sábado, 11 de junho de 2016

O Papa das perguntas sem resposta

Crónica de Anselmo Borges 

O Papa que abraça
Para perceber o que se passa com o Papa Francisco, impõe-se escutar aquele que é ao mesmo tempo seu conselheiro e talvez o melhor intérprete, o jesuíta Antonio Spadaro, director da revista La Civiltà Cattolica. Faço-o a partir de uma entrevista que deu a José Manuel Vidal.

1. Francisco tem enorme impacto na Igreja e "em todo o mundo". Nas sondagens internacionais, "constatámos que é o líder mais credível do mundo, comparado com os grandes líderes políticos e morais da história. O seu grau de aceitação é elevadíssimo". Nas redes sociais, bateu todos os recordes. "Um líder moral com autoridade reconhecida não só pela base, mas entre os líderes políticos mundiais", diz Vidal. Resposta: "Sim, é incrível. Porque as pessoas entenderam que o sentido da verdadeira autoridade está na proximidade. Estamos a passar de uma imagem constantiniana, imperial, a um pontificado que pouco a pouco está purificando e simplificando o papado, levando-o para a imediatidade evangélica."
Dentro deste reconhecimento mundial, Francisco procura "construir pontes". Fala tranquilamente com Obama, Putin ou outros líderes mundiais. Procurou mediar conflitos como os de Cuba e Colômbia. "Tudo isto significa que se move muito livremente no cenário global", de modo próximo, mas em busca do possível, "com muito realismo". Quanto à Rússia, "deu-se conta de que deve estar incluída no processo de pacificação do mundo. Como a China. O grande amor que tem pela China nasce da consciência de ela ter um peso político muito forte e uma tradição cultural de enorme sabedoria". Aliás, "é certo que a Ásia é um continente que contém o gérmen do futuro". É possível uma visita à China? "Parece", embora não no imediato.

A QUEM MUITO AMA, MUITO SE PERDOA

Reflexão de Georgino Rocha


Jesus aceita o convite para tomar uma refeição. Ao contrário de João Batista, aprecia a mesa, o convívio e a festa. Gosta de estar com as pessoas, de as ouvir, de ter presente as suas situações de vida, alegrias e tristezas. Por vezes, provoca “cenas” inesperadas de que, como bom mestre, tira partido para desvendar a outra face da vida e manifestar a novidade da mensagem que anuncia e fica patente em atitudes contrastantes e olhares expressivos, conservados em relatos belos e narrativas apelativas.
Um fariseu, de nome Simão, é protagonista de um episódio muito significativo. Convida Jesus para uma refeição em casa e ela aceita. E deixando perceber o desejo profundo de o ouvir, logo lhe indica o lugar à mesa, distinguindo-o entre os convidados. Não se recorda de mais nada, nem sequer dos rituais de hospitalidade. Aguarda com natural expectativa o início da conversa. Tem o seu coração centrado nessa única preocupação, tal era a convicção que foi “construindo” com o que se dizia a respeito do mestre da Galileia. Dispunha de uma oportunidade única e queria aproveitá-la ao máximo.
Acontece, porém, o inesperado. Aquele ambiente tão selecto, vê-se perturbado com uma presença estranha e, absolutamente, despropositada: Uma prostituta, bem conhecida na cidade, entra pela sala dentro, dirige-se a Jesus, prosta-se a seus pés, banha-os com lágrimas abundantes, enxuga-os com os cabelos, derrama-lhes perfume de qualidade e, entre soluços, continua a acaricia-los com desvelo.

A Publicidade

Crónica de Maria Donzília Almeida

Material 
OpaII
OpaIII
Almoço
“O verdadeiro sinal de inteligência 
não é o conhecimento, 
mas sim a imaginação.”

Einstein

Corroborando o pensamento em epígrafe, se há uma área onde a imaginação é o motor de toda a sua atividade, chama-se Publicidade.
Foi com este objetivo que os formandos da disciplina de Comunicação/Marketing da US partiram, rumo à capital do norte, para a visita de estudo a uma agência de publicidade, dinamizada pelo Prof. João Silva. O regresso à Invicta Cidade……que já rescende a manjerico, num prelúdio das festas sanjoaninas! O nosso alvo foi a agência Opal, sediada em pela Avenida da Boavista, na Fonte da Moura.
Fomos guiados pelo seu jovem Diretor Criativo, que nos confidenciou a sua faceta de músico, posta ao serviço do seu trabalho. Iniciou com a apresentação de um vídeo sobre a agência, os diversos setores e a atividade dos vários intervenientes no processo.
Confirmámos, in loco, as aprendizagens muito úteis que fizemos nas aulas do Prof. João.
A publicidade é uma atividade profissional dedicada à difusão pública de empresas, produtos ou serviços, especificamente, propaganda comercial.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Encontro com a Alda Casqueira em S. Miguel

Alda, Fernando e Lita
Longe da nossa terra natal, é sempre agradável encontrar conterrâneos amigos. Hoje tive o privilégio de conversar um pouco com a Alda Casqueira numa esplanada de Ponta Delgada, com marina à vista. Já não a via há muito, mas sabia que se tinha fixado nos Açores por razões de trabalho. Teve a gentileza de me contactar e marcámos encontro para um café. Veio acompanhada pela sua filhinha Alice, criança que gosta de sorrir. E falámos da sua vida aqui, depois de me recordar o seu percurso profissional como Educadora de Infância. Aqui casou e é feliz. A felicidade das pessoas vê-se e pressente-se à distância. Muito mais ao perto, naturalmente.
Não foi preciso perguntar pelas saudades da nossa Gafanha, porque tal sentimento brota espontaneamente. Não conheço gafanhão que não evoque recordações das suas origens onde quer que se encontre. E quando são dois ou mais gafanhões, à mesa do café ou noutro sítio qualquer, é certo e sabido que nunca se cansam de trazer à conversa a necessidade de saber novas da terra e suas gentes. 
Gostei de saber que a Alda continua a ser uma Educadora de Infância que aposta sistematicamente na inovação, porque não é pessoa que se acomode. E porque é artista, com a música sempre a brotar no seu âmago, a Alda está envolvida num projeto que é uma mais-valia para o seu currículo e para o bem das crianças. Mas disso falarei mais tarde, porque o que é bom tem de ser tratado com mais cuidado e com mais tempo. A promessa aqui fica, com os meus votos dos maiores sucessos para a nossa conterrânea Alda Casqueira.

terça-feira, 7 de junho de 2016

AÇORES: Ponta Delgada

Entrada no Forte
Vista de cima do Forte
Vista geral do porto
Hoje, 7 de junho, estamos em Ponta Delgada sob aviso laranja. Chove e o sol não dá sinal de vida. Temporal lá mais para diante. E quando o rei autorizar, com luz e calorzinho, a cidade espera-nos. Será uma boa ocasião para um certo repouso e para algumas leituras. Prevista está a visita à cultura do chá que Raul Brandão registou no seu livro “As Ilhas Desconhecidas” e que eu tomo como guia. Há outros, naturalmente, de produção turística que recomendo, mas desta feita fico-me pela prosa poética de Raul Brandão. Sou assim.
A propósito do chá, por onde passámos ontem, diz o escritor: «O melhor chá dos Açores, delicado e aromático, tomei-o na Gorriana (Agora Gorreana), na casa fidalga do senhor Jaime Hintze, toda ao rés-do-chão e caiada de amarelo, entre o bulício alegre da vida rústica, num lar que a bondade de sua esposa santifica.» É claro que não poderemos sentir a bondade que santifica da esposa do proprietário, mas acredito que alguém por ali tenha herdado o espírito bondoso que Raul registou.
A cidade de Ponta Delgada tem muito que ver. Entrámos no Forte de São Brás para apreciar o Museu Militar, que nos faz recuar no tempo em que as ilhas açorinas foram palco de lutas sangrentas. Há de tudo no museu. Armas de várias épocas, realmente dignas de museu. Documentos, pinturas, cartas, objetos pessoais do dia a dia do pessoal militar, cozinha de campanha, canhões antiaéreos, baterias, instrumentos musicais, etc. Do cimo do Forte pode contemplar-se a cidade e o mar que a acaricia ou a agride, conforme a sua disposição do momento.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

AÇORES: Furnas, mar e outros horizontes

Cascata
Cascata em vale
"Enterro da panela"

Cozido está pronto

Caldeiras 
Viajar é garantidamente um ato cultural. O viajante absorve muito do que ouve, vê e sente. Adapta-se a novas formas de vida, respira ares diferentes, contacta com culturas diversas, abre-se a horizontes mais largos. Por razões variadas não tenho viajado muito. Conheço um pouco de Espanha, passei como gato por cima de brasas pela Bélgica, estive em França duas vezes, passei uma semana na Alemanha. E os meus olhares e memórias ficam-se por aí. 
De Portugal, conheço mal o Alentejo e razoavelmente o resto do nosso país. Uma semana na Madeira e uns dias agora em S. Miguel. Nada mais. Mas é natural que sonhe com outras viagens, embora comecem a rarear as oportunidades para isso. Canso-me imenso nas caminhadas a quem nenhum viajante pode escapar. Resta-me a leitura para preencher e enriquecer a minha ânsia de contactar com outros povos e outras paisagens.
Agora nos Açores tive já o prazer de me deslumbrar com uma terra diferente da que todos os dias me envolvem na minha terra natal. Manhã cedo saímos de Ponta Delgada para horas de carro. As   Caldeiras, ao lado da Lagoa das Furnas,  foram as primeiras metas. Em Lagoa das Furnas assistimos ao “enterro” de panelas do célebre Cozido das Furnas. Depois, cova aberta, apreciámos a retirada as panelas do calor vulcânico e seguimos para o Restaurante Tonys, onde havia mesa reservada para o almoço. O restaurante foi literalmente invadido e ocupado por estrangeiros, no meio dos quais estávamos nós. Bem comidos e bebidos com conta peso e medida, seguimos para a freguesia de Salga do concelho do Nordeste, cuja vila estava marcada nas etapas deste dia.
Miradouros em cada canto, todos a oferecerem vistas deslumbrantes, aqui e ali incomodadas por nevoeiros densos. Aliás, neste giro convivemos com as quatro estações do ano, como é típico de S. Miguel. Ora estava sol que acalenta e nos oferece panoramas largos, ora surgia o nevoeiro cerrado que limitava o que merecia ser visto, ora chovia e ventava, ora nos atacava  o frio desesperante. 
O mar que nos acompanha desde a chegada, que se vê imensas vezes, mas que de repente foge dos nossos pontos de mira, para reaparecer com toda a sua majestade quando menos se espera, faz parte integrante da vida dos açorianos e de quem os visita. E nós gostamos, realmente, da sua companhia. Já alguém imaginou o que seria o mundo sem mar? 
Ruas estreitas, é certo, com vacas por cada esquina que rapavam a erva verdinha e deitadas a ruminavam, flores e mais flores que demarcavam propriedades e estradas, piscinas termais e outras que as populações e turistas usufruem, morros e serras a quebrarem a monotonia, tornando tudo mais belo, cascatas e zonas ajardinadas cuidadosamente preparadas para acolherem quem chega ou passa, de tudo um pouco vimos neste dia que as minhas palavras não conseguem descrever por falta de arte. O cansaço também contribui para este pobre registo do meu diário.


São Miguel: Sete Cidades e arredores

Um pouco do muito que vimos







Em 30 de julho de 1926, Raul Brandão esteve em São Miguel com espírito jornalístico, mas sempre acompanhado pela alma de artista, com a sua sensibilidade própria e única. Não há dois artistas iguais, porque se isso acontecesse um eliminaria o outro. E nessas deambulações deixou-nos retratos que nos nossos dias aceitamos e citamos com prazer.
Diz ele que «nesta ilha há duas coisas maravilhosas: as Furnas e as Sete Cidades». Estivemos hoje nas Sete Cidades e à medida que nos aproximávamos da Lagoa das Sete Cidades sentíamos que o nevoeiro iria estragar-nos a festa de uma paisagem de tons e cores diversos. Felizmente não foi tanto assim, embora em dia luminoso o espetáculo fosse mais belo. Mesmo Valeu a pena. Turistas com presença garantida, fotógrafos amadores como eu a disparar de vários ângulos. E boa razão tem Raul Brandão para dizer: «Quase tenho medo de falar duma paisagem que hoje, mais do que nunca, me parece irreal…»
Senti o mesmo neste domingo,5 de junho. O verde dos cerrados onde pasta o gado, os picos das montanhas, os penedos plantados no oceano, as ruas estreitas, a obrigação de parar para as vacas passarem na sua calma ancestral, as piscinas abrigadas, a ausência de areia branca, a floresta a encher os espaços e o casario a bordejar ruas e ruelas, largos e encostas das montanhas. Igrejas entre o antigo (vi uma de 1507) e o moderno atestam a presença do cristianismo desde a descoberta. 
O farol, de que falarei mais tarde também mereceu a nossa atenção, pequena mas bem cuidado. Navios no alto mar não vi. Nem surfistas nem nadadores, mas vi o oceano agitado e de vez em quando um ventinho mais forte que os montes não conseguiram desviar da nossa presença.
Amanhã, se Deus quiser, as Furnas e o seu famoso cozido esperam-nos.