domingo, 16 de agosto de 2009

Como Marcelo Rebelo de Sousa vê a morte

Marcelo Rebelo de Sousa
Na morte, Missa de Acção de Graças

Marcelo R. de Sousa

Qual é a sua relação com a morte?  Sente que vive este tempo em desconto? 

Sou cristão e nisso não tenho angústia nenhuma. A morte é uma passagem para outra vida. Nesse sentido até me choca um bocadinho que nas missas de corpo presente, nesses momentos que são imediatamente dolorosos, não haver a ideia da Acção de Graças. Mesmo os cristãos vêem só o lado da separação física, em vez de darem graças por se ter aberto uma nova vida, que no fundo é o que nós andamos a fazer aqui. 
Andamos por aqui em peregrinação, o tal rally paper para essa outra vida. E quando chega a morte as pessoas pensam como se a sua fé não fizesse sentido nenhum. Ora se a fé faz sentido, então a morte tem de ser lida à luz dessa fé. 

Quantos anos lhe apetecia viver mais? 

Sou providencialista: aqueles que Deus quiser. Agora, sem ser providencialista, acho que estou aqui para cumprir determinadas missões no domínio do ensino, da comunicação com os outros, da pedagogia e da transmissão aos outros. O Amigo lá de cima decidirá se é daqui a dois, cinco, dez ou 15 anos. Mas eu tenho uma teoria que descobri agora: as pessoas morrem como vivem. Se vivem pachorrentamente, serenamente, morrem assim. Se vivem de forma violenta, abrupta, morrem assim. Há uma frase em latim que diz tales vita finis ita - tal vida, tal morte. O que quer dizer que já há muitos séculos se pensava isso. Eu, como tenho uma vida particularmente agitada, provavelmente vou ter uma morte agitada.


Ler toda a entrevista aqui

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 144

BACALHAU EM DATAS - 34
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Mulheres das secas

MULHERES ... SECAS
Caríssimo/a:
A propósito do “Festival do bacalhau”, onde 150 mil visitantes provaram, o ano passado, todas as iguarias à base de bacalhau”, lembrei-me de vos segredar que há dias recebi uma “caldeirada de espinhas de bacalhau”; foi uma prima que se lembrou de mim e mas enviou. “Que queres, a gente tem de ajudar; a vida não está fácil, eu ando na seca e sempre trago algum!” Já ninguém se lembra de que a Gafanha é terra de bacalhau e da sua preparação! E é bem verdade que, além desta prima, uma sobrinha também se dedica a essa faina!.. Bem vindas as espinhas mas logo uma diferença: foram aparadas à máquina. Lascas de bacalhau, viste-las!, só uns fiapitos que a lâmina deixou passar. E então a imagem de marca: secas a atulhar de bacalhau e de raparigas, montes de raparigas, na labuta, por entre galhofas, ditos e cantares. No final do dia, estradas e caminhos fervilhavam de juventude, em correrias ou andar romanceado, que era hora da procura, dos encontros e das conclusões. De duas irmãs que conheço, percorreram estes caminhos e ambas casaram “fora”: muitos rapazes imigravam à cata de trabalho, aqui criaram raízes e já não regressaram às suas terras de origem! Casadas e cansadas, chegam a casa onde as espera o filho faminto e carente: seu primeiro cuidado é dar leite à criança que se aperta ao colo da mãe. Nos tempos que correm seria suposto uma qualquer ASAE fazer análises ao leite desta Mãe e não me surpreenderia que os químicos espreitassem bem para o fundo dos tubos de ensaio não acreditando nos valores que o computador ia revelando: suor, gotícolas de sal, uma ou outra farripa de bacalhau, vestígios de escamas e leite de muito boa qualidade! Mas, espanto geral, ao surgir um novo elemento, o mais inesperado e nunca visto: a análise acusava de forma bem clara a presença intensa de cheiro de bacalhau! Quem diria?! E foi assim, amigas/os, que destas Mulheres nasceu a nossa geração. De onde, pois, a admiração de que ainda hoje a nossa preferência vá para “todas as iguarias à base de bacalhau”!... Do muito que (esta geração) viveu, trabalhou, pescou e até mordeu o bacalhau não vos massarei eu já que, ontem como hoje, só o conheço no prato! Mas fica aí o desafio para que se abram espaços (blogues... ou quejandos) onde se aprofundem estes temas; e um dos que valeria a pena seria, sem dúvida, “a mulher da Gafanha e as secas de bacalhau”. Manuel

sábado, 15 de agosto de 2009

Concelho de Ílhavo: aproveite bem o programa Mar Agosto 2009

Farol da Barra de Aveiro
MAR AGOSTO 2009
Festas do Município de Ílhavo para todos os gostos

A edição 2009 do Mar Agosto continua a marcar a vida do Município, com momentos diversificados de festa: música variada, cultura, tradição, desporto, actividades recreativas, entre outras, numa acção que é também de homenagem ao Sol, à Ria e ao Mar, à nossa História e, em especial, à Vida. Ver programa aqui

Sílvia Ribau celebrou Bodas de Ouro de Consagração

A Irmã Sílvia Ribau celebrou hoje, na sua terra natal, Gafanha da Nazaré, as Bodas de Ouro da sua Consagração Religiosa, no Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria. Houve missa solenizada, presidida pelo Prior, Padre Francisco Melo, e um almoço, no Stella Maris, a que se associaram algumas dezenas de pessoas. Para além do Prior da Gafanha da Nazaré, marcaram presença os padres Miguel Lencastre e Carlos Alberto, frei Silvino Filipe e os diáconos permanentes Joaquim Simões, Emanuel Caçoilo e Fernando Martins. Ainda vimos Irmãs do seu Instituto, do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt e do Instituto das Irmãzinhas da Assunção. 
É sempre comovente, para mim, participar em cerimónias destas, em que se agradece a Deus uma vida percorrida, quantas vezes com sacrifício, ao serviço da Igreja e do mundo. Afinal, as nossas comunidades, um pouco por todo o lado, são alimentadas pelo testemunho de gente que se dá em plenitude aos outros, sem nada esperar em troca. Ainda bem que assim é, porque uma sociedade mais justa e mais fraterna não se constrói apenas com pessoas que falam muito e bem, mas, fundamentalmente, com gente que trabalha com alegria com e para os feridos pela vida. 
A Irmã Sílvia, desde muito jovem, envolveu-se em tarefas paroquiais na Gafanha da Nazaré, nomeadamente, como catequista, visitadora de doente e de pobres. Foi membro da JOCF (Juventude Operária Católica Feminina) e participou, em Fátima, num congresso dessa organização da Acção Católica. Depois, o Prior Saraiva terá descoberto a vocação da Sílvia. Diz ela: “A minha mãe falou-me que o senhor Padre Saraiva lhe disse que eu tinha vocação religiosa. Passado algum tempo falou-me a mim própria …” Certo é que, aos 19 anos, entrou no noviciado das Franciscanas Missionárias de Maria e aos 20, em 1959, tomou o hábito. E desde aí, até hoje, com 50 anos passados, nunca se arrependeu de “fazer esta caminhada com Jesus Cristo e de realizar o Seu projecto”, com “fidelidade, inteira disponibilidade e alegria”. Os meus parabéns à Sílvia, minha colega da “doutrina” (como era designada a catequese da nossa infância), e da primeira comunhão, com o saudoso Prior Guerra.

 FM

ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

Alegria do mundo, Estrela d’Alva: Nenhuma estrela como Vós nos guia. Sois o braço do Deus forte que nos salva, Virgem Maria. Sois a escada de luz lançada à treva Para ligar ao Céu a terra fria. Fulgente aurora, a vida em Vós se eleva, Virgem Maria. Só o trono de Deus é mais sublime Que o vosso trono, à luz do eterno Dia: Celeste Mãe da paz que nos redime, Virgem Maria. Toda a honra à Trindade seja dada E os Anjos Vos exaltem à porfia, Porque sois nossa Mãe, de Deus amada, Virgem Maria. Do Livro das Horas Nota: Um pouco de história aqui

O padre espião

Conheci-o na minha juventude como professor de Teologia Moral. Mas não sabia, como acaba de revelar em entrevista a José Manuel Vidal para o EL Mundo, que trabalhou para os serviços secretos vaticanos e o Mossad, que a CIA quis contratá-lo e que esteve detido pelo KGB. Aos 90 anos e nas vésperas de morrer - tem um cancro terminal -, o Padre redentorista Antonio Hortelano faz, antecipando um livro de memórias, quase pronto, revelações surpreendentes. Embora irritantes para alguns, não faltando mesmo quem o considere um infiltrado e narcisista, valerá a pena uma aproximação de quem se aproxima da morte com imensa dignidade. Acabado de chegar do México, levaram-no ao hospital por causa da gripe A. E o médico: que não tinha a gripe A, mas um cancro do pulmão em fase terminal. Antonio Hortelano: "Vou morrer. Restam-me uns dois meses de vida. Mas não quis químio nem radioterapia. Só cuidados intensivos." Formou parte dos serviços secretos vaticanos. "Com missões especiais e de forma eventual", diz. O cardeal Montini, então secretário de Estado do Vaticano e futuro Papa Paulo VI, encomendou-lhe várias dessas missões. Foi assim que, por exemplo, viajou com passaporte italiano até à Hungria comunista, por causa do cardeal Mindszenty. Cumprida a missão, de regresso a Viena, foi apanhado pelo KGB, interrogado durante horas e acusado de espionagem. Após 48 horas de interrogatório, "mexidos os pauzinhos adequados" - Vaticano e Israel -, soltaram-no, podendo regressar. Confessa que trabalhou mais com o Mossad do que com o Vaticano. Porquê com os judeus? Casa bem o sacerdócio católico com ser espião judeu? "Perfeitamente. Jesus foi judeu de raça e religião. E nunca saiu do judaísmo. Não se pode ser cristão sem ser judeu." Através do Vaticano e do Mossad, tem o privilégio de imensa informação de tipo religioso e político. Até aprendeu as técnicas subversivas. Conhece particularmente os problemas da América Latina e a história da Teologia da Libertação, com a qual aliás tem diferendos. Foi neste contexto que a CIA o pretendeu contratar. "Pensaram que era o candidato ideal para denunciar os teólogos radicais. Mandei a CIA pelo cano de esgoto abaixo, com o que ganhei muitos inimigos." "O Muro de Berlim caiu graças a João Paulo II, aliado com Reagan." Mas censura Wojtyla pela troca de informações diárias com Reagan: "Todas as manhãs, Reagan mandava as suas informações ao Papa e este enviava-lhe a informação mais quente que recebia de todas as nunciaturas." "Foi um grande erro." Pior, porém, foi o escândalo do IOR, o Banco do Vaticano, e ter confiado as finanças da Igreja a monsenhor Marcinkus. "Foi o arcebispo de Baltimore que lho recomendou, mas já nos Estados Unidos Marcinkus estava relacionado com a Máfia. Por isso, quando se deu a queda do Banco Ambrosiano, que deixou um buraco no IOR de mais de mil milhões de dólares, Marcinkus quis tapá- -lo negociando a dívida com a Máfia. No fim, depois de vários mortos, o Vaticano pediu aos religiosos que se encarregassem da dívida. Aceitaram, mas com a condição de ficarem com a gestão das finanças vaticanas. O Papa não quis e então apareceu o Opus Dei, que, através de Rumasa, tapou o buraco de Roma em troca da prelatura pessoal e da canonização do fundador da Obra." A Igreja enquanto instituição "precisa de mudanças estruturais, mas sem dinamitá-la". Ousa escrever uma "última carta ao Papa", na qual propõe "com humildade" algumas medidas. Que a Igreja seja "mais equilibrada e mais feminina". Com padres casados e mulheres ordenadas. Com bispos eleitos por 9 anos e a supressão do colégio cardinalício, já que o Papa seria eleito por "uma representação de todo o Povo de Deus". Não tem medo de morrer? "Nenhum. Tenho fé e acredito no Além." Sente-se orgulhoso por ter trabalhado pelos outros, não esquecendo que também foi "egoísta e muito teimoso". Mas Deus conta com isso. "Em breve chegarei à sua presença e dir-lhe-ei: 'Aqui está o Antonio'." E o epitáfio? A frase do filósofo Zubiri: "Penso, logo existo e existo, não entregue ao nada, mas a Deus." Anselmo Borges
In DN

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ele tinha a paixão dos objectos

Assim ele tinha a paixão dos objectos, conchas, rodas, ramos secos, utensílios, coisas aparentemente desmembradas e soltas, que encontrava ao acaso em ferros-velhos, pequenas lojas escuras, vãos de porta, recantos poeirentos, ou apanhava do chão quando passava, entre vagos montões de sucata ou de lixo, e depois se transformavam quando ele lhes encontrava na casa um local certo, porque conhecia a sua identidade profunda, o rosto oculto que elas não revelavam facilmente. Deixava-as vir devagar à superfície de si próprias, as suas mãos eram sempre pacientes com as coisas, e também o olhar que descobria a sua intimidade e a partir delas as combinava, porque nem todas se entendiam entre si, era preciso estar atento às suas afinidades ou disparidades, mesmo às menos evidentes. Mas ele tinha o segredo da harmonia. Teolinda Gersão (n. 1940)