sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Farmacêutica figueirense gosta do GDG

Crianças-atletas do GDG com o treinador e treinadora.
Foto copiada de uma página da secção  do basquetebol
Um dia destes, numa farmácia da Figueira, a jovem farmacêutica sorriu com gosto e admiração quando, respondendo a uma sua questão, lhe indiquei o meu número do telemóvel e o código postal. 
Da Gafanha da Nazaré? 
Sim, respondi eu. Conhece? 
E logo contou que era treinadora de basquetebol, em especial de crianças. Que havia participado num torneio e que tinha percebido a dimensão do GDG naquela área. É claro que lhe falei do nosso mais representativo clube desportivo, que movimenta centenas de atletas, em especial no Basquetebol e no Futebol. 
A jovem farmacêutica adiantou que, com os horários profissionais que tem, já não pode treinar crianças, num desporto que é a sua paixão. 

Antigamente, cheguei a irritar-me com pessoas que desconheciam por completo a Gafanha da Nazaré. Alguns denotavam uma total ignorância pelas nossas terras. Nunca tinham ouvido falar da Gafanha. Meio a sério meio a brincar lá ia dizendo: Estou a ver que o meu amigo não é forte em geografia; então nunca ouviu falar do Porto de Aveiro, das Praias da Barra e Costa Nova, dos estaleiros, das secas do bacalhau? E depois lá davam sinais de que afinal tinham algumas memórias.
O desporto, realmente, tem contribuído para a divulgação da nossa comunidade multifacetada, com gente de todo o lado. Clubes visitantes não podem ficar indiferentes às belezas da nossa região. E a prova disso está nesse ocasional encontro com uma jovem farmacêutica, simpática e apaixonada pela Basquetebol.

O Totti deixou-nos

O Totti

A Lita com o Totti e a Tita

O Totti, um cão que viveu connosco cerca de 16 anos, deixou-nos no passado 13 de agosto. Foram 16 anos cheios de histórias que ficarão para toda a nossa vida. Histórias de dedicação, alegria e  fidelidade a toda a prova, que um dia saíram reforçadas com uma prenda que lhe demos — a nossa Tita — sua companheira de todas as horas. Mas há tempos, a Tita deixou-nos também, ficando toda a família muito triste. O Totti não fugiu à regra e sentiu, decerto mais do que todos nós, a perda da sua amiga de sempre. O Totti andava triste, olhar distante e frequentemente perscrutador, numa tentativa de ver chegar a sua amiga de qualquer canto da casa, do jardim ou do quintal.
A sua tristeza foi-se acentuando, de parceria com as doenças próprias da idade: Menos visão, surdez em crescendo, coluna vertebral a tolher-lhe os movimentos, coração a dar sinais de cansaço, tiroide a provocar-lhe incómodos, tosse constante. Medicação para tudo, cuidados especiais nunca prodigalizados pela Lita. Teimosia em tomar remédios, que distinguia mesmo quando muito disfarçados durante as refeições. Gritava por não conseguir levantar-se, sem forças nas patas traseiras. E no dia 13 de agosto, à tardinha, foi o tempo de nos deixar. Morreu serenamente. As corridas velozes, o ladrar a quem passava, o brincar com quem chegava, o atirar-se às galinhas e outras aves que detestava, o lançar-se furioso contra gatos que invadissem os seus domínios e o rosnar quando lhe tocavam nos ouvidos, tudo acabou.
Rezam as histórias e as lendas que os cães são os maiores amigos do homem. Terão sido os primeiros animais a serem domesticados pelo ser humano. E há provas extraordinárias da sua dedicação pelos donos ou pelos que deles cuidavam, mas ainda da estima de homens e mulheres pelos canídeos, fossem eles de que raças fossem.
O Totti tinha por hábito fixar os horários da chegada a casa dos que se tinham ausentado para o trabalho ou para passeios ou compras. E à hora que a sua curta memória ou instinto determinavam,  lá ia ele para o portão esperar quem havia de chegar. Se era a Lita, seria o portão por onde entraria o carro. Se eram familiares, o portão seria outro. Assim durante muitos anos. E quando o esperado abria o portão, dava uns gritinhos de alegria e uns saltitos de felicidade, como que a anunciar: Já chegou! Depois esperava as carícias que nunca ninguém lhe negou.
A vida é assim. Não é por acaso que um velho ditado proclama à saciedade: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.” E eu concordo.
Acompanho com muito carinho e amor todos os que gostaram da Tita e do Totti, em especial a Lita, que os tratou como gente.

Fernando Martins

Dos lábios ao coração: Um percurso singular

Georgino Rocha

Jesus está rodeado de pessoas com claras e diversas intenções: a multidão que, encantada com os seus ensinamentos e confiante, o segue por onde quer que vá; os discípulos que entusiasmados pelo sucesso da sua missão, o acompanham e escutam com desvelo e atenção; o grupo de fariseus e escribas que, fiéis funcionários do Templo, são enviados de Jerusalém a informar-se do que estava a acontecer.
Intenções diversas que oferecem uma grande oportunidade para Jesus afirmar o papel do coração na ética dos comportamentos, a relação profunda entre a verdade e a liberdade, entre a atitude e as convicções profundas que gerem a vida interior do ser humano. Só a coerência em harmonia garante a integridade honesta e transparente de quem se sente livre e quer servir por amor. “A felicidade só se alcança quando o que cada um pensa, o que cada um diz e o que cada um faz estão em harmonia”, garante Gandhi, o maior dos grandes pacificadores e libertadores da Índia do poderio da Inglaterra.

Marcos, o evangelista que a Liturgia faz proclamar nas assembleias dominicais deste ano, organiza a conversa em três momentos de acordo com aquelas categorias de pessoas. O tom é de grande franqueza e valentia. Por amor à verdade, Jesus quer provocar os enviados da cidade e, sem discordar das observações que fazem, abrir horizontes novos às práticas rituais e comportamentos de aparência. (Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23).

Que exista a coragem de divulgar o bem feito pelos sacerdotes

Carta de um sacerdote católico 
para o NEW YORK TIMES

(Foto da Rede Global)

Caro irmão e irmã jornalista:

Sou um simples sacerdote católico.
Estou feliz e orgulhoso da minha vocação.
Há vinte anos que vivo em Angola como missionário.
Vejo em muitos meios de informação, sobretudo no vosso jornal, a ampliação do tema dos sacerdotes pedófilos, com investigações de forma mórbida sobre a vida de alguns sacerdotes.
Falam de um de uma cidade nos Estados Unidos dos anos '70, de outro na Austrália dos anos '80, e seguida de outros casos recentes... 
Certamente isto deve ser condenado!
Veem-se alguns artigos de jornal equilibrados, mas também outros cheios de preconceitos e até de ódio.
O facto que pessoas, que deveriam ser manifestação do amor de Deus, sejam como um punhal na vida de inocentes, provoca em mim uma imensa dor.

Figueira da Foz: 15 dias se passaram

Figueira da Foz - Torre  do Relógio com 20 metros de altura

Prometi a mim mesmo, há 15 dias, que teria de descansar para retemperar energias. Assim procedi. Limitei-me, porém, a respeitar compromissos assumidos, o que fiz sem qualquer dificuldade. Não estou assim tão mal que não possa cumprir um dever. Contudo, sinto o peso da idade que me rouba alguma vitalidade, embora teime em ultrapassar pequenos obstáculo que outrora nem me apercebia deles. 
Deambulei sem perder o Norte, li e reli umas coisas, voltei à Figueira da Foz onde gosto de estar e vi o mar à distância, que as minhas pernas já não vencem o areal que nos separa do oceano, andei por ruas e ruelas da Figueira Antiga, apreciei palacetes da alta burguesia que por aqui passou férias, nesta cidade que se tornou cosmopolita há décadas. E por estas bandas continuarei até me chegarem as saudades da minha Gafanha, da Ria e das nossas praias. Também dos nossos familiares, amigos e outras gentes cujos rostos têm lugar reservado nas minhas melhores memórias.

sábado, 25 de agosto de 2018

Diácono Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus





O diácono permanente Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus. A notícia chegou-me hoje [24 de agosto]. As mortes de familiares e amigos são sempre inesperadas. Caem sobre nós como alertas de que a vida terrena é mesmo  finita. Para os crentes, como eu, a vida continuará em Deus, que nos acolhe como filhos prediletos, na certeza de que o Pai Todo Poderoso “perdoa sempre, perdoa tudo”, no dizer, em jeito de lembrança, do Papa Francisco. 

O Augusto Semedo estava doente. Foi atingido por um AVC que lhe limitou os movimentos, sem lhe afetar a capacidade de falar, de refletir e de partilhar ideias e sentimentos, com uma lucidez digna de registo. Sucumbiu, para mim e para outros, de forma repentina, neste agosto que registaremos como o mês da sua partida para a felicidade em Deus, onde se lembrará de cada um de nós, como nós haveremos de manter viva, para sempre, a sua bondade para com todos. 

O Semedo, como o tratávamos, marcou-me profundamente como colega de curso e de trabalho no Diaconado Permanente da Diocese de Aveiro, ao longo de mais de 30 anos. Para mim, o diácono Augusto Semedo era o melhor de todos: Generoso no servir, culto na hora de esclarecer, humilde no momento de se dar aos outros, fervoroso na oração, aberto ao espírito vicentino sem dia e hora marcados, compreensivo na troca de ideias, alegre nos convívios fraternos. Era, realmente, um Rosto de Misericórdia, no dizer justo e oportuno do padre Georgino Rocha, como se lê no seu mais recente livro “Rostos de Misericórdia – Estilos de Vida a Irradiar”. 

As minhas sentidas condolências a toda a família e amigos. 

Fernando Martins

O equívoco da fé "na" Igreja

Anselmo Borges


1.É de A. Loisy um dos ditos que, desde o seu pronunciamento, no início do século XX, mais animaram o debate teológico: "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja." E é um dito decisivo também para a compreensão em profundidade da tragédia da pedofilia por parte do clero.
Quando se recita o credo (a síntese da fé cristã), é necessário estar prevenido contra possíveis alçapões. Vejamos. Diz-se: "Creio em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo." Em português também se diz "Creio na Igreja una, santa, católica", como se esta estivesse ao mesmo nível de Deus. Realmente, não pode ser nem é assim. Aliás, o latim faz a distinção essencial, pois diz: "Credo in Deum..."; porém, não diz "Credo in Ecclesiam", mas "Credo Ecclesiam". A diferença essencial está naquele "in": Creio "em" Deus, o que significa: entrego-me confiadamente a Deus, mas não creio "na" Igreja; o que lá está é: em Igreja, isto é, fazendo parte da Igreja como comunidade de todos os baptizados, creio em Deus, em Jesus e espero a vida eterna...
Como habitualmente se coloca tudo no mesmo plano, dizendo "creio na Igreja", é fácil interiorizar a ideia de que se acredita na Igreja enquanto instituição, e instituição divina, com todos os enganos e desastres que se sucedem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

FICAR COM JESUS POR DECISÃO LIVRE

Georgino Rochs

O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69.
“Quando se vive esta união com Jesus (tal era o caso de Pedro e dos discípulos que ficaram com Ele), as crises de dúvidas e obscuridades se superam. A força do Espírito faz-se força em nossa vida… É a vida que se caracteriza pela firmeza em ir na vida como foi Jesus e pela transparência de quem não tem nada a dissimular”, afirma J. M. Castilho, no seu comentário ao episódio de Cafarnaúm.
Jesus e Pedro surgem como o rosto pessoal da relação com Deus. Constituem as duas faces da realidade mais profunda da consciência: acolher a oferta, dar-se em liberdade; escutar a palavra, abrir-se à verdade; identificar o dom e fazer-se doação. Por isso, afirma João Paulo II: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. O Papa propõe, na encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), uma belíssima e fundamentada reflexão sobre a verdade, questão central da vida humana e da história da humanidade.

sábado, 18 de agosto de 2018

A mística do quotidiano.1


As férias são um justo tempo para repousar do trabalho, mas elas deveriam ser também, como diz o próprio étimo, a experiência de que o ser humano é um ser festivo e, assim, na serenidade, serem o tempo de reencontrar tempo para a família e para os amigos, tempo para ouvir o silêncio, tempo para a poesia e para a música, que nos remetem para a transcendência. Isso: contemplar e criar beleza - é a beleza que salva o mundo, dizia Dostoiévski -, admirar uma simples folha de erva com o orvalho da manhã, ver o Sol nascer a oriente e pôr-se a ocidente, exaltar-se com o alfobre das estrelas - "Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior persistência delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim", escreveu Immanuel Kant -, dialogar com o Infinito. Em tempo de férias, é bom parar e ir ao essencial, para se poder evitar o pior: o desnorteamento, a desorientação, o vazio existencial. O essencial, de um modo ou outro, é em Deus que se encontra, mas numa experiência pessoal. Como no amor. 
Não há dúvida de que hoje, concretamente na Europa, há uma crise da religião, que é sobretudo uma crise de Deus. Basta perguntar, de modo simples: para quantos é que Deus ainda conta realmente nas suas decisões vitais, tanto no domínio pessoal como no colectivo?

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O PÃO DE JESUS GARANTE A VIDA ETERNA

O escândalo agrava-se. As afirmações de Jesus são demasiado claras e contundentes para os judeus. Jo 6, 51-58. Não conseguem suportá-las. E, sem um novo modo de ver – a fé que brota do amor de Deus Pai – quem pode conformar-se? Como é possível “dar-nos a sua carne a comer”?, interrogam-se com lógica natural e ética religiosa, condensando perplexidades que os afligiam e espelham muitas outras que, ao longo dos tempos, virão a desafiar a razão humana, ainda que iluminada pela fé. 
Face à estranheza do “assunto” e ao agravamento das dúvidas, não tardam a evoluir na sua atitude: do entusiasmo precedente, pela multiplicação dos pães, das expectativas decorrentes e das interrogações fundadas à crítica aberta, da recusa frontal ao abandono. Em breve, chegará a vez de Jesus questionar os próprios Apóstolos/discípulos fiéis: “Vós também vos quereis ir embora? Pedro, espontâneo e ousado, responde pelo grupo: “A quem iremos, Senhor?!. Tu tens palavras de vida eterna”.
Jesus não dá explicações. Faz afirmações. O modo há-de surgir oportunamente. E o anúncio passa a realidade na ceia de despedida, no lava-pés, no mandamento novo do amor. Modo que surge narrado por Paulo na 1.ª carta aos coríntios 11, 23-26.