeia e para quem lá habitava regularmente, cada família jantava em sua casa. No fim de jantar os filhos dirigiam-se a casa dos pais para passar o resto da noite em família. Passava-se a noite a jogar ao Rapa. Era era um jogo com um pequeno pião. O prémio que se "rapava" eram os frutos secos, e confetes (pequenas entrelinhas de açúcar de diferentes cores). 
O prato tradicional da consoada era o bacalhau com a couve troncha. Havia também o Polvo frito e os bolinhos de bacalhau. Como doces, tínhamos as rabanadas e os bilharacos. 
Havia a Missa do Galo na Igreja Paroquial da Freguesia "Vreia de Jales" e a Missa no dia de Natal na capela da aldeia. 
As prendas não eram como hoje, claro. Eu recebia sempre um pacotinho de confetes e  chocolates (fantasias de natal). Como era a mais nova das irmãs, já recebia uma boneca, um jogo ou um brinquedo qualquer. Já tinha esse miminho dado pelas irmãs. Recebia sempre meias, pijama ou uma peça de roupa.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Papa Francisco nasceu há 82 anos



O Papa Francisco completou hoje, 17 de dezembro, a bonita idade de 82 anos. O mundo inteiro, segundo cremos, conhece o Papa e segue todos os seus passos que o conduzem às periferias frias e esquecidas das civilizações deste século. O seu amor pelos pobres dos pobres é conhecida e a sua fé, assente nos caminhos de verdade e vida, é exemplo para cada um de nós, em particular, e para as nossas comunidades, em geral. 
Aprecio em particular, no Papa Francisco, a sua humildade e a sua paixão pela libertação do homem todo e de todos os homens, certo de que a humanidade há de atingir o ponto mais alto, com homens e mulheres, dos cinco continentes e credos, de mãos dadas, a cantar salmos de glória à felicidade na mãe-terra que o Criador nos legou. 
Os meus parabéns ao Papa Francisco, na certeza de que o Espírito de Deus continuará a abençoá-lo e a iluminar o rumo da barca de Pedro de que ele é o timoneiro de mão firme. 

Fernando Martins

domingo, 16 de dezembro de 2018

Tudo por causa da alegria

Bento Domingues

1. Não sei se Bergoglio conhece a literatura portuguesa. Espero que Tolentino Mendonça não deixe de lhe recomendar algumas leituras essenciais antes de voltar a Portugal, pátria dos antepassados do argentino J. L. Borges. O Cardeal G. Ravasi, esse conhece, de certeza, Fernando Pessoa. Não pode ignorar o sonho piedosamente blasfemo de Alberto Caeiro. Este viu Jesus Cristo aproveitar o dia em que Deus estava a dormir, o Espírito Santo andava a voar e a Virgem Maria a fazer meia, para fugir do céu, onde tudo é convencional e aborrecido, e tornar-se outra vez menino, uma criança tão humana que é divina, a Eterna Criança, o Deus que faltava, que sorri e brinca, o Menino Jesus verdadeiro que veio viver para aldeia com o nosso poeta. 
Lembrei-me desse sonho ao ler a mensagem que o Papa Francisco enviou ao referido Cardeal italiano, manifestando o seu agrado por verificar que a eternidade, o outro lado da vida, tivesse sido escolhida para tema da XXIII Sessão das Academias Pontifícias. Confesso que, no primeiro momento, achei algo despropositada aquela mensagem. Terá a recitação dominical do Credo, por milhões de fiéis, perdido a sua esperada eficácia? Será verdade que, nos últimos tempos, a convicção central da fé cristã terá sido negligenciada, tanto na investigação teológica como no anúncio e na formação dos fiéis? [1]. Poderá a teologia universitária e dos seminários, a doutrina dos catecismos, da pastoral e da nova evangelização esquecer-se do Céu? 
A observação do Papa é, no entanto, mais do que um desabafo de circunstância. Ele próprio colocou o dedo na ferida: "ao proclamar, hoje, essa verdade de fé, ela pode parecer quase incompreensível e, às vezes, transmitir uma imagem pouco positiva e 'atraente' da vida eterna. O outro lado da vida pode ser percebido como monótono e repetitivo, chato, triste ou totalmente insignificante e irrelevante para o presente". Esta descrição papal não está longe do sonho de Alberto Caeiro, heterónimo de F. Pessoa. Nem o menino Jesus pode aguentar esse aborrecimento.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Globalização e ética global



1. Muitas das graves convulsões sociais em curso têm na sua base a globalização, que arrasta consigo inevitavelmente questões gigantescas e desperta paixões que nem sempre permitem um debate sereno e racional. Hans Küng, o famoso teólogo dito heterodoxo, mas que Francisco recuperou, deu um contributo para esse debate, que assenta em quatro teses. Segundo ele, a globalização é inevitável, ambivalente (com ganhadores e perdedores), e não calculável (pode levar ao milagre económico ou ao descalabro), mas também - e isto é o mais importante - dirigível. Isto significa que a globalização económica exige uma globalização no domínio ético. Impõe-se um consenso ético mínimo quanto a valores, atitudes e critérios, um ethos mundial para uma sociedade e uma economia mundiais. É o próprio mercado global que exige um ethos global, também para salvaguardar as diferentes tradições culturais da lógica global e avassaladora de uma espécie de "metafísica do mercado" e de uma sociedade de mercado total. 

2. Neste sentido, em Setembro de 1993, teve lugar em Chicago o Parlamento das Religiões, com a presença de uns 6500 participantes e onde 150 pessoas qualificadas, representando as diferentes religiões e movimentos de tipo religioso do mundo inteiro, assinaram o Manifesto ou Declaração de Princípios para Uma Ética Mundial. O texto fora preparado essencialmente por Hans Küng. 
Ainda no contexto das celebrações dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vale a pena retornar a esses princípios. Como escreveu Küng, não se trata de uma duplicação da Declaração dos Direitos Humanos, nem de uma declaração política, nem de uma prédica casuística, nem de um tratado filosófico, nem de uma idealização religiosa ou da busca de uma religião universal unitária. Trata-se exactamente desse consenso de base, mínimo, referente a valores vinculantes, a critérios e normas inamovíveis e a atitudes morais fundamentais. Supõe-se que estes mínimos éticos, que assentam na constatação de uma convergência já existente nas tradições religiosas, podem ser assumidos por todos os seres humanos, independentemente da sua relação com a religião. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

DOMINGO DA ALEGRIA: Ser Honesto. Agir com Rectidão

Georgino Rocha

João Baptista prossegue a missão junto ao rio Jordão. A sua palavra forte e interpelante agita as consciências e “mexe” os corações. A simplicidade da sua vida irradia e atrai. O povo expectante do Messias acolhe o apelo e sente a veemência da exortação que se visualiza na afirmação: “Toda a árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo”. E quer saber que fazer. Por isso, acorre à sua presença e faz-lhes perguntas. Quer ser honesto e agir com rectidão.

Lucas, com grande acerto pedagógico, faz a narração do encontro de modo progressivo para o leitor se deixar envolver e perguntar e “eu que devo fazer?”. João centra as suas respostas na justiça social, na partilha de bens de subsistência, na honestidade e honradez profissional, na lisura de procedimentos e na convivência pacífica. À gente anónima, aconselha a repartir a roupa e a comida com que não tem; aos fiscais cobradores de impostos exorta a não irem além do que está estabelecido; aos soldados vigilantes pela ordem pública a não darem maus tratos a ninguém nem a criarem notícias falsas com difamações injustas.

“João Baptista, lembra a Bíblia Pastoral, convida à mudança radical de vida, porque a nova história vai transformar radicalmente as relações entre os homens. É o tempo do julgamento e de nada vale ter fé teórica, pois o julgamento baseia-se sobre as opções e atitudes concretas que cada um assume”.

Um poema de Miguel Torga para este tempo

A Virgem Gloriosa e as Sibilas
- Livro de Horas da Duquesa de Borgonha.
Museu Condé, Chantilly

ÚLTIMO NATAL

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça,
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.


In "POESIA COMPLETA", de Miguel Torga

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Marinha Velha: Uma escola requalificada para os tempos atuais

Presidente da CMI no uso da palavra

Na hora de partir o bolo 

Presépio na Escola

Garantida a ausência do lixo nos corredores e salas 

Decoração de uma parece no interior 
Participei hoje, 13 de dezembro, na inauguração das obras de requalificação e ampliação do Jardim de Infância e Escola Básica da Marinha Velha, sob a presidência do autarca ilhavense, Fernando Caçoilo. Marcaram presença Carlos Rocha, da Junta de Freguesia, a diretora do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré (AEGN), Maria Eugénia Pinheiro, e a coordenadora da Escola da Marinha Velha, Paula Pinto, para além de professores, atuais e anteriores, educadoras e auxiliares da ação educativa. Os pais não faltaram e as crianças, razão de ser do processo educativo, também cantaram e encantaram, com a sua ternura. 
Quando entrei, senti-me envolvido pelo ambiente festivo que a renovada e ampliada Escola e Jardim de Infância exibiam, mas o meu espírito teve momentos para retroceder algumas décadas, sem fugir aos necessários choques provocados pela evolução dos tempos. E ainda bem, porque acabei por compreender  que não há comparação possível entre o ambiente escolar de há meio século e do presente. 
Da minha memória, saltaram para este espaço escolar vivências que perduram, com meninos e meninas, pais, avós e vizinhos, professores e empregadas, salas frias onde o calor humano nem sempre afugentava os invernos rigorosos, livros e cadernos que urgia cuidar para passarem a irmãos, sorrisos, ingenuidades, mágoas e alegrias que me marcaram indelevelmente. 
Fernando Caçoilo referiu que é sempre bom inaugurar uma escola como esta. Saudou os pais e os professores, atuais e os anteriores, e salientou que estas obras importaram em cerca de 600 mil euros. “Foi uma reformulação pensada com a colaboração de toda a comunidade educativa, não tendo havido qualquer comparticipação”, embora espere que tal venha a surgir. Valorizou  ainda as condições da escola, que garantem um ambiente acolhedor, com aquecimento. 
Maria Eugénia Pinheiro, mostrou-se satisfeita com as obras levadas a cabo, elogiando as opções tomadas em relação ao edifício reformulado. “Uma comunidade sem escola é uma comunidade que morre”, disse. E salientou o bem que representa o facto de as crianças deste lugar da Gafanha da Nazaré não serem deslocalizadas, graças à existência de quatro salas para o Ensino Básico e outra para o Jardim de Infância, com outras salas condizentes com a ação educativa e o apoio social. 
Paula Pinto estava muito feliz nesta festa, adiantando que “a escola antiga não tinha as condições que esta agora oferece”. Referiu que “a massa humana é muito importante, mas não há dúvida de que o espaço físico ajuda muito”, acrescentando que “a integração da pré-escola foi uma opção muito boa”. “Com a pré-escola e o primeiro ciclo juntos estabelece-se uma continuidade muito útil, mas ainda temos a ATL “, frisou. 
A coordenadora da Escola da Marinha Velha lembrou que estão todos numa fase de adaptação, sendo certo que contam “com a ajuda dos pais, que aparecem sempre que solicitados”. 

Fernando Martins

O Menino Deus vai estar com as pessoas que se amam

Era peregrino e recolhestes-me

O nosso Menino Jesus 
"Que neste Natal o Menino Deus possa participar da festa onde as pessoas se amam, se respeitam e se perdoam, pois Ele não pode permanecer em lugares onde não há acolhimento. Contagiados pelo seu amor, tenhamos mais compaixão ao olharmos os nossos próximos mais próximos, a nossa família, as pessoas que estão sempre ao nosso lado quando necessário, e que saibamos compreender e acolher os que vêm ao nosso encontro. Se pretendemos celebrar o verdadeiro Natal, temos de nos deixar interpelar pelo outro, principalmente os que vivem em sofrimento."

Da Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Um poema de Octavio Paz para este tempo


Entre o que vejo e digo,
entre o que digo e calo,
entre o que calo
e sonho,
entre o que sonho e
esqueço
a poesia.
Desliza
entre sim e não:
diz o que calo,
cala
o que digo.
Sonha o que esqueço.
Não é um dizer:
é um fazer.
É um fazer que é dizer.

Octavio Paz, 1914-1998

70 anos da Declaração dos Direitos Humanos

Os 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos e os 40 anos da adesão 
de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos Humanos 
foram comemorados ontem, 11 de dezembro, 
na Assembleia da República.




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