sexta-feira, 6 de outubro de 2017

MaDonA — O Dia Mundial do Sorriso


A cada passo, nos cruzamos com pessoas de rosto crispado, que parecem estar de mal com Deus e com o mundo. São incapazes de esboçar um sorriso, ao seu semelhante, (Será que paga imposto?) como se vissem em cada pessoa, um adversário, um inimigo. Por isso, resolvi debruçar-me sobre o tema.  
O Dia Mundial do Sorriso, conhecido como World Smile Day foi criado em 1999, sendo celebrado, na primeira sexta-feira de outubro. Deve-se a Harvey Ball, um artista de Worcester, Massachussets, sendo esta imagem do smiley, reconhecida internacionalmente. Um ícone, profusamente, usado por todos. 
Já que rir é a melhor terapia, a mais económica, ao alcance de todos, o sorriso abre-lhe a porta, de par em par. 
Pode ter múltiplos sentidos: desde o sorriso acompanhado de um piscar de olhos, como o do JRS no Telejornal, ao sorriso de cumplicidade, num aceno/intenção de conquista, ao sorriso amarelo de ironia, desdém, conveniência, até ao sorriso genuíno e cândido de uma criança que cativa e cria, imediatamente, empatia nas pessoas. 

Anselmo Borges — Francisco sobre: 3. a Igreja e a alegria



Continuo com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et société. Quando se fala da Igreja, pensa-se logo na instituição e nos dirigentes: papa, bispos, padres... Ora, acentua Francisco, "a Igreja somos nós todos." "Há os pecados dos dirigentes da Igreja, com falta de inteligência ou que se deixam manipular. Mas a Igreja não são os bispos, os papas e os padres. A Igreja é o povo. O Vaticano II disse: "O povo de Deus, no seu conjunto, não se engana." Se quiser conhecer a Igreja, vá a uma aldeia onde se vive a vida da Igreja. Vá a um hospital onde há tantos cristãos que vêm ajudar, leigos, irmãs... Vá a África, onde se encontram tantos missionários. Não para converter - era noutros tempos que se falava de conversão -, mas para servir."

O que é que mais o toca? "Há tanta santidade. É uma palavra que quero utilizar na Igreja hoje, mas no sentido da santidade quotidiana, nas famílias... Quando falo desta santidade ordinária, que já designei como a "classe média" da santidade..., sabe qual é a imagem que me vem ao espírito? O Angelus, de Millet. A simplicidade desses dois camponeses que rezam. Um povo que reza, um povo que peca e depois se arrepende dos seus pecados. Há uma forma de santidade oculta na Igreja. Há heróis que partem em missão. Alguns sacrificaram a sua vida. É isso que me toca mais na Igreja: a sua santidade fecunda, ordinária. Essa capacidade de tornar-se santo sem se fazer notar."

Por isso, Francisco tem medo da rigidez. "Por detrás de cada rigidez há uma incapacidade de comunicar. Pense nesses padres rígidos que têm medo da comunicação, pense nos políticos rígidos... É uma forma de fundamentalismo. Quando me aparece uma pessoa rígida, e sobretudo um jovem, digo imediatamente a mim próprio que está doente. O perigo é que procuram a segurança... Não sabem, sentem-no. Vão, portanto, procurar estruturas fortes que os defendam na vida." Temos então o tradicionalismo, o medo da novidade, do diálogo. Ignoram que a tradição, para ser viva, tem de estar em movimento. "Como cresce a tradição? Cresce como uma pessoa: pelo diálogo, que é como a amamentação para a criança. O diálogo com o mundo que nos rodeia. Se não se dialoga, não se pode crescer, fica-se fechado, pequeno, um anão. Não posso contentar-me com caminhar com palas, devo olhar e dialogar. Dialogando e escutando outra opinião, posso, como no caso da pena de morte, da tortura, da escravatura, mudar o meu ponto de vista. Sem mudar a doutrina. A doutrina cresceu com a compreensão. Isso é a base da tradição. Ao contrário, a ideologia tradicionalista tem uma fé como isto [faz o gesto das palas]: na missa, a bênção deve dar-se desta maneira, os dedos devem colocar-se deste modo, como se fazia antes... O que o Vaticano II fez com a liturgia foi algo enormíssimo. Porque abriu o culto de Deus ao povo. Agora, o povo participa." Aqui, digo eu: o cardeal Robert Sarah que não pense que vai pôr outra vez a missa em latim, com o padre de costas para o povo...

Neste contexto, põe-se a pergunta: os divorciados recasados podem comungar? "Há o que eu fiz, depois de dois sínodos: a exortação "A Alegria do Amor"... É algo claro e positivo, que alguns com tendências ultratradicionalistas combatem, dizendo que não é a verdadeira doutrina. Quanto às famílias feridas, eu digo lá que há quatro critérios: acolher, acompanhar, discernir as situações e integrar. Abre-se um caminho de comunicação. Perguntam-me: "Mas pode dar-se a comunhão aos divorciados?" Respondo: "Falai com o divorciado, falai com a divorciada, acolhei, acompanhai, integrai, discerni!" Infelizmente, nós os padres estamos habituados a normas congeladas, fixas. E ouve-se dizer: "Não podem receber a comunhão." Que não, não e não. Este tipo de proibições é o que encontramos no drama de Jesus com os fariseus. A mesma coisa!"

Neste enquadramento, porque "a misericórdia é um dos nomes de Deus - se eu não aceito que Deus é misericordioso não sou crente" -, todos os padres, incluindo os lefebvrianos, podem agora absolver o pecado do aborto. "Atenção! Isto não significa banalizar o aborto. O aborto é grave, um pecado grave. É o assassínio de um inocente. Mas se há pecado é necessário facilitar o perdão."

O cristianismo "não é uma ciência, uma moral, uma ideologia, uma ONG: o cristianismo é um encontro com uma pessoa. É a experiência da estupefacção, da maravilha espantosa de ter encontrado Deus, Jesus Cristo, é isso que me deixa estupefacto". Por isso, "não se pode ensinar a moral com preceitos como: "Não podes fazer isto, deves fazer isto, tu deves, tu não deves, tu podes, tu não podes." A moral é uma consequência do encontro com Jesus Cristo, uma consequência da fé, para nós os católicos. E para os outros a moral é uma consequência do encontro com um ideal, ou com Deus, ou consigo mesmo, mas com a melhor parte de si mesmo. A moral é sempre uma consequência". Assim, é inconcebível uma Igreja afastada das pessoas. "A Igreja de Jesus Cristo tem de estar ligada ao povo. O contrário seria fazer como alguns políticos que se interessam pelas pessoas durante as campanhas eleitorais e depois as esquecem. Para mim, a proximidade, mesmo na vida pastoral, é a chave da evangelização... Quando quero transmitir algo a alguém, devo esforçar-me por pensar que estou diante do mistério de uma outra pessoa."

Wolton: "Que palavras do seu pontificado quereria ver retidas?" Francisco: "A palavra que mais utilizo é a "alegria". Uso muitas vezes a "ternura", a "proximidade". Aos padres digo: "Por favor, sede próximos das pessoas." Aos bispos digo: "Não sejais príncipes, senhores, sede próximos das pessoas, dos padres." Também a "oração", rezar no sentido de estar diante de Deus" e fazer silêncio e meditar, no meio de uma sociedade do ruído, do "rapidão".

Anselmo Borges, no Diário de Notícias 


Georgino Rocha — Chamados a dar bons frutos na vinha do Senhor

Jesus encontra-se, em Jerusalém, na esplanada do Templo. Vive dias de enorme tensão. Os adversários apertam o cerco para o eliminar. Só o medo da reacção popular serve de contenção. A vinha, figura bem conhecida pelos ouvintes, constitui ponto de partida para nova mensagem, directa e provocante, aos sumos sacerdotes e aos anciãos. A narração de Mateus é sóbria, sem floreados, para evidenciar o que está em causa. E Jesus quer deixar claro o contraste entre o proceder de Deus e a atitude dos dirigentes de Israel, ali representados pelos funcionários do culto.

O rosto de Deus surge bem traçado nos gestos do dono da vinha. Ele faz tudo por ela: prepara a terra e planta-a com cuidado, ergue uma sebe de protecção, constrói um lagar para a recolha das uvas, levanta uma torre de vigia e confia-a a uns trabalhadores vinhateiros. Com esta descrição, Jesus realça a solicitude de Deus para com Israel, o povo eleito. Faz uma leitura dos factos acontecidos ao longo da história. Retoma a perspectiva de Isaías, hoje lembrada na primeira leitura: “A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida”. Retoma e redimensiona o seu alcance. A atitude final do dono da vinha não é de retaliação aos trabalhadores nem de destruição da vinha. Mas da sua opção definitiva: chamar outros para a cuidarem com diligência a fim de darem frutos de qualidade.

O amor à sua vinha surge na paciente espera, na diligente procura, no risco assumido, na clemência usada, na persistência confiante, na vontade positiva de levar por diante o seu projecto de salvação com a colaboração de todos. De facto, Jesus apresenta um Deus que é desconcertante. Como não haveriam de reagir aqueles fiéis judeus habituados a um outro rosto de Deus, a uma outra linguagem religiosa? E nós, sentimo-nos envolvidos na parábola dos trabalhadores da vinha?!

Isaías prossegue, dizendo: “Ele esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror”. É uma leitura que, infelizmente, ainda hoje se pode fazer. Em muitas situações, nem sequer são nomeadas estas duas características maiores do agir humano, da ética familiar e social, da moral cristã. E parece campear a mentira, ainda que disfarçada, a corrupção provocada, a desigualdade assumida. “Sede juízes entre mim e a minha vinha”, clama Isaías, dando voz ao dono que se interroga: “Que mais podia ter feito?”.

A carta aos cristãos de Filipos, na Grécia, traça o retrato de quem deixa que Deus seja o dono do seu coração: ama o que é verdadeiro e nobre; justo e puro; amável e de boa reputação; e, em jeito de conclusão, adianta: tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. E para os persuadir ainda mais, Paulo acrescenta: “O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar”. O apóstolo que havia evangelizado a cidade e gerado para a fé aqueles cristãos, ousa dizer-lhes: segui o meu exemplo, lembrai-vos de como me comportei no meio de vós. Belo testemunho para nós hoje. Oxalá sintamos a provocação que faz ao nosso estilo de vida que devia suscitar desejos de imitação por parte de quem procura a verdade do Evangelho.

A Rede Mundial de Oração, ligada aos Jesuítas, divulga a intenção do Papa Francisco para este mês de Outubro que se pode resumir a “recordar sempre a dignidade e os direitos dos trabalhadores, a denunciar as situações nas quais se violam esses direitos, e a ajudar no que contribua para um autêntico progresso do homem e da sociedade”. E insiste que é um dever de todos. Na vinha do Senhor há lugar para cada um. A importância do trabalho está sobretudo em ser o meio privilegiado de realização humana e fonte de provisão pessoal e familiar, de contribuição para o bem de todos, designadamente a empresa empregadora. O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Juvenil (MEJ), padre Fréderic Fornos, jesuíta, lembra que o tema do emprego é “um dos principais desafios para os próximos anos. É algo sobre o qual o mundo da política e a sociedade devem trabalhar em conjunto para encontrar soluções sustentáveis e de longo prazo”. E reforça o pedido do Papa Francisco.

A 7 de Outubro, ontem, ocorreu a Jornada Mundial pelo Trabalho Digno em vários locais de Portugal com um objectivo bem definido: incentivar e consciencializar as comunidades cristãs, autarquias, governo, sindicatos, comissões de trabalhadores e organizações empresariais “a colaborar para colocar no centro a pessoa e a sua humanização”. E como justificação aduz que “o trabalho é um dom e um projeto de humanização imprescindível para a construção da sociedade e para a realização humana e não apenas uma fonte de remuneração”. Objectivo semelhante surge na abertura do Ano Apostólico. Todos têm capacidades a desenvolver para bem das pessoas e das suas associações, dos movimentos, da paróquia e da diocese. A parábola de Jesus afirma que o dono da vinha faz o arrendamento aos trabalhadores durante um certo tempo. Depois quer receber os frutos. Agora é a nossa vez. Este é o nosso tempo. João Almiro, casado e pai de 7 filhos, o fundador da “Casa das Andorinhas” para acolher e recuperar pessoas com toxicodependência, mulheres prostitutas, alcoolizados e outros excluídos sociais, farmacêutico de profissão em Campo de Besteiros, Tondela, deixa um bilhete no bolso das calças como testamento espiritual: “Vivo feliz e tranquilo, aguardando ser chamado ao encontro com Deus, com o coração cheio de amor e serviço que dei e que também recebi, sem me preocupar em demasia com a conta bancária». Escreveu-o aos 89 anos e morre aos 91, no passado dia 28 de Setembro. É a vinha do Senhor no seu melhor.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

5 de Outubro — Independência de Portugal e implantação da República

Tratado de Zamora

Proclamação da República

O 5 de Outubro assinala dois acontecimentos especiais e justificativos de celebração. Em 5 de outubro de 1143 foi assinado o Tratado de Zamora que estabeleceu a paz entre D. Afonso Henriques e seu primo, Afonso VII, rei de Leão e Castela. A partir daí, D. Afonso passa a assumir-se como Rei de Portugal, embora o reconhecimento do Papa tenha surgido somente em 1179. 
O outro acontecimento refere-se à implantação da República, no ano de 1910, que pôs termo à Monarquia. Celebra-se como feriado apenas esta efeméride, mas seria justo evocar festivamente o célebre tratado, pois sem ele talvez fôssemos hoje uma nação integrada na Espanha, tal como aconteceu com a Catalunha. Admito isso como mera hipótese, já que o mundo ao longo dos séculos deu muitas voltas, conseguindo Portugal, afinal, impor a sua identidade e independência. 
Acontece que estas datas passam, por norma, desligadas do quotidiano do nosso povo, que goza tão-só um dia de descanso, sem qualquer celebração promovida pelas entidades oficiais, para além das que se realizam na capital do país. Então, permitam-me que sugira apenas umas leituras alusivas às duas efemérides. Digo duas, porque sem a primeira nunca teria lugar a segunda.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ria de Aveiro em dia de movimento






Ontem, num momento de cavaqueira com um amigo no parque de estacionamento do ferryboat, no Forte da Barra, presenciei o movimento febril de pescadores na laguna que nos separa de São Jacinto. Parecia uma corrida de barquinhos a motor, de um lado para o outro, decerto a arrastarem linhas com anzóis com isco na ponta. A distância não deu para saber se pescaram muito ou pouco, mas pelo número de barcos concentrados bem à vista de todos, posso imaginar que estariam em zona de pesca abundante, talvez pela serenidade das águas ou por tantas razões que eu não sei distinguir. Sei, pelo que tenho ouvido dizer, que a pesca tem muito que se lhe diga, nomeadamente em horas certas das marés. Importa, apesar disso, realçar o espetáculo dos barquinhos a motor num vaivém constante a velocidades aceleradas, muito longe de quem simplesmente passeia. 
Um porta-contentores e outros barcos de porte superior aos de pesca também encheram a paisagem lagunar para delícia dos que, como eu, vibram, nem sei bem porquê, com o espetáculo da nossa cantada Ria de Aveiro, a qualquer hora do dia. Espetadores não faltaram. 

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Vamos libertar o amor que há dentro de nós




Enquanto aguardava a minha vez de votar para as autárquicas na Escola Preparatória da Gafanha da Nazaré, no domingo, 1 de outubro, ao mesmo tempo que cumprimentava quem saía e entrava na sala, apreciei o cartaz que ilustra esta mensagem. Pelo seu peso e medida na educação dos jovens alunos e dos adultos, nomeadamente professores e outros colaboradores, bem como pais e visitantes, resolvi fotografar o princípio básico que toda a gente devia seguir nos relacionamentos humanos, que se consubstancia no respeito integral pela defesa do bem, da verdade e da justiça. De mãos dadas, como grande família, vamos acabar com o ódio e libertar o AMOR que há dentro de nós.

Romagem à Senhora de Vagos em 5 de outubro


Promovida pela ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré), vai realizar-se, no próximo dia 5 de Outubro, feriado nacional, a já tradicional romagem à Senhora de Vagos, em jeito de homenagem aos nossos antepassados que da zona de Vagos vieram para os areais da Gafanha.
A partida, de bicicleta, está marcada para as 10 horas, junto ao Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, agora denominado Fábrica das Ideias. A cerimónia, no Santuário de Santa Maria de Vagos, será pelas 11h30. Nela, atuarão o grupo de Fados de Coimbra “Portas de Água” e o Coral da Universidade Sénior da Gafanha da Nazaré.
A ADIG sugere que os romeiros também podem deslocar-se de carro, facilitando o transporte de pais e avós e de outras pessoas. Aquela associação lembra ainda a todos os participantes que será conveniente levar farnel para almoçar no recinto.

Ler Santa Maria de Vagos na história e na lenda

domingo, 1 de outubro de 2017

Portugal eleito melhor destino europeu

Recanto do Jardim Oudinot

«Portugal ganhou, pela primeira vez, o prémio de melhor destino europeu dos World Travel Awards, os 'óscares do Turismo' numa cerimónia que decorreu hoje, em São Petersburgo, na Rússia.
Presente na cerimónia, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, comentou que receber esta distinção inédita "é uma honra e um grande orgulho" e mostra que "todo o país é um ativo incrível e motivo de visita".
Para a governante, o prémio é resultado do "empenho de todos em tornar Portugal um destino turístico de excelência, com uma diversidade de oferta única e que se estende por todo o território".»


NOTA: Mais uma vez, Portugal é referenciado pelo World Travel Awards como um país de nível superior na área do Turismo, o que representa uma mais-valia para a imagem deste recanto à beira-mar plantado, no dizer do grande Camões. O Turismo prova assim que é, para nós, uma enorme fonte de rendimento e de emprego para imensa gente. Resta saber, contudo, se as remunerações são compatíveis com o esforço despendido pelos trabalhadores. 
Para já, olho com inegável interesse para esta classificação que nos coloca no topo da lista de quem faz turismo. E não me refiro apenas aos endinheirados, porque há zonas de lazer para todos os preços e para todos os gostos. 
Há, realmente, de Norte a Sul de Portugal Continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, paisagens deslumbrantes e estruturas turísticas capazes de ocuparem lugar cativo na memória de quem nos visita, mas também na alma das nossas gentes. 

Tranquilizar ou desassossegar Fátima?



1. Fátima nunca mais é o título de um livro militante do padre Mário de Oliveira. Fátima cada vez mais, passados 100 anos, goste-se ou não, é o panorama do que está acontecer. Porque será
Conheço Fátima desde 1947, onde também vivi, em épocas bastante diferentes. Contactei, muitas vezes, com os familiares dos pastorinhos, a começar pelos pais da Jacinta. Ao longo do tempo, fui lendo o que se escrevia sobre o fenómeno. Já apresentei, até por escrito, as minhas impressões que não foram sempre as mesmas.
O primeiro sentimento foi de algo banal e triste, estranho e inverosímil. Como era possível que Nossa Senhora viesse pedir mais sacrifícios a uns pobres e inocentes pastorinhos, para reparar um Deus ofendido por pecados que não eram deles? Por que não foi ela ter com esses que cometiam pecados tão grandes que deixavam o coração de Deus em sangue? Um colega mais velho respondeu-me: na religião isto é tudo ao contrário. Talvez, mas não é justo!
Tentando, depois, entender o que tudo aquilo tinha, e tem, de assustador e cordial, nos limites das catequeses primárias e dos crescentes movimentos devocionais da época, as perplexidades aumentaram.
Dizer que se trata de um dos fenómenos religiosos mais relevantes do seculo XX, nascido no seio do catolicismo popular português, enquadrado pela hierarquia eclesiástica, desenvolvido no quadro de uma luta católica pela liberdade da Igreja e num quadro mundial de guerras, a abordagem de Fátima dispõe, hoje, além da documentação de propaganda, apologética e contestatária, de documentação crítica e de obras de interpretação, de diversa índole, e fácil acesso. Desse conjunto, saliento: A nível da História, destaco Fátima, do bispo Carlos Azevedo [1]. Com a Senhora de Maio [2], António Marujo e Rui Paulo da Cruz conseguiram uma Fátima, a muitas vozes, dissonantes. O pequeno dicionário de Helder Guégués [3] revela-se muito útil. Ana André e Sara Capelo registaram as vozes dos que percorrem quilómetros e quilómetros, a pé, até ao Santuário [4]. Fátima é diferente para todos.

Dia Internacional do Idoso — 1 de outubro


O Dia Internacional do Idoso, comemorado anualmente a 1 de outubro, foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unida) em 1991, especialmente para sensibilizar a sociedade para as questões relacionadas com o envelhecimento. Pretendia-se, como continua a pretender-se, levar as pessoas a olhar com atenção para os mais velhos, quantas vezes esquecidos pelas famílias, amigos e sociedade em geral. Uns em suas próprias casas, quando as têm, outros em lares. 
Não sei se me fica bem falar do Dia Internacional do Idoso, não vá alguém supor que estou a puxar a brasa para a minha sardinha. Faço-o, contudo, na convicção de que há muitos idosos da minha idade que não usufruem das comodidades e carinho com que eu e a Lita somos brindados pelos que nos cercam, filhos, netos e outros familiares. 
Abordo o tema por dever de consciência e por justiça em favor dos idosos marginalizados ou abandonados por parentes e amigos. Sei que há muita gente emigrada que não pode cuidar dos seus pais, deixando-os entregues a pessoas que cuidam deles, mas não é a mesma coisa. Quem os serve, por muito carinho que lhes dediquem, haverá necessariamente momentos em que os deixam sós e entregues a uma solidão que tem de ser dolorosa.
Os idosos deviam ser ouvidos, apoiados e estimulados para viverem a vida com dignidade até ao fim. Importa que toda a sociedade lhes proporcione condições de paz, de tranquilidade e de amor, sem descurarem os cuidados que lhes são devidos, nomeadamente, alimentação sadia, assistência e tratamentos médicos conformes às suas necessidades, ajuda na descoberta de momentos de lazer e convívio, bem como na participação em passeios e espetáculos.
Todos sabemos que as autarquias e os lares que os acolhem e tratam se esforçam por dar-lhes o melhor que podem e sabem, mas depois da festa vem a noite que gera o isolamento e as sombras da impossibilidade de viverem em pleno no contacto com a natureza, e alguns até ficam sem forças para se aquecerem ao sol e para respirarem o ar puro de ambientes sadios. 
Os velhos não são bonecos que se atiram para um canto nem sacos onde se despejam raivas, ódios, indiferenças e desprezos. São pessoas que geraram vidas, criaram riquezas, indicaram caminhos do bem e do belo, apoiaram filhos e netos nos primeiros passos e nas primeiras palavras. Foram solidários, amigos da partilha, generosos com os sofredores e arautos da paz.
Hoje, se puderem, ofereçam aos vossos idosos ao menos um sorriso, uma palavra de gratidão, um gesto de ternura.

Fernando Martin