Relação com a cultura
«obriga a Igreja a sair para a rua»
Às vezes basta uma palavra: Deus.
E ouço a música, pinto o inferno.
É uma espécie de inocência ardente, um modo de ir para
longe.
Sou elementar, anjos são os primeiros nomes.
(Herberto Helder)
Não é fácil tentar responder à questão sobre o que é mais
importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a cultura. Por um
lado, há uma tendência para centrar a questão não na Igreja mas na religião;
por outro, a definição de cultura é tão ampla, que se fica sempre aquém (como
dizia Agostinho da Silva, até “um pastel de bacalhau é cultura”).
Certo é que a ligação entre religião e cultura é tão forte
que muitos autores ou mal as distinguem ou fazem depender a qualidade de uma da
qualidade da outra - por exemplo, para Maria Zambrano, “uma cultura depende da
qualidade dos seus deuses” e, para T. S. Eliot, “nenhuma cultura pode aparecer
ou desenvolver-se exceto em relação com uma religião”. De facto, mais do que
apenas uma herança, o Cristianismo, ao longo da História, tem sido uma matriz
inspiradora da arte e da cultura em geral. Desde logo, na sua génese, há uma
cumplicidade, um “húmus comum”, entre o Cristianismo e a Cultura Clássica.
Ainda que com diferentes conceções do Homem, de Deus e da relação entre ambos,
“conhece-te a ti mesmo” tanto proclamou Sócrates como proclama o Novo
Testamento.