quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ares de Outono - Ermida da Senhora da Saúde





O frio e o vento não deram para mais. Senti hoje, verdadeiramente, os ares de outono, um outono incomodativo. Mesmo assim, não resisti a registar a velha ermida da Senhora da Saúde. Igreja pequenina, acolhedora e humilde dos meus tempos de juventude. Ao lado, a nova igreja paroquial com a arte de Jeremias Bandarra no interior a condizer com a traça moderna do templo. E a torre sineira, imponente, a impor a sua sombra, real e simbólica, à velha ermida de tempos idos, não destoando do conjunto. Pelo contrário, entendo que foi uma bonita opção.

MaDonA — Dia Internacional da Preguiça - 7 de novembro

Preguiça

Bicho-Preguiça

Curiosidades sobre o Bicho-preguiça


Dizem que a preguiça é a mãe de todos os vícios? Onde está a igualdade de género?

“Ai que prazer 
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler 
E não fazer!”

Fernando Pessoa, 
não pretendia exortar à preguiça, mas a um sentimento de pura liberdade.

Apesar de todas as segundas-feiras parecerem o dia da preguiça, a verdade é que existe um dia especial para o celebrar. Aproveitar o dia para explorar a arte de não fazer nada, o "dolce far niente", que os Italianos criaram e transmitiram ao mundo .
A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda. Pode subentender um processo criativo.
A preguiça crónica pode ser preocupante e indício de algum transtorto grave. Se se tratar de uma “preguicite aguda”, é tão passageira como uma faringite, sinusite ou nevrite, tratável com um chá de pau de marmeleiro, na pedagogia dos nossos pais! Hoje, os psicólogos recomendam mezinhas mais suaves, sem recurso a medidas dráticas, que possam machucar as adoráveis criancinhas...
As pessoas ditas preguiçosas tendem a dormir sesta com alguma frequência. Estas têm o poder de reduzir a pressão sanguínea, melhorar a saúde cardiovascular e reduzir significativamente o stress – tudo coisas positivas para o bem-estar e a saúde em geral.
Foram importadas dos “nuestros hermanos”que fizeram uma invenção genial – “La siesta”. Os povos latinos, sempre, na vanguarda do descanso. Preguiça é o nome de um mamífero, cujo nome advém do metabolismo muito lento do seu organismo, responsável pelos seus movimentos extremamente lentos. É um animal de pelos longos, que vive na copa das árvores de florestas tropicais desde a América Central até o norte da Argentina.
De hábitos solitários, o preguiça tem, como defesa, a camuflagem e as garras. Para se alimentar, utiliza-se de "dentes" que se apresentam em forma de uma pequena serra. É herbívoro, tem hábitos alimentares restritos e dorme cerca de catorze horas por dia,
(Que inveja!) também pendurado nas árvores. Na reprodução, dá apenas uma cria, e apenas a fêmea cuida do filhote. Um pai preguiçoso, seguido por muitos humanos. A mãe é que paga as favas todas! Reproduz-se, como tudo o que faz, na copa das árvores. Raramente desce ao chão, apenas aproximadamente a cada sete dias para fazer as suas necessidades fisiológicas. Quer manter a casa limpa!
Um hino à preguiça!

Maria Donzília  Almeida

NOTA: Por dificuldades técnicas, só hoje me foi possível editar esta mensagem da minha amiga e colaboradora Maria Donzília. Apresento as minhas desculpas à autora e aos seus e meus leitores.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Igreja permite que padres continuem em funções depois de assumirem paternidade

P.e Giselo Andrade


Está a dar que falar o caso de um padre da Madeira, Giselo Andrade, que assumiu, recentemente, a paternidade de uma menina. O caso de padres que têm ou tiveram filhos não é inédito. Sempre os houve e sempre os haverá, apesar de terem assumido, como adultos responsáveis, a condição de celibatários, norma da Igreja católica estabelecida há séculos. Há muito que se defende que o celibato devia ser opcional e não obrigatório. Não me repugna nada aceitar a livre escolha dos candidatos ao presbiterado. Mas também sei que na Igreja católica as alterações às normas, mesmo que não tenham fundamento bíblico, não acontecem de um dia para o outro. Nas demais Igrejas cristãs, os presbíteros podem ser casados, o mesmo acontecendo na Igreja católica do oriente. De qualquer forma, penso que todos somos pecadores (Quem não é que atire a primeira pedra), razão por que não vejo mal nenhum em o padre Giselo Andrade continuar a exercer o seu ministério, sem fugir, covardemente, às suas responsabilidades paternas. Claro é, contudo, que não estará em condições de constituir família.

Para um mais completo esclarecimento ler o texto publicado hoje no Diário de Notícias

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Pela Positiva – Uma curiosidade com 11 anos de idade


Blog do anterior director do Correio do Vouga 

“O meu propósito, neste espaço, situa-se na linha dos que apostam, no dia-a-dia, num mundo muito melhor” afirma Fernando Martins

Os blogues foram das melhores coisas que aconteceram à e na Internet. Muito mais interessantes que a maioria dos sites (ou sítios), muito mais fáceis de actualizar, muito mais virados para o interesse dos leitores e dos autores, muito mais actuais, criativos e úteis.
O Correio do Vouga começa hoje a divulgar alguns, e nada melhor para começar do que o blog Pela Positiva, de Fernando Martins, o anterior director deste jornal.
Mas antes, para quem não é iniciado nestas lides, convém informar que um blog é uma espécie de diário na Internet, que todos os dias (ou quase) o autor utiliza, pois o modo como se constrói e mantém o blog é atraente e fácil. Há blogues políticos, culturais, religiosos ou amorosos, individuais ou colectivos, de palavras e de imagens, mais ou menos artísticos, introspectivos ou interventivos, fechados ou abertos (quando o leitor pode comentar), etc.
A origem do nome blog reside nas palavras inglesas web log (que poderíamos traduzir como “notas na teia”, isto é, na Internet), embora alguns prefiram dizer que vem de we blog (nós “blogamos”).
O blog de Fernando Martins, como o próprio nome indica, tem um tom positivo. Diz o autor, logo no primeiro “post” (assim se chama cada uma das entradas do blog): “O meu propósito, a partir de hoje e neste espaço, situa-se na linha dos que apostam, no dia-a-dia, num mundo muito melhor. Não simplesmente pelo protesto, que será sempre a via mais fácil e menos estimulante, mas fundamentalmente pela defesa do bem, do belo, dos afectos, em suma, dos valores que enformam a nossa civilização.
Pela Positiva vai ser o meu lema de todos os dias, quer na análise dos mais diversos acontecimentos, quer pela divulgação do que vou lendo, quer pela defesa do que vou reflectindo, quer, ainda, pela partilha de gestos, porventura ignorados ou marginalizados, que são matriz de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
De bom grado se aceitam sugestões, desde que venham pela positiva”.
Para se ter uma ideia do que se pode encontrar neste blog, aqui ficam os títulos dos três últimos “posts” na altura da escrita deste artigo: “Câmara de Ílhavo atribui bolsas de estudo”, “Adopte um idoso” e “Solidariedadade com o sudeste asiático”. Belas imagens, por vezes de carácter religioso, textos do Papa e poemas de Natal são outras das pérolas que “Pela Positiva” oferece ao leitor.

J.P.F.

O Blog pode ser consultado em


Texto publicado por Jorge Pires Ferreira em 3 de abril de 2006 no Correio do Vouga

“100 Anos de Usos e Costumes em Extinção”


«No espaço da Comunidade Portuária de Aveiro, transmitido quinzenalmente na Rádio Voz da Ria, o destaque vai, nesta edição, para o trabalho de um escultor de Aveiro.
Ao longo das últimas duas décadas, Afonso Henrique retratou os usos e costumes antigos do País, através de 80 figuras típicas, trabalhadas em grés policromado.
“100 Anos de Usos e Costumes em Extinção” é o título da mostra que o escultor quer expor de Norte a Sul de Portugal.»

Ouvir entrevista na Rádio Voz da Ria,  divulgada pela Comunidade Portuária de Aveiro

Figueira da Foz — Marina


Já não vou à Figueira da Foz há meses, mas não me saem da cabeça imagens belíssima daquela famosa estância balnear, que outrora acolhia, com pompa e circunstância, a aristocracia de título e de dinheiro. Mas também artistas que por ali andavam a banhos na época própria. 
A atual marina merece-me sempre uma atenção especial, tanto pelos encantos dos barcos ancorados como pelos seus tripulantes, aventureiros de ocasião ou, quiçá, de profissão. De modo que, quando vou à Figueira da Foz, faço daquele local um espaço de sonho, sobretudo quando ponho a mim mesmo a questão: Por que razão, eu, que sou de alma e corpo um homem de mar e maresias, nunca me arrisquei a entrar num cruzeiro para uma viagem que ficasse para sempre na minha história de vida? 

domingo, 5 de novembro de 2017

Bento Domingues — A ignorância não é um dever



1. Lutero não passou por Portugal. Na revista Brotéria, de Outubro, tentei explicar porque lhe negaram o passaporte. Apesar disso, de vez em quando, surgem acontecimentos que levam os meios de comunicação a lembrar que existe uma coisa muito antiga chamada Bíblia, que ele próprio traduziu para alemão. Agora parece que foi invocada, juntamente com o código penal de 1886, pelos juízes Neto Moura e Maria Luísa Arantes, para atenuar um crime horroroso contra uma mulher adúltera.
Não admira, dizia-me um leitor de Saramago. A Bíblia está cheia de histórias escandalosas e de maus exemplos. O diabo não precisa de ser muito pior do que um deus que mata e manda matar. Esse livro parece escrito por um bipolar: passa facilmente do sublime ao detestável, por vezes no mesmo salmo. No entanto, cuidadosamente encadernado fica bem numa sala, ainda que pouco frequente numa casa portuguesa. Entre as dificuldades em ler e interpretar esses textos antigos figura uma insistente ignorância ou esquecimento: a Bíblia não é um livro!
Habituados, como estamos, a ver as Sagradas Escrituras cristãs num só volume e a dar-lhes um nome no singular, a Bíblia, somos levados a imaginar que é uma obra que um autor divino escreveu, de fio-a-pavio, mas com mais heterónimos do que Fernando Pessoa. 
Na verdade, não se trata de um livro, mas de uma biblioteca formada por 73 ou 74 obras, segundo o cânone da Igreja católica, e 66, segundo o cânone das Igrejas reformadas. Foi escrita ao longo de vários séculos em diversos contextos geográficos, sociais e culturais.
Sem poder entrar aqui em pormenores, convém lembrar o seguinte: quase dois terços dos livros da Bíblia cristã são comuns ao cristianismo e ao judaísmo rabínico, herdeiro imediato das escrituras do judaísmo antigo. Na verdade, o Antigo Testamento (AT) católico é mais vasto e variado do que o TaNak e o AT das Igrejas reformadas que adoptaram o cânone judaico. A escrita dos livros do AT católico durou cerca de um milénio. Teve como quadro essencial a Palestina. É possível que alguns livros tenham sido escritos, em parte, na Babilónia e outros no Egipto (em Alexandria).
A exegese histórico-crítica mostrou que figuram no AT diferentes géneros literários e temas que são documentados nas outras literaturas próximo-orientais do primeiro milénio a.C., em particular, nas literaturas dos demais povos semitas [1].

2. Os juízes, se queriam referir-se à relação de homens e mulheres na Bíblia, teriam de se aconselhar com o trabalho de investigação e de militância das feministas que reexaminam não só a própria Bíblia, mas também a interpretação que os homens fazem dela, tentando, muitas vezes, justificar e perpetuar uma dominação ancestral, própria de sociedades patriarcais. A mulher era propriedade do marido; a virgem, antes do noivado, propriedade do pai. O adultério da mulher e a defloração de uma rapariga eram, antes de mais, um atentado contra o direito de propriedade [2].
A exegese bíblica feminista assume-se como instrumento de luta pela igualdade social. O seu objectivo expressa-se em termos de emancipação ou de libertação das mulheres. Desse ponto de vista, a leitura feminista da Bíblia é comparada e, em parte, comparável ao trabalho da Teologia da Libertação.
Contrariamente ao que às vezes se afirma, não foi a Bíblia que deu origem à subordinação das mulheres na civilização ocidental. A subordinação era um traço das civilizações europeias antes da chegada da Bíblia. Essas civilizações tinham esse traço em comum com as civilizações do Próximo Oriente de que a Bíblia é uma expressão. O que a Bíblia fez foi dar a essa prática a sua legitimação religiosa.
Sendo fruto da civilização ocidental, o próprio feminismo é herdeiro da mesma Bíblia que deu caução religiosa à supremacia dos homens sobre as mulheres. Por isso, é natural que a Bíblia ocupe um lugar muito importante nos estudos feministas, mas as mulheres ainda estão longe da paridade com os homens. Na Igreja Católica, intérprete autorizada da Bíblia, a hierarquia continua a ser formada só por homens e, além disso, celibatários [3].
O NT não legitima as atitudes dominadoras do AT em relação às mulheres. Pelo contrário, elas estão incluídas no espantoso universalismo cristão, sublinhado por Paulo: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus” [4]. No Evangelho de Marcos, mostra-se que o homem pode ser adúltero contra a mulher. Como nota Frederico Lourenço, trata-se de “um desenvolvimento notável rumo à igualdade de género” [5].
Quanto à atitude de Jesus em relação ao apedrejamento de uma mulher apanhada em adultério, aconselho a leitura das admiráveis observações do mesmo autor ao texto atribuído ao evangelista João [6].
Se houve mulheres que se emanciparam para servir o projecto de Jesus, é porque esse projecto as incluía. O Ressuscitado encarregou-as de evangelizar os próprios apóstolos. Daí que a Maria Madalena tivesse sido designada como Apóstola dos Apóstolos.

3. Frederico Lourenço entregou-se a um empreendimento que julguei impossível, quando foi anunciado: traduzir, do texto grego, o conjunto da Bíblia, tradicionalmente conhecido pelo nome de Septuaginta, com apresentação, introdução e notas dos vários livros. Sobre a significação, a originalidade e as explicações acerca da Bíblia Grega, o tradutor encarregou-se de nos elucidar logo no Vol. I, consagrado aos Quatro Evangelhos, em 2016. Em 2017, surgiram o Vol. II, Apóstolos, Epístolas, Apocalipse, e o Vol. III, Os Livros Proféticos. Este, em Outubro. É o segundo acontecimento mais importante do ano para todos os que julgam que a ignorância do mundo bíblico não é obrigatória.
Francolino Gonçalves, O.P., morreu a 15 de Junho deste ano, na Escola Bíblica de Jerusalém, na qual viveu, investigou e ensinou, durante mais de 40 anos. Segundo alguns confrades, sofreu muito por não poder continuar as investigações do AT, que tinha em mãos, especialmente do universo profético, bíblico e extra bíblico, de que era um reconhecido especialista. Tenho muita pena que ele não pudesse acompanhar a obra impressionante de Frederico Lourenço, que lhe daria grande alegria.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Para as informações fundamentais sobre os mundos em que se formou e desenvolveu essa biblioteca, ver o amplo e rigoroso estudo de Francolino J. Gonçalves, Mundos bíblicos, Cadernos ISTA, n.º 18, 2005, pp 7-34.
[2] Ex 20,14; 22,15-16; Lv 20,10; Dt 5,21; 22, 22-29; Ez 16, 38-40.
[3] Cf. Francolino J. Gonçalves, professor da Escola Bíblica de Jerusalém e membro da Comissão Bíblica Pontifícia, As mulheres na Bíblia, Cadernos ISTA, n.21 (2008), pp 109-158
[4] Gal 3, 25-28
[5] Mc 10, 1-12 e nota ao v. 11.
[6] Jo 8, 1-11; cf. Frederico Lourenço, Bíblia, Vol. I, pp.357-360