domingo, 10 de fevereiro de 2008

IMPORTA DESCOBRIR AS SUGESTÕES DE DEUS


"Aprender a viver é aprender a morrer a tudo o que nos estraga sob o ponto de vista intelectual, afectivo e social. Os 40 dias da Quaresma são uma bênção. Um tempo de retiro destinado a aprender a resistir à tirania diabólica da publicidade que nos impõe modelos de vida e de organização económica, social, política, cultural, religiosa e irreligiosa, a nível local e global, pessoal e familiar. Um tempo para a descoberta do que é essencial, supérfluo e prejudicial. Um tempo para descobrir as sugestões de Deus, dentro e fora de nós"


Frei Bento Domingues,
in PÚBLICO de hoje

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 64


DO ENSINO NA GAFANHA

Caríssima/o:

E perguntava-se: «E na Gafanha como seria?»
Como resposta apreciemos esta série de retratos, todos eles carregados de cores muito intensas. Seu autor, o P. João Vieira Resende, aproveitou a «Monografia da Gafanha» para os revelar nas páginas 105 e 106.

«Foi bem acentuado e característico o seu estado de atraso. Quantas vezes para escalpelizar em alguém uma grosseria, uma incorrecção, ou um deslise, se empregava, ou emprega ainda [1944], a apóstrofe:”És um gafanhão!”, como se dissesse:”És um ignorante!”. A frase diz tudo!...

«Concorreu também a Gafanha com o seu pesado contingente para que Portugal, em face das estatísticas oficiais, tenha passado, com verdade, no conceito dos povos e nações civilizadas, como sendo uma das mais atrasadas [...com] legiões e autênticos povoados de analfabetos.

«A Gafanha, tão distanciada dos centros escolares e da instrução, a muitos quilómetros de Aveiro, Ílhavo e Vagos, sem meios de comunicação, reduzindo assim os seus habitantes à crítica situação de uma vida de primários, deveria com toda a justiça, ser olhada com mais atenção, carinho e amor. No entanto não foi assim. Só tarde, mesmo muito tarde, se pensou alguma coisa nesta triste situação.

«Quando outras povoações, com menos direitos, já eram beneficiadas com escolas e instrução, a Gafanha ficava sempre na retaguarda, entregue a um aturado esquecimento, a um criminoso enquistamento cerebral.

«Até 1880, toda a Gafanha, com um povoamento denso, não tinha uma única escola, e desta data até 1908 só funcionava a escola de 1880, que durante aquele período servia pessimamente, pela sua deslocação, toda a Gafanha ocidental, ou seja as actuais freguesias da Nazaré e da Encarnação e a Gafanha da Boa-Hora (Vagos), numa longitude marginal de cerca de cinco léguas. Era um horror! Já tarde, em 1908, criou-se a segunda escola na Boa-Hora, também afastada e menos necessitada, visto ficar no outro extremo sul da Gafanha, que era e é menos povoada.
«Em 1909 é criada finalmente a terceira escola da Gafanha, na Encarnação, que desta vez ficou mais central[...].

«Mas até esta data, que penúria, que miséria na instrução destes povos!
Foi uma eternidade de obscurantismo naqueles cérebros. [...]

«Erros da política do tempo, retemperada no caciquismo e no favoritismo, dos quais os povos eram sempre o bode expiatório.»

Como se está a ver, a situação não era nada famosa..
Mas continuaremos..

Manuel

Na Linha Da Utopia

A juventude da Parvónia

1. Mesmo após a polémica, tudo continua na mesma. E a certa altura já nem se sabe como reagir ao mau gosto que vai crescendo de forma desmedida. O assunto é a campanha, diga-se sem jeito nem inteligência, da “parvónia” chamada Media Markt. A conclusão da história publicitada, após um arranjo que leva ao ridículo um chefe militar e um escuteiro, é que quem é “parvo” é que não vai ao Media Markt. Enfim, para além da pobreza da qualidade do anúncio, já há muita gente a dizer precisamente o contrário…
2. O ditado diz que «quem não sente não é filho de boa gente». Sabemos como são as coisas. Entre o silêncio do não ligar ao assunto (esta a receita dos tempos indiferentes), ou a coragem de dar uma “pedrada no charco”, correndo o perigo das múltiplas interpretações, até de exagero, a Junta Central do CNE emitiu um comunicado, apelando ao bom senso ético. O parvo anúncio coloca o jovem escuteiro oriundo, imigrado (emigrante?), do país Parvónia no cenário mais ridículo…
3. Após o corajoso comunicado da Junta Central (sabendo que correria o perigo das análises habitualmente passivas de “estar a dar importância demasiada ao assunto”), CNE que neste país pela “escola de vida” do Escutismo procura realizar um ideal de trabalho sério com mais 70 mil jovens portugueses, a resposta do Media Markt (do seu country manager!), aliviando a coisa, não deixa de nos dar dois sinais: 1º, que a aparvalhada figura do escuteiro pretendia «representar a juventude» portuguesa; 2º, que só os escuteiros ficaram ofendidos, pois «nenhuma associação de militares nos contactou» (bom, o papel do militar não desce à figura do jovem).
4. O que vale é que os jovens já se estão pouco importando com o que deles dizem, senão!... Indiferentes, no “porreirismo” do deixa andar que vão copiando pelas referências sociais, já comem tudo… É de saudar a Junta Central do CNE, que fala em nome das instituições se viram, vêem ou verão, expostos a um ridículo anestesiador dos padrões de dignidade e qualidade de uma sociedade. Quem sabe esta (ex)posição do CNE tenha sido um contributo para os próximos anúncios que, para garantir a polémica que vende, colocariam figuras de estado nessa parvónia…(Talvez aí a coisa mudasse!) E depois queixamo-nos dos medos do futuro!

Alexandre Cruz

sábado, 9 de fevereiro de 2008

MANUEL ALEGRE: VOZ CRÍTICA DENTRO DO PS




Manuel Alegre, um histórico do PS, está descontente com a política protagonizada pelo seu partido. Hoje, num encontro com apoiantes ligados à sua candidatura a Presidente da República, à revelia e mesmo contra o candidato do seu partido, Mário Soares, denunciou a política actual. Presentemente, é um crítico contundente da política de Sócrates, mostrando esse descontentamento a todo o momento.
À saída do encontro, afirmou que, até hoje, ainda não compreendeu a política levada a cabo pelo Governo do PS. E acrescentou: “Não se pode fechar coisas sem criar alternativas, além de que fechar serviços públicos em zonas do país onde não existe mais nada é deixar as pessoas com menos do que nada e numa situação de abandono, de aflição, e com a sensação de que foram desprotegidas e abandonadas pelo Estado democrático.”
Depois deixou recados. Para o seu partido e para o País: É preciso refrescar a democracia; o povo português está triste; não há debate no PS; é necessário reformar o sistema; os partidos não se regeneram com facilidade por dentro; há um buraco negro no partido [PS], na democracia e no País. Claro que não é só o PS o culpado. O sistema [onde é que eu ouvi isto?] já vem de trás!
Será que os nossos políticos andam cegos? É que não vêem a realidade do povo português, que vive numa angústia terrível, alimentada pela incerteza do amanhã.

FM

Açores: Ilha do Faial

Vulcão dos Capelinhos

Vulcão dos Capelinhos: casa soterrada


Vulcão dos Capelinhos
Um espectáculo raro para quem chega. Imagens que se fixam, para sempre, na retina de quem as vê e as contempla. A força da natureza com toda a pujança de um vulcão sempre à espera de se mostrar.

FÁTIMA COM MAIS PEREGRINOS



FÁTIMA COM MAIS PEREGRINOS

Quatro milhões e 800 mil pessoas participaram no ano passado nas várias celebrações no Santuário de Fátima. Os números foram revelados esta Quinta-feira, mostrando um aumento de 600 mil pessoas em relação a 2006.
O aumento também se verificou nas peregrinações oficiais, um total de 3909, das quais 1344 portugueses e 2565 oriundas do estrangeiro.
O Santuário recebeu peregrinações de 74 países, verificando-se um grande crescimento nos peregrinos vindos de países de Leste. Outros países que apresentam maior crescimento em número de peregrinos são o Brasil e a Coreia do Sul. Itália, Polónia, EUA e Espanha continuam a ser os principais países de origem.
A inauguração da nova igreja da Santíssima Trindade, em Outubro do ano passado, foi um dos momentos altos de 2007, reunindo milhares de pessoas em volta do Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano e legado pontifício de Bento XVI para o encerramento das comemorações dos 90 anos das Aparições.
Os fiéis que participaram em 2526 missas oficiais foram 4milhões e 191 mil, a que se somam 689 mil em missas particulares. Comparativamente com o ano anterior houve mais 600 mil fiéis nestas celebrações.
O Serviço de Peregrinos registou também os números de outras celebrações oficiais, como o Rosário e outras celebrações paralitúrgicas. Houve 1403 celebrações oficiais tendo participado 3 milhões e 893 mil pessoas, quase mais um milhão do que em 2006.

Fonte: Ecclesia

Senhora dos Navegantes, Senhora da Embarcação

Um diaporama de Dinis Manuel Alves

O CARDEAL TETTAMANZI E OS CATÓLICOS DIVORCIADOS


Há anos, no aeroporto de Lisboa, uma senhora que eu não conhecia de lado nenhum aproximou-se para me dizer delicadamente, num quase agradecimento, que se tinha divorciado, com o meu contributo.
"Como?!...", atirei-lhe eu, perplexo. E ela: que eu tinha feito uma conferência - era verdade - e tinha dito que ninguém deveria ser obrigado a viver no inferno e ela vivia num inferno e, com aquelas minhas palavras, arranjara coragem.
De outra vez, ia a entrar para uma conferência, e um casal disse-me à queima-roupa: "Obrigados pelo que escreveu sobre os católicos divorciados e recasados!"
Nós nunca sabemos quais são exactamente as consequências, boas e más, do que dizemos ou escrevemos. Mais uma razão para se procurar a verdade e a honestidade!
Há dias, um outro casal intimou-me: "Viu aquelas declarações de um cardeal sobre os divorciados? Escreva qualquer coisa sobre isso."
Eu pensava que as pessoas eram mais ou menos indiferentes ao facto de a Igreja proibir a comunhão aos católicos que se divorciam e voltam a casar. Mas fui-me apercebendo de que não é assim. Quando permanecem ligadas à Igreja, é doloroso. Para quem não será doloroso, em qualquer situação, sentir-se excluído? À distância, é fácil ver que muitos, homens e mulheres, seguiram Jesus, fascinados, porque ele incluía no Reino de Deus - o Reino de Deus é, numa primeira instância, "uma vida mais digna e feliz para todos" (J. A. Pagola) - aqueles e aquelas que a sociedade e a religião oficial excluíam. O teólogo Edward Schillebeeckx pergunta algures sobre a alegria de um marginalizado convidado por alguém significativo para "tomar um copo". Ora, Jesus sentou-se à mesa - um sinal da presença do Messias de Deus -- com os pecadores públicos, as prostitutas, os pobres, aqueles e aquelas que a vida excluiu. A alegria deles foi sem nome.
Agora, o arcebispo de Milão, cardeal Dionigi Tettamanzi, numa carta pastoral que tem por título "O Senhor está perto de quem tem o coração ferido", reconheceu que a Igreja Católica "descuidou e ignorou" os separados e divorciados. A Igreja não esteve atenta aos seus "sofrimentos". Assim, Tettamanzi exprime-lhes o seu "pesar", se encontraram homens ou mulheres da comunidade cristã que "de algum modo os tenham ferido", "julgado sem misericórdia" ou "condenado".
Lê-se na carta: "A Igreja sabe que em certos casos não só é lícito, mas inevitável, tomar a decisão de uma separação. Para defender a dignidade da pessoa, evitar traumas profundos e salvaguardar a grandeza do matrimónio, que não pode transformar-se num rosário insustentável de ataques e ferimentos mútuos." Por isso, a Igreja não os "julga" nem os "olha como estranhos que faltaram a um pacto; pelo contrário, sente-se participante das necessidades que os tocam intimamente".
Assim, faz-lhes um apelo para que não abandonem a Igreja: "Também de vós a Igreja espera uma presença activa", e convida-os, concretamente, a "participar com fé na Missa".
Mas cá está! Continua a proibição de acederem à comunhão. Ora, é precisamente esta exclusão que faz problema. De facto, é como alguém ser convidado para um banquete e, depois, não lhe ser permitido comer e participar.
Objectar-se-á que a Igreja tem de ser fiel à doutrina. Eu diria que é evidente que há o ideal de um casamento indissolúvel e fiel e de uma família estável, a promover também pelo Estado. Aliás, em princípio, quem se casa não leva consigo, à partida, o subterfúgio do divórcio, que implica imenso sofrimento para os cônjuges e sobretudo para as crianças. Mas também há a vida na sua realidade tantas vezes crua, como reconhece o cardeal.
Sem culpa, com culpa de um ou do outro ou dos dois, por vezes, "a separação é lícita e inevitável".
Quando já não há amor, já não são aquele e aquela que se conheceram e amaram. O tempo mudou-os.
Se, depois, em dignidade e na responsabilidade, refizeram a vida num novo casamento, deverá a Igreja, lembrando-se de Jesus, o da inclusão, manter para todos, definitivamente, a exclusão da comunhão?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Figuras da nossa terra



Manel da Raquel

Falando com pessoa amiga de figuras típicas da Gafanha, logo veio à baila o Manel da Raquel. Se fosse vivo, teria agora 68 anos. Durante a conversa, logo nos lembrámos da simpatia com que era acolhido por toda a comunidade. Era um deficiente mental, mas conseguia reconhecer as pessoas e até articulava algumas palavras e dizia curtíssimas frases. Era prestável, quando lhe apetecia, e vivia muito à volta da igreja matriz, onde participava nas principais missas, funerais e outras cerimónias, sem causar qualquer distúrbio. Quem ficasse ao lado dele, podia ouvir como ele, imitando as pessoas, sussurrava monossílabos ininteligíveis, de resposta ao celebrante. Eram mais sons do que palavras. E ali estava, na cerimónia, sentado, ajoelhado ou de pé, como qualquer participante.
Depois, andava de café em café a encontrar-se com os amigos, ajudando, se estivesse em dia disso, um ou outro, em tarefas simples. Não havia ninguém que não lhe dirigisse a palavra, à qual ele respondia, habitualmente, com alegria. Às vezes, irritavam-no, sem qualquer razão, mas, no fundo, todos gostavam do Manel da Raquel. Raquel era sua mãe, que muito sofreu para tratar de dois filhos deficientes.
O Manel utilizava os autocarros da Auto Viação Aveirense, entrando e saindo quando lhe apetecesse. Sempre ouvindo e respondendo às brincadeiras dos amigos e conhecidos. E até ia, com frequência, ver o seu Beira-Mar, ao estádio Mário Duarte, onde tinha sempre a porta franqueada. Era de todos conhecido e por muitos respeitado e ajudado. Nunca me lembro de o ter visto mal vestido ou sujo, salvo quando, pela força das circunstâncias, não sabia evitar a sujidade.
De quando em vez, fazia de sinaleiro, junto à igreja, quando pressentia que a manobra estava difícil. E um dia, conta-se, tantas ordens deu que o condutor, que não o conhecia, avançou, provocando um choque com outro veículo. Perante os protestos do confiante condutor, respondeu, com alguma graça: “é preciso ter olhinhos; é preciso ter olhinhos!”
No Timoneiro de Setembro/Outubro de 1977, tinha ele 38 anos, noticia-se, em artigo do Padre Miguel Lencastre, ao tempo prior da Gafanha da Nazaré, que a mãe do Manel faleceu no dia 30 de Outubro, tendo-se realizado o funeral no dia 1 de Novembro. A missa do funeral celebrou-se no cemitério, com a participação de toda a gente que ali recordava os seus mortos. No momento da colecta, o Padre Miguel fez um apelo à população para que contribuísse com os seus donativos, porque era urgente ajudar o Manel e seu irmão Carlos, também deficiente. Depois foi o arranjo da pobre habitação, dando-lhe melhores condições de habitabilidade.
Anos mais tarde, o Manel foi acolhido por um irmão, na Gafanha da Encarnação. E nunca mais apareceu nos sítios do costume. Houve, certamente, razões para isso. Morreu passado algum tempo. E não faltou quem dissesse que tal se ficou a dever ao facto de o Manel da Raquel ter saído do seu ambiente natural. Penso que não. O que importa, neste momento, é recordar esta figura típica da nossa terra, de quem todos gostavam.

Fernando Martins

Açores: Pico e Faial

Pico: Monumento ao baleeiro



Faial: Vulcão dos Capelinhos


Açores: Pico e Faial


Mais desafios para férias, nas ilhas atlânticas dos Açores. Como deve ser interessante andar por lá com os olhos bem abertos, para ver o mar de todos os lados e a terra com cheiros e paisagens, que se hão-de tornar inesquecíveis a quem puder senti-los com o corpo e com a alma!

Jacinta Canta Zeca Afonso

Aqui fica, para apreciação dos meus amigos, uma belíssima interpretação da Jacinta. Zeca Afonso sai enriquecido com a voz desta cantora que tanto aprecio.

DIÁLOGO IGREJA MUNDO, DIFICIL MAS INDISPENSÁVEL


"Olhar o mundo das pessoas, com um olhar positivo como Deus o olha, acorda apelos e sentimentos de responsabilidade. Sempre foi para a Igreja um caminho de renovação, de resposta válida e de presença significativa, estar atenta e solidária com os problemas das pessoas, quer estes se traduzam em alegrias ou tristezas, vitórias ou derrotas, certezas ou dúvidas. A novidade de Deus e dos seus dons revela-se no confronto com as realidades que afectam, de modo positivo ou negativo, a vida das pessoas concretas, em cada tempo, lugar ou condição."


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia



A gratuitidade

1. É a generosidade e o despojamento abnegado que farão de cada pessoa uma dádiva para o mundo. Na mensagem de Bento XVI, para a começada preparação da Páscoa 2008, é sublinhado esse valor da “oferta” como escola de vida. Uma vida que, na base de a ler como construção constante, dará as garantias da estabilidade assente na vivência do dia-a-dia. É a esse valor da renovação permanente que este tempo quaresmal pré-primaveril nos vai chamando. Numa consciência de que todas as coisas são breves e tudo fica no mundo, sendo a única via do futuro a identificação absoluta com a esperança que, procurando a identificação original, brota do invisível de Deus.
2. Neste estímulo à gratuitidade, em última análise, ninguém tem a exclusividade dos bens e ao mesmo tempo todos os bens são de todos e de cada um. Não há incompatibilidades… É uma forma de dizer que o “destino universal dos bens” apela a uma finalidade última dignificante de todas as coisas. Na referida mensagem é sublinhado que «não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor (“pai criador”) chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo».
3. É mesmo a identidade do ser “administrador” a nossa condição humana. Parece que, pelos sinais que o mundo continua a dar, não temos sido tão bons administradores, da ordem material (do pão e água para todos) à ordem espiritual (a fome de dignidade humana que paira em tantas concepções que excluem). Ao olharmos para a questão ecológica que nos coloca num obrigatório patamar de comunidade global, a natureza dá-nos esse sinal de uma gratuitidade a redescobrir e não mais uma táctica para explorar. Talvez tenhamos sido mais “exploradores” que gestores. Dirigindo-se à comunidade, Bento XVI lembra que, «quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor». Assim seja!
4. Afinal, muito e sempre acima de qualquer codificação ou instituição está essa força (e)terna que (lhes dá razão e que) assumiu SER PESSOA no tempo para nos conduzir pelos caminhos desse “reino” não da terra, mas dos “céus”. Que bom seria se todos os olhares críticos não perdessem tempo e mergulhassem nessa compreensão misteriosa do essencial! Também aqui, este “tempo de revisão” quer ser “meio” para um chegar pascal!

Alexandre Cruz

Padre António Vieira, um homem de todos os tempos



A celebração dos 400 anos do nascimento do Padre António Vieira, jesuíta, que se distinguiu em diversas áreas, nomadamente, na vivência e divulgação da fé crista, na defesa dos indígenas brasileiros, na oratória, na arte de escrever e na política, entre outras, veio mostrar que muito pouco sabemos de um homem cuja cultura, no século XVII, se situava muito acima do comum dos mortais. Pelos seus sermões, carregados de sabedoria e de ensinamentos, sabe-se que a sua cultura, multifacetada, fez dele um homem que se projectou no tempo. Até hoje.
Como é costume, celebrações deste género, sobre figuras pátrias fascinantes, ficam-se por Lisboa. O resto do País é paisagem. Infelizmente.
Ontem, no Centro Cultural de Belém, foram lidos e comentados alguns dos seus sermões. Encarregaram-se disso personalidades da cultura, em especial Rodrigo Guedes de Carvalho, Baptista-Bastos, Mega Ferreira, Gonçalo M. Tavares e José Tolentino Mendonça. E foi bom conhecer melhor, por uma ou outra frase que li ou reli, a riqueza da sapiência de António Vieira. Mas também foi interessante confirmar a oportunidade dos seus escritos para os nossos dias.
Pelo relato dos órgãos de comunicação social pude ficar mais rico, mas não deixei de sentir que os lisboetas são uns felizardos.

FM

Mensagem Quaresmal do Bispo de Aveiro


"O esforço de conversão e a exigência de verdade a que o discípulo de Cristo é chamado educam-nos para este ser para os outros através da generosidade e da partilha fraterna, aprendendo a viver com sobriedade, com preocupação pela justiça e com ousadia da caridade, defendendo os valores humanos fundamentais da vida, da pessoa e de um humanismo solidário. Seremos, assim, luz de esperança, percursora de um mundo novo, se caminharmos na Luz que é Cristo."

António Francisco

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quem tem medo da história?

O centenário do regicídio trouxe ao de cima reacções curiosas. Por um lado, os historiadores a dar relevo à figura do rei, aos seus projectos e às maquinações que o levaram à morte. Por outro lado, o governo a dizer não ás iniciativas surgidas e AR a dizer que seria uma mancha, um erro sem sentido evocar-se um símbolo daquilo que foi derrotado, a execranda monarquia, e deu lugar à vitória do que somos hoje, a gloriosa república.É muito difícil encontrar competência, coragem e sensatez, para se lerem com liberdade interior acontecimentos históricos, quando tocam convicções ideológicas ou partidárias. É o caso. A monarquia não é uma ameaça, a república não tem um toque de perfeição acabada. A história é sempre mestra, para quem a souber ler sem preconceitos, nem olhos vesgos. Mais uma vez aí temos um presente vazio, um passado apagado e um futuro sem esperança.
António Marcelino

Imagens dos Açores

Ilha do Pico: Na serra mais alta de Portugal

Ilha do Pico: Lava solidificada



Diz-se, com razão, que os Açores nos oferecem paisagens deslumbrantes. A natureza, virgem em muitos recantos das suas ilhas, mostra-nos horizontes agrestes duma beleza inesquecível, para quem tem a dita de os olhar de perto. O meu filho João Paulo, professor por aquelas bandas, visitou este fim-de-semana as ilhas do Pico e do Faial, com algumas colegas, e do que todos viram enviaram-me fotografias para as partilhar com o mundo. Por qui as vou publicando durante alguns dias, para que alimentemos o desejo de visitar os Açores.

Padre António Vieira nasceu há 400 anos

Jesuíta, nascido a 6 de Fevereiro de 1608, ficou na história da literatura, da política e da Igreja Portuguesa.

"António Vieira nasceu em Lisboa junto da Sé. Aos 6 anos teve que se transferir para o Brasil. Acompanhou com a família o seu pai que tinha sido destacado para desempenhar funções na Alfândega de Salvador da Baía, então capital daquela colónia portuguesa. Entrou para o colégio da Companhia de Jesus daquela cidade, desejando ser missionário e dedicar a vida à conversão dos ameríndios. Tornou-se jesuíta e evidenciou-se rapidamente como um mestre da palavra: um ardente evangelizador e defensor dos índios, nomeadamente lutando contra a voragem esclavagista que grassava então nas terras de Vera Cruz."

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"Nascer pequeno, e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas terras para a sepultura. Para nascer, pouca terra: para morrer, toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer, o mundo."
Padre António Vieira, no Público de hoje (No PÚBLICO on-line, 2.º Caderno, P2, páginas 4, 5, 6 e 7), em trabalho de António Marujo

Regicídio e República





Não podemos aceder à história apenas pelos circuitos dos humores momentâneos. Se a aproximação aos factos se faz sempre com elementos condicionados, quer pelo conhecimento parcial, quer pela distância do tempo, quer pela névoa da ideologia que foca e desfoca o que, embora inconscientemente, parece relevante, cumpre-nos sempre reler a história e examinar mais profunda e friamente os dados e os significados.
A República esteve discretamente escondida nas entrelinhas de quase todas as crónicas que foram feitas sobre o assassínio do Rei de Portugal de em 1908. Notou-se algum desconforto em não condenar expressamente um acto de violência máxima, apenas por ele ter sido lançado por quem poderia pretender outra coisa: matar a monarquia enquanto matava o Rei.
Chegamos assim aos retorcidos da história e suas interpretações. Os cronistas não estão isentos desta manipulação, nem os jornalistas, os políticos, os intelectuais ou religiosos. Nem a opinião pública. Temos em Portugal experiências recentes de factos que foram enxertados nos anais segundo as conveniências enigmáticas dos seus historiógrafos. Percebe-se, mas não é honesto.
Por isso merece o maior realce o testemunho exemplar do Cardeal Patriarca de Lisboa pela celebração a que presidiu em S. Vicente de Fora e pela palavra luminosa que lançou sobre o centenário do regicídio.
Estamos a dois anos de celebrar o centenário da implantação da República. Nalguns areópagos começa a contagem de espingardas, glórias e vindictas. Pelo que já se cheira vai haver muitas histórias à volta da mesma República. Datas como 1789, 1834, 1926 vão dar que perorar a eruditos de circunstância. Mais do que extrair dividendos importa um esforço comum por aprofundar o que objectivamente se passou para termos algo de autêntico a transmitir às gerações vindouras. A história não é um brinquedo de circunstância.


António Rego

Na Linha Da Utopia



As cinzas


1. Os símbolos pertencem à vida. Eles estão por toda a parte, das coisas mais simples como os emblemas da praça pública ou de instituições às realidades mais profundas da existência humana e das religiões. Os estudiosos da identidade humana das sociedades falam do “símbolo” como inerente a uma consciência de “pertença”, não se podendo silenciar, por mais racionalista que se seja, a face simbólica da própria vida. Pode até ser com outros nomes, mas desde que exista uma sensibilidade humana que se projecta, a dimensão simbólica, que nos transporta sempre para “algo mais”, convive com o nosso dia-a-dia.
2. Desde os tempos mais antigos que a própria força da natureza apela à compreensão do universo e do lugar das pessoas no mundo. Se com a força da primavera nasce uma nova natureza, o mundo da sabedoria bíblica, que procura a primazia única de cada ser humano, irá propor que se renasça também para uma Vida Nova. Este dinamismo pedagógico, como caminho de revisitação da fonte original e revisão de vida em cada momento presente, atravessa os séculos, afirmando-se como um factor estimulante de melhoria, de progresso, de transformação da vida pessoal e social.
3. Não compreender e não se perguntar pelo dinamismo esperançoso destes tempos pedagógicos é viver “longe” da raiz, onde não se procura um sentido comunitário aperfeiçoado para a vida no tempo e espaço que nos são dados viver. Que sentido tem o Natal sem o compreender da sua origem reveladora? Que lugar de significado terá a Páscoa se não se abrir o “coração” a um caminho de transformação? Talvez das coisas mais importantes da vida seja compreender-se que os dinamismos da existência que sentimos foram vividos, acolhidos e superados por pessoas e(m) comunidades antes de nós. Também desta forma estamos unidos à humanidade. Claro, não basta cumprir por “cumprir”, é o sentido profundo com que se vive…para se viver no mais e melhor de cada dia.
4. Há tempos dávamos conta de uma nova área de estudo chamada “reflexologia”… Vamos chamando novos nomes, cheios de markting, para “coisas” antigas. Por um lado, dilui-se o património de “sentido” de que somos herdeiros; por outro, por outras palavras, vamos sempre lá parar, pois na reflexologia procura-se compreender a dimensão espiritual da vida e o seu fazer-se história (de salvação). Estes dias marcam o início de um tempo de reflexão: é Quaresma, tempo como caminho de preparação da Páscoa para os que livremente se enraízam no cristianismo. Quem lá adiante festejar Páscoa, acolhe um convite que começou da forma mais interpelante: com as “Cinzas”. Não são cinzas de pessimismo, de tristeza, de tempo negativo. Nada disso. São tomada de consciência profunda da nossa condição humana. Um “choque” estratégico e despertador que quer sensibilizar para o aperfeiçoamento de vida. Só assim, lá adiante será Páscoa; na diversidade corajosa, a “passagem”!

Alexandre Cruz