terça-feira, 31 de dezembro de 2013

De novo a «Joana Gramata»

Um texto de Senos da Fonseca


Estávamos no dealbar do séc. XIX.
Joana Rosa de Jesus, descendente do velho Gramata, um dos primeiros que tinha posto pé por aquelas beiras disposto a «lançar ferro», e ali ficar, tinha naquela noite em que o luar espargia, quente e prateado aquele «mar dunar», decidido ir ao encontro do vento. Que se tinha esquecido de espinotear como garrano selvagem, permitindo que o bafo quente saído da terra, ainda a cheirar a salsugem, penetrasse, bofes adentro, como sussurro de búzio. A noite estava calma. Vindo lá do suão a aragem leve, estival, tinha tomado conta da planície, fustigando ao de leve os caniços secos e as hastes de milho que começavam a enverdecer aquelas paragens maninhas. A planura era um mar de silêncio que só o bulício dos milheirais quebrava.

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Rosa da Crise

Este ano não houve prendas de Natal. A crise a isso obrigou. Apenas foram contemplados os netos, porque era preciso que eles pudessem continuar a alimentar os sonhos da magia da quadra natalícia. Mas a minha cunhada Esmeralda Ramos fez questão de nos brindar com esta rosa de sua lavra. Rosa feita de cerâmica fria, como nos disse, modelada e pintada pela sua paciência e amizade — quero eu sublinhar. E aqui fica como exemplo a seguir. Se não podemos gastar dinheiro em prendas, quantas vezes sem nexo para quem as recebe, está ao nosso alcance ocupar um tempinho na elaboração de lembranças, sem grandes despesas. Afinal, as crises podem levar-nos a acicatar a imaginação. Nas prendas como na vida.

Obra da Providência

Maria da Luz Rocha


Neste mês, em que se assinala o primeiro aniversário do Fórum Municipal da Maior Idade e em que apresentamos aos nossos leitores uma Agenda renovada, dedicamos esta nova rubrica da Agenda de Eventos “Viver Em...”, “Associações”, à Obra da Providência, a mais antiga entidade parceira do Fórum.
A Obra da Providência, Instituição Particular de Solidariedade Social, nasceu espontaneamente em 1953, na Gafanha da Nazaré, graças ao empenhamento de duas mulheres, a D. Maria da Luz e a D. Belinha, que dedicavam grande parte do seu tempo a ajudar os mais desfavorecidos.
O objetivo era o de dar apoio a jovens vítimas de rejeitação familiar e violência doméstica, da prostituição e de outras situações sociais problemáticas, sendo um grande número de mães adolescentes. Denominada na altura de Lar da Providência, as fundadoras procuraram desde o início que a marca caraterística desta casa fosse o ambiente de acolhimento e de liberdade. Procuraram também manter um grupo pequeno para assegurar um ambiente familiar. 

Dia Mundial da Paz

Mensagem do Papa Francisco 




FRATERNIDADE, FUNDAMENTO 
E CAMINHO PARA A PAZ

1. Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.

Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.

domingo, 29 de dezembro de 2013

O espírito livre vivifica

Um Cristo formatado?
Frei Bento Domingues


1. “Esta é a definição da lei: algo que pode ser transgredido”. Assim falava, no seu gosto pelos paradoxos, o grande escritor católico, Gilbert K.Chesterton (1874-1936). Partindo da convicção de que a Deus nada é impossível, as comunidades cristãs, sobretudo as do primeiro século, elaboraram narrativas sobre o percurso de Jesus Cristo - desde a anunciação à ressurreição – que parecem contrariar, sem necessidade, as mais respeitáveis e inocentes leis da natureza. 

A este respeito, importa não esquecer que a linguagem mítica e simbólica da liturgia do Natal não pretende dar aulas de biologia e astronomia, mas subverter as leis de um mundo dominado pela injustiça. Quando os Evangelhos são interpretados em registo literal, em vez de provocarem a inteligência, a imaginação e os afectos, paralisam-nos e tornam-se charadas absurdas, até naquilo que têm de mais belo e subversivo. A letra mata. O espírito livre vivifica. 

Felicidade

«A condição essencial para a felicidade 
é ser humano e dedicado ao trabalho»
Tolstoi

sábado, 28 de dezembro de 2013

A "Ílhava" no Museu de Ílhavo

A partir de segunda-feira 


Uma prenda de Natal para os amantes da ria 

Na segunda-feira, a “Ílhava”, que os Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo (AMMI) mandaram construir segundo planos (3D) do livro de Senos da Fonseca, chegará ao MMI. Esta é uma boa razão para aquele estudioso de temas ilhavenses, mas não só, ficar duplamente satisfeito. 
Senos da Fonseca teve a gentileza de me informar que nessa recriação foram fundamentais o espírito criterioso da Ana Maria Lopes e o saber do Cap. Marques da Silva, outros ilhavenses que à cultura da nossa terra, com ria e mar sempre em destaque, muito têm dado. 
O autor salienta que a “Ílhava” é «a bateira com que os “ilhós” escreveram “história”», acrescentando: «Ali exponho tudo quanto desde há vinte anos procurei saber sobre a bateira; uma inteira desconhecida quando dei os primeiros passos.» 

A brochura pode ser lida aqui

Há muitas Marias na terra...

«O ano ainda não acabou mas nada vai tirar o primeiro lugar do pódio a Maria, o nome mais escolhido pelos portugueses. Nos rapazes, João ameaça destronar Rodrigo, que está à frente desde 2009.»

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NOTA: Há hábitos enraizados, como se nota pelos nomes atribuídos às pessoas. Maria predomina, naturalmente, por ser o nome de Nossa Senhora. Ana, a mãe da Virgem Maria, também teve o seu tempo. Como José, João, Manuel (com a variante Manoel), Francisco, António e por aí fora. Joana, talvez pela devoção à padroeira da cidade e diocese de Aveiro. Quem frequenta os arquivos dos batismos, casamentos e óbitos depara com curiosidades dignas de registo. Não sei se há estudos sobre este assunto, mas que há matéria para reflexão, sobre as escolhas dos nomes na hora dos nascimentos, lá isso há. 
Há anos verificou-se a tendência para optar por nomes ouvidos nas telenovelas brasileiras e julgo que ainda está na moda esse hábito. Não há mal nenhum, mas eu gostaria mais dos nomes portuguesíssimos. No fundo, porém, cada um é livre de escolher o que quiser. Ainda bem.

Bom Ano Novo!


Pequenos pensamentos para 2014
Anselmo Borges

«Envelhecemos, mas, por mim, não tenho inveja da juventude. Pelo contrário, agora, à distância, o que quero é que os jovens vivam intensamente cada tempo. Na dignidade livre e na liberdade com dignidade. O que deveria ser norma para todos. Que vivam com atenção e intensidade, pois tudo passa muito rápido.»

José toma o Menino e sua Mãe

LEVANTA-TE, TOMA O MENINO E SUA MÃE
Georgino Rocha

Duas vezes, ouve José a voz do enviado de Deus que lhe diz: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe”. Uma, para fugir para o Egipto. Outra, para regressar às terras de Israel. A primeira, porque o Menino corria perigo de vida. A segunda porque Herodes, o perseguidor, havia morrido. E José acolhe prontamente a ordem recebida e, com obediência confiante, dá-lhe seguimento.

Não hesita nem se queixa, apesar do nascimento ter sido há tão pouco tempo, da fragilidade do Menino, da debilidade de Maria. Não teme a noite, nem a incerteza e o cansaço da viagem. Dócil e ousado, faz-se ao caminho. Que belo exemplo nos deixa: prontidão em ouvir, generosidade em arriscar, disponibilidade para agir, fidelidade em obedecer, discernimento para acertar, cuidado solícito em salvaguardar a sua família. José, movido pelo amor, realiza a missão recebida.