sexta-feira, 19 de junho de 2009

Faleceu Carlos Candal

UM POLÍTICO DE CAUSAS
Tomei ontem conhecimento da morte de Carlos Candal, um aveirense carismático a vários títulos. Embora saiba que não vou acrescentar nada ao muito que já foi dito sobre ele, penso que é justo sublinhar aqui, neste meu espaço aberto ao mundo, a importância do seu contributo para o reconhecimento da identidade de Aveiro. Dotado duma força anímica pouco comum, sempre defendeu, desde muito novo, causas de justiça, de liberdade, de democracia e de civismo. E fê-lo, é bom recordar, com garra, com determinação e até com graça, já que era possuidor de dotes oratórios capazes de empolgar quem o ouvisse. Carlos Candal foi acometido de doença grave no ambiente onde se sentia à vontade, como peixe na água, em plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Seria, pensei então, mais uma batalha que teria de travar. Assim não aconteceu, para tristeza dos muitos amigos que o admiravam. Porém, não se julgue que só os amigos e correligionários o apreciavam. Também os seus adversários, que não inimigos, o admiravam, pela força da sua reconhecida personalidade. Tudo isto por se saber que Carlos Candal nunca deixou, que me lembre, de apoiar muitas causas, nem sempre saídas das propostas que apresentava. FM

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reconhecer para crescer

A verdade das coisas
não é ou branca ou preta,
também há o cinzento
1. Sabe-se que o poder do criticismo cego, quando aplicado em todo o seu esplendor, não deixa espaço para o reconhecimento de que os outros também sabem pensar e fazer coisas boas. Também se compreende bem que, se o unanimismo de todos concordar com tudo, sendo uma inverdade, não abre espaço à dialéctica, à procura, à nossa e nova síntese que faz crescer. Mas, nem ao mar, nem à serra! Será tão importante o reconhecimento do bem realizado pelos outros, como o sentirmos e despertarmo-nos mutuamente para uma superação sempre mais aperfeiçoada, pois que tudo pode ser sempre melhor, mais amplo, mais envolvente. Talvez a prova da maturidade completa esteja, sem a anulação de identidade própria, o reconhecer-se (aperfeiçoando-se) dos valores e das virtudes do outro.
2. Há dias realizou-se no parlamento português o debate da avaliação da liderança política. Qual pêndulo do relógio, que ora vai para um lado ora para o outro, as oposições da nossa jovem democracia dão ainda pouco espaço para o reconhecimento de que do outro lado também há coisas boas, que nem tudo foi mau. Continua a tornar-se claro que (tal como a verdade das coisas não é ou branca ou preta, também há o cinzento!), enquanto a maturidade destes reconhecimentos das apostas certeiras do outro não fizerem parte do caminho de maturidade política, temos a sensação de que estamos e/ou estaremos sempre a recomeçar, e, neste ponto, estaremos na “estaca zero”. O bem da comunidade, não só nos tempos de crise mas estes mais despertam a urgência, carece da dose “quanto baste” de consensos que abra caminhos e crie pontes.
3. O progresso humano é inimigo do ponto zero da crispação social, das incapacidades estruturantes de gerar consensos básicos em ordem ao bem comum. O querer crescer, sem a ilusão de todos concordarem com tudo e no assumir do debate como abertura a horizontes sempre maiores, obriga ao reconhecer-se de que todos continuamos da obra comum. Reconhecer para crescer!
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Alexandre Cruz

Crónica de um Professor: Fim à vista

“Prima non datur, ultima non recipitur”! Soa como uma melodia, este binómio que agora se vai concretizando. Na verdade, nos alunos que frequentavam o ensino liceal, no século passado, era uma expressão recorrente e que muito lhes agradava. A primeira aula ficava-se pelas apresentações, de mestres e discípulos, a última pela despedida. E... o Latim tinha força de lei! Caminha a passos largos para o fim mais um ano lectivo e multiplicam-se as tarefas, os esforços, de ambas as partes deste processo, ensino/aprendizagem. Sendo verdade que até ao lavar dos cestos é vindima, como se ouvia aos mestres doutras épocas, também hoje, nas escolas, por todo o país, se esfalfam os professores para dar, aos seus alunos, a possibilidade de alcançar os seus objectivos pedagógicos, isto é, o tão almejado sucesso. Sim, a classe docente, a mesma que é tão maltratada pela opinião pública, é aquela que dá o corpo ao manifesto e a alma ao diabo, para conseguir que os seus alunos ultrapassem as dificuldades. Ainda há dias, num contexto de comércio local, a teacher travou um duelo verbal, em que o opositor desbaratava a torto e a direito sobre os professores. Foi proferida toda uma série de impropérios, numa generalização redutora e perigosa, que ia sendo rebatida pela argumentação lógica e fundamentada duma profissional do ramo!!! Aquele género de pessoa, já bem tipificada na sociedade hodierna, que tudo destrói, tudo condena, tudo amesquinha, sem contudo ter soluções para nada, era o interlocutor da teacher! Esta ouviu, ouviu e por fim deixou que o diálogo descambasse para monólogo, pejado de agressividade! E frustração, já que o que este tipo de pessoas denota é, na realidade, um enorme sentimento de frustração perante a vida, que não lhes deixa enxergar nada à frente do nariz. Quem tem este tipo de atitudes, sobretudo para com uma classe tão sacrificada, incompreendida e injuriada, revela, numa interpretação freudiana, um complexo de inferioridade, associado a uma muito baixa auto-estima. Os professores vão estar aí, novamente no centro das atenções, pois vão proceder a uma das mais delicadas tarefas do seu mister – a avaliação. Processo que incorpora uma grande dose de subjectividade, é grandemente questionado, debatido e exercido. Parafraseando Jean Foucambert, a Escola seria preciosa se ajudasse todos os alunos nas suas aprendizagens, já que existe precisamente para isso. Muito do que os alunos aprendem é por sua conta e risco, isto é, existem aprendizagens sem ensino, na conhecida escola paralela, mas a Escola tem por função estimular, desabrochar o gosto pela aprendizagem. Ao avaliar um aluno, o professor está a avaliar-se implicitamente, pois dependeu do seu papel interventivo, o desempenho do aluno. Agora, retirando todo o caudal de água benta aspergida pelos docentes, resta a recompensa para os que se esforçaram e... a libertação para aqueles que consideram a Escola como o inimigo n.º 1 do aluno. Assim se referiu o Caramelo à instituição que frequenta e ao enorme desinteresse que nutre por ela! M.ª Donzília Almeida 14.06.09

Um poema de Domingos Cardoso

Estrada
Olhando as minhas mãos, assim despidas, Tão vazias de anéis e compromissos, Tão desnudas de feitos e feitiços Penso que as intenções foram perdidas. Descubro em minhas rugas esculpidas As marcas dos propósitos postiços E, nos meus olhos, de brilhos já mortiços, A dor de renovadas despedidas. Tive amor no meu peito e não o quis, Senti m sonho à mão e nada fiz Por julgar que este mundo era ilusão. Tendo de meu tão pouco ou quase nada Vejo, no fim da estreita e erma estrada, Sorrindo, à minha espera, a solidão. Domingos Freire Cardoso

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma leitura livre em clima democrático

OS PARTIDOS PASSAM, O POVO PERMANECE
Deixei o país na manhã do dia seguinte às eleições. Já levava comigo os jornais cheios de números e comentários, euforias e pesadelos, justificações e profecias. A meio do dia, em espaço alemão, pude folhear outros jornais da Europa, que comentavam o mesmo tema, no mesmo tom. Lá como cá, uns, sem olharem às contradições em que caíam, outros, justificam os resultados com a crise social geral, outros ainda, com opiniões fixadas no modo de agir dos partidos, que os eleitores acabavam de castigar. As leituras políticas são, por vezes, monocórdicas e superficiais, ditadas pelo imediato que exprime gosto ou desgosto. O exame das causas, porque exige ponderação, tempo e saber, raramente ultrapassa o trivial. Mesmo quando, de modo crítico, se tenta opinar sobre a crescente abstenção, o leque vai apenas da indiferença pelo acto eleitoral à opção mais agradável pela praia ou pelo passeio, do pouco conhecimento do que está em causa, à falta de confiança nos políticos profissionais. Porque tudo dito, nada muda. Quem vota é o cidadão do povo. Gente de diferente sensibilidade e cultura, com experiências e projectos diversos, com histórias e intuições não coincidentes. Alguns fazem das coisas políticas uma paixão, carregada de interesses e por isso não faltam. Outros, vão por seu pé, mantendo vivas as dificuldades e agressões que levam consigo e a que nem sempre estão alheios os que se sentam nas cadeiras do poder se acaso esquecem o bem comum e o povo concreto. Se muitas coisas, no dia-a-dia, já se vêem a olho nu, por altura das campanhas eleitorais e depois da contagem dos votos, o quadro torna-se mais ilustrativo, e emoldurado pelo muito que se diz ou se cala. A gente que decide votar ou anda alienada e ao sabor das opiniões dos seus, ou calada a aguardar atenta a hora de poder dizer, com o voto, a sua opinião determinante, sobre o que se passa no país e atinge a sua vida e a de muitos. As eleições não se ganham nem se perdem com comícios e cartazes, mas nas urnas. O que se grita nas campanhas, o que se diz e as pessoas que o dizem, apenas confirmam o que já se pensa e se sabe. Alguns eleitores, armadilhados contra os da outra cor, fecham os olhos e ouvidos e só dão razão aos seus. Então, as opiniões viram dogmas e as verdades do outro lado não passam de mentiras do seu. O povo sensato observa isto tudo e vai formando o seu juízo. Mas, já não falta quem, relativizando o alcance das decisões políticas, sabe bem o caminho por onde não se pode ir porque não leva sequer a um bem possível para todos. Como percebe também a linguagem que não respeita ninguém e menos ainda os que pensam de outro modo, a agressão programada a sentimentos comuns e a valores indiscutíveis, a teimosia em impor decisões alheias à verdade e à realidade, o malabarismo das palavras ardilosas que não convencem, a desonestidade política que põe os interesses dos partidos acima do interesse nacional, a pouca seriedade de quem faz da democracia uma palavra que enche a boca, mas que, na prática, frequentemente a denega. O povo tem intuições de horizontes largos que escapam aos políticos de vistas curtas e depressa esqueceram que “o povo é quem mais ordena”. Pelo menos nas urnas de voto não deixa que se mande nele, com a impunidade de décadas passadas e mesmo de tempos mais recentes. Ainda que abafado pelo poder que o não respeita, o povo já aprendeu a saborear a liberdade que ninguém lhe pode tirar. Assim, não lhe escapa a contra cultura que se lhe quer impor, o desrespeito pela família, seu maior bem, os ultrajes dos corruptos à sua honestidade, as mentiras com que o pretendem iludir, o orgulho de quem não o ouve, os problemas vitais sem solução, as portas do futuro fechadas aos jovens… Este povo também vota. Sabe pouco da Europa, mas sabe muito da vida. Conhece os políticos que ficam e aos que querem entrar. Sabe esperar e sabe dizer “basta!”. Os partidos passam, o povo permanece. Ele é riqueza sem dono. Quem não o escutar, nem respeitar, acaba sempre por ser julgado por ele. António Marcelino

A Liberdade na EMRC

1. Não é fácil o assunto, também porque os sucessivos sistemas que reflectem visões de educação o foram e vão complicando. A palavra de ordem é sempre a liberdade; educar na e para a liberdade. Educar na liberdade, significará o aceitar que ao projecto social e educativo pertencem um conjunto de valores plurais mas construtivos, e não um habitar na neutralidade do vazio que ao nada conduz. Sejamos objectivos, pensamos: é impossível a neutralidade na educação, tal a força imensa das subjectividades presentes. Pode parecer que a questão pouco importa, mas o esbatimento diluidor da Lei da Liberdade Religiosa numa neutralidade de exclusão do fenómeno sociorreligioso da comunidade social é o reflexo claro do fechamento intencional.
2. Na democracia das liberdades amadurecidas, por isso sempre inclusivas e autenticamente co-responsáveis, tudo deveria ser claro e transparente. Nada de obscuro tornearia e negociação. Atender-se-ia ao princípio de que as pessoas estão mesmo primeiro. Defender-se-ia a existência de programas com valores formativos de personalidades assertivas. Numa abertura de expressão de quem quer ser cidadão do mundo, convidar-se-iam todos os agentes cooperantes e colaboradores com a Escola e desta com as famílias e a comunidade social envolvente. Atender-se-ia ao essencial e às compensações a fim de dar às gerações da tecnologia muito mais lugar às sabedorias, filosofias, religiões. Despertar-se-iam os pais e as comunidades para intervirem mais, pois só participativos virão.
3. O transvazar da opção que quer ir torneando a lei da liberdade religiosa em passo de exclusão das sabedorias e religiões do espaço social, reflectindo a falta efectiva de liberdade inclusiva para com as pessoas, oferecer-nos-á um futuro mais sombrio, fechado, seco, com menores capacidades culturais, humanas e sociais. Lembramo-nos, infelizmente, da vida curta da disciplina DPS (Desenvolvimento Pessoal e Social)… Sim à EMRC!
Alexandre Cruz

Ideias Pela Positiva: É preciso Valorizar os Recursos Naturais

“Com esta crise, a tecnologia vai sair a perder e vão ser valorizados os recursos naturais. Portugal tem tudo a ganhar investindo nos recursos que tem, fruto da nossa excelente localização geográfica. O sol, através do qual podemos reduzir a nossa factura energética; o mar, desenvolvendo ideias concretas para tirar partido dele; e a floresta, que com uma boa gestão pode multiplicar por dois ou três a sua capacidade…” Carlos Martins, Presidente da Martifer Citado pelo jornal i

Escrever bem e com graça: Miguel Esteves Cardoso

Faz-nos falta quem escreva bem e com graça. Também com sentido de oportunidade. Um exemplo que vale a pena sublinhar está no jornal PÚBLICO e chama-se Miguel Esteves Cardoso. Leio-o regularmente. Aqui fica uma passagem digna de registo: “Falta fazer o elogio do sedentarismo. É o indesporto radical do nosso tempo. Define-nos. Delicia-nos. Sentamo-nos e sentimo-nos bem. Sentemo-nos pois.”
Miguel Esteves Cardoso

FIGUEIRA DA FOZ: Praia deserta, por enquanto!

PRAIA DA FIGUEIRA
Quem passa pela marginal da Figueira da Foz, com mar e areal à vista, não pode deixar de reconhecer que as pessoas fazem falta. O tempo ainda não se convenceu de que tem de se pôr a jeito, oferecendo cor, calor e alegria ao pessoal que gosta de banhos. Mas estou em crer que, mais dia menos dia, ele há-de surgir em força, para prazer de todos nós.

Arquivos da Igreja: entre memória e serviço

Em Braga, nos dias 17 e 18 de Junho, o II Conselho Nacional dos Bens Culturais da Igreja reflecte e debate a problemática dos "Arquivos da Igreja: memória das comunidades ao serviço da sociedade". O assunto é importante e diz respeito a todos. Expliquem-se os termos: Arquivo - centro dinamizador do respeito pelos nossos maiores, materializado na adequada atenção à preservação dos documentos, ao seu estudo e à sua divulgação (não mero depósito de papel envelhecido) / Igreja - comunidade de baptizados, comprometidos com a vida (não uma associação, um clube, ou um nicho de protagonismos ou de sossegos) / Memória - veículo de comunhão que projecta o futuro na firmeza da experiência (não um atá-vico impedimento da ousadia) / Comunidades - único lugar onde ser cristão é possível / Serviço - a dura realidade do amor (mesmo para quem não queira) / Sociedade - campo muito vasto do testemunho de vida cristã, feito de mulheres e de homens com valores porventura muito diferentes dos da Ecclesia. Depois de toda a sensibilização para a importância do património documental da Igreja Católica, feita ao longo de anos, as comunidades eclesiais têm pela frente o enorme desafio de encontrarem as respostas mais adequadas - e justas - para que a salvaguarda e a fruição desse património aconteça com inteligência e entrega. Essas respostas passam pela institucionalização e dinamização de Arquivos, também eles geradores de cultura e marcadamente comprometidos com a evangelização e a pastoral. Afectar recursos, humanos, técnicos e financeiros, aos Arquivos da Igreja será sempre uma epifania de respeito pelos que nos legaram a fé, mas também de respeito pelo que somos - como o somos e como nos verão - no seio de uma sociedade cada vez mais plural. Afinal, que testemunho de Igreja dão os nossos compromissos colectivos a respeito dos Arquivos?