domingo, 3 de fevereiro de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 63



O ENSINO PRIMÁRIO AO LONGO DO TEMPO

Caríssima/o:

Para satisfazer alguma curiosidade sempre vou desenterrar imagens desbotadas e até ratadas do baú do tempo.

1- “Na época da fundação da monarquia existiam clérigos e até bispos que não sabiam escrever; e há memória de factos semelhantes, embora mais raros, em tempos mais recentes.” [História da Igreja em Portugal, Fortunato de Almeida, Tomo I, pág. 492]

2- É comum saber-se que as escolas eram apenas frequentadas pelos jovens que seguiriam vida eclesiástica, junto dos conventos ou mosteiros e das sés. Ora, no Mosteiro de Alcobaça, surgiu um abade, entre 1252 e 1276, Estêvão Martins, que “permitiu que as pessoas de fora, estranhas à Ordem, pudessem cursar as lições”.[História do Ensino em Portugal, Rómulo de Carvalho, pág. 30]

3- Contudo, apenas em 6 de Novembro de 1772 se tenta organizar o ensino primário oficial com a criação de 479 lugares de “mestres de ler, escrever e contar”. Lei de Marquês de Pombal.
4- Depois Mouzinho de Albuquerque publica um projecto de reforma da instrução pública em 1823. Havia, em Portugal, uma taxa de analfabetismo que rondava os 90% e todos os políticos estavam de acordo: “havia necessidade de criar uma vastíssima rede de escolas de instrução primária que cobriria todo o país para reduzir o analfabetismo”.

5- Em 1835, a reforma do ensino de Rodrigo da Fonseca Magalhães foi considerada ”a mais perfeita e completa depois de Pombal”.

6- Bem, depois poderíamos enumerar as tentativas de reforma do ensino primário e seria interessante encontrar os nomes de Passos Manuel (1836), Costa Cabral (1844), D. António Costa (1870), António Rodrigues Sampaio (1878), João Franco (1894), Hintze Ribeiro (1901), João de Barros (1911), Leonardo Coimbra (1919), Alfredo de Magalhães (1927), Carneiro Pacheco (1936), Leite Pinto (1956), Galvão Teles (1964), Veiga Simão (1973)... e reformas depois de 1974...


Uns tentavam organizar e logo outros a seguir ...desorganizavam. Mas sempre alguma coisa foi ficando e, em 1947, havia uma escola mista, na Marinha Velha, a Escola do Ti Bola, onde o Olívio se esforçava por aprender o ABC...Como seria por toda a Gafanha?


Manuel

sábado, 2 de fevereiro de 2008

CAMINHOS DE FELICIDADE



Sentado perante a multidão, o mestre faz declarações espantosas. Alguns companheiros recolhem-nas em escritos memoráveis. Milhões de pessoas vivem a sua mensagem. Ninguém consegue varrer da história a felicidade que semeiam e fazem crescer. A humanidade inteira vai-as saboreando a conta-gotas e de muitos modos. Quando todos pautarem a sua vida pelo sentido profundo que encerram, acontecerá a felicidade plena, a harmonia universal, a paz cósmica, a realização acabada do sonho original da nossa matriz comum.
A cena ocorre num monte situado perto de Cafarnaúm, cidade menor próxima do mar da Galileia. A esta cidade do povo acorre Jesus, fazendo dela o seu centro de vida e missão. Aí encontra e chama os primeiros discípulos – mais tarde seguidores –, que labutam na faina da pesca. Aí e nas redondezas, realiza acções notáveis, mantém conversas cheias de sabedoria, pronuncia discursos solenes.
Em alguns destes sítios, aparecem vestígios e conservam-se monumentos evocativos de tais acontecimentos. São eles que constituem a “delícia” de quem pretende conhecer e viver a verdade histórica, ainda que a partir de ruínas menosprezadas.
A mensagem de Jesus é simples, clara e interpelante. Também é contracultural, sobretudo no mundo ocidentalizado. Mas proporciona experiências de felicidade qualificada a que todos os humanos estão chamados.
Felizes os que têm o coração livre das ataduras da riqueza e de todos os outros bens porque estão disponíveis para servir e prontos para amar. Felizes os que aceitam a condição humana comum a todas as pessoas porque fazem brilhar a dignidade de cada uma. Felizes os que vivem a solidariedade amiga interventiva porque enxugam lágrimas inocentes e aliviam sofrimentos injustos. Felizes os que cultivam a paixão da justiça e da paz porque hão-de ver o seu sonho realizado, curando feridas doridas e reconciliando inimigos de morte. Felizes os que acolhem com amabilidade os sem abrigo e os empobrecidos porque ampliam os horizontes do coração e ajudam a construir a fraternidade universal. Felizes os que são transparentes nas intenções e nas acções porque encontram a verdade das coisas, das pessoas e de Deus.
Jesus vive o que proclama. Com atitudes convincentes, testemunha e credita a palavra. Despoja-se da sua condição divina, chora perante o túmulo de Lázaro, enche-se de compaixão ao ver as multidões famintas e mata-lhes a fome, grava no coração dos discípulos a paixão pela justiça, confia-lhes o dom da paz, oferece o perdão e restitui a dignidade aos excluídos e miseráveis, entrega-se totalmente ao Pai que o ressuscita, enchendo de alegria e júbilo a toda a criação e todas as criaturas.
Por isso, ousamos pedir-lhe que nos ensine a ser felizes, a encontrar um ideal como o seu, a centrar a nossa vida no amor gratuito e generoso, a desfrutar e a saborear o que é bom e belo, a partilhar os bens com quem precisa, a acompanhar os que sofrem, a afrontar os algozes das vítimas silenciadas, a debelar as causas das injustiças organizadas, a dedicar-nos sempre a causas nobres, sem esperar outra recompensa a não ser a de sabermos que somos dignos da sua confiança e transmitimos fielmente a sua mensagem.

Georgino Rocha

Escuteiros zangados com a Media Markt



O CNE (Corpo Nacional de Escutas), escutismo católico português, está zangado com a Media Markt. A razão é simples: aquela multinacional resolveu fazer publicidade, utilizando um escuteiro para parodiar um eventual cliente. Claro que o Chefe Nacional, Carlos Alberto Pereira, não gostou e protestou. Em ofício dirigido aos responsáveis, diz que a campanha publicitária é “intoleravelmente ofensiva para os 80 000 escuteiros portugueses e suas famílias”. E acrescenta: “As afirmações feitas constituem uma ofensa ao bom nome e consideração devidas a quem diariamente contribui para uma sociedade melhor, educando os jovens para uma cidadania responsável, participativa, solidária.”
Solidarizo-me com este protesto do CNE. E é bom que se diga que o escutismo não é uma organização qualquer. Ele é, tão-só, a maior organização juvenil do mundo. Merece, por isso, muito respeito.
Estou em crer que a Media Markt saberá reconhecer que cometeu um erro, ao brincar com coisas sérias. E também acredito que a publicidade ofensiva recolherá aos armazéns da empresa, o mais breve possível, para aí morrer sem incomodar ninguém.

FM

A Carta das Águas




Ontem, no SEXTA, semanário gratuito, li um artigo interessante. “A água não serve só para matar a sede” foi assinado por Hugo Rodrigues e defende a ideia de que devemos escolher a água para beber conforme a comida. Isso mesmo é a aposta da Confraria da Água, cujo chanceler, Belmiro Couto, é um aveirense.
Diz ele, com razão, que nos restaurantes nos apresentam, normalmente, a Carta dos Vinhos. A da Carta da Água não existe. E a pergunta é sempre a mesma: com ou sem gás; fresca ou natural?
Ora, segundo Belmiro Couto, as águas não são todas iguais, tal como acontece com os vinhos. Sendo assim, há que saber pedir a água ideal para cada prato. Como recomenda o chanceler da Confraria das Águas, devemos consumir uma água “ácida e leve” para o cozido à portuguesa e “muito alcalina” e fresca para os pratos de bacalhau.
A meu ver, isto tem que se lhe diga. Como é que os consumidores podem conhecer essas diferenças? Talvez seja útil que os produtores passem a anunciar, nas garrafas ou por outra forma, os pratos que casam bem com as águas que comercializam.
Confesso que nunca tinha pensado nisso. Eu cá limitava-me a pedir a água natural e sem gás. Mas agora já tenho de pensar duas vezes, não me limitando a beber a água que me levam para a mesa, muitas vezes de marcas que não conheço de lado nenhum.
Estamos sempre a aprender.

FM

Irregularidades de políticos. Será possível?


Eu às vezes fico perplexo com as notícias que me chegam, com denúncias e mais denúncias sobre o que se passa a nível político. Chego a pensar, talvez na minha ingenuidade, que anda tudo maluco, com acusações que me sobrecarregam as minhas caixas do correio, quase todos os dias. E depois são os jornais e demais órgãos da comunicação social a mostrarem eventuais irregularidades de políticos e de governantes. Será possível? 
Muitas informações que me enviam, de todos os lados, vêm carregadas de ordenados incríveis, de duplas e triplas reformas multimilionárias, de lucros espantosamente altos, de anomalias inadmissíveis, de erros crassos. Quase tudo de gente ligada à política, no activo ou na reforma. Sabe-se que os jornais, sobretudo os de grande circulação, andam carentes de leitores (a eterna luta das audiências, das publicidades, das tiragens), o que leva os jornalistas a procurarem, porventura nem sempre com o devido rigor, escândalos e irregularidades de quem nos governa. Mesmo que tais acusações não venham a confirmar-se, ninguém jamais conseguirá lavar a mancha que sujou o nome das pessoas visadas. 
O PÚBLICO continua à frente do campeonato dos eventuais deslizes do primeiro-ministro, José Sócrates. Há tempos foi sobre o seu diploma e agora vem com a assinatura de projectos que não terão sido elaborados por ele. Amanhã virá com outras páginas que levam os leitores, ávidos de roupa suja, a correrem aos quiosques. 
O EXPRESSO, hoje, também veio com uma história sobre os antigos ministros do CDS. Teremos, mesmo, de acreditar em tudo isto que os órgãos de comunicação social nos oferecem no dia-a-dia? Se for verdade, meus amigos, que políticos temos nós? Que compatriotas nossos assumem os destinos do nosso povo? Que democracia é a nossa? Será que Portugal se aguenta assim? Apesar de tudo, continuo a pensar que há, decerto, exageros, ódios camuflados e invejas de quem gosta de agir a coberto das leis da imprensa. Normalmente, essas denúncias, que circulam, em grande escala, na Net, nunca são assinadas. E se o são, ninguém conhece os seus autores… O anonimato tem no ciberespaço um campo ideal. Temos de ter cuidado. 

FM

BENTO XVI EM LA SAPIENZA




La Sapienza - Universidade de Roma é talvez a maior universidade da Europa, com 150 mil estudantes e dois mil professores. Uma minoria de professores (67, vindos da Física) e de estudantes (umas centenas) opôs-se à presença de Bento XVI para uma lição na abertura do ano académico. Perante o protesto, o Papa declinou o convite.
Seguiu-se a procissão de pronunciamentos. Depois da islamofobia, é preciso falar também de "catolicofobia"? Não tem o Papa de habituar-se a protestos públicos? Títulos significativos de editoriais da imprensa italiana: "Uma ideia doentia" (La Repubblica), "Derrota do país" (Corriere della Sera), "Venceu a intolerância" (Il Sole 24 Ore).
O Papa enviou o texto, lido e recebido com aplauso geral. Fica aí o que parece ser o essencial, quando o clericalismo e o laicismo já não deviam existir.
Bento XVI parte de vários pressupostos. Como académico, sabe que a universidade é o parlamento das razões. Pela sua própria natureza, não está sujeita às autoridades políticas nem eclesiásticas, mas "exclusivamente à autoridade da verdade". Daí, a pergunta: "Que pode o Papa dizer na universidade?"
Indo de encontro à objecção de que iria buscar os seus juízos à fé, válidos apenas para quem a partilha, explica que, perante uma razão que despe a História, procurando autoconstruir-se apenas dentro de uma razão a-histórica, "a sabedoria da Humanidade enquanto tal - a sabedoria das grandes tradições religiosas - deve ser reconhecida como uma realidade que não pode ser impunemente lançada ao caixote do lixo da história das ideias".
Neste contexto, cita John Rawls, que, embora negue às doutrinas religiosas globais o carácter de razão "pública", vê nelas uma razão que não pode, em nome de um secularismo duro, ser recusada àqueles que a sustentam. Um dos critérios dessa razoabilidade é o facto de provirem de "uma tradição responsável e motivada", que ao longo das gerações desenvolveu "argumentações suficientemente boas", de tal modo que constituem um fundo de sabedoria humana com significado perene.
O Papa fala, portanto, como representante de uma comunidade crente.
Mas, no seio dessa comunidade, guarda-se um tesouro de conhecimento e experiência ética importante para toda a Humanidade. Nesse sentido, "fala como representante de uma razão ética."
Concretamente os cristãos não acolheram a fé de modo acrítico e cego, positivista, ou como compensação para desejos frustrados. Pelo contrário, entenderam-na sempre como a dissipação da névoa mitológica, para "dar lugar à descoberta do Deus que é Razão criadora e ao mesmo tempo Razão-amor". Não basta o saber teórico - não sublinhou Santo Agostinho que o simples saber arrasta consigo a tristeza? O Deus cristão, porém, que é Logos criador, é também o Bem, a própria Bondade. É assim natural que o universo cristão pudesse e devesse dar lugar ao nascimento da universidade.
No quadro da disputa sobre a relação entre teoria e prática e passando à actualidade, no contexto do direito e da política, Bento XVI sublinha a necessidade da procura de uma justiça normativa para a salvaguarda e promoção da liberdade, da dignidade humana e dos direitos do Homem. Citando J. Habermas, afirma que, neste domínio, não basta apelar para uma maioria aritmética: se se não quiser ficar prisioneiro de interesses particulares, exige-se "um processo de argumentação sensível à verdade" (wahrheitssensibles Argumentationsverfahren).
Novos saberes, concretamente no domínio das ciências naturais, foram legitimamente valorizados na universidade moderna. Mas há o perigo de a razão ceder às pressões dos interesses e ao fascínio da utilidade, que ergue como "critério último".
Assim, o Papa não vem à universidade para impor de modo autoritário a fé, que "só em liberdade pode ser dada". Mas é da sua missão "manter desperta a sensibilidade para a verdade, convidar a razão a pôr-se à procura do verdadeiro, do bem, de Deus".
Neste contexto, é esperável que Bento XVI inclua a Teologia na liberdade de investigação e ensino.

Anselmo Borges

Fonte: DN de hoje

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O regicídio - 1 de Fevereiro



Faz hoje 100 anos que o rei D. Carlos e seu filho primogénito, o príncipe Luís Filipe, foram assassinados no Terreiro do Paço, em Lisboa. Por iniciativa de D. Duarte Pio, que contou com o apoio de diversas personalidades, monárquicas e republicanas, houve cerimónias em Lisboa e um pouco por todo o País. Pretendeu-se evocar o assassínio de um Chefe de Estado e de seu filho, perpetrado por dois revolucionários ligados à Carbonária, uma associação secreta que, ao tempo, actuava em Itália, França e Espanha.
Penso que os factos históricos devem ser recordados com respeito e com verdade. D. Carlos não era nenhum tirano e, como rei, era bastante respeitado, tanto no País como no estrangeiro. O partido republicano tinha liberdade de actuação: havia deputados seus no Parlamento e chegou a ganhar as eleições à Câmara de Lisboa.
A Monarquia não era um regime perfeito. A República, instaurada em 5 de Outubro de 1910, também nunca o foi. E tanto azar tivemos que, logo desde os começos, houve o caos político em Portugal. Depois, uma longa ditadura de quase 50 anos.
Hoje, na Assembleia da República, foi rejeitado um voto de pesar pelo assassínio do rei D. Carlos e de seu filho, há 100 anos. Será que alguém ainda tem medo que a Monarquia volte a Portugal?

FM

Ria de Aveiro é candidata às Sete Maravilhas Naturais do Mundo


A Ria de Aveiro é candidata às Sete Maravilhas Naturais do Mundo. A iniciativa da candidatura partiu da Região de Turismo Rota da Luz. Para já, a nossa Ria é a terceira candidata portuguesa, ao lado do Vale do Douro e das ilhas Selvagens.
À partida, a candidatura trará inúmeros benefícios, venha a ganhar ou não o concurso. A promoção da laguna aveirense atinge, directa ou indirectamente, parâmetros globais. Importa, por isso, que todos os que apreciam a Ria de Aveiro se empenhem em torná-la mais conhecida e mais apetecida. De mãos dadas, podemos contribuir para que a Ria seja um desafio turístico e fonte de riqueza para todos. As suas potencialidades são enormes e todos os seus recantos devem ser bem aproveitados. A meta será difícil de alcançar, mas todos teremos a obrigação de lhe oferecer o nosso esforço, rumo à vitória. O ponto de partida está lançado. Agora, é preciso falar da Ria de Aveiro, com todos os seus encantos.

FM

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A vida é tão efémera…



Andei hoje por Aveiro, cidade a que me ligam tão gratas recordações, desde a meninice. No centro do burgo, deambulei qual barco livre ao sabor da brisa marinha. Olhando montras e o velho casario que enforma a identidade da cidade dos canais, que muitos comparam à Veneza italiana, nem sei verdadeiramente porquê…
Cruzei-me com pessoas que me são familiares e cujos nomes, alguns, já se me varreram da memória, mas que são parte expressiva de muitas vivências.
Sítios, que outrora baptizámos com nome de Selva, hoje Fórum, trouxeram-me à memória dois antigos colegas que faleceram no curto espaço de um mês. Ali jogávamos futebol e aos bandidos e ladrões, mas também nos envolvíamos em guerras de bairros, eu como simples assistente, já que nunca soube atirar pedras, as armas das contendas bélicas dos meninos de há quase 60 anos.
Mas o que mais me impressionou foi ver passar uma senhora, a quem o peso dos anos e da doença envelheceram mais do que o esperado. O seu nome fica comigo nesta partilha com os meus leitores. Arrastava-se com alguma dificuldade pela calçada, com ajuda de pessoa amiga. E eu que a conheci no fulgor da vida; vida toda ela dedicada à cultura e à intervenção cívica. Cumprimentei-a e mal lhe ouvi a resposta ténue que delicadamente me dirigiu.
A vida é assim. Tanto trabalho, tanto entusiasmo, tanta garra, tanta luta! E de um dia para o outro os sentidos reduzem-se ao mínimo, a inteligência declina, a força esvai-se e os olhares inclinam-se para o chão. A vida é tão efémera…
FM

Melhor Justiça



“Os Portugueses querem mais segurança e melhor justiça. O Presidente da República estará sempre ao lado dos cidadãos na defesa daqueles valores fundamentais do Estado de direito democrático.”

Presidente da República,
Sessão Solene de Abertura do Ano Judicial
:
O problema da Justiça, no nosso País, é muito complexo. Todos sabemos quanto ela é morosa, cara e mais a favor de quem tem dinheiro. Os mais pobres, os que não podem pagar a bons advogados, estão condenados, a maioria das vezes, a sofrer as consequências dessa realidade. Esperam e desesperam até que os seus problemas sejam dirimidos em tempo útil.
Gostaria de acreditar que a Justiça é, de facto, igual para todos. Mas não é. E não é por culpa dos juízes, que admito, sem rebuço, serem pessoas de bem. A questão é do sistema. Sobretudo de quem sabe “mexer” nas leis, dando-lhe as voltas possíveis e imaginárias, até se chegar à solução desejada.
Veja-se o caso da Pedofilia na Casa Pia. Caso semelhante, descoberto nos Açores, foi resolvido de imediato. No Continente, o julgamento continua sem fim à vista.
O Presidente da República denunciou, mais uma vez, que os portugueses querem mais e melhor Justiça. Outros portugueses já reclamaram o mesmo. Contudo, continuamos sem ver progressos nesta área.
Na mesma sessão, o bastonário da Ordem dos Advogados voltou a falar de corrupção a nível dos agentes políticos. Está em curso um inquérito. Cá para mim, tenho um palpite que tudo cairá em saco roto.

FM

Na Linha Da Utopia




O novo poder da Informalidade?

1. A época histórica que vivemos vai-se mostrando já tão diferente do passado recente. Melhor ou menos melhor, isso será outra questão. Em tempos diferentes, não chega, pois, clonar as mesmas respostas do tempo que já lá vai. Pode ser que o conteúdo seja o mesmo e, em última instância, o essencial da VIDA permanece; mas a forma, a roupagem terá de corresponder aos tempos novos da actualidade. O mundo que não nasceu como hoje o vemos, diz-nos que as próprias formas sociais foram, a certa altura, reinventadas a partir de uma nova “informalidade” encontrada.
2. Hoje procuram-se “regulações” para novas realidades até há 10 ou 15 anos inexistentes, como por exemplo todo o mundo da revolução das tecnologias das comunicações ou mesmo nas fronteiras abertas dos países nas novas áreas de comunidade (da Europeia consagrada à africana em formação). Os próprios pesos institucionais de formas cristalizadas no tempo estão a receber o desafio de uma abertura e flexibilidade sem precedentes, o que em última análise pode gerar uma instabilidade de ausência de referências. As instituições basilares da convivência humana família, escola, trabalho, política, vão sentindo esses impactos.
3. Talvez estejamos no “terminar” de um processo histórico dos últimos dois séculos da Razão de Estado. Pensávamos que, com o Estado de Direito e toda a forma de organização social, tudo estava encontrado, mas os impulsos da actual globalização e transnacionalização dos processos vai obrigando a REVER. Nestes processos de revisão ao encontro das pessoas concretas da sua situação e dignidade (o que por vezes as instituições não conseguem), a informalidade parece que vai ganhando o jogo afirmando-se com um potencial redescoberto e obrigando a descer (novamente) a Razão ao encontro da Existência humana.
4. Um autor dos anos 30, Paul Hazard, refere que «outrora, estudava-se muito o século XVII; hoje [em 1934], estuda-se muito o século XVIII». Talvez tenhamos dado prevalência ao institucional em vez da primazia às pessoas... Os tempos actuais são de reencontro com as pessoas, e as instituições que não o conseguirem perdem o significado social. Estará em andamento uma desinstaladora revolução da informalidade? Talvez, não sabemos. Uma coisa é certa, tempos de mudança profundamente complexos. Cada vez mais, e sem alarmes, nada será como dantes. Tudo dependerá dos valores profundos em que alicerçar a vida e a comunidade. Mais importante que nunca! A própria indiferença também é “sinal”…

Alexandre Cruz

Centenário do Regicídio: 1 de Fevereiro


Exposição no Museu da Cidade

No próximo dia 1 de Fevereiro assinala-se o Centenário do Regicídio decorrido no Terreiro do Paço, em Lisboa. Mais que um homicídio (do Rei D. Carlos e do Príncipe Herdeiro), tratou-se de um crime contra o Estado que constituiu um ponto de viragem no processo de declínio da Monarquia que levaria à implantação da República em 1910. Dada a sua natureza, o acontecimento teria repercussão por todo o país gerando reacções diversas. As iniciativas da Câmara Municipal de Aveiro estão associadas aos eventos nacionais que marcam a data.
Neste contexto, as actividades, organizadas pela Câmara Municipal de Aveiro, que decorrerão no Museu da Cidade de Aveiro, destinam-se ao público em geral e às comunidades escolar (primeiro ciclo do Ensino Básico). As acções têm como principal pressuposto conhecer o significado e implicações do regicídio, das quais destacamos uma pequena mostra documental incluindo imprensa aveirense da época, a acta da Câmara Municipal de Aveiro que relata os factos e dois desenhos do Rei D. Carlos provenientes do Museu da Marinha.
“O regicídio… em Aveiro” e “D. Carlos, o rei que amava o mar” constituem uma exposição documental que estará patente no Museu da Cidade de Aveiro, de 1 a 10 de Fevereiro, de Terça-feira a Domingo, das 10.00 às 19.00 horas (excepto das 13.00 às 14.00 horas). Nesta mostra estará exposto:
o livro de actas da Autarquia em que se relata o regicídio e a subida do trono de D. Manuel II;
exposição da imprensa local da época e da revista “Ilustração Portuguesa” com o relato dos factos;
e, numa alusão à vocação e interesse pelo mar, com o qual também Aveiro tem uma relação intrínseca, relembra-se a figura do monarca exibindo uma peça sua (aguarela com motivos marítimos) proveniente do Museu da Marinha, Lisboa.

Do “site” da Câmara Municipal de Aveiro

Câmara de Ílhavo atribui Bolsas de Estudo


Aconteceu no dia 25 de Janeiro, mas só hoje li a notícia da atribuição de Bolsas de Estudo pela Câmara Municipal de Ílhavo a estudantes do concelho.
Na presente edição foram atribuídas a jovens estudantes residentes no Município de Ílhavo 24 Bolsas (8 novas e 16 renovações), com um valor mensal que varia entre os 51,13 e os 102,25 Euros, consoante se trate do Ensino Secundário ou Superior, implicando um investimento municipal de cerca de 20.000 Euros.
Ao saber desta iniciativa da CMI, não posso deixar de sublinhar a atribuição das Bolsas de Estudo, à semelhança do que já aconteceu nos anos anteriores. Sinto que este é bom exemplo de apoio a quem terá dificuldades para prosseguir estudos. Mas é mais: é um estímulo para quem quer estudar e não tem grandes possibilidades para o fazer.

Medo, desconfiança e alegria de viver



Caem-nos cada dia no computador mensagens de pessoas amigas, com pedido de que enviemos a outras, a prevenir contra a aceitação de chamadas telefónicas de certo teor, que podem levar os incautos à sua própria ruína. O mesmo acontece em relação ao correio electrónico, infestado por interesses injustos e malévolos, de dentro e de fora, que, anunciando maravilhas escondem desgraças. Entra-se assim no que é nosso, neste mundo aberto e de todos como é o da comunicação, com intuitos de destruir ou de a outros beneficiar, pouco ou nada podendo nós fazer pata impedir, contrariar ou responsabilizar outrem pelos prejuízos sofridos.
Viver pressupõe e exige um clima de confiança, de serenidade, de paz, dentro de nós e à nossa volta. Tudo o que perturba, sem que se lhe veja a ponta, incomoda, desestabiliza, cria fantasmas, multiplica desconfianças.
Há quem goste de navegar nas águas do “quanto pior, melhor” e quem aprecie muito a política da terra queimada, que também nisso vão os seus interesses.Sempre que para uns a vida entusiasma menos, para outros ela torna-se espaço apetecível para um trabalho, onde a luz só incomoda.
Porque procuram as pessoas sem escrúpulos, que por aí vão abundando, os idosos indefesos e a viver sós, para poderem assaltar, roubar e, muitas vezes, ferir e até matar, não levando deles mais que o seu modesto pé-de-meia, bem poupado à custa de sacrifícios dispensáveis, mas na expectativa de momentos mais aflitivos? Gente como esta é sempre fácil de enganar com promessas que fazem sonhar em dias melhores. Onde se juntam os abutres? Onde há morte. A vida, com a dor e o peso que lhe tiram o sentido e a alegria de viver, já é morte.
A solução não está na abundância de polícias, porque, num contexto que se generaliza, a sua presença será mais dissuasora que correctora. Está numa séria educação de base e no apoio claro a todos os educadores, na protecção à família, primeiro e mais determinante espaço humanizador, na eliminação corajosa dos focos de contaminação, na luta contra as desigualdades sociais provocadoras e irritantes, na aceitação pública de todos, pessoas e instituições, que defendem, propõem e testemunham valores morais e religiosos que ajudam a subir os horizontes e fortalecer as vontades, na procura nunca abandonada de meios que favoreçam a paz, a segurança, a reconciliação e a confiança mútua, bem como a correcção exemplar dos prevaricadores.
Andam muitos responsáveis políticos ocupados e afadigados com os aspectos económicos e financeiros do país e com a imagem do mesmo para o exterior. Nada disso é de somenos importância. Porém, a riqueza de um país são as pessoas e a cultura que lhes deu e dá referências enraizadas, capazes de transmitir sentido à vida, participação de todos no que a todos diz respeito, capacidade de relação e convivência com todos, mesmo que sejam de outras culturas e raças e agora coabitam connosco.
Destruída a cultura que nos ajudou e ajuda a ser o que somos, nada resultará e não ficarão senão frutos espúrios, vazios de bem e perturbadores da paz e da harmonia que não dispensamos, e gente incaracterística a que os nossos valores de sempre nada dizem.
Tem-se brincado de mais com as nossas raízes, como se fossem bens e coisas de somenos. Os resultados vão-se sentindo, num país que parece alguns terem optado por ser mais babilónia que espaço lavado e despoluído de uma sã convivência plural.


António Marcelino

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


Mahatma Gandhi

1. Há sessenta anos, a 30 de Janeiro de 1948 (o ano da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 10 de Dez.), em Nova Deli, Mahatma Gandhi, líder político e espiritual do movimento de independência da Índia, era assassinado por um extremista hindu. Esse extremista não aceitava os seus ideais simples de tolerância para com todos, valores pacíficos estes enraizados na crença tradicional hindu da “verdade” e da “não-violência”. A vida de Gandhi, assinalando um passo histórico da revolução pela paz, influenciou outros líderes na luta democrática e anti-racista de algumas nações, entre os quais Martin Luther Kinh (EUA) e Nélson Mandela (África do Sul).
2. É importante que não se perca a memória daqueles cuja vida foi doada generosamente por ideais que hoje são benefício de todos. Nos tempos da actualidade em que o “mundo é plano” (estamos em “ligação directa” comunicacional) e em que se proclama “o fim da distância” (o tempo on-line faz-nos ser sempre presentes), cumpre-nos apreciar esses valores universalistas, persistentes e resistentes, princípios representados por pessoas que foram edificando as sociedades democráticas na base da dignidade humana. Gandhi dá a vida por essa libertação não no alicerce da força mas da sabedoria. Talvez aqui esteja um valor essencial a preservar e actualizar em cada tempo e lugar.
3. Sobre Gandhi referiu o cientista Einstein que «as gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra». Tal a força e intensidade da mensagem e, também, tal a abertura de espírito honesta intelectualmente do cientista que sabe reconhecer os lugares históricos e sociais da libertação e aperfeiçoamento do todo da humanidade. Tendo sido nomeado cinco vezes para o Nobel da Paz (entre 1937 e 1948) e não tendo recebido este símbolo de reconhecimento universal, o comité algumas décadas depois reconheceria a falta cometida. Na atribuição Nobel ao Dalai Lama em 1989 viria a prestar o tributo reconhecido a Gandhi pela sua dádiva de vida.
4. Entre tantos daqueles pensamentos e chavões que ficaram gravados para a história, talvez possamos destacar: "Nós devemos ser a revolução que queremos ver no mundo". Faz-nos pensar e consciencializar que a transformação que se deseja para mundo terá de começar nas mais pequenas coisas da vida de todos os dias. Pensamento global, acção local. Tão simples e sempre tão complexo!...

Alexandre Cruz

Dias Positivos


Ali ao lado

Dizem que a identidade portuguesa afirmou-se em oposição a Castela. E que de lá, nem bons ares, nem bons maridos ou esposas, a julgar pelo ditado. Mas saber o que se passa no país vizinho ajuda a entender o nosso, muito mais do que o que se passa na França, que durante séculos foi o ideal dos intelectuais lusos, ou na cultura de língua inglesa.
E nada melhor para saber o que se de passa para lá de Vilar Formoso do que ler jornais espanhóis, coisa que faço a um ritmo semanal, para ver se os ares mudam.
Ora, por estes dias, em vésperas de eleições legislativas, o tema do aborto anda na rua. Muito pouco, a julgar pelos manifestantes que apareceram nas rua de Madrid e Barcelona, no dia 23 de Janeiro, mas o suficiente para um jornal português atribuir à notícia uma página, enquanto atribuíra apenas umas linhas à manifestação de 2 milhões de pessoas, em Madrid, a favor da família. No jornal espanhol que leio à quinta-feira, escrevia-se: “Fracaso de la movilización apoyada por el PSOE a favor del «aborto libre y gratuito»”. O jornal português parece que viu o que não viram os espanhóis.
Já que falamos deste tema, quando se aproxima o primeiro aniversário do referendo, refira-se que em Espanha a imprensa mostrou que há clínicas a fazerem abortos de fetos de sete meses...
Convém estarmos atentos à Espanha. Os países pequenos andam sempre a reboque dos vizinhos grandes.
J.P.F.
Fonte: Correio do Vouga

HORA DA SAUDADE

Navio-museu Santo André. Quando lá vou ou o vejo, tantas recordações me saltam na memória


HORA DA SAUDADE

“Hora da Saudade” era um programa da Emissora Nacional, destinado a emitir mensagens para os bacalhoeiros portugueses, que se encontravam nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Na Gafanha da Nazaré, as emissões eram à noite e saíam do Cine-Teatro Triunfo, localizado na Cale da Vila, na Rua D. Manuel Trindade Salgueiro, na esquina com a Rua D. Fernando.
Um dia destes, ao manusear O ILHAVENSE, de 10 de Setembro de 1953, encontrei a notícia que transcrevo, em jeito de recordação. Era eu, em nome da família, que participava na “Hora da Saudade”, lendo a mensagem previamente escrita e dirigida a meu pai, que foi contramestre do arrastão Santo André, um dos campeões do mundo da pesca do fiel amigo. Recordo, com que saudade, esses momentos comoventes que por vezes me bloqueavam, tremendo na leitura. Como acontecia a tantos outros familiares dos bravos lobos-do-mar. Algumas esposas e mães, ora alegres e esfusiantes, ora tristes e mais comedidas, lá iam lendo com desenvoltura ou soletrando com dificuldade as mensagens, que o locutor anunciava, pausadamente. No meu caso, era assim: “Para Armando Lourenço Martins, tripulante do navio (...), vai falar seu filho Fernando.”
Eu lia, então, e quando terminava saía feliz. O meu pai, longe, muito longe, bem avisado, como todos, tinha ouvido a minha voz e escutado e gravado na sua alma a mensagem da família.
Aqui fica a notícia que li no jornal O ILHAVENSE:

Hora da Saudade

Sob a presidência do sr. Capitão do Porto de Aveiro, comandante Carlos Pinto Basto Carreira, realizou-se em Ílhavo, no dia 30 de Agosto e na Gafanha da Nazaré, no dia 6 do corrente [Setembro], pela 2.ª vez este ano [1953], a “Hora da Saudade” dedicada aos pescadores do bacalhau, sendo lidas muitas mensagens por pessoas de família daqueles trabalhadores do mar.
Fernando Martins


Museu da Cidade: Objectos fazem história

A festa dos Ramos

Estátuas do Cortejo Cívico, 1939


Visita de D. Manuel II a Aveiro, 1908


Cerâmica Arte Nova, 1912



Olhar para o percurso de Aveiro

No Museu da Cidade, ali ao lado do Canal Central da Ria de Aveiro, está uma exposição interessante. À disposição dos visitantes está um conjunto de objectos que fazem história. Desde tempos longínquos até ao presente. Com perspectivas de futuro. Os objectos que ali se encontram mostram, à saciedade, que foram concebidos e feitos para poderem chegar até nós. E lá estão alguns. Garantindo a nossa identidade.
Aconselho uma análise ao painel cronológico da vida da região de Aveiro. Lendo as datas e o que a elas está associado ficaremos a saber mais alguma coisa. Aqui indico algumas:

- IV milénio antes de Cristo: Sítio arqueológico da Agra do Crasto;

Depois de Cristo:

- Séc. VI/VII - Forno de Eixo;

- 959 – Testamento da condessa Mumadona Dias ao Mosteiro de Guimarães, referindo terras e salinas;

- 1472 –Princesa Joana entra no Mosteiro de Jesus;

-1759, 25 de Julho – D. José eleva Aveiro a cidade;

- 1774 – Criação da Diocese de Aveiro;

-1864 – Linha Férrea e Estação de Aveiro;

- 1882 – Extinção da Diocese de Aveiro;

1959 – Festas do Milenário e do Bicentenário da elevação a cidade.

Nota: Há muitas outras datas, naturalmente.

Crescer na Caridade



“... a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espi-ritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo.”


Bento XVI, na sua Mensagem para a Quaresma


Nota: Permitam-me, os meus amigos, que sugira a leitura da Mensagem do Papa para a Quaresma que se avizinha. Sejam crentes ou não. A Mensagem de Bento XVI incide sobre a importância da caridade. Muitos, ao falarem da caridade, associam-lhe um tom depreciativo e até referem, com ar trocista, "caridadezinha". Dizem os políticos que o mais importante é a justiça a todos os níveis. É verdade que a justiça é importante, mas também é verdade que justiça e caridade não podem existir de costas voltadas uma para a outra. São, digo eu, complementares. Uma não exclui a outra.
Uma coisa, porém, acho que devo sublinhar: quando falta a justiça, a caridade aí tem um lugar especial para se manifestar. Quem há por aí que não tenha sentido já a caridade, sobretudo neste mundo de injustiças?

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Justiça em Portugal

Na linha do que ultimamente tem denunciado, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, afirmou, na abertura do Ano Judicial: “Muitas pessoas que actuam em nome do Estado e cuja principal função seria acautelar os interesses públicos acabam mais tarde por trabalhar para as empresas ou grupos que beneficiaram com esses negócios.” “Há pessoas que acumularam grandes patrimónios pessoais no exercício de funções públicas ou em simultâneo com actividades privadas, sem que nunca se soubesse a verdadeira origem do enriquecimento.”
"Há um sentimento generalizado na sociedade portuguesa de que o sistema judicial é forte e severo com os fracos, e fraco, muito fraco e permissivo com os fortes.” São afirmações duras e incisivas. Foram ouvidas pelo Presidente da República, pelo ministro da Justiça e pelos mais altos magistrados do Poder Judicial. O Procurador-geral da República, que já mandou abrir um inquérito, também ouviu o bastonário da Ordem dos Advogados. Os portugueses ficam à espera dos resultados. Todos queremos ficar tranquilos.
FM

Remodelação no Governo

Os ministros da Saúde e da Cultura foram substituídos. Correia de Campo e Isabel Pires de Lima vão ceder os seus lugares a Ana Jorge e a José António Pinto Ribeiro, respectivamente. Pessoalmente, penso que José Sócrates poderia ir mais longe. Ficou por aqui, convencido de que isto é o suficiente para calar os descontentes. Não é. Os protestos continuarão, porque há no Governo quem ande por ali a criar conflitos. Os ministros da Economia, Obra Públicas e Educação, por exemplo, podiam, muito bem, dar o lugar a outros, no sentido de aplacar as iras dos muitos portugueses descontente com a política do Governo do PS. Defendo que o Governo tem de fazer reformas impopulares, mas nunca pode avançar com elas sem as explicar muito bem. O povo gosta de dialogar com os governantes. Gosta que o oiçam, gosta de compreender o porquê das decisões. As reformas da área da Saúde estavam a mexer com as pessoas, ao “roubaram-lhe” um serviço de proximidade, tão necessário à tranquilidade de quem sofre e de quem está fragilizado pela idade ou pela solidão. Na área da Cultura, tudo girava como se nem ministro tivéssemos. Claro que esta mini-remodelação pouco poderá alterar a linha de orientação do Governo. Mas José Sócrates, que é um político determinado e experiente, saberá que, se continuar a hostilizar o povo, não chegará longe.
FM

MAR SEM SAL


MAR SEM SAL é um blogue que me chegou a casa por mão amiga. Trazia a recomendação de que é preciso estar atento. Já o vi. Está a começar e promete opinião com personalidade. Junto ao cabeçalho está um ponto de partida que vale a pena meditar: “Quando descobrimos aquilo de que somos feitos e a maneira como somos construídos, descobrimos um processo incessante de construção e destruição e apercebemo-nos de que a vida está à mercê desse processo interminável. Tal como os castelos de areia das praias da nossa infância, a vida pode ser levada pela maré.” António Damásio, O Sentimento de Si (1999).
A dona deste blogue assina e apresenta-se de forma original: SAL. Talvez por a sua cultura e a sua personalidade andarem muito na crista das ondas que dominaram os seus horizontes, desde tenra infância. E diz mais: "Sou cantora, professora do ensino especializado de música e investigadora. Sou uma pessoa que se recusa a ter um papel passivo nesta sociedade."
Com os meus parabéns, ficarei atento. Mas sei, à partida, que SAL não será levado pela maré, porque tem de cumprir a sua missão de temperar e dar sabor à vida.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



Cultura como desenvolvimento


1. São muitas as teorias e ideias sobre a cultura, mas na realidade as propostas de cultura apresentam-se sempre como um esforço repleto de fronteiras e incertezas. Como criar dinâmicas de tal forma interessantes e estimulantes em que as liberdades, o passado, presente e futuro, se juntem a celebrar a cultura e a vida? É a pergunta que percorre o tempo da história na expectativa de uma vivência cultural de tal forma intensa como se quase não precisássemos de apelar à cultura (cívica) da participação.
2. As coordenadas do tempo (passado, presente e futuro) não podem estar fora desse palco cultural. A própria visão cultural não pode ser em círculo fechado. Um horizonte cultural rasgado colocará no mapa da vida das sociedades a cultura no primeiro plano e não do último, como se de um acessório se tratasse. É também aqui, sem saudosismos mas como factor de “pertença”, que os séculos que nos precederam terão sabido erguer um património artístico e cultural ligado umbilicalmente à vida das gentes, numa convivência natural enraizada de tal forma que os laços de geração em geração conseguiram passar essas “tradições”. Algumas admiráveis, outras, como sabemos, nem tanto.
3. Às perguntas essenciais sobre o lugar da cultura no futuro das sociedades, poderemos responder com o que pensarão aqueles que serão o “amanhã” (os jovens de hoje) sobre o assunto. Há dias um professor especializado nestas áreas dizia que de forma crescente os jovens respondem ao jeito dos “links” (ficheiros, sectores) do computador, faltando uma visão de unidade geral de toda a informação que se “descarrega”. Nestas visões crescentes “espartilhadas” que lugar para a cultura, como elo de unidade do que somos com tudo o que antes de nós foi caminho humano? Haverá futuro sem consciência do passado?
4. É neste sentido que a cultura em Portugal terá de deixar de ser um acessório num palco de cumprir calendários. Talvez deva ser vista como factor essencial de desenvolvimento social. As gentes precisam de se sentir identificadas com as suas raízes para redescobrir as dinâmicas de participação comunitária. Quanto mais existir esse reconhecimento da “tradição” (mesmo folclórica, de bandas de música, colectividades que fazem continuamente um trabalho heróico), tanto mais haverá aptidão e curiosidade no apreço do fascinante futuro. Talvez esse “elo de unidade” possa reerguer a cultura portuguesa como factor de desenvolvimento humano e social. Mais (mais aberto) e melhor!


Alexandre Cruz

Reflexo


O (des)encanto da repetição

Ano após ano, temos celebrações que se repetem no nosso calendário e que, talvez por isso, nem sempre despertem o encanto da novidade que arrebata e surpreende. A Quaresma que proximamente se inicia pode não gerar o impacto mediático de outras celebrações do ano litúrgico nem mesmo o do Carnaval, a ela umbilicalmente ligado, numa sublime ironia, mas apresenta-se em 2008 com muitos caminhos de purificação prontos a percorrer, individual e colectivamente, em Portugal e no mundo.
À carnavalesca folia colectiva segue-se a discrição árida do tempo quaresmal, numa transição que parece humanamente impossível no quadro de apenas algumas horas. Não deixam, contudo, de ser momentos profundamente humanos, de buscas interiores e exteriores, de quadros desenhados numa dinâmica comum a milhões de pessoas.
A verdade é que, todos os anos, a Quaresma surge com os seus apelos de simplicidade, de solidariedade – menos “folclórica” do que o Natal, é certo -, de silêncio, interioridade e conversão. Palavras alheias ao frenesim do consumo e, admitamos, dos media, mais interessados naquilo que julgam não se virá a repetir.
Pensadores de todos os tempos pasmaram diante deste jogo de atracção e repulsa pelo “eterno retorno”, pela sequência dos momentos que vemos surgirem diante de nós com uma familiaridade invulgar, para serem vividos e transformados, uma e outra vez.
Há uma estranha tendência da humanidade de repetir a sua história no que ela tem de pio: assistimos hoje a várias tragédias humanas, mas o olhar crente não pode deixar de ficar impressionado com uma nova fuga para o Egipto por causa da fome, situação que já no início da Bíblia se via retratada no livro do Génesis.
Desta vez, cabe aos palestinianos de Gaza fazerem o percurso encetado por Abraão, José, Jacob e seus descendentes para um local associado à escravidão do povo, mas que acaba por ser um último refúgio em tempos de crise.
Terrível destino, este o da humanidade, se não parar de repetir a sua história. A Quaresma aí está, uma e outra vez, com o seu sereno convite a mudar de vida...


Octávio Carmo

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

2008 Ano Vieirino




Padre António Vieira:
Religioso, Escritor, Diplomata,
Pregador, Teólogo, Profeta

O ano de 2008, em que passam quatrocentos anos sobre o nascimento do Padre António Vieira, S.I., será ano vieirino ; ano de evocação da vida e da obra de uma figura ímpar da Cultura Portuguesa e Brasileira; ano de celebração de um homem de todos os tempos.
Ao longo da sua longa vida (1608-1697), repartida entre Portugal e o Brasil, com passagens por França, Holanda, Inglaterra e Itália, sempre este Jesuíta se assumiu como Actor no grande teatro do mundo, desdobrando-se em desempenhos tão fascinantes pela diversidade como pela genialidade da representação. Religioso, Escritor, Diplomata, Pregador, Teólogo, Profeta…, conheceu o triunfo e os aplausos, mas também o insucesso, a censura, o descrédito, a que quis e soube resistir.
Nele impressiona uma imensa energia, manifestada na acção e no discurso, aliás indissociáveis: para Vieira, dizer é fazer. A sua extensa e variada obra, reflectindo a sua extensa e variada vida, molda uma imagem viva do autor. Hoje, ler Vieira não é apenas entrar no grande teatro do mundo barroco: é descobrir, com maravilha, o infinito universo da palavra, prodígios, subtilezas e meandros da língua.