domingo, 21 de dezembro de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 108

O EXAME DE ADULTOS
Caríssima/o: Será que ainda não estais cansados de exames? Paciência, não posso deixar de falar do exame de adultos... Como já vimos muitos e muitas não iam além da terceira classe. Ora, quando se chegava ao mercado de trabalho e se era confrontado/a com uma lei que exigia o diploma da quarta para continuar nesse emprego, era uma aflição e uma corrida a casa do/a Professor/a “que lhe desse o diploma”, senão estava desgraçado e não tinha com que dar de comer aos filhos! E começava uma lufa-lufa contra o tempo que o pessoal só se lembra de Santa Bárbara quando troveja... Verdade seja que o exame, embora tivesse a mesma abrangência do do 2.º grau das crianças, era adaptado à nova realidade e amenizado pelo humanismo dos examinadores, conhecedores da “aflição” dos examinandos... Em todo o caso havia sempre os mínimos a atingir e uma dignidade a defender: os alunos, para conseguirem o tal diploma, tinham de saber ler, escrever e operar ... Logo um homem/uma mulher que tivesse uma terceira classe bem feita do seu tempo de criança, com uma ligeira refrescadela, poderia submeter-se ao tal exame e seria considerado apto.... O problema era quando a pessoa necessitada não tinha passado dos cartões ou nem sequer passara pelos bancos da Escola; com os movimentos embotados, tínhamos pela frente um caso bicudo... Mas a necessidade aguça o engenho e multiplica o interesse e a dedicação: autênticos milagres presenciávamos que iam do pesado rabiscar do nome até uma leitura fluente e uma ortografia limpa! Claro que não fiz este exame (e curiosamente nunca me vi como parte dum desses heróicos júris...), mas familiares meus apoiei nessa travessia e, mais tarde, ajudei muitos rapazes e raparigas a ultrapassarem essa meta. Só que nunca pensei presenciar, nos dias que vão correndo, octagenários (e até nonagenários, afirmaram!...) sentados numa mesa a aprenderem a rabiscar o seu nome; e esta aprendizagem a ser realizada numa escola secundária...! Sinais dos tempos ou... das novas oportunidades!?
Manuel

JESUS É O PRESENTE

O natal de Jesus provoca uma onde de generosidade que manifesta a nova era a despontar na humanidade. Alegria esfusiante nos corações, afluência animada dos peregrinos da Gruta, entusiasmo crescente em procurar caminhos novos, confusão de pessoas sobressaltadas perante a notícia do sucedido, abundância de gestos significativos e prendas expressivas. Dir-se-ia que a terra se une ao céu para em admirável harmonia celebrarem a festa do nascimento de Jesus – o presente mais excelente que Deus nos faz. É um começo germinal que há-de crescer constantemente como o Menino até ser Homem adulto. Jesus é o Presente, por excelência. À sua luz, todos as outras prendas reforçam o valor que têm. Sem ele, ficam apenas com o lusco-fusco do alvorecer, ainda que promissor, que aguarda a chegada do pleno dia. Jesus é o Presente que Deus nos oferece: De tal modo Deus ama o mundo que lhe entrega o Seu Filho muito amado. Oferta de Deus em que nos é proporcionado tudo o que há de melhor. Basta dispormo-nos e querermos. Basta entrar na lógica do amor gratuito e expansivo. Basta reconhecer que a reciprocidade é a resposta mais acertada de quem é amado a quem ama. Jesus é o Presente de Deus no tempo. Agora e não apenas ontem ou amanhã. É presente de salvação das feridas da vida, de cura e revigoramento das forças debilitadas, de coragens esmorecidas, de sonhos e projectos truncados. Hoje é o dia em que pode haver natal. Depende de ti e de mim. E se houver, o mundo fica melhor! “Agora, estais mais perto da salvação” - lembra Paulo numa das suas cartas. Jesus é o Presente de Deus no espaço. Aqui onde nos encontramos. “Ele está presente no meio de nós” – respondemos ma saudação litúrgica. Fazer natal a partir do coração, da família, da vizinhança, do ambiente de trabalho, do grupo apostólico, do partido ou movimento político. E há tantas situações onde o Natal pode acontecer: nos egoísmos sem nome, nas injustiças camufladas, nas mediocridades consentidas e alimentadas, nas aspirações a mais e melhor abafadas, nos encontros pessoais conscientemente adiados, nos sorrisos disfarçados que aguardam um rosto amigo e atraente como o de Deus feito Menino. Jesus é o Presente que fica connosco e em nós. Para dar uma nova dimensão ao nosso pensar e agir, amar e sentir, parecer e ser. Para fazer de nós, a seu jeito e a seu gosto, presentes para toda a humanidade. Que alegria e responsabilidade! Georgino Rocha

sábado, 20 de dezembro de 2008

STELLA MARIS: Almoço Solidário

Bispo de Aveiro deseja presença da Igreja mais atenta e solícita no mundo de hoje
O Almoço Solidário, promovido pelo Stella Maris, juntou hoje, 20 de Dezembro, 125 pessoas. Gente diversa que precisa, de facto, de quem se lembre dela. Bom bacalhau, com batatas e couves, tudo bem regado com azeite, vinho e sumos, mais doces variados, onde sobressaíram o bolo-rei, a aletria, o arroz-doce e o leite-creme, de mãos dadas com a generosidade de voluntários, fizeram deste almoço um bonito gesto de solidariedade. D. António Francisco lembrou, a abrir a refeição, que “à volta da mesa nos sentimos mais família”. E foi essa a mensagem que todos aceitaram para esta quadra natalícia, prometendo cada um, decerto, no seu íntimo, levá-la à prática no dia-a-dia. O Bispo de Aveiro, atento ao que o rodeava, olhou e viu, na decoração da sala, redes, âncora, farol, o presépio e uma imagem de Nossa Senhora, que nos revela “o rosto solidário de Deus”, nesta época “de sonhos e esperanças”, que todos acalentamos. D. António lembrou o bem que no Stella Maris se faz e que “urge continuar a fazer”, valorizando “uma relação de comunhão entre as instituições da paróquia e da diocese”. E sobre o Natal de Cristo, manifestou o desejo de que ele faça nascer, nas pessoas, “energias e coragem para vencerem as dificuldades da vida”. Mas ainda sublinhou a necessidade de que a Igreja se torne “uma presença atenta e solícita no mundo de hoje”. Dirigindo-se aos autarcas presentes, frisou a importância de todos criarmos “pontes de amizade, unindo os nossos esforços, para melhor servirmos as comunidades”. Por sua vez, o presidente da Câmara de Ílhavo, Ribau Esteves, louvou o gesto de partilha, “num mundo cheio de dificuldades”, apelando ao esforço e à união de todos, “na procura de soluções novas para os problemas que vamos ter”. Adiantou que é nossa obrigação ajudar, verdadeiramente, os que mais precisam, “cuidando melhor dos mais pobres”. Mas ainda referiu a urgência de apoiarmos as instituições e o próprio Estado, criando mais empregos, “para sermos mais felizes”. Joaquim Simões, presidente da direcção do Stella Maris, disse que este Almoço Solidário, preparado pelos dirigentes da instituição e suas famílias, com a colaboração de voluntários amigos, serviu para alimentar o “sentido familiar”, numa perspectiva de valorizar o espírito fraterno. E ao evocar o Natal de Jesus Cristo, referiu que ele é sinal visível do “encontro entre o Céu e a Terra”. Considerou, também, o esforço permanente de todas as instituições, quando promovem a partilha do pão e estimulam o lazer, a cultura e as mais diversas acções sociais junto das populações, sobretudo das mais carenciadas. Fernando Martins

'PROVAVELMENTE DEUS NÃO EXISTE'

É possível que já em Janeiro, nas ruas de Londres, as pessoas se deparem com cartazes no exterior dos autocarros com estes dizeres: "There's probably no God. Now stop worring and enjoy your life" (Provavelmente Deus não existe. Então, deixe de preocupar-se e desfrute a vida). Trata-se de uma campanha publicitária a favor do ateísmo, promovida pela Associação Humanista Britânica e apoiada pelo célebre biólogo darwinista R. Dawkins, professor da Universidade de Oxford, ateu militante e, segundo muitos, fundamentalista. A campanha foi um êxito, pois rapidamente conseguiu fundos - dezenas de milhares de euros - mais que suficientes para pô-la em marcha. Segundo a jornalista Ariane Sherine, que a tinha sugerido em Junho, "fazer uma campanha em autocarros com uma mensagem tranquilizadora sobre o ateísmo seria uma boa forma de contrabalançar as mensagens de certas organizações religiosas que ameaçam os não cristãos com o inferno". Para Dawkins, "a religião está acostumada a ter tudo grátis - benefícios fiscais, respeito imerecido e o direito a não ser ofendida, o direito a lavar o cérebro das crianças". Assim, "esta campanha de slogans alternativos nos autocarros de Londres obrigará as pessoas a pensar. Ora, pensar é uma maldição para a religião". Logo que apareceu o anúncio da campanha, fui confrontado por um jornalista da TSF: se a achava provocatória. Respondi que até a achava interessante. De facto, era isso mesmo: obrigaria as pessoas a pensar nas questões essenciais, e Deus é uma dessas questões decisivas. Constatei, mais tarde, que essa foi também a posição de líderes religiosos britânicos, que responderam favoravelmente à iniciativa. Aliás, qualquer um tem o direito de promover as suas ideias através de meios apropriados. A Igreja Metodista agradeceu inclusivamente a Dawkins pelo facto de encorajar um "contínuo interesse por Deus". A rev. Jenny Ellis disse: "Esta campanha será uma boa coisa, se levar as pessoas a comprometer-se com as questões mais profundas da vida." E acrescentou: "O cristianismo é para pessoas que não têm medo de pensar sobre a vida e o sentido." É significativo aquele "provavelmente". Dawkins não sabe que Deus não existe e, por isso, escreve: "Provavelmente." A existência de Deus não é objecto de saber de ciência, à maneira das matemáticas ou das ciências verificáveis experimentalmente. Nisso, Kant viu bem: ninguém pode gloriar-se de saber que Deus existe e que haverá uma vida futura; se alguém o souber, "esse é o homem que há muito procuro, porque todo o saber é comunicável e eu poderia participar nele". Afinal, também há razões para não crer, mas, quando se pensa na contingência do mundo, no dinamismo da esperança em conexão com a moral e na exigência de sentido último, não se pode negar que é razoável acreditar no Deus pessoal, criador e salvador, que dá sentido final a todas as coisas. Numa e noutra posição - crente e não crente -, entra sempre também algo de opcional. Mas, nos cartazes, o mais impressionante é a segunda parte: "Deixe de preocupar-se e desfrute a vida." É claro que o que está subjacente a esta conclusão é a ideia de um Deus invejoso da vida e da alegria dos homens e das mulheres. Se a primeira parte obriga os crentes a pensar, retirando da fé tudo o que de ridículo - pense-se em todas as superstições - lhe tem andado colado, a segunda tem de levá-los a "evangelizar" Deus. É preciso, de facto, reconhecer que houve e há muitos a quem "Deus" tolheu a vida, de tal modo que teria sido preferível nunca terem ouvido falar no seu nome - pense-se no horror do inferno, nas guerras e ódios em seu nome, no envenenamento da sexualidade, na estreiteza e humilhação a que ficaram sujeitos. Agora que está aí o Natal, é ocasião para meditar no Deus que manifesta a sua benevolência e magnanimidade criadoras no rosto de uma criança. Jesus não veio senão revelar que Deus é amor, favorável a todos os homens e mulheres e querendo a sua realização plena. Perante um "deus" que os humilhasse e escravizasse, só haveria uma atitude digna: ser ateu. Anselmo Borges

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

NATAL: Notas do Meu Diário

13 de Dezembro No centro comercial, a multidão, fugidia, olha as montras à cata do provável, mas apenas lhe sai o impossível. No ar, as velhas e sempre novas melodias, que nos embalam e nos transportam a natais de misteriosos sonhos. As crises marcam indelevelmente o ânimo dos desempregados que olham com amargura o fim do mês que está longe com o magro subsídio, sempre recebido como esmola. Mas há os que, sem trabalho, ainda ficam mais ricos, com direito a férias nos Alpes Suíços. Um Natal de mágoas para uns; um Natal de alegrias sem peso nem medida para outros. Os últimos acontecimentos, carregados de problemas sociais, denunciam a fragilidade de conceitos que tínhamos como certos. A inconsistência de teorias políticas e económicas obriga-nos a repensar a vida presente, numa perspectiva de um futuro com mais segurança e com mais paz. O nascimento do Menino Jesus, que o dia 25 de Dezembro nos oferece, como símbolo da fraternidade universal, pode ser o ponto de partida para opções que nos estimulem e indiquem caminhos para a necessária e urgente construção de uma sociedade mais cristã e, por isso, mais solidária.
FM

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dia Internacional das Migrações

Mesmo com o dia a chegar ao fim, sinto que é minha obrigação assinalar aqui o Dia Internacional das Migrações. Não para fazer doutrina sobre as vantagens, desvantagens e necessidades das migrações, afinal um fenómeno de todos os tempos e de todas as zonas do globo, mas para me associar a todos quantos sentiram a urgência da partida, deixando famílias e sonhos para trás. Dar as mãos aos que chegam e apoiar, com a nossa solidariedade, os que têm de partir, é obrigação de cada um de nós, porque, afinal, ninguém sabe, concretamente, o que o espera um dia. Já vi chegar até junto de mim as mais diversas pessoas de rostos, culturas e sensibilidade bem diferentes das que presenciei desde a minha infância; também já vi partir conhecidos e amigos que, nem sempre pelo espírito da aventura, experimentaram na alma a obrigação de buscar noutras paragens, de usos e costumes tantas vezes estranhos, o que de essencial lhes faltava na terra natal. Dos que saíram e nunca mais regressaram, bem como dos que, enraizados noutros ares, com famílias que entretanto foram nascendo e crescendo, por aqui aparecem, de férias, de quando em vez, quero, neste Dia Internacional das Migrações, saudar com uma palavra fraterna e solidária, na esperança de que, onde quer que se encontrem, aqui permanecem as suas raízes, que vamos regando com a nossa amizade. Fernando Martins

Crónica de um Professor

Era a última aula duma das NACs (Novas Áreas Curriculares), do 1.º período escolar, do ano civil, deste Outono tardio! Estava na memória dos alunos a tradição, que aqui convém manter, de que “Prima non datur, ultima non recipitur”! Aqui o Latim tem a vivacidade e actualidade duma qualquer língua viva, apesar de qualquer indivíduo, menos informado, ter o conhecimento que é e se mantém como língua morta! Para fugir à imposição das obrigações escolares, qualquer aluno guarda bem, na sua memória, estas tradições! A 1.ª não se dá, sendo da responsabilidade do professor esse encargo; da última encarregam-se os alunos, que estão sempre prontos para a gazeta. Ou... não fossem eles alunos! Todos já por lá passaram, não constituindo a teacher uma excepção! Vai daí, há que fazer recurso de todo o seu know how, de toda a sua experiência, de toda a sua versatilidade de pedagoga. Assim fez! Foi aos arquivos da sua memória e anteviu a possibilidade de atingir algum objectivo pedagógico! Os professores são uns interesseiros, claro que são! Estão sempre a tentar levar a água ao seu moinho! E... às vezes, este está tão distante! Pois bem, a teacher almejou, nas suas actividades de última aula, conseguir, ‘inda assim, construir/reforçar/instaurar a autodisciplina, nos alunos. Deste modo, preparou-os para o que se ia seguir, mas… havia uma condição! Tinham que fazer silêncio total! Se alguém, que esteja fora da esfera docente, nunca o experimentou, eu lanço daqui um desafio: que venha a uma Escola, assistir a uma aula de gente miúda e verifique quantos segundos uma turma de 20 alunos consegue estar sem qualquer ruído! Que proeza a teacher lhes estava a pedir! Ficarem em silêncio! Crianças de 10 anos, com toda a vitalidade e pujança de “coisinhas” que mexem? Brinquedos de corda a que não falta energia? Que têm o bicho-carpinteiro, mesmo que o material didáctico seja essencialmente de papel e plástico! Uf! É uma tarefa de titãs! Ora, foi neste contexto de gente hiperactiva, que a teacher pediu silêncio, para dramatizar um pequeno sketch. Foi criando a expectativa acerca do que ia contar, inspirando, até, um sentimento de ansiedade e algum temor, nos alunos mais sensíveis!!! A teacher sabia o que fazia! P’ra que somara anos de experiência a lidar com o que há de mais belo, complicado, problemático, à face deste Planeta Azul, que é o ser humano! A teacher gostava de desafios e estava a enfrentar um, naquele momento. Queria ver até onde ia a capacidade de se autocontrolarem, aquelas cabecinhas irrequietas, irreverentes! Pediu silêncio… e para criar o cenário/ambiente adequado ao teor do “drama”, sugeriu até que se fechassem as persianas! Todos colaboraram a criar o escuro e daí... até se criarem as condições exigidas para a declamação da actriz… foi um dia de juízo! Havia sempre alguém que, a propósito disto ou daquilo, emitia algum som, o que deitava por terra todo o esforço até aí conseguido! Queria treinar os seus alunos a saberem intervir, apenas quando solicitados, ou quando se justificasse, em absoluto, a sua interpelação. Estavam finalmente criadas as condições para a actuação! A teacher recortara, até, em papel branco, uma knife, como material necessário para a dramatização. Quando tudo já estava a postos para ‘levantar o pano’, com a sala toda às escuras, vem sorrateiramente a Bia, aquela menina que oferecera o Brad Pitt (!?) à professora, murmurar, assustada, ao seu ouvido: - Eu tenho medo do escuro! Aí, chegando ao de leve a sua cara à pele de pêssego da menina, tranquiliza a teacher: - É só uma brincadeira, Bia! Afinal, o dramático, o terrível, o fantasmagórico daquela cena, resumia-se a “Uma velha, com um enorme facalhão, que, à meia-noite, em que faltara a electricidade!?, punha manteiga... no pão!”. Mª Donzília Almeida 18.12.08