sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Aventuras de um boxer


Canino na calçada
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La rentrée

Olá, Amigos!
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Depois dum período longo de convalescença, no meu pós-operatório, cá estou de novo, pronto para as curvas! Para as curvas e para as rectas... que, quando se trata de maratonas em que sou já um habitué, há de tudo, pela frente! E eu não sou criatura de me deixar ficar para trás, quem fica às vezes, é a minha dona, coitada! Eu bem olho para ela com ar de estímulo e incentivo... mas tenho mesmo que reduzir, um pouco, a minha aceleração, para ela me alcançar! Já é uma senhora madura, na idade e no juízo... ou ela acha que sim! Mas às vezes, é tão infantil comigo, quando se põe a falar em baboseiras que os caninos não entendem! Pensará ela que eu entendo tudo o que me quer dizer? Não andei na escola, apesar do grande valor que isso tem para ela! Acha que nós, os cães, também devíamos ser alfabetizados, p’ra não ficarmos atrás dos outros na UE. Dizem algumas más-línguas que vamos atrás de muitos povos... nisto, naquilo e naqueloutro! Num ror de coisas!
Que me dava um certo jeito aumentar o meu vocabulário, lá isso dava! Quando ela se põe a falar de mim aos amigos e diz que sou muito efusivo... bolas! Não percebo mesmo nada! Um dia ouvi um amigo dela trocar isso por miúdos e dizer que sou um chato! Aí, fiquei triste, porque ... chatos... são aqueles parasitas que metem o nariz onde não devem e não pagam renda, do espaço que tomaram de assalto!
Eu apenas sou muito dedicado à minha dona e tenho de lho demonstrar todos os dias. Ela até diz aos amigos que cão como o dela não há! A intensidade do afecto que lhe dedico não é como nos humanos que vai esmorecendo com o passar do tempo! Até diz, numa linguagem, só dela, que é inversamente proporcional à duração do tempo que passam em comum. Comigo não é nada disso! Quanto mais conheço a minha dona, mais gosto dela! Cada dia que nasce é a mesma surpresa p’ra mim e a mesma quantidade de mesuras que lhe faço! Ah! Mas nisso há reciprocidade, pois ela também faz o mesmo. Até diz que eu começo a rebolar-me, mal sinto a sua aproximação! É o que os humanos dizem... gozar por antecipação! É uma delícia esta interacção entre nós e os humanos! De vez em quando, lá vem uma ovelha ranhosa estragar esta nossa reputação de amigos do homem, de fiéis amigos, de cãopanheiros incondicionais, na figura de um rotweiler tresmalhado, de um pitbull tresloucado, ou de um doberman assanhado, que atacam os humanos como eles fazem entre si!! Que os humanos se dêem mal uns com os outros, que se hostilizem, como disso são bom exemplo os políticos, é lá com eles! Que se matem, que se esfolem, mas entre nós tem que haver regras! Não pode imperar a lei da selva!
Por isso é que me sinto mal na minha reputação de boxer cheio de dignidade e nobreza, quando ouço relatos dramáticos dos ataques perpetrados por esses congéneres! Que Deus lhes perdoe!
O meu tempo alargado de convívio com a dona, chegou ao seu terminus, agora que a Rentrée está à porta para os alunos. Para a classe da minha dona já chegou mesmo de armas e bagagens!
Acredito que há-de sobrar sempre um tempinho curto, da dedicação exclusiva à escola, para continuar a passar-me a mão pelo pêlo! A minha sensibilidade canina agradece!

M.ª Donzília Almeida

02.09.09

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

SEDOV: O maior veleiro do mundo volta ao nosso porto

SEDOV
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Depois da sua passagem pelo nosso Município em Setembro de 2008, no âmbito da Regata dos Grandes Veleiros, que ligou Falmouth (Inglaterra), Ílhavo e o Funchal, o STS SEDOV escolheu o Porto de Aveiro para porto de paragem na sua viagem entre Delfzijl (na Holanda) e o Mónaco.
O SEDOV chegará amanhã, dia 4 de Setembro (Sexta-feira), partindo três dias depois (7 de Setembro), rumo ao Mónaco. Segundo informação obtida junto do operador, o navio estará aberto para visitas nos dias 5 e 6 (Sábado e Domingo), entre as 10 e as 20 h, e ficará atracado no Terminal Norte do Porto de Aveiro, no mesmo local onde esteve durante a Regata de 2008.
O STS SEDOV foi construído em 1920, tendo como porto de origem Murmansk, (Rússia). Com os seus 108,70 metros de comprimento, e capacidade para transportar uma tripulação de mais de 300 pessoas, é considerado o maior veleiro do mundo.
A vinda do STS SEDOV surge como consequência da excelente recepção de que foi alvo durante a Regata, sendo o primeiro veleiro “Classe A” a visitar o nosso Município e o nosso Porto desde que este, fruto do Protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Ílhavo e a Administração do Porto de Aveiro, em Março de 2009, obteve o estatuto de “Friendly Port”, que garante aos veleiros que nos visitam condições excepcionais de estadia.
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Fonte: CMI

No funeral de Claudette Gaspar Albino

Avó Dette

Agradeço a presença de todos os que compareceram na despedida da minha avó, Claudette Albino. Agradeço sobretudo a amizade.
Nos últimos meses a saúde da minha avó esteve bastante debilitada, no entanto a minha avó sempre foi uma mulher de força. Por isso, a mensagem que quero transmitir é uma mensagem de alegria e vida. Não quero que recordem a morte da minha avó, quero que recordem a sua vida. A minha avó para além de uma excelente profissional, cidadã e amiga era uma mulher extraordinária.
Foi a minha avó que me ensinou a ler antes de entrar na primeira classe, ensinou-me também a tabuada enquanto jogávamos a bola. Podia contar centenas de episódios da vida da minha avó no entanto demoraria uma eternidade. Elegi dois que penso que transmitem bem a mulher que eu quero que lembrem.
Certo dia, estava com a minha avó no sótão de sua casa. A minha avó estava de gatas a ensinar-me a saltar ao eixo quando entra o meu avô e diz “Claudette, olha que tu pela tua neta só não fazes o pino!”. A minha avó logo respondeu “Não faço, mas fazia. E se calhar ainda faço”. Nisto, fecha a porta do sótão, encosta-se à parede e faz o pino. A partir desse dia a frase do meu avô alterou-se, deixou de ser “… só não fazes o pino” e passou a ser: “Claudette, pela tua neta, até fazes o pino”.
Uns anos mais tarde, no quintal dos meus avós, caiu de um ninho um passarinho que ainda não sabia voar. A minha avó acolheu-o, levámo-lo para dentro de casa e pusemo-lo numa caixa com uma manta e um prato com pão aguado. Ao final da tarde fomos vê-lo e ele não tinha comido nada. A minha avó pegou-lhe, pôs o pão aguado na boca dela e alimentou o passarinho que debicou a comida dos seus lábios.
Esta é a Avó Dette, a minha avó. Esta é Claudette Albino. A mulher que me mimou e acarinhou sempre, a mulher que me ensinou com amor e seriedade a importância de ser uma boa cidadã, levando-me com ela a eventos dos Lions, a mulher que até hoje e em toda a minha vida, me fará crescer.
Considero-me a sua neta mais sortuda por ter tido a alegria de viver com ela durante mais tempo e em anos em que a saúde era outra.
A minha avó era a Avó, no verdadeiro sentido da palavra. A Avó que educa, e que “deseduca”, no sentido de brincadeira da palavra. A avó que em idas ao cabeleireiro, quando eu era mais pequena, me deixava escolher os cortes de cabelo e fazer as madeixas que a minha mãe não deixava, porque eram de facto horríveis, mas na altura eu adorava e ficava felicíssima só por poder decidir.
A minha avó é o meu ídolo e agora espero que ela possa realizar o seu último desejo: reunir-se à sua avó, uma mulher de quem também muito me falou, julgo que pelos mesmos motivos que me farão falar para sempre dela.
A minha avó é sem dúvida uma das mulheres mais extraordinárias que, todos os que com ela conviveram de alguma forma, tiveram a oportunidade de conhecer.

Obrigada

Ana Cláudia Cardielos
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NOTA: Há jovens que nos dão extraordinários exemplos de vida. Pela forma serena como enfrentam situações difíceis; pela coragem como reagem às adversidades; pela lucidez como vencem barreiras alimentadas por tradições ancestrais; pela espontaneidade como manifestam o amor por alguém; pelo á-vontade como sublinham a ternura por quem os orientou na vida; pela sensibilidade como proclamam vidas com sentido.
Por tudo isto, que percebi no texto que me foi enviado por pessoa amiga, publico, neste meu espaço, a mensagem de alegria, que Ana Cláudia Cardielos proclamou na hora em que tantos se despediram da  sua avó Claudette, com desejos de que os amigos e familiares não fiquem com a sua morte, mas que recordem  a sua vida.
 
Fernando Martins

Fábrica de Conservas em São Jacinto

A propósito de uma referência, no meu blogue, a uma fábrica de conversas que existiu em São Jacinto, Jorge Meneses teve a gentileza de me enviar dois comentários, com foto de um catálogo alusivo à referida fábrica, datado de 1914.
Sublinha o meu leitor que a empresa era designada por  Fábrica Brandão Gomes & C.ª, com sede em Espinho. Tinha três filiais: Matosinhos, São Jacinto e Setúbal.
Adianta que, infelizmente, “a única coisa que sobrou desse império conserveiro foi o corpo principal da Fábrica de Espinho, completamente restaurado para o Fórum de Arte e Cultura de Espinho (valha-nos ao menos isso).”
Com os meus agradecimentos, aqui fica a informação.

As minhas homenagens ao Padre Lé



Com as novas nomeações do nosso Bispo, D. António Francisco, o prior da Gafanha da Nazaré, Padre Francisco Melo, vai assumir a paroquialidade da Gafanha da Encarnação. O meu bom amigo Padre Manuel Lé vai, portanto, deixar a paróquia que serviu, com inexcedível zelo, durante 52 anos, depois de paroquiar Préstimo e Macieira de Alcoba, no arciprestado de Águeda.
O Padre Manuel Ribau Lopes Lé nasceu em 4 de Agosto de 1922, na Cambeia, Gafanha da Nazaré, tendo sido ordenado presbítero no dia 20 de Setembro de 1947, no Bunheiro, por D. João Evangelista de Lima Vidal. Nessa paróquia, aliás, serviu como coadjutor durante cinco anos, sendo o braço direito do Padre Domingos da Silva Pinho, por quem tinha e teve, ao longo da vida, muita estima.
Não será altura de avaliar, ao pormenor, o que foi a vida sacerdotal do Padre Manuel Lé, um amigo do seu amigo, mas também, e sobretudo, um homem de fé, com a ideia fixa dos seus deveres de pastor de almas.
Conheci-o desde sempre. Participei, aos nove anos de idade, na sua missa nova, na igreja Matriz da Gafanha da Nazaré, no dia 28 de Setembro de 1947, sendo Prior o Padre Guerra. Lembro-me, perfeitamente, que o Prior Guerra estava ao seu lado, no altar, indicando-lhe, momento a momento, o que devia ler no leccionário. Penso que talvez fizesse isso, não fosse o novo padre enganar-se com os nervos.
Depois, acompanhei-o de perto, tendo sido, na minha juventude, meu director espiritual. Com ele me aconselhava nas dificuldades da vida. E dele recebia sempre a reflexão meditada e acertada, que procurei seguir ao longo da vida. Daí a estima que nutro por ele.
Já agora, permitam-me que diga que foi, por andar com ele, que um dia encontrei a minha futura esposa. Por isso mesmo, foi o Padre Lé que presidiu à celebração do nosso matrimónio, precisamente no Bunheiro, paróquia em que iniciou as suas funções presbiterais.
Ao deixar agora a paroquialidade da Gafanha da Encarnação, posso adiantar que o Padre Lé cumpriu, plenamente, a sua missão de pastor e de amigo, durante gerações. E estou certo de que, mesmo com direito pleno ao merecido descanso, não deixará de continuar com o seu povo. Com a sua presença e com as suas orações.
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Fernando Martins
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Nota: No dia da sua missa nova houve um grande fogo nas medas de palha dos pais do futuro Padre Alexandre Vilarinho. A foto do Padre Lé faz parte dos  meus arquivos. Foi tirada em 1956.

Alçada Baptista e Raul Solnado


Alçada Baptista era um bom contador de histórias. Incisivas e com graça. Como esta:

O meu querido Raul Solnado quis ser simpático com o filho de um amigo, um rapaz de 23 anos. Achou que se devia interessar pelas suas preocupações. Disse-lhe:
- Então, rapaz, tens lido alguma coisa?  Gostas de ler?
Ele pensou só um bocadinho e respondeu:
- Evito.

In A Cor dos Dias

Os nossos emigrantes

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Adelino Caixote garante:
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As saudades de quem emigra são sempre muitas

Adelino Marques das Neves, mais conhecido por Adelino Caixote, 80 anos, está de férias na Gafanha da Nazaré, terra onde nasceu e que não lhe sai do coração, enchendo-lhe o pensamento com recordações e vivências. Casado com Zaida das Flores Sousa, natural da freguesia das Mercês, Lisboa, mas criada, desde menina, na Costa Nova. Radicados nos EUA, em New Jersey, procuram vir a Portugal, agora com mais frequência, porque estão livres de compromissos profissionais. Não tencionam, para já, regressar de vez, porque toda a família tem os pés bem assentes na terra do Tio Sam.
Conheço o Adelino desde que me conheço. Na sua oficina de bicicletas, em frente da igreja matriz, era ele quem remendava algum furo da minha bicicleta ou a afinava, para mais velocidade atingir. Vi crescer os seus filhos, sobretudo os dois mais velhos, e fui apreciando o seu esforço, de braço dada com a esposa, para governar a casa. Depois soube que emigrou para a América, em 1971, “legalmente”, com todos os seus, na esperança de encontrar dias melhores. Em conversa com o casal, senti a satisfação de ambos pelas conquistas alcançadas.
O Adelino e a Zaida estão casados desde 1954 e é um casal feliz, depois de muito trabalho e sacrifícios sem conta. Recordam o dia, 19 de Dezembro, em que o nosso prior de então, padre Saraiva, abençoou o seu matrimónio. Pais de quatro filhos, têm três vivos, “graças a Deus”. O Adelino, o mais velho, engenheiro químico, tem 55 anos. A seguir vem o Pedro, arquitecto, de 50, e por fim a Dora, de 44, bancária. Ainda têm seis netos.
Antes de emigrar para os EUA, o nosso entrevistado trabalhou como mecânico na EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), nos Estaleiros de São Jacinto e nas oficinas de Dinis Teixeira, Bóias e Piçarra. Passou pelas Minas de Queriga, perto de Santa Comba Dão. Veio a seguir a oficina na sua residência, frente à nossa igreja, onde consertou bicicletas e motorizadas durante sete anos.
“A oficina já não dava para sustentar a família, na altura com dois filhos, e fui para o bacalhau como ajudante de motorista; com a carta de motorista, fiz algumas viagens no Coimbra, no Adélia Maria e no Navegante”, explicou-nos o Adelino.
A experiência da Alemanha surgiu a seguir. Ainda como motorista marítimo, com carta tirada naquele país também. Sozinho, porque não via hipóteses de ter a família consigo, como era seu desejo. Fez duas viagens como 3.º e lá ganhou “bom dinheiro”, tendo a vantagem de não ser “trabalho forçado”, porque “tinha horário para trabalhar e para descansar, não era como nos navios portugueses”.
“Recebi a carta de chamada dos meus irmãos e fui para os EUA com toda a família, como era o meu sonho; era um país onde mais me podia realizar... e nunca me arrependi de ter dado este passo” disse. E acrescentou: “Na América trabalhei na construção de estradas, onde sofreu muito; era muito duro; não conhecia a língua...” (Aqui o Adelino emocionou-se…)
Mais sereno, referiu que tudo já tinha passado e continuou a acreditar que era na América que tinha mais garantias para um futuro melhor.
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Entretanto, apareceu um anúncio num jornal a pedir um mecânico montador. Com a ajuda de um espanhol, respondeu e foi admitido, depois de provar que estava legal e de apresentar as cartas de motorista marítimo e outros documentos profissionais. A sua função consistiu em montar uma nova fábrica de produtos químicos, no local onde uma outra tinha explodido. Ali ficou encarregado de todas as operações, com a orientação e ajuda de um engenheiro espanhol, que tinha elaborado os planos. Seleccionou, para isso, o pessoal necessário e lá ficou, até se reformar, na manutenção.
Quando deixou a Gafanha da Nazaré, só veio de férias dez anos depois. “Achei tudo muito estranho, porque estava tudo muito modificado; muitas casas, uma coisa fora do normal; os caminhos de areia foram substituídos por estradas alcatroadas com muito movimento.” E acrescentou: “As saudades de quem emigra são sempre muitas. Agora, apesar de reformado, tenho de continuar a ir para a América, porque tenho lá os meus haveres, os filhos e os netos; mas sempre que posso passo por cá uns tempos. Praticamente venho à Gafanha da Nazaré todos os anos.”
A Zaida acompanhou a entrevista, concordando com o que dizia o marido, o Adelino Caixote. E reconhece que foi difícil a adaptação. “Sempre trabalhei na confecção em série e quanto mais fizesse mais ganhava”, esclareceu.
Sem saber a língua, “no supermercado pedia o que precisasse apontando para as coisas” e com os filhos falava em Português. Nas escolas “eles começaram a falar Inglês com os colegas. E foram os filhos que ajudaram o casal a entrar na língua inglesa”.
Quando regressei à Costa Nova, fiquei admirada com o que vi, “tudo tão diferente: no vestir, no conviver, no ambiente, nas casas novas dos pescadores...”
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Fernando Martins