quinta-feira, 30 de abril de 2015

Estrada da Gafanha ao Forte

30-IV-1861


«Com a conclusão do lanço da Gafanha ao Forte, terminaram neste dia os trabalhos de construção da estrada da Barra, iniciados em 12 de Março de 1860 (Padre João Vieira Resende, Monografia da Gafanha, pg. 181) – A.»

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Seria interessante saber se havia,  antes da construção, qualquer caminho para passagem de pessoas ou gado. Talvez de terra batida. Ou simplesmente areias soltas ainda virgens, sem casas... Quem avança com alguma ideia?


Faleceu o Mário Retinto

O funeral é hoje, 30 de abril, às 16 horas, 
para o cemitério da Gafanha da Nazaré
Mário Cardoso
Seria perto da meia-noite de ontem quando soube do falecimento do Mário Cardoso, mais conhecido por Mário Retinto, que conheci na minha infância, quando esteve doente dos pulmões. Eram bastantes os que na altura padeciam de doenças pulmonares, fatais para muitos. Ele resistiu, tal como eu, uns anos depois. 
Privei mais de perto com o meu amigo Mário na Ação Católica, de que ele chegou a ser presidente da JOC na Gafanha da Nazaré. E a sua postura, pela competência e seriedade que punha em tudo em que se envolvia, marcou-me. Depois, as nossas vidas e profissões, com rumos diferentes, não nos permitiram os contactos que eu gostaria de manter. Mas quando nos encontrávamos, havia normalmente um tempinho para fazermos o ponto da situação, ouvindo dele considerações que tinham o peso do saber de experiência feito, duma memória privilegiada, duma capacidade de síntese notável. Uma palavra, uma frase suspensa a meio, um esgar facial ou um sorriso diziam mais que muita conversa. 
Nas entrevistas que tenho feito ao longo da minha vida, umas publicadas nos meus blogues e outras em jornais, tantas sem cópia original, recordo hoje umas passagens da conversa que mantive com o Mário Retinto há uns cinco anos. Foi uma conversa aberta, franca e muito interessante pela acutilância das considerações, sobretudo quando se referia a injustiças sociais que o incomodavam sobremaneira. Evocou a sua carreira profissional, os seus estudos, a sua família de origem com 16 filhos, sendo ele o primogénito. Lembrou pessoas que apreciou e disse que «A JOC, em tempos de proibição dos sindicatos livres, foi um movimento que, de certa maneira, desenvolveu entre os seus filiados a consciência sindical operária». E como não podia deixar de ser, recordou os anos em que foi presidente da Junta da Freguesia da Gafanha da Nazaré e dos consensos que procurou dia a dia estabelecer, entre outras ideias, nem todas incluídas no texto que publiquei.
Aceitou, naturalmente, o 25 de Abril, na esperança de que a democracia, o desenvolvimento e a justiça social fossem implementados entre nós. E olhando para as realidades actuais, lamenta que não se tenha chegado onde tantos sonharam. E questiona-se: «Se uma pessoa quer trabalhar e não tem onde, nem tem dinheiro para o essencial, acha que isto é democracia?; Uma pessoa quer educar os filhos e não tem meios para isso, acha que isto é desenvolvimento?»
Com estas questões, que traduziam as suas inquietações sociais, políticas e humanas, presto as minhas homenagens a um amigo que nos deixou fisicamente, na certeza de que o seu testemunho deixou raízes entre nós. E apresento as minhas condolência a toda a família.
Que a sua alma descanse em paz. 

Fernando Martins

Ler entrevista aqui 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

União Europeia envergonha-nos

"Onde estão os políticos europeus que defendem algo de que nos possamos orgulhar? Desapareceram. Mesmo quando parecem existir num dado momento, desintegram-se ao chegar ao primeiro Conselho Europeu. A União Europeia dissolve toda a ideia política e apenas deixa negócios com um cheiro de enxofre no ar."

Crónica de José Vítor Malheiros

Li no PÚBLICO


terça-feira, 28 de abril de 2015

Um desabafo: gente aos berros

Não sei se é da idade se de outra coisa. Talvez da necessidade que sinto de uma vida mais serena. Não gosto de pessoas aos berros. Miguel Esteves Cardoso falou há dias de gente aos gritos. Concordo com o que disse e como disse, num estilo que eu jamais conseguiria imitar. Nesse aspeto, o escritor, cronista e homem culto, é um caso raro. Outros, com nível, não serão tão sintéticos como ele é para dizer muito em poucas palavras.
Lá que os políticos de carreira usem a gritaria para excitar as massas, ainda vá, porque sem entusiasmo nada feito. Agora, que as pessoas, nos cafés e restaurantes, nas esplanadas ou à mesa da confraternização, gritem a plenos pulmões para que todos, em círculo alargado, as oiçam, não me parece bem. E não é que a gritaria de uns estimula quem também quer dar a sua opinião? O problema está aí. O melhor, já cheguei a essa conclusão há bons tempos, é deixá-los berrar. Hão de calar-se com o nosso silêncio.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

100 ANOS DO MUSEU DE AVEIRO

Um livro para todos 
os que gostam de arte 
e de Santa Joana




Ir ao Museu  de Aveiro é uma aventura

(…) Foi no Museu de Aveiro que o viajante depôs as armas com que, em horas menos respeitosas, tem lutado contra o barroco. Não houve conversão fulminante, amanhã voltará a recalcitrar contra outros excessos e gratuitidades, mas aqui abriu os olhos do entendimento. Quem organizou e mantém o Museu de Aveiro sabe do seu ofício. Do seu ofício sabe igualmente o guia que acompanha o viajante: não se limita às tradicionais ladainhas, chama a atenção, dialoga, comenta com inteligência. (…)


José Saramago, 
“Viagem a Portugal”, 
1.ª ed. Lisboa, 1981, p. 121

Na contracapa do Livro

***
O 100 anos do Museu de Aveiro mereceram a publicação de um livro, com direção de Lauro Marques e coordenação da AMUSA — Associação dos Amigos do Museu de Aveiro. Contou ainda com a coedição da ADERAV — Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro e da AMUSA.
Um século de vida em prol da cultura e sob o manto de Santa Joana, cujo testemunho de amor à terra e suas gentes não será demais enaltecer, o Museu merecia este trabalho que é, no fundo, uma excelente forma de divulgar o seu acervo, dando destaque também a passos importantes do seu percurso ao longo da sua existência.
Quem tiver possibilidades de ler esta obra ficará decerto aberto a visitas mais frequentes para poder apreciar ao vivo as riquezas que possui e que são bons testemunhos de épocas diversas, com as artes a marcarem presença indelével que enriquecem as nossas memórias e as nossas sensibilidades para o belo.

domingo, 26 de abril de 2015

Sem justiça nem misericórdia

Crónica de Frei Bento Domingues 

Frei Bento Domingues


1. Lampedusa é um dos cemitérios onde são afogados os que procuram fugir da guerra, da violência, da fome e da própria morte. Foi por aí que o Papa Francisco começou as suas visitas pastorais e onde fez a homilia mais breve da sua vida: Que vergonha!
Quando se perde a vergonha, perde-se a decência e tornam-se vazios os apelos às convenções internacionais, à justiça, à misericórdia e a qualquer princípio. Dir-se-á que estou a simplificar questões complexas de ordem económica, social, cultural e política que envolvem as migrações. As máfias do tráfego humano dominam os seus percursos. É evidente que deixar afogar os pais e os filhos é muito mais simples.
A Europa não pode esquecer a sua parte de responsabilidade pelo que se passa no Médio Oriente. Os horrores da Palestina, do Iraque, da Síria, da Líbia, do Egipto, etc. obrigam as populações a pagar muito caro a morte no Mediterrâneo. 

sábado, 25 de abril de 2015

O futuro com quatro bombas

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges


Haverá alguém que duvide de que vivemos num mundo, por um lado, exaltante, mas, por outro, sobretudo um mundo perigoso, ameaçador?
Numa conferência recente, o filósofo e teólogo Xabier Pikaza alertava para os perigos e as ameaças e enumerava as quatro bombas que pesam sobre a humanidade e o seu futuro.
Chamava a atenção, em primeiro lugar, para a possibilidade da guerra universal, com armamento nuclear: a bomba atómica. O Big Bang foi há 13 700 milhões de anos, e nós, Homo sapiens sapiens - acrescente-se sempre, e demens demens: homem sapiente sapiente e demente demente -, aparecemos recentemente, quando se considera todo o processo de 13 700 milhões: há uns 150 mil anos. Mas, se até aos meados do século passado, vivíamos ainda separados uns dos outros e, sobretudo, a capacidade de destruição era limitada, com a bomba atómica a humanidade pode destruir-se e acabar. O processo que permitiu o nosso aparecimento tem milhares de milhões de anos, mas agora temos a possibilidade de nos matar e destruir em poucos dias ou mesmo poucas horas. Podemos optar por uma morte global. Quem pode garantir, por exemplo, que grupos terroristas não venham a ter acesso ao armamento atómico?

25 de Abril de 1974

Onde estava no 25 de Abril?

Acordei cedo na manhã da revolução. Tinha de estar em Sever do Vouga por volta das 9 horas. Nessa altura não havia sinais de autoestradas por estas bandas. O caminho até Sever era sinuoso e moroso. Nesse dia tinha de visitar escolas e cursos de adultos, enquanto procuraria dinamizar algumas bibliotecas populares. 
A rádio, quando a liguei no carro, anunciou abruptamente que estava em curso um movimento para derrubar o governo de Marcelo Caetano. Aconselhava que seria prudente as pessoas ficarem em casa. Não me lembro se esses primeiros avisos se destinavam a todos os portugueses ou apenas aos de Lisboa. Mas avancei para o meu destino. Paradela do Vouga foi a primeira escola, cuja diretora era esposa de um militar. De nada sabia nem conseguiu entrar em contacto com o marido. Ficou preocupada, como seria de esperar. Tranquilizei-a, até porque estava grávida.
O dia já não rodou como era normal. No bar de uma pensão de Sever (julgo que pensão Avenida) todos estavam com olhos fixos no televisor que nada dizia de concreto. Palavras soltas e frases inconclusivas. Liga e desliga. Volta a ligar e a ficar silenciado. Nem uns militares que andavam na serra em serviço se mostravam informados. De vez em quando telefonavam, mas sabiam tanto como nós. 
À noite, em Rocas do Vouga, os alunos do curso não compareceram e regressei a casa. Em casa, houve serão e a alegria generalizou-se na companhia de vizinhos. A longa noite do regime do chamado Estado Novo ruíra. Fez-se luz e a democracia nasceu. 

Ler mais evocação do 25 de Abril aqui

Seguir Cristo, o Bom Pastor

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha
“Eu sou o Bom Pastor” – afirma Jesus, fazendo o seu autorretrato com os traços mais marcantes da sua identidade. Recorre a uma metáfora muito conhecida dos ouvintes, sobretudo a partir do profeta Ezequiel, em que se espelha a relação de Deus com o seu povo. Aproveita a oportunidade surgida com a tensão provocada pelos fariseus durante a cura do cego de nascença. Repete várias vezes esta declaração que contrasta fortemente com o proceder dos pastores mercenários, que usam o nome e assumem a função, mas não a desempenham com honradez, sobretudo quando o perigo ameaça.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

(In)tolerância

Crónica de Maria Donzília Almeida


“O sucesso torna as pessoas modestas, 
amigáveis e tolerantes; 
é o fracasso que as faz ásperas e ruins.“

William Maugham






Descia eu a artéria principal da nossa pitoresca vila, após a missa dominical do dia de Páscoa. O tráfego automóvel era já intenso e sucedia-se em movimento contínuo. 
Ia observando, à minha volta, o aspeto matinal de uma povoação que acorda para a vida, se espreguiça e dá sinais de vitalidade nesta primavera incipiente.
A certa altura, inopinadamente, sou surpreendida, nos meus pensamentos introspetivos, por um buzinar estridente e um derrapar de pneus, ali mesmo em frente, na via pública. Ato contínuo, observo uma picardia entre dois automobilistas que se mimoseavam com palavras e gestos, frequentemente usados na gíria da condução automóvel.
Era o primeiro espetáculo da manhã, desse dia que comemorava a ressurreição de Cristo, a libertação da escravatura do povo judeu, a época, por excelência da reconciliação, do perdão, do renascimento do homem novo.