sexta-feira, 25 de abril de 2008

O 25 DE ABRIL E O FUTURO


Passados 34 anos sobre o 25 de Abril de 1974, altura em que foi derrubado o regime que vigorou em Portugal durante quarenta e oito anos, muitas são as opiniões divergentes, que ainda hoje se fazem sentir. É natural e salutar que assim seja.
Para uns, tratou-se do corolário de uma luta, de décadas, que culminou na “revolução dos cravos”, acabando com o regime fascista, corrupto, ditatorial e sangrento que governava Portugal.
Para outros, foi o fim do sonho do grande império colonial, que começava no Minho e acabava em Timor, sendo um dos baluartes dos valores cristãos e da luta anticomunista que o mundo ocidental travava contra os chamados “países da cortina de ferro”.
Para alguns, o 25 de Abril, foi uma oportunidade de assumirem a personagem de “vira-casaca” adaptando-se às novas circunstâncias criadas e tirando delas os máximos benefícios, em proveito próprio.
Um outro grupo de portugueses – bem minoritário – para quem o 25 de Abril de 1974 representava uma ruptura com um passado bolorento e caduco, via a grande oportunidade de iniciarem reformas de fundo, em nome dos princípios então em voga: liberdade, igualdade e fraternidade, através de uma democracia de qualidade.
Os exemplos poderiam continuar, mas estes bastam para dizer que cada português teve, ou não, o seu 25 de Abril, através da forma como o viveu e como este lhe modificou, para melhor ou pior, o seu modo de viver e de pensar, a sua qualidade de vida e as expectativas que lhe foi gerando relativamente ao seu futuro pessoal e colectivo.
O Primeiro-ministro sueco, Olaf Palme (1927-1986) disse, relativamente ao 25 de Abril de 1974, que “Fazer uma revolução era fácil; difícil é fazer reformas”.
Dito de outro modo: falar é fácil, pelo menos a partir de Abril de 1974 passou a sê-lo; o difícil é, como noutras ocasiões, encontrar quem tenha competência e vontade de trabalhar, em nome do bem comum.
Mesmo descontando a tendência que o português tem para um pessimismo doentio e miserabilista, será que se fez tudo o que era possível para sermos um povo com mais esperança no presente e com mais confiança no futuro?
Deveríamos e poderíamos ter ido muito mais além, na criação de melhores condições de vida para os portugueses e se tal não aconteceu foi pela fraca prestação daqueles que se têm ocupado da gestão dos bens públicos – sobretudo os partidos políticos, e mais concretamente os que têm ocupado funções de poder.
Não menos importante, é o fraco grau de cidadania assumida pelos portugueses e a sua falta de exigência, justa e legítima, perante quem os deve ajudar, servindo-os. Costuma-se dizer que “quem cala consente” e o conformismo e o silêncio são os piores inimigos para o desenvolvimento de uma sociedade.
António Barreto, concorde-se ou não com a pessoa ou com o seu percurso político-partidário, escreveu no jornal “Público”, de 27 de Janeiro de 2008: “Este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade.”
Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos cidadãos.
Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.

Vítor Amorim

A CIDADE ENCHEU-SE DE ALEGRIA


A afirmação é de Lucas, o médico. Expressa o ambiente social criado pela actuação de Filipe, o fugitivo de Jerusalém, após a morte de Estêvão. Relaciona a verdadeira alegria com Jesus Cristo. Atesta a simpatia e a atenção que as multidões lhe dispensam. Testemunha a transformação operada na cidade liberta de males ameaçadores.
O anúncio de Jesus é feito por palavras acompanhadas de gestos concretos. A união de ambos torna credível a mensagem. O povo da Samaria, apesar de praticar uma religião híbrida, adere cheio de entusiasmo. O facto torna-se notícia e chega a Jerusalém. Os Apóstolos vêem-se perante uma situação nova e enviam Pedro e João para verificarem o sucedido. Reunida a assembleia, oram e confirmam o trabalho feito por Filipe, impondo as mãos aos que haviam sido baptizados. E o Espírito Santo revela-se presente com os seus dons e dando os seus frutos.
Aceitar Jesus é viver este dinamismo de transformação, nascido no coração e configurado nos comportamentos sociais; é reconhecer na cidade a presença de forças opressoras que devem ser banidas porque indignas da condição humana; é apreciar a verdade, fonte da autêntica liberdade e nutriente da genuína responsabilidade; é abrir horizontes à realização humana que tem em Jesus Cristo a sua medida plena e o seu modelo perfeito; é assumir a dimensão pública da fé e da ética, sem preconceitos redutores nem tentativas avassaladoras.
Aceitar Jesus é acolher o Seu Espírito Santo e deixar-se moldar por ele. A acção do Espírito em nós é suave e não abrupta, assertiva e não negativa ou proibitiva, propositiva e não impositiva, performativa e não estática e esterilizada.
O Espírito de Jesus guia-nos para a verdade do ser e do agir humanos, para a lucidez crítica dos factos e dos comportamentos, para a compreensão inteligente das situações e dos rumos do futuro que o presente vai desenhando, para a aceitação responsável e histórica da nossa atitude.
Realmente, agora é a nossa vez. Amanhã será de outros. É no hoje de cada dia que imprimo a minha marca e deixo o meu selo na edificação de um mundo melhor para todos e na transformação das condições de vida de cada um de modo que “a cidade se encha de alegria”.
Senhor Jesus, o Teu Espírito faz-nos donos de nós mesmos e responsáveis pela nossa vida; atesta a nossa dignidade humana e dá-nos maturidade para pensar e decidir; credencia a nossa liberdade quando procura a verdade e revigora a nossa esperança alicerçada nos valores humanos por Ti vividos de forma exemplar e definitiva.

Georgino Rocha

quinta-feira, 24 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 6




(Clicar nas fotos para ampliar)

O Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro continua a ser lembrado na exposição que está patente ao público na antiga Capitania. Se ainda lá não foi, aproveite esta boa oportuniada. Eu fui ver a exposição mais uma vez. Tive pena de não encontrar por ali muita gente. E o mais curioso é que a mostra está num lugar central da cidade. Depois queixamo-nos de que entre nós não há acções culturais de relevo.

FORTE DA BARRA NA AGENDA POLÍTICA


Tenho-me dado conta de que o Forte da Barra começa a estar na agenda dos partidos políticos. Isso mesmo se verificou no programa "Discurso Directo" da Rádio Terra Nova. Já não era sem tempo. Penso que o património histórico que nos foi legado pelos nossos antepassados deve estar, permanentemente, tanto na agenda dos partidos políticos como nas preocupações de todos nós. Por isso, congratulo-me com o interesse manifestado, deixando aqui, ainda, uma palavra de estímulo a todos, para que o Forte da Barra não caia no esquecimento.
FM

Modernidade, casamento, família e divórcio


Li, com cuidado, a longa “Exposição de motivos”, dezasseis folhas, nada menos, com que o PS apresenta e justifica o seu Projecto de Lei, no qual propõe Alterações ao Regime Jurídico do Divórcio e que, a meu ver, vai acelerar a destruição da família. Aqui se verifica que a modernidade com seus postulados é para os legisladores da maioria, e neste ponto com outros colegas a ler pela mesma cartilha, o novo dogma e o ponto de partida indiscutível para leis e orientações superiores. Na modernidade estão implícitos os apregoados “valores republicanos”, como é evidente.
Deste modo, o que, por sua natureza, tem carácter de responsável e permanente dá de mão beijada lugar ao transitório e ao efémero, sem história nem futuro, ainda que culturalmente disseminado e acolhido por muita gente. Trata-se de um legado, pobre e discutível, que se transmite para o futuro de um país que, em alguns aspectos essenciais, já vagueia sem rumo, nem sentido. O destino de um povo não pode estar dependente de correntes culturais, nem de decisões apressadas e sem horizontes largos.
Nada mais efémero que o tempo e nenhuma corrente cultural que nele se vai gerando tem força para ser a última palavra pronunciada no mundo da cultura ou o último elo de uma cadeia importante e feliz para que o tempo a respeite.
Quem vive e decide pelo que ouve e copia dos outros, sem critérios nem discernimento, quem corre atrás das emoções, desligando estas da inteligência emocional e social que abre caminhos novos à realização pessoal e interpessoal, quem desliga a vida do que sem ela fica sem consistência nem futuro, quem acha que só os afectos são determinantes para que a família perdure, agarra-se ao chavão da modernidade, cujo sentido se captou, talvez muito superficialmente.
A modernidade, como corrente cultural, trouxe aquisições de aproveitar sem as desvirtuar, nem as desligar de outros valores humanos não negociáveis, sejam eles inatos ou adquiridos. A personalização, a participação democrática, a igualdade radical, a liberdade interior, por exemplo, são valores não inventados agora, mas que a modernidade sublinhou e que não se podem ignorar ou menosprezar. Porém, considerados sem ligação a outros, inseparáveis da sua compreensão, levam normalmente a individualismos empobrecedores, a quistos sociais de interesses, partidários ou de grupos ideológicos fechados, à aniquilação dos mais fracos para os quais liberdade, igualdade e respeito não são mais que palavras, que não dizem o mesmo para todos. Entrando neste caminho, fala-se de realização pessoal, direito a ser feliz, vida à base de afectos, rotura e desprezo necessário por instituições que exigem responsabilidades e geram compromissos. Neste contexto, pretende-se dar resposta fácil a casos pontuais de dificuldade ou rotura familiar, com pouco lugar para a justiça, respeito e cuidado em atender aos direitos e exigências dos intervenientes, senão com receitas legais, discutíveis e, por vezes, mesmo contraditórias.O verdadeiro humanismo é sempre integral e solidário, e as leis, por sua natureza, não são orientadas para o bem individual, mas sim para o bem comum.
A Igreja não denuncia a facilitação do divórcio por causa dos matrimónios canónicos, como se pretende agora, mas sim pela defesa e dignidade de uma instituição que deve ser considerada e defendida pelo Estado como básica e responsável, como deve ser o casamento, seja ele religioso ou civil; por causa da família, nascida de um casamento a sério, pois ela é o mais indispensável espaço de humanização, partilha de vivências e de afectos consistentes, clima normal da transmissão de valores, reconhecimento da dignidade das pessoas e das relações interpessoais normais; por causa do divórcio convidativo e fácil, a grande chaga de uma sociedade sem rumo, nem princípios.
Quando se abandalha o casamento, subverte-se a família e já nada se pode esperar dela.
Há situações difíceis. Porém, se não acreditamos no valor do perdão, nas possibilidades do diálogo, na capacidade do reencontro, e se o horizonte legal é de canonizar rupturas, o difícil torna-se impossível. O divórcio será sempre solução de excepção.
Por fidelidade à pessoa e defesa da família, a Igreja nunca se calará.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A MEMÓRIA DE 1506


A MEMÓRIA DE 1506. Esta ideia de civilização era tão recente. Estavámos em 70. d.C. e a destruição de Jerusalém obrigou à dispersão dos judeus pelo mundo, ao exílio, diáspora, גלות. Até meados do século XV, a Península Ibérica foi um mundo possível para os judeus sefarditas. Em Portugal, obtiveram relativa liberdade religiosa e destacaram-se na vida pública até que veio um doloroso baixar de pano. As perseguições começaram em Espanha: em 1355, 12 mil judeus morreram em Toledo; em 1391, foram 50 mil em Palma de Maiorca. A Inquisição iniciou operações e o terror alastrou em larga escala, veio o édito de expulsão e milhares de judeus procuraram refúgio em Portugal. Triste rumo.
Leia mais aqui e aqui

O marnoto de Santiago


Morreu o senhor Manuel. Com os pés desfeitos e o coração aos pedaços. Vivera os últimos tempos de pobre envergonhado, que só estendia a mão a quem o conhecia. Triste e injustiçado protagonista de uma história que merecia outro fim.
Falei aqui dele. Uma generosa voluntária, obreira de amor e de caridade que percorre ruas e casas do Bairro, deu-me a notícia da sua partida sem regresso.
Sabia que já não o encontraria, mas fui ao Bairro. Falei com vizinhos e amigos, ali junto ao café onde nos encontrávamos e conversámos.
Porque persiste, como chaga cruenta, a pobreza imerecida? Porque vale tão pouco o trabalho honesto dos humildes, que morrem tristes e desiludidos com uma sociedade ingrata, onde a uns sobra e a outros falta, onde uns contam milhões e outros nem sequer tostões? Porquê?
Porque se empenham tanto legisladores e governantes em leis e decisões que se consolam o individualismo de uns, destroem a vida e a esperança de outros? Porque não se preocupam os donos do poder, com os pobres que se descontaram para a sua reforma pouco do seu pouco, descontaram, porém, uma vida toda de trabalho, sem férias nem feriados, para que o país progredisse? Porquê?
O senhor Manuel é um grito doloroso que me acompanha e que não vou deixar de fazer ecoar. Porque, se ele já morreu, continua vivo em muitos que por aí andam, envergonhados de viver, esquecidos por quem os devia conhecer e deles cuidar com amor e gratidão.

António Marcelino

Na Linha Da Utopia


XVIII FITUA: privilégio para Aveiro
1. A tradição está criada, a qualidade sempre garantida. As gentes da cidade acolhem o XVIII FITUA – Festival Internacional de Tunas da Universidade de Aveiro. Como todos os anos, é em beleza que se iniciam as festas académicas. Da organização cuidadosa da TUA - Tuna Universitária de Aveiro (http://www.tua.com.pt/), núcleo cultural da Associação Académica da Universidade de Aveiro, o FITUA dá o verdadeiro espírito da confraternização festiva da cidade com a universidade, dos estudantes com a sociedade em geral. Faz-nos bem, a uma comunidade construtiva chamada a ser participativa, apreciar este esforço que traz a Aveiro tunas de estudantes de outras paragens: este ano o FITUA, além da habitual presença colaboradora dos da casa e de Portugal, no espírito animado intercultural que caracteriza as juventudes, Aveiro acolherá tunas de Espanha e Peru.
2. A estimulante história é longa, no mar alto, já é o XVIII FITUA. Nas sociedades do futuro, na historiografia a ser realizada sobre os dinamismos criados que construíram sentidos de festa e de comunidade, as tunas representam uma riqueza cultural e patrimonial académica de excelência. E em Aveiro o FITUA constará nessa história como o esforço e a ousadia de estabelecer pontes criativas e envolventes com a comunidade em geral. O tempo actual aproxima todas as distâncias antigas. A internacionalização da vida universitária foi transferida também para a cultura académica que as tunas representam. Dizer que já é o XVIII Festival Internacional representa que de forma precursora se assumiu um desígnio universalista que está inscrito na juventude, esta que estuda nas universidades por esse mundo fora.
3. O Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, nos dias 25 e 26 de Abril, acolhe este acontecimento que é um privilégio para Aveiro. O FITUA faz parte do mapa da cultura local e regional. As tunas, que colaboram generosamente em tantas iniciativas de solidariedade ao serviço de um mundo melhor, são, em si mesmas, esse sentido de comunidade universitária aberta e plural, onde a música e a animação querem colorir de sentido e esperança contagiante a própria vida diária. Como sempre, cada ano é único. Apreciar e reconhecer o mérito é, também, edificar comunidade viva e participativa. Os que foram semeando, organizando e apoiando este acontecimento (diríamos) insubstituível, o que faz dele «o terceiro festival mais antigo do país e um dos mais prestigiados da Península Ibérica» (www.ua.pt/uaonline), sentem a alegria de um momento marcante da vida universitária e da sociedade aveirense.
4. É importante, no tempo actual (por vezes, por um lado tão indiferente, por outro observador e comentador mas pouco “construtor”), reconhecer-se e transferir-se para a comunidade das juventudes esta energia positiva do mérito de tamanho projecto… que percorre os anos a transmitir a estimulante criatividade da festa, cheia de cultura e de vida universitárias! É isso mesmo!..

Alexandre Cruz

PORTUGUÊS DE OUTROS TEMPOS


"Cartas Familiares e Bilhetes de Paris", de Eça de Queiroz, edição de 1922

Diccionário de Portuguez, edição de 1874

"Segredos Necessarios", edição de 1861



Para os críticos do Acordo Ortográfico, aqui ficam três pequenas amostras do Português de outros tempos.

DIA MUNDIAL DO LIVRO E DO DIREITO DE AUTOR



O "Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor" é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril, dia de São Jorge.
Esta data foi escolhida para honrar a velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas UMA ROSA VERMELHA DE SÃO JORGE (Saint Jordi) e recebem em troca, UM LIVRO.
Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de grandes escritores, como Shakespeare e Cervantes, falecidos em 1616, exactamente a 23 de Abril.
Partilhar livros e flores, nesta primavera, é prolongar uma longa cadeia de alegria e cultura, de saber e paixão.

Não ficaria de bem com a minha consciência se neste dia, à semelhança do que tenho escrito neste meu espaço, não abordasse a importância dos livros e das leituras. Faço-o, então, na convicção de que ainda há muita gente que menospreza a riqueza que nos vem dos livros e da certeza que alimento, no sentido de educarmos os mais novos para as leituras.
Um dia destes falei aqui da carrada de papéis que acompanha os jornais, muitos deles de mera publicidade e que me obrigam a atirá-los para o cesto do lixo, sem sequer para eles olhar, muitas vezes. Hoje, contudo, não falo das leituras desse lixo que nos invade a casa, mas da leitura de boas obras, de grandes escritores, que nos oferecem, com as suas sensibilidades, novos ares e novos mundos, alimentando sonhos que nos fazem amar a vida.
Ainda a propósito das leituras, recebi também um e.mail de alguém que partilhou comigo uma boa vivência. Disse essa pessoa: “experimente fechar a televisão durante um dia, para ler um bom livro. No fim, verificará que dessa experiência saiu muito enriquecido.” Pois é meu caro leitor e amigo. Já fiz isso várias vezes. E é como diz.

FM

NOVOS TEMPOS


Nos meus tempos de menino e moço, na Gafanha da Nazaré, só havia a Igreja Católica. Tempos depois, um gafanhão, Manuel Vilarinho, alfaiate de profissão e pessoa de leituras, aderiu, sem eu saber porquê, ao protestantismo, arrastando, consigo, boa parte da família e muitos amigos. Ainda hoje essa Igreja existe na Gafanha da Nazaré, com membros que vêm do trabalho de Manuel Vilarinho, de quem fui amigo, enquanto ele foi vivo, e que hoje recordo com saudade.
Lembro, agora, a “guerra” que houve na Gafanha da Nazaré com a comunidade protestante nascente… E senti bem como os protestantes dominavam os católicos, que de Bíblia pouco sabiam. Mas foi complicado o relacionamento. Houve ofensas, ataques pessoais e boicotes ao estabelecimento comercial do meu amigo Manuel Vilarinho. Depois, com o tempo, tudo se esqueceu. Ainda bem.
Falo disto hoje por causa da Páscoa Ortodoxa que anuncio no meu blogue. Com a imigração, novas gentes assentaram arraiais em Portugal, um pouco por toda a parte. E com elas, outras religiões se estabeleceram entre nós. Desta feita, sem “guerras”. E até tem havido cooperação entre algumas, não deixando a Igreja Católica de ajudar na integração. Novos tempos. Felizmente.

FM

PÁSCOA ORTODOXA


Celebra-se na próxima noite de sábado, dia 26 de Abril, a Ressurreição de Cristo, ou Páscoa Ortodoxa, entre os que seguem o velho calendário juliano.
Em Aveiro, a liturgia terá lugar às 22.30h na igreja da paróquia ortodoxa de S Nicolau, situada na Estrada de S Bernardo, nº 267.
A partir das 21,30 o pároco estará disponível para a confissão, seguindo-se a Celebração da Luz às 22.30h no espaço fora do templo, após o que se continuará com a Divina Liturgia e Àgapes no final.

PONTES DE ENCONTRO


O poder da palavra

O ser humano é o único ser vivo da Terra que utiliza a palavra como meio de comunicação intrapessoal (consigo mesmo) e interpessoal (com o outro). A palavra é um símbolo que expressa uma ideia e está intrinsecamente relacionada com a nossa mente. A mente, por sua vez, está relacionada, directamente, com os nossos sentimentos, as nossas emoções, os nossos impulsos, o nosso corpo, as nossas atitudes e as nossas acções. A palavra, escrita ou falada, por cada um de nós, pode ter uma grande influência na maneira como vivemos, pois é através dela que a maioria das pessoas comunica com o mundo externo (os outros) e o interno (nós próprios).
Ainda, não há muito, a sociedade, em geral, valorizava a palavra, naquilo que ela de melhor pode e deve representar. Expressões do género: "Dou-lhe a minha palavra de honra!", "A sua palavra basta-me.", e tantas outras, valiam mais que qualquer documento assinado e atestado oficialmente.
A palavra fundia-se com a própria pessoa e o seu carácter, através das acções, dos actos e testemunhos que realizava na sua vida diária. A sua vida e a sua palavra falavam por si!
Daí a palavra estar, directamente, relacionada com a capacidade do sentir e do fazer de cada pessoa, ou seja, com a maneira como cada um assume os seus comportamentos e atitudes pessoais, perante si e perante os outros. A palavra realiza-nos!
A palavra, deste modo, é um elo que nos une e congrega, enquanto seres de relação interpessoal, mas, também, pode tornar-se, não raras vezes, motivo de desunião, intrigas e conflitos, interpessoais e de grupo, quando dita irreflectidamente ou quando não corresponde à verdade dos factos. Neste último caso, a palavra pode destruir uma vida, uma pessoa, um projecto ou as legítimas expectativas de quem as tem.
As pessoas que optam por dar à palavra um sentido negativo, desejam atingir, pelo menos, um seu semelhante ou acabar com uma situação, que não são incapazes de aceitar, mesmo que participem nela, por falta de alternativas de momento. Raras vezes, o fazem de forma inconsciente, por ignorância ou descuido, ou seja, em regra, elas sabem o que estão a fazer e porque o fazem. São calculistas e objectivas!
Pessoas destas, dificilmente se podem sentir realizadas ou capazes de fazer algo de bom na sua vida, de forma séria e desinteressada, devido à sua permanente inconstância entre o que pensam, o que fazem e o sentido que dão à palavra que usam.
Estas pessoas, desequilibradas e doentes, materializam, no sentido negativo que dão à palavra, os desejos que não conseguiriam obter de outro modo. Sentem-se com poder e tudo fazem para o manter, usando a simpatia (fingida) e a manipulação como máscara para enganar os mais incautos e manter os seus (falsos) privilégios.
Em regra, são vaidosas e gostam do protagonismo (ainda que não o assumam). Estão sempre a julgar os outros, través da maledicência, de difamação, de ódio, ciúme, mesquinhez e calúnia.
Mesmo assim, algumas destas pessoas conseguem atingir a sua realização pessoal, interna e externa, na base do infortúnio dos outros, durante muito tempo, mas, logo que detectado este estado patológico, deve ser tratado, clinicamente, para que os seus comportamentos se tornem estáveis, coerentes e construtivos.
Por isso, quando alguém se dá conta deste sentido destrutivo com que se usa a palavra, tem a obrigação de alertar os seus mais próximos para esta realidade e de buscarem soluções, já que se está a lidar com pessoas fracas de espírito e de carácter, com uma incongruência mental e um desalinhamento entre os seus sentimentos e as suas acções.
Na maior parte dos casos, quem mais pode ajudar afasta-se, até porque, por vezes vezes, são as próprias vítimas destes tipo de comportamentos.
Quando assim é, estes doentes tendem a ir destruindo o que ainda existe de bom; a mediocridade e a imprudência vão-se instalando; enquanto o fingimento, o cinismo e a hipocrisia, vão substituindo o próprio poder e o carácter da palavra construtiva.
Vítor Amorim

terça-feira, 22 de abril de 2008

Manuela Ferreira Leite candidata a líder do PSD


Está confirmada a candidatura de Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD. É, pelo que se ouve e sabe, a candidatura mais consensual para arrumar a casa do maior partido da oposição. No entanto, os críticos de tudo e mais alguma coisa já avançaram com a ideia de que Manuela Ferreira Leite é passado e que Pedro Passos Coelho é que será o futuro do PSD.
A partir de agora não hão-de faltar os especialistas em vasculhar o passado para porem a descoberto as eventuais decisões menos felizes da antiga ministra das Finanças e da Educação. Tão certo como três mais dois serem cinco. Para esses especialistas, o que importa é criar, a todo o custo, a desestabilização, por mais sérios e competentes que sejam os políticos.

FM

MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO

Minituras de barcos
Modelo de vela
Agulha de marear
Moinho de café
(Clicar nas fotos para ampliar)

Colecção do Capitão António Marques da Silva

A cultura marítima alimenta-se do fascínio pelo mar, de pequenas sensibilidades e grandes rigores.
O fabrico artesanal de miniaturas de embarcações governadas ou conhecidas pelos seus próprios modelistas corresponde à necessidade afectuosa (ou mesmo nostálgica) de lembrar o mar, de evocar os navios e exprimir socialmente o saber exigido pela navegação.
(...)
O Capitão Marques da Silva reúne todas estas características e invulgares qualidades. As peças de sua autoria que agora confiou ao Museu Marítimo de Ílhavo exprimem talentos diversos que acrescentam ao seu curriculum de mar as facetas de modelista exímio e de pesquisador metódico, sempre preocupado com o alcance pedagógico dos seus modelos, desenhos e estudos de carácter monográfico sobre “embarcações tradicionais”.

Álvaro Garrido
Director do Museu Marítimo de Ílhavo
:
NOTA: Somente hoje tive possibilidades de passar pelo Museu Marítimo de Ílhavo, para apreciar a colecção do Capitão Marques da Silva. Os meus parabéns pelos trabalhos expostos.
FM

Na Linha Da Utopia


A essência da Educação: para todos

1. Embora esta afirmação pareça uma evidência muito prática, a verdade é que são já alguns milhares de anos de caminho percorrido nesta descoberta e o horizonte da «educação para todos» e para cada um apresenta-se ainda como tarefa ideal a realizar. Inesgotável por essência, ou não estivessem a riqueza e a pluralidade de expressões humanas inscritas no ser ilimitado, todavia, algumas balizas referenciais já, hoje, são assumidas de forma geral na educação. Mas na medida em que quer o contacto dos povos com a sua diversidade sociocultural, quer a própria multiplicidade cada vez mais emergente de tecnologias, tudo lança desafios (desinstaladores quanto estimulantes) às concepções de educação, na fronteira do discernimento entre o essencial que deve permanecer e o acessório a mudar.
2. Proclamado pela Conferência Geral da UNESCO (1995), 23 de Abril é o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, na promoção de uma maior consciencialização, mesmo em tempos de Internet, da importância do livro na vida e no desenvolvimento das sociedades. Também este ano 2008, sendo Ano Europeu para o Diálogo Intercultural é o Ano Internacional das Línguas. As línguas como cultura, espelho de identidades e comunidades, superabundam. São sete mil línguas que existem no mundo. Quanta riqueza! Mas segundo estudos recentes 50% delas, nos novos contextos de globalização de tendência “uniformizante”, correm o perigo de desaparecer. É bom o sentimento de uma língua que seja veículo de comunicação entre todos, mas essa uniformidade faz correr o perigo de um igualitarismo que empobrece a riqueza das expressões humanas nas culturas. Talvez o maior desafio contemporâneo seja o compreender-se, e o agir mesmo politicamente em conformidade, a promoção inclusiva de todas as diversidades de língua e cultura.
3. Este dia 23 de Abril, este ano de forma especial, merece todos os destaques. A globalização comunicacional vai-nos tornando em sintonia on-line. Se as tragédias humanas têm imensa visibilidade, que tenha bem mais o que pode resgatar o mundo. Nesta tarefa importa captar e potenciar tudo o que seja uma educação em consciência universalista como caminho de tolerância, justiça, paz. Uma aula do tamanho do mundo percorrerá o tempo deste dia: às 15h o mundo está a pensar na mesma realidade: O TESOURO DA EDUCAÇÃO É MESMO O SEGREDO PARA UM MUNDO MELHOR! O caminho foi e continua muito longo. Quanto mais tomamos consciência da grandeza da diversidade do mundo mais pequenos nos sentimos. Até na realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (2000-2015) que procuram alcançar a educação primária universal. Tão longe, ainda! Mas já mais perto nesta consciencialização a viver.
4. Deste dia simbólico, para todos os dias, na base da dignidade da pessoa humana, redobra-se o compromisso feito expectativa a construir como realidade diária, da educação plural e dignificante como desígnio para todos os povos da terra. Interessa só a alguns? Não, a educação é tarefa de todos e de cada um. Vale mais que todo o petróleo do mundo!

Alexandre Cruz

DIA MUNDIAL DA TERRA

Salmo 65




Por onde passas, brota a alegria (v.12b)


Tudo canta e grita de alegria!

Obrigado por este sol
que ilumina os caminhos da tua criação.

Obrigado por este oceano,
reflexo do teu mar infinito.

Obrigado por este deserto,
onde o silêncio e as estrelas,
nos aproximam melhor de Ti.

Obrigado por este mundo:
ele conduz a alma das pessoas.

Obrigado por este pão,
porque nem só da tua palavra vive o homem.

Obrigado por estes montes,
vestidos de rebanhos e de festa
por estas sementes e estes sons
que chegam dos campos, da lua e dos espaços,
pelos rios de cibernética.
São eles a caligrafia
dos nossos pastores, cientistas e poetas.

Tudo canta e grita de alegria!


Frei Manuel Rito Dias

In Revista Bíblica, de Maio-Junho de 2008

DIA MUNDIAL DA TERRA


A consciência ecológica foi uma das maiores conquistas da humanidade. E se foi Francisco de Assis, porventura, o precursor do amor ao planeta terra, com todos as suas componentes, não há dúvida de que foi o século XX, a meu ver, o século que tomou plena consciência do respeito que todos devemos à natureza. Natureza que herdámos dos nossos antepassados e que temos de legar aos vindouros, ainda mais enriquecida do que a recebemos.
É com esse objectivo que se celebra hoje o DIA MUNDIAL DA TERRA. E se é verdade que no mundo não faltará quem lhe dedique grandes projectos e acções convincentes, também é certo que todos poderemos, no dia-a-dia, fazer algo, por mais simples que seja, que contribua para o culto e preservação da natureza. O jardim natureza precisa de ser cuidado com o nosso amor e regado com o nosso suor. Fundamentalmente, para que continue viçoso e asseado, proporcionando-nos horas de paz e de prazer espiritual de que tanto precisamos.

FM

NÃO HÁ SEGUNDA SEM PREGUIÇA

É claro que não li estas revistas

Quando era miúdo aprendi um ditado que dizia o segunte: "Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça." Não sei se isto bate certo semana após semana, mas é natural que sim. Nestes dias, de frio e chuva, penso que o ditado se pôde aplicar em pleno. Houve um sol tímido no sábado, missa ao domingo e na segunda lá veio a preguiça. Pelo menos no que me diz respeito. É certo que a preguiça foi reflexo do muito que tive de ler e de escrever ao fim-de-semana. Sacos e mais sacos de jornais, com leituras para todos os gostos. Até à exaustão. É verdade que muita coisa que os jornais e revistas trouxeram, como habitualmente trazem, foi direitinho para o caixote do lixo. Deve acontecer o mesmo em muitas casas. E já pensaram, os meus amigos, no prejuízo ecológico que isto representa, tudo em nome da publicidade, a tal técnica que tem por princípio fundamental levar-nos ao consumo e a comprarmos o que por vezes nem precisamos? Pois é. Daí o cansaço que se apoderou de mim, levando-me ontem a descansar. Mas hoje, terça, já cá estou com vontade de continuar no mundo, para sentir o palpitar do tempo, as melodias das artes que me envolvem, as poesias que tantos cantam para que a vida seja mais bela. Boa semana.
FM

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia

A Terra é única

1. Quando Neil Armstrong chegou à lua, a 20 de Julho de 1969, e deu um pequeno passo para um homem mas um grande passo para a Humanidade, inaugurava a era espacial com o ser humano presencial. Dessa aventura, devidamente preparada pela missão Apollo 11, em que as imagens a preto e branco na altura percorreram o mundo, uma grande admiração foi o olhar para a Terra à distância, a partir da lua. O terceiro planeta do sistema solar, visto do nosso único satélite natural (a lua), mostrava-nos um lindo planeta azul! Os anos foram passando, a nova era industrial do séc. XX, agora química e tecnológica, trouxe consigo uma cor diferente, o cinzento; as ameaças dos buracos do ozono, como as comprovadas e inquestionáveis alterações climáticas, lançam hoje o alerta SOS Terra; alguns são intransigentes nessa defesa, outros indiferentes a poluir. Mas uma nova «eco consciência», como dever ético, vai-se multiplicando pelas agendas, já políticas (embora ainda pouco), pelo mundo fora.
2. Corria o ano de 1970, ano seguinte ao homem na lua. O senador norte-americano Gaylord Nelson, preocupado com todas estas questões emergentes, promove o primeiro protesto nacional contra a poluição. Desse ano em diante, e a partir de 1990 para outros países do mundo, a data de 22 de Abril passa a ser assinalada como o Dia Mundial da Terra. Comemoração que, como todas, tem o valor que lhes queiramos dar como esforço de ideias e práticas para todos os dias do ano. Inquestionável é que o ser humano tem abusado, explorado desmedidamente, estragado muitos dos ambientes naturais; verdade é também que a vida vive-se à descoberta, e muitas vezes é à posteriori que se detectam os graves erros cometidos no passado. Mas, se a aprendizagem é um dever, então o aprender da história, hoje, assume-se como uma redobrada obrigação protectora, mesmo que colida com os mil interesses político-económicos. Estamos longe deste ideal que, todavia, hoje já faz parte das preocupações.
3. A desordenança ambiental da Terra continua alarmante. Os mais ricos ou a caminho dessa riqueza, e por isso infelizmente os que têm mais poder político, são os mais poluidores do planeta. E vivem uma grave despreocupação efectiva: veja-se hoje os EUA e a China. Segundo estudiosos, a terra terá cerca de 4,5 biliões de anos. Muita idade mas que, por forças incríveis que nos ultrapassam, está sempre nova. Basta sentir a primavera de cada ano, onde a mãe natureza obedece ao grande Arquitecto Criador renovando-se em beleza admirável. A Terra está de parabéns todos os dias e é todos os dias que ela quer pertencer à nossa agenda (Agenda 21) cuidadosa. Cada coisa tem o seu lugar, e as causas do ser humano estão sempre em primeiro de tudo. Mas Francisco de Assis (1181-1226) tinha razão: até como sensibilização e educação ambiental temos de aperfeiçoar a relação de proximidade fraterna para com todas as expressões de vida. Ou não fossem elas obra do mesmo “milagre” da vida na «irmã» natureza.
4. Ou terão as agendas globais e pessoais de sofrer as tempestades reclamadoras do ambiente para transformar os comportamentos exploradores em PAZ com a natureza?! Todo o tempo é precioso porque é VIDA! O legado ambiental aos vindouros nestas últimas décadas tem comprometido gravemente o futuro. Não é um filme inconveniente, é a inadiável (e custosa) revolução das práticas socioambientais.