domingo, 2 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia

A ESPERANÇA 1. A esperança é o encontro com o desejado (bom e belo) futuro. Uma esperança que supera toda a ciência e tecnologia, pois que abarca a totalidade da existência, como encontro do que se é com o que se procura, envolvendo tudo o que se sente de mais profundo. Nesta fase histórica da globalização comunicacional do séc. XXI, que sobrecarregada nas mudanças de paradigmas de pensamento-vida gera um ansioso pessimismo, falar e propor esperança é perspectivar e antecipar um amanhã melhor que relativiza o poder das “coisas” ou dos “sistemas” e eleva a dignidade humana como centro de toda a experiência histórica. 2. Que bom seria que todos os líderes das grandes instituições, ciências sociais e humanas, filosofias, e religiões, esboçassem o seu Tratado da Esperança como compromisso com o futuro do século…e nesse caminho de reflexão sentissem o comum desígnio humano como transcendência, numa realização humana que se completa para além da historicidade sempre limitada. Diremos que neste aprofundamento dos valores essenciais da paz, amor, esperança, sentido da vida, todas as energias ganham proximidade, parceria, dando assim, “razões” para acreditar na esperança, pois esta não pode ser palavra “vã” que se professa sem se alimentar da interioridade…pois só depois se manifestará na (vida ética da) exterioridade histórica concreta. 3. Como que procurando partilhar uma mensagem esboçada nas raízes do ocidente, Bento XVI na recente Carta Encíclica (Spe Salvi – Salvos na Esperança) propõe-se a essa reflexão, na qual constrói o caminho da esperança, do Humano ao Divino, que para os cristãos brota na Primeira Pessoa. Nesta proposta da Esperança Cristã que culminará com a reflexão da época patrística (Agostinho de Hipona) e do magistério eclesial, o papa cita Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoiesvski, Engels e Marx. Numa visão de confronto reflexivo, visando uma distância crítica em relação aos sistemas técnico-sociais que, levados ao absoluto, podem asfixiar a esperança. 4. A esperança, como brotar contínuo de um sentido da vida que não “seca”, não se compra nem se vende, nem se produz em laboratório ou se detecta nas tecnologias da comunicação, por mais aperfeiçoadas que venham a ser. A esperança exige a “entrega” para além de si mesmo e para além das visões da história humana, sempre procuradora de verdades maiores. A viagem dos anos da vida apura a esperança, e em circunstâncias onde as forças da lógica racionalista humana nada valem… essa luz de esperança existencial (no fundo, sempre procurada) brota anunciando um amanhã melhor. Não é algo da ordem das pressas técnicas, exige a capacidade de sabedoria poética, elevada ao infinito! Não haja dúvida, na junção de todas as reflexões da esperança, o edifício da Nova Humanidade ganhará alicerces para todo o futuro! Alexandre Cruz

DIA DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA




Comemora-se hoje o Dia da Abolição da Escravatura. A oportunidade desta comemoração é evidente. A escravatura desde sempre existiu à face da Terra. E continua a marcar a existência de muitos seres humanos. Foi oficialmente abolida em muitos países, mas ainda existe em muitos outros. Até naqueles onde se julga que a escravatura foi erradicada há muito.
Quando se fala de escravatura, logo nos vêm à mente cenas de pessoas acorrentadas e ligadas, como bichos, a trabalhos forçados. Seres humanos tornados animais de carga. Sem direitos, sem voz, sem projectos de vida, sem felicidade. Eram comprados e vendidos como gado nas feiras. Eram propriedade absoluta de quem os comprava, com direito a fazer deles o que quisesse.
Contudo, e sem podermos esquecer esse tipo de escravatura, não podemos ignorar a realidade dos tempos actuais em países civilizados e democráticos. É sabido que há novas e subtis formas de escravatura. Escravos do sexo, escravos de negócios sujos, escravos de patrões cegos pelos lucros fáceis, escravos do dinheiro que todos os sentimentos abafa, escravos de ideologias desumanizantes, escravos de máfias que os exploram sem piedade. Mais ainda: crianças forçadas a trabalhos de adultos, crianças escravizadas na pedincha, crianças-soldados em guerras que não entendem, crianças-artistas sem tempo para brincar, crianças abusadas por adultos tarados, crianças sem direitos de crianças.
O rol das novas formas de escravatura seria interminável. Mas o que disse já será minimamente suficiente para reflectirmos sobre a escravatura que ainda existe entre nós. Para que um dia todos os homens e mulheres deste mundo sejam pessoas livres.

Fernando Martins

ACOLHER A DEUS QUE VEM



Deus faz-se humano e quer acolher-nos. Pretende encontrar-se connosco e ser nosso amigo e companheiro. Vence todas as barreiras para se fazer próximo e dar a conhecer este seu desejo. Quer ajudar-nos a ser humanos, abrindo-nos horizontes de realização plena. Quer indicar-nos o caminho a percorrer, os valores a cultivar, as opções a fazer, as atitudes e os gestos a vivenciar. Quer envolver-se na história humana, potenciando capacidades e ajudando a superar limitações. Quer ser verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco.
É este o sentido profundo do Advento que marca o início do Ano Litúrgico. É uma espécie de tempo novo em que o modo de ser e de agir de Deus se vai dando a conhecer progressivamente. E também a maneira como reage a humanidade.
A história bíblica constitui um rico documentário desta relação mútua. Deus mantém-se sempre fiel. O povo nem sempre e faz outras opções. Surgem então os profetas que recordam o propósito divino, as promessas feitas, a aliança celebrada. E anunciam que o Emanuel vai nascer. É necessário estar atento e vigilante, preparar-se para o acolher, pronto e disponível lhe corresponder.
Jesus é este Emanuel. O seu nascimento é o Natal cristão. A atitude mais correcta é a vigilância do espírito, fruto de uma consciência lúcida e de um coração sensível. A resposta mais acessível e coerente é o cultivo da liberdade para, sem medos nem inibições, o acolhermos com alegria e verdade.
A atitude vigilante supõe e exige forças dinâmicas que nos fazem viver um humanismo de qualidade: a esperança, a sobriedade, o trabalho, a responsabilidade, a oração que constitui como que a seiva de todas as outras.
A esperança tem como alicerce a promessa feita e Deus não falha. A sua vinda é certa. O envolvimento no seu projecto depende de nós. A sobriedade faz-nos ser donos de nós mesmos e partilhar generosamente os bens com os necessitados. O trabalho desenvolve capacidades indispensáveis à nossa realização e à dos outros. A responsabilidade leva-nos a dar a melhor resposta aos desafios que nos chegam, quer provenham das situações humanas, quer da urgência de testemunhar de modo credível o Evangelho.
Estas forças dinâmicas, além de tornarem mais humana a nossa vida, dão um contributo valioso à humanização da sociedade. O natal da nova humanidade está a surgir e pode ser apressado. Precisa do esforço de todos, especialmente do contributo de pessoas enraizadas na fé, alegres na esperança e empreendedoras no amor gratuito.



Georgino Rocha

A IMPORTÂNCIA E O PREÇO DA DEFESA DO AMBIENTE



Nos próximos cinco anos, Portugal vai gastar 348 milhões de euros para cumprir o Protocolo de Quioto. Um esforço financeiro que custará a cada português cerca de 35 euros. Para tanto, parece pouco, mas não chega para inverter a tendência destrutiva global que ameaça o ambiente.
Depois de anos de apelos e campanhas de sensibilização, a carteira está identificada como a única, e derradeira, forma de estimular a protecção do ambiente. Assim, os próximos anos serão de aumentos significativos no que aos recursos naturais diz respeito. O objectivo da União Europeia é que se consuma menos água quando quem a utiliza passar a pagar, além do custo real, o custo ambiental; que se produza menos lixo, quando a taxa de resíduos começar a reflectir o real custo do seu tratamento, cada vez mais complexo.
Para o ano, o Orçamento do Estado prevê já que 60% do valor do imposto automóvel seja calculado consoante as emissões poluentes do veículo. É justo que paguem mais os que poluem mais. Mas, nesta matéria, o dinheiro apenas ajuda a limitar os estragos ambientais, porque muitos são irreversíveis.
É incompreensível que uma questão de bom senso, que nos beneficia a todos, tenha de ser imposta à força e com sacrifícios económicos que as famílias podiam evitar ou, pelo menos, minimizar, se se empenhassem a fundo na defesa do ambiente.
Mas nunca é tarde de mais para começar.

Editorial do DN de hoje

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 49



TREVÕES ... A LENDA DO POÇO




Caríssima/o:

Venham comigo, acompanhar a Mariana, até Trevões. Servir-nos-emos de vários escritos:

«Entre as serras vestidas da Beira e os montes despidos do Douro, situa-se Trevões, povo tão importante e antigo que já os documentos medievais falam dele.
Foi cabeça de concelho até ao liberalismo, senhoreado por fidalgos de elevada estirpe, que aqui deixaram suas moradas, das quais a mais importante é o Solar dos Caiados Ferrões, numa construção que remonta ao século XVIII.
Durante muito tempo, numa casa apalaçada e com magníficos dourados, junto ao adro da igreja, teve o bispo de Lamego a sua residência de férias e de Verão.
»
[À Descoberta de Portugal, Selecções do Reader's Digest, 1982, pág. 95]

«É terra de remoto povoamento. Há documentos do século XII que se lhe referem. No final da Idade Média sofreu, como tantas outras da região de Riba-Côa e de Tarouca, as prepotências dos senhores de Marialva e Penedono, os Meneses, de cuja estirpe foi representante típico, pelo uso da violência, o mal afamado Sousa Coutinho. Aqui mesmo um prelado de Lamego foi preso e humilhado por esse fidalgo atrabiliário. A vila recebeu foral manuelino em 1512. Pela reforma de 1855, perdeu a categoria de cabeça de concelho. Na povoação decaída, há solares de algumas estirpes beiroas e transmontanas (Sarmentos, Caiados, Almeidas).
A igreja paroquial (mon. nac.), talvez do séc. XIII, conserva ainda acentuados traços da sua estrutura românica: paredes de grande espessura, arco do portal de ponto subido, cantarias sigladas.
»
[Guia de Portugal, Gulbenkian, 1988, vol. V, pág. 790]

«Desde a primeira dinastia que Trevões foi couto da Sé lamacense, pertenceu a vários senhores e ao rei (reguenga), povoada por carta de foro de 1159 de D. Afonso Henriques com D. Fernão Mendes «de Bragança» (Braganção) e D. Sancha Henriques, sua mulher e irmã do monarca (quem fez doação à Sé, tornando a vila «couto» episcopal e D. Dinis, na devassa, mandou respeitar).

D. Manuel I deu foral novo à vila e concelho de Trevões, a 15 de Dezembro de 1512. Teve hospital e misericórdia.
Trevões foi elevada a Paróquia no século XIII e tem como padroeira Santa Marinha que, segundo reza a história, foi uma das nove irmãs martirizada e perseguida por se converter ao cristianismo, acabando por ser degolada após sucessivas torturas, das quais saiu miraculosamente curada. Realiza-se em Julho a festa em sua honra.
É uma terra de grande religiosidade, bem patente no grande número de capelas e ermidas que apresenta e na existência de ricas tradições e manifestações de índole religiosa, não podendo deixar de destacar-se, a Capela de Nossa Senhora da Conceição do século XVII, situada na praça da vila, bem como a conhecida Procissão do Senhor dos Passos que se realiza em Abril durante a Semana Santa.
A sul ( e a mais de meia hora de tractor) levanta-se a serra do santo Sampaio e capela que deu origem a rivalidades e (graves) desentendimentos (até inícios da década de 70) com os de Penela que o disputavam. Por isso (antigamente) em dia de procissão (da freguesia à serra), o andor entrava às arrecuas na ermida (de costas voltadas para os de Penela).»
[De documento fotocopiado que possuo.]


Aqui chegados, dizei-me se há necessidade de lenda?
Mas para que não digam coisas, deixo-vos com uma deliciosa que encontrei no sítio da Escola de Várzea de Trevões, freguesia que fica mesmo ali ao lado:

«Era uma vez os mouros que habitavam em Várzea de Trevões e quando eram muito velhinhos pegaram em três panelas, uma contém pês(fogo), outra contém prata e a outra ouro. Enterraram as 3 panelas num poço e cobriram com uma rocha e terra, donde nasceu uma nascente.
Quem nelas mexer terá que encontrar a panela de ouro, pois se encontrar a de prata arrebenta com o poço, se encontrar a de pês(fogo) arrebenta com a Freguesia, daí nunca ninguém lá ter mexido para exploração da água.»


Esperando que tenham gostado do passeio, fica o

Manuel

sábado, 1 de dezembro de 2007

NATAL


Até ao Natal de Jesus Cristo, 25 de Dezembro, por aqui hão-de passar, como é meu desejo, sinais desse marco histórico que mudou o mundo. Em prosa ou em verso, em fotografia ou noutros registos, esta será uma maneira simples de saudar quantos passarem, mesmo de fugida, pelo meu blogue. Obviamente, gostaria que outros se associassem a esta minha intenção, partilhando, assim, cada um e todos, um Natal de mais paz.

Simples VERSOS Simples


Simples VERSOS Simples

Simples Versos Simples
Brotam do meu coração
Em manhãs serenas
Em tardes amenas
Ditados pela emoção

Ditados pela emoção
Cantados por minha’alma
Simples Versos Simples
São sinais de ternura
Da vida já vivida
São sonhos de venturas
Por viver

Fernando Martins

1º de Dezembro



Ainda não perdemos a dignidade
de Nação livre e independente



Não sei se muitos portugueses ainda sabem que dia se celebra hoje. Dia 1º de Dezembro, feriado nacional, para recordar a célebre data histórica do ano 1640. Depois do domínio filipino, que durou 60 anos, um grupo de portugueses restaurou a dignidade nacional, proclamando rei D. João IV, o então duque de Bragança e a residir em Vila Viçosa. Diz a história pátria que foi dia grande, com o povo a festejar o feito levado a cabo por um grupo organizado de patriotas.
Que é feriado, julgo que toda a gente o sabe. O significado e a importância do que se celebra penso que pouca gente estará interessada em saber. Julgo também que, se viéssemos para aqui, agora, falar do patriotismo daqueles heróis, ainda alguém ficaria ofendido. Porque para alguns, infelizmente, já é politicamente incorrecto falar de patriotismo. Nunca percebi porquê. Nem estarei, nesta idade, com tempo para descobrir a vergonha com que alguns escribas e falantes fogem à ideia de patriotismo, considerando-a ultrapassada.
Contudo, não me coíbo de dizer que o amor à Pátria, no qual fui educado, devia ser regra de conduta diária de quem educa. A nossa juventude, penso eu, só ganhará se for encaminhada para os valores que enformaram as nossas raízes e que são os alicerces sólidos de uma nação independente.
Recordar os feitos dos nossos antepassados, muitos dos quais construíram o nosso País com muito amor e com muitos lágrimas, é obrigação de todos. Sem complexos e com orgulho. Somos uma das nações mais antigas da Europa. Demos novos mundos ao mundo. A Língua Portuguesa pode ouvir-se e falar-se nos quatro cantos da Terra. Fomos muito poderosos e hoje estamos na cauda da UE a nível económico. Mas, que eu saiba e sinta, ainda não perdemos a dignidade de Nação livre e independente, orgulhosa do seu passado, atenta ao seu presente e confiante no seu futuro.

Fernando Martins

DEUS CONTRA DEUS?

1. Embora ao princípio tenha sido ignorada, trata-se de uma obra decisivamente importante: O Mundo como Vontade e Representação, de A. Schopenhauer. "O mundo é a minha representação", assim começa, pois é sempre com a nossa estrutura humana que o captamos. Mas o Homem não se reduz ao conhecimento. Antes de pensarmos, vivemos: respiramos, comemos, bebemos, movimentamo-nos. Somos um corpo vivo que quer viver. No mais fundo de nós, somos vontade de viver, e a mais forte expressão dessa vontade está no sexo e no instinto de reprodução. Toda a vida orgânica é manifestação dessa vontade. É aterrador o que se passa na selva - também na "selva humana". Mais: a vontade está na raiz das manifestações da natureza inorgânica - pense-se na potência que põe os astros em movimento, na energia nuclear, na força de atracção e repulsa dos elementos, nas tempestades, nos terramotos, nos vulcões. O universo, aparentemente sereno, é um reboliço infindo, gigantesco. Foi também aqui que Nietzsche veio beber a sua teorização da vontade de poder e do super-homem. O que é a moral vulgar senão a manifestação do ressentimento dos fracos contra os fortes? 2. Já não se repara nisso, mas o cristianismo é realmente um paradoxo e um escândalo. Jesus disse que veio para que tivéssemos "a vida e a vida em abundância". Ele é a "ressurreição e a vida". Mas a vida que ele traz não é a vida para os mais fortes. Os preferidos são os fracos, os doentes, os aleijados, os pobres, os coxos, os cegos, os leprosos, as prostitutas, os pecadores públicos, os marginalizados pela sociedade, os excluídos pela religião. E são precisamente os poderosos que em coligação o excluem do mundo, condenando-o à morte e morte de cruz - a morte dos escravos. Portanto, Jesus aparece sem poder. Ele é Deus derrotado pelos poderosos, coisa nunca vista nem ouvida. São Paulo percebeu o escândalo, dizendo que só pregava Cristo, e Cristo crucificado. Aos Coríntios escreveu: "Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios." E foi ao Areópago, em Atenas, pregar "o Deus desconhecido", que ressuscitou Jesus. Agora, "quem quiser ganhar a vida deve perdê-la, quem a perder por amor ganha-a". É tal o paradoxo que, aqui, se agita uma pergunta tentadora: Porque não criou Deus um mundo mais amoroso e menos violento? Não foi o Filho "vítima" do Pai criador, como se Deus lutasse com Deus? 3. Os seres humanos debatem-se com três impulsos - manifestações fundamentais da vida como potência - de cuja gestão depende uma vida humana boa para todos: o prazer, o ter e o poder. Alguns dos primeiros cristãos resolveram a questão de modo radical, entregando o poder a César, renunciando ao casamento, dando os bens aos pobres. A sua fidelidade era facilitada pela convicção da chegada iminente do Reino de Deus, com a segunda vinda de Jesus. Se o Reino de Deus, aquele Reino onde Deus reina e onde não haverá escassez nem exploração nem dor nem morte e se realizarão todas as esperanças, está para chegar, César que fique com o poder, efémero, a questão do casamento não se põe, já não se trabalha e tudo é comum. Depois, foi o que se sabe. Até o Papa se declarou "sumo pontífice", sucedendo ao imperador, os bispos ocuparam palácios, os cristãos mataram e mataram-se por causa do prazer, do ter e do poder. Jesus ainda não voltou, e a vida sem algum prazer não tem interesse; para haver futuro, é preciso continuar a gerar; a economia tem de funcionar, e não há comunidades humanas sem um mínimo de exercício do poder. Assim, o desafio essencial para os cristãos é a gestão do prazer, do ter e do poder, no horizonte da mensagem de Jesus com as bem-aventuranças: "Felizes os pobres em espírito, os mansos, os misericordiosos, os que choram, os puros de coração, os que se batem pela justiça..." Mas já Nietzsche se queixava: "Cristãos? Só houve um, e morreu na cruz." Depois, veio a Igreja e "o Disangelho". Anselmo Borges

Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro

Na antiga Capitania, 15 de Dezembro



“PORTUGAL NA ÉPOCA DA ABERTURA DA BARRA”

“No próximo dia 15 de Dezembro, vai realizar-se, no edifício da antiga Capitania de Aveiro, uma conferência subordinada ao tema “Portugal na época da abertura da Barra”.
A conferência, com início previsto para as 17 horas, será proferida pelo Comandante Rodrigues Pereira, Director do Museu da Marinha e ex-Capitão do Porto de Aveiro. Esta iniciativa integra-se nas comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

CATÓLICOS E VIDA PÚBLICA



Teve lugar no passado fim-de-semana, em Madrid, a nona edição anual do Congresso 'Católicos e Vida Pública'. Com mais de 1500 participantes, o evento decorreu num ambiente de tensão crescente entre o Governo socialista e a Igreja católica. No centro das preocupações dos congressistas esteve a procura de um equilíbrio entre a presença pública da Igreja e o reconhecimento do pluralismo da sociedade espanhola.
George Weigel, o biógrafo norte-americano do Papa João Paulo II, apresentou uma das muitas contribuições interessantes para esta reflexão. Apresentando-se como teólogo católico e cidadão de uma das mais antigas democracias do mundo, Weigel perguntou o que pede a Igreja ao Estado. E respondeu basicamente duas coisas: espaço e abertura intelectual. Nada mais, porque a Igreja não tem uma proposta política, e nada menos, porque ela também não abdica do seu ministério independente da palavra, do sacramento e da caridade.
Exigir espaço - social, legal, político, até psicológico - implica reclamar que o Estado seja uma entidade limitada: pelo costume, ou pelo hábito moral e cultural, e pela lei. Esta limitação do Estado é a primeira condição de uma democracia pluralista. Ao recusar a absolutização da política, o princípio do Governo limitado abre espaço a uma interacção livre, vigorosa e civilizada entre várias propostas de ordenação da vida pública, nenhuma das quais é investida de autoridade última. A democracia é impossível quando a política é absolutizada, porque a política de absolutos é necessariamente a política da coerção.
A segunda coisa que a Igreja pede ao Estado, segundo George Weigel, é que mantenha uma atitude de abertura intelectual. Isto significa em termos gerais, que o Estado não pode adoptar uma filosofia particular, muito menos tentar impô-la aos cidadãos (ou aos seus filhos). Em particular, a Igreja reclama do Estado que ele mantenha uma abertura intelectual relativamente a um aspecto específico: a possibilidade de redenção.
Este é um aspecto curioso, que ilustra a interpretação não jacobina de laicidade. Por um lado, a Igreja recusa a teocracia e a existência de religiões oficiais. Por outro lado, a Igreja recusa que o Estado adopte como sua filosofia a hostilidade contra a religião. Por outras palavras, a Igreja reclama do Estado uma posição de abertura que contenha a possibilidade da verdade da religião.
Em termos práticos, isto significa que as duas principais reclamações dos católicos, segundo George Weigel, devem ser a liberdade religiosa e o respeito pelo pluralismo das instituições intermédias. O resto cabe aos católicos conquistar pela persuasão e pelo testemunho.

João Carlos Espada



Advento à porta




Hoje, na cidade, passei pelo Fórum, uma bela sala de visitas de Aveiro. Os sinais da festa que se avizinha aí estão, como desafio à nossa imaginação para a vivermos em plenitude, dentro do possível. O sector comercial, importante na vida, já está a mexer-se, acordando-nos para a realidade natalícia, revivida ano após ano. E que estaremos nós a fazer para, ao nível espiritual e social, não perdermos a ocasião de renascermos para mais um ano?

Dificuldades técnicas continuam

Continuo com limitações técnicas neste meu espaço da blogosfera. Há problemas, cujas soluções, não dependendo directamente de nós, nos incomodam bastante. Há que aceitar essa realidade. Há pouco tive a confirmação de que só na próxima semana tudo ficará resolvido. Até lá, tenho que ter paciência. Os meus amigos também. De qualquer forma, vou fazendo o que puder.
Fernando Martins

Na Linha Da Utopia


Adeus MadreDeus?

1. Tudo tem o seu tempo. Mas há tempos que são marcados por referências culturais de relevo. Foi precisamente há 21 anos que começou este projecto musical MadreDeus que viria a tornar-se emblemático da cultura portuguesa, percorrendo todos os mares da cultura internacional. O primeiro disco Os Dias da MadreDeus (1987), apresentava-se como um enigma musical que respirava dessa nostalgia e do horizonte oceânico do ser português.
2. Por trás deste simples e grandioso projecto está o génio Pedro Ayres de Magalhães, autor-compositor que tem criado maravilhas na música portuguesa do género. Agora, a voz que ele há duas décadas encontrou nos bares de Lisboa libertou-se noutros projectos mais individuais... Essa voz que, mediante as sensibilidades, repetitiva para uns, única para outros (como nós), levou por esse mundo fora, mais que o “nome”, a partilha da identidade portuguesa.
3. Se no estrangeiro o apreço e o mérito cedo foram reconhecidos, no Portugal pessimista da falta de autoconfiança a banda MadreDeus fora inicialmente vista com desconfiança. A sua chegada (regresso) a Portugal espelha também essa realidade tão típica nossa: foi necessário, primeiro, um reconhecimento mundial para depois apreciarmos e valorizarmos o que é nosso. Somos assim, felizmente já somos menos. Uma energia positiva de autoconfiança vai-nos abrindo as portas, dizendo que somos tão capazes como os outros, de que não podemos estar à espera das soluções mas teremos de ser parte delas.
4. Neste projecto musical, que talvez seja muito mais que simples música pois trata-se incomparavelmente da mais internacional banda portuguesa que do oriente ao ocidente recebeu a aclamação, a “hora” é de pergunta sobre o futuro. Estando o grupo a terminar este ano sabático de 2007, a voz da Teresa Salgueiro, por outros projectos pessoais, não tem disponibilidade para tanta solicitação... Para quem aprecia a guitarra do Pedro e a sua voz em conjunto, pena. Sobreviverá a banda MadreDeus, quando, afinal acabou por ser a voz de Teresa a dar a identidade ao projecto? Eis a questão!
5. Mas, acima de tudo, sem nostalgias, o tempo cultural português recente agradece os Dias e os anos de tão embaixador projecto cultural. Haja o que houver, MadreDeus são história viva!

Alexandre Cruz

Nova Encíclica do Papa


SALVOS NA ESPERANÇA

Spe salvi (Salvos na esperança) é o título da segunda encíclica de Bento XVI, dedicada ao tema da esperança cristã, num mundo dominado pela descrença e a desconfiança perante as questões relacionadas com o transcendente.
"O homem tem necessidade de Deus, de contrário fica privado de esperança", pode ler-se. O Deus em que os cristãos acreditam apresenta-se como verdadeira esperança para o mundo contemporâneo porque lhe abre uma perspectiva de salvação.
Bento XVI considera que só é possível viver e aceitar o presente se houver "uma esperança fidedigna" e destaca a importância da eternidade, não no mundo actual - "a eliminação da morte ou o seu adiamento quase ilimitado deixaria a terra e a humanidade numa condição impossível", aponta - mas como "um instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade".
"Deus é o fundamento da esperança, não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto", observa.
A carta do Papa, hoje divulgada pelo Vaticano, defende que só Deus é a "verdadeira esperança" e aborda por diversas vezes a questão da "vida eterna", frisando que "ninguém se salva sozinho".
O documento começa por apresentar um enquadramento teológico da esperança cristã, a partir dos textos bíblicos e dos testemunhos das primeiras comunidades eclesiais. O Papa apresenta ainda os ensinamentos de vários Santos da Igreja a respeito do tema da encíclica e escreve que "conhecer Deus" significa "receber esperança".
Depois de negar que Jesus tenha trazido uma mensagem "sociorrevolucionária", Bento XVI aborda a questão da evolução para afirmar que "a vida não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como amor".
O Papa cita, entre outros, Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoievski, Engels e Marx para falar de esperança e de esperanças, de razão e liberdade, da construção de um mundo sem Deus que pretende responder aos anseios do ser humano. "Nenhuma estruturação positiva do mundo é possível nos lugares onde as almas se brutalizam", declara.
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Fonte: Ecclesia

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia


O 29º LUGAR
DO RELATÓRIO DH

1. Em termos de desenvolvimento humano, na recente lista de 70 países com desenvolvimento humano elevado, Portugal ocupa o 29º lugar, sendo a cauda da Europa ocidental. No geral, foram analisados pelas Nações Unidas um total de 177 países, na procura de cruzar os dados existentes e assim ficar com uma visão de conjunto que privilegia as pessoas na sua sociedade concreta. A listagem (dos 70) começa na Islândia e termina no Brasil. Como todos os rankings deste género, as abordagens não são lineares, o que, por exemplo, se prova quando o Japão surge no oitavo lugar, tendo este país uma média de esperança de vida à nascença de 82,3 anos, maior que a fria Islândia, país que é o topo da tabela.
2. Mesmo nos limites naturais de tão complexo (e essencial) estudo, existe um extraordinário potencial meritório neste género de estudos (a que também juntamos o Relatório Anual sobre a Liberdade Religiosa no Mundo) que colocam, na generalidade, a claro aquilo que são as virtudes e os limites das sociedades contemporâneas, sempre no sentido de colmatar, solucionar, melhorar a vida das pessoas. No Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), entre outros, entram factores essenciais como a esperança de vida à nascença, taxa de alfabetização de adultos, taxa de escolarização bruta combinada (dos ensinos básico, secundário e superior) e o PIB per capita. O presente relatório, sublinhando, dá, ainda, um especial destaque à mudança climática que elege (a par do combate à pobreza extrema, um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio) como o maior desafio que se coloca à humanidade neste início do séc. XXI.
3. Como em tudo, o primeiro passo para a cura é o diagnóstico. Estes diagnósticos anuais querem ser ponto de partida contínuo, num desejado progresso para a humanidade. Estes relatórios interessam a todos, pois, hoje mais que nunca em tempo global, não há solução que não passe pela parceria ampla que potencie soluções sustentáveis. Todos, desde os maiores actores sociais (políticas, educação, religiões, filosofias,…) até aos cidadãos que todos os dias trabalham e vivem (ou sobrevivem), estão incluídos como visão de projecto, neste desejado integral desenvolvimento humano das nações. O encontrar de soluções no tempo actual, que pressupõe um pensar global e acção local, obriga a ver como estamos para solidificar o (sempre mais e melhor) que queremos. Também para o 29º classificado, em que subimos a média esperança de vida à nascença para 77,7 anos. Relatório DH em:
http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2007-2008/

Alexandre Cruz

ARES DO OUTONO












MESMO NO OUTONO...


Mesmo no Outono, como noutra estação do ano qualquer, os nossos olhos podem sempre descobrir algo de novo, algo de belo.... Estas imagens da Figueira da Foz são disso uma prova concludente. O povo que gosta de praia já se foi há muito, deixando para trás belezas porventura ignoradas pelas grandes rotas turísticas. Se quiser confirmar o que digo, passe por lá. Vá à descoberta daquilo que muita gente não quer ver.


Novo esilo de organização: renovar ou reformar?


Numa palavra de ordem à Igreja em Portugal, o Papa assinalou a necessidade de mudar o estilo de organização da comunidade eclesial e a mentalidade dos seus membros. Só assim, acrescenta, a Igreja poderá caminhar ao ritmo do Concílio Vaticano II.
Esta recomendação vem muito a propósito e com marcas de urgência. Teremos de nos interrogar se este objectivo se procura por reformas ou por um processo de renovação.
É um facto que a Igreja, em alguns campos e aspectos, não se desprendeu ainda de formas e de estruturas que hoje mais dificultam a circulação da vida que a favorecem. As estruturas são um serviço à vida das pessoas e das comunidades. Por isso mesmo, são, por sua natureza, avaliadas periodicamente e substituídas ou renovadas, quando deixam de servir os objectivos desejados.
A Igreja está, em nome do Deus em que acredita e da Mensagem que lhe foi confiada, ao serviço das pessoas, construindo comunidades, animadas pela graça de os seus membros se sentirem uma família nova de filhos e de irmãos. Quando a vida das pessoas muda ou as mudanças sociais dão origem a novas culturas, nas quais se alteram valores, critérios e modelos de vida, logo tem de surgir a interrogação sobre os novos caminhos a abrir e percorrer para melhor se poder servir. De outro modo, a Igreja fica fora do tempo e começa a funcionar e a gastar as suas melhores energias em função de si própria e não daqueles aos quais é enviada. Fica assim em causa a sua condição de servidora do Evangelho de Cristo, uma Boa Nova nunca esgotada, nem envelhecida, e sempre necessária, para que as pessoas vivam e comuniquem segundo a dignidade que lhes é própria e, pelas relações mútuas, exerçam o seu protagonismo de construtores responsáveis de uma sociedade humanizada e fraterna.
Séculos houve em que, no aspecto religioso, o campo invadiu a cidade e aí assentou arraiais com formas de vida e de acção eminentemente rurais. As paróquias são estruturas rurais na sua origem e medievais na sua óptica e concepção.
Numa sociedade estática, na qual a cidade não era senão um campo alargado onde vivia um maior número de gente rural, a estrutura territorial ajudava a coesão por via da delimitação de fronteiras e da concretização de tarefas religiosas. Os leigos em geral não eram mais que membros passivos da Igreja que dela recebiam a Palavra e os Sacramentos. A eles mais não se pedia que a ajuda material.
De depressa, por motivos ridículos, se foram gerando bairrismos e conflitos. Muitos destes ainda perduram sensíveis a formas novas que se pretendam implementar.
Pela explosão das ordens religiosas, ao tempo com clero mais abundante e preparado, foram surgindo no tecido religioso alguns quistos, que não favoreceram e ainda hoje nem sempre favorecem a renovação desejada.
O mundo das pessoas mudou nas suas expressões, objectivos e relacionamentos e as fronteiras territoriais amoleceram, no sentido da coesão e até da expressão comunitária. O urbanismo, como pensamento e expressão de vida, invadiu o que restava de mundo rural. A mobilidade cresceu pelas mais diversas razões e é hoje expressão normal da vida de muita gente.
Democratizaram-se a vida pública e os regimes políticos, a escola e as relações pessoais; alteraram-se os valores tradicionais e multiplicaram-se as fontes de informação, com manifesta influência nos ideais de vida e nos comportamentos pessoais e colectivos. De repente, tudo mudou. Porém, algumas estruturas eclesiásticas, nomeadamente as paróquias, mas não só, perduram neste século XXI, embora com algumas reformas, com o colorido de formas estruturais de séculos longínquos. A palavra de ordem passou, por isso mesmo, a ser outra: Tempos novos, novas formas de acção pastoral e de expressão apostólica.
Esta reflexão, que vai continuar, pretende ser uma ajuda operativa ao apelo do Papa.


António Marcelino
Foto: Padres conciliares

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia



SOCIEDADE CIVIL

1. A vivência da sociedade civil é o reflexo dos níveis de desenvolvimento que se atinge. Um corpo social dinâmico e todo responsável pelo que é de todos, eis o espelho claro de uma liberdade bem entendida e de uma correspondente democracia justamente amadurecida. Sempre a favor de tudo quanto é bom para o bem comum (das pessoas), sempre com todos os actores do tecido social que cooperam com essa presença e proposta de uma sociedade civil não adormecida mas construtiva.
2. Normalmente, na busca do equilíbrio referencial, falar-se de sociedade civil remete-nos para uma plataforma comum onde a vida da “classe média” representa essa dinâmica criativa ou a sua ausência indiferente. Assim sendo, tanto as revoluções históricas reflectem essa insatisfação da grande maioria de cidadãos (na sua negação da dignidade e direitos), como nas situações de pobreza extrema dificilmente se consegue vislumbrar uma réstia de expectativa transformadora.
3. Mas, que considerar quando os bens essenciais parecem garantidos e a indiferença generalizada substitui a energia interventiva? O facto de em alguns países europeus o voto eleitoral ser obrigatório (como na Holanda) reflecte essa passividade, que faz pensar (?), das terras da liberdade. Também para nós portugueses, como compreender e desenvolver mais as potencialidades (e que esperar mais) de uma sociedade civil que se reconheça (como centro da vida) em que a preocupação pelo “pão de cada dia” sobreocupa o tempo social?
4. O desenvolvimento (integral) dos povos e a consolidação dos valores fundamentais, hoje, reclama o aprofundamento desta ideia chave de uma sociedade que vive a civilidade como compromisso social. Numa visão sem antípodas (ou, ou), estes são sempre o reflexo de subdesenvolvimento reflexivo. Uma civilidade de pessoas livres, numa liberdade que integra as linhas referenciais (de ética comum) dos dignos estados.
5. Uma certeira perspectivada sociedade civil em que ninguém se põe no lugar dos outros, nas onde todos (pessoas livres e estados co-responsáveis) cooperam em ordem à plena realização pessoal e social. Quando se pede aos Estados para resolver todos os problemas da sociedade (de todos), ou quando as liberdades não conseguem integrar os referenciais pluralistas “qb” (dos poderes públicos) em ordem à realização da vida em sociedade, ou, ainda, quando os Estados se querem sobrepor forçadamente às pessoas optando por elas… será porque haverá muito que caminhar em termos de sociedade civil, de modelo civilizacional.
6. Esta sociedade civil, quando está morta ou é indiferente às questões do bem das pessoas, gera a anemia social (somos na letra, mas não somos na realidade!), normalmente permeável ao avanço do que menos interessa ou à fácil (im)posição. Precisamos de uma sociedade civil mais atenta e comprometida (que pense consequentemente as questões da família, do trabalho, da educação, escola, ambiente, …)? Sim, sempre!


Alexandre Cruz

ARES DO OUTONO





TORREIRA
Os sinais do Outono são bem visíveis na Torreira. Praia deserta, que o frio já incomoda, e há mais que fazer nesta altura do ano. Mas um passeiozinho por ali, mesmo de fugida, vale sempre a pena.

POR CAMINHOS JÁ ANDADOS


De todos é sabido que o Seminário dos Olivais nos seus 75 anos de existência, foi um marco para o país. Um marco e um sintoma. Vinte e seis antigos alunos e professores, distanciados das celebrações oficiais (e a maior parte fora do exercício sacerdotal) decidiram juntar fragmentos de memória e reunir descompassadamente histórias e reflexões que tiveram a ver com os itinerários pessoais e comunitários numa casa comum. Assim se construíram análises híbridas de afecto e crítica, muitas vezes na óptica dos caminhos percorridos por cada um. Mas reconheça-se a importância deste livro - será livro, na sua desarrumação despretensiosa e eloquente, reveladora talvez das turbulências do tempo a que se refere? É escrito a quente quarenta anos depois da maioria dos factos. É livre porque não enferma do mais pequeno pendor apologético. É útil porque recapitula factos que podem ajudar a ler um tempo rico e complexo. É grato, porque reconhece ao Seminário um lugar privilegiado no terreno da cultura, da fé, da espiritualidade, mesmo nas encruzilhadas da dúvida e da contestação. É útil porque recapitula gestos proféticos de mestres que fizeram a heróica travessia de Trento para o Vaticano II, em particular no campo da liturgia. É pedagógico porque ensinará aos mais novos que o projecto vocacional de Deus está para além de todos os formatos. É um sinal do Espírito porque transpõe todas as atrapalhações em que a mudança dos anos sessenta foi envolvida. É útil à Igreja e ao mundo porque grande parte dos fenómenos ultrapassam os muros do Seminário, se ligam a uma Igreja universal onde muito de semelhante acontecia. Mergulha no próprio mundo que, sem se aperceber, anda na barca onde navegam crentes e não crentes, leigos, consagrados e abúlicos.
Muito interessante seria se outros Seminários do país contassem a sua história e histórias para todos melhor entendermos os tempos que vivemos, as exigências do mundo, a vocação prioritária da Igreja, o confronto das laicidades e dos laicismos. Há caminhos já andados de que importa tirar lições. Com os vivos, enquanto é tempo, mesmo com as ópticas que cada um oferece à história a partir da sua história. Ver-se-á, ao fim e ao cabo, que os tecidos do Espírito vão juntando fios de aparente incompatibilidade e luz duvidosa no momento em que acontecem. Mas fazem, irmanados com todos, a história da salvação.


PS - O nome certo do livro é “POR CAMINHOS NÃO ANDADOS”.

António Rego

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Maria José Senos da Fonseca

FALECEU UMA LUTADORA PELA CAUSA DOS MAIS POBRES
Soube hoje do falecimento de D. Maria José Senos da Fonseca. O seu funeral, em Ílhavo, foi, decerto, uma manifestação de respeito e admiração por uma mulher determinada que, à causa dos mais desfavorecidos, deu uma vida cheia de lutas, de canseiras e de preocupações, nem sempre bem compreendidas e nem sempre bem apoiadas. Ao nível da solidariedade social, na sua expressão mais genuína de uma entrega total aos outros e sem vínculos religiosos, que não são fundamentais para fazer o bem, foi um exemplo de inconformismo perante a situação de pobreza de muitos dos seus e nossos conterrâneos. Teimosamente, com uma capacidade de trabalho capaz de mover montanhas, estava continuamente, no dia-a-dia, à procura das melhores respostas para os mais pobres dos pobres, carentes de toda a ordem, deficientes, vencidos da vida, marginalizados, sem nunca mostrar cansaço face aos desafios que teimava em ultrapassar, nem que para isso tivesse de gritar bem alto a sua indignação perante a passividade de muitos. A instituição que fundou e durante muitos anos dirigiu, o CASCI (Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo), procurou instalar-se, quantas vezes de forma inovadora, nas zonas mais frágeis da nossa sociedade, mexendo, com larga visão de futuro, nos mais diversos departamentos estatais, com quem estabeleceu parcerias que mostraram a rara intuição de quem estava atenta ao mundo em que se movimentava. Sempre nutri por esta senhora, de personalidade muito forte, uma admiração muito grande. Senti, por isso, a sua morte, como grande perda para o concelho de Ílhavo. No entanto, resta-me a certeza de que o seu exemplo, tenaz, abnegado e atento a quem mais sofria, deixou frutos que a hão-de continuar entre nós. Fernando Martins

NA LINHA DA UTOPIA

Afinal, que renovação da Igreja em Portugal?
1. Eis a questão! Depois da visita dos bispos à sede (da unidade) romana, após uma semana de “ecos”, uns mais entusiastas que outros, alguns (primários) demonstrativos do não entendimento destas “realidades”, outros (na reacção ou de “mãos atadas”) defensores de uma serenidade descomprometida, a pergunta sobre o futuro continua… A resposta será mais complexa que um “pedido” de renovação, como se esta significasse o retorno das multidões ou uma ordem de importância das coisas do mundo. Também seja dito, a fundamental aposta nas “razões da fé” de Bento XVI precisa da sua correspondência nas questões fundamentais da Igreja para o séc. XXI. Ou nestas (problemáticas) afastamos a razão? 2. Naturalmente, a renovação desejada passa pelo “fermento” na massa, pelo “sal” na comida, pelo sentido de dignidade divina a proporcionar à história humana, num horizonte de diálogo ecuménico, inter-religioso e intercultural… sendo certo que a ordem das realidades da comunidade Igreja não podem ser lidas com critérios meramente humanos. Se dos documentos desse encontro com o Santo Padre nos vem uma visão de Igreja (ainda) clerical e por isso de necessária renovação estrutural (de todos os que se dizem de “cristãos”) à luz do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-65), o entender (a atender) deste “pedido”, só pode, pressuporá o seguir o exemplo renovado que vem de cima… Como vamos de renovação em Roma? Na evidente reciprocidade, a resposta a esta pergunta será (também) a resposta para a renovação das comunidades locais… 3. Felizmente já vão os tempos em que o “questionar” seria visto com olhos menos positivos. Hoje, o horizonte da liberdade cristã efectivamente comprometida levar-nos-á, em cada tempo histórico, a (re)definir o essencial das renovações em coerência evangélica… Neste ponto, seja dito, é um som difícil de captar, os apelos à renovação da voz de quem foi “fechando” o espírito da pluralidade do Concílio Vaticano II. Como compreender o apelo à renovação local diante da “limitação” por Roma do progresso das chamadas teologias locais (das Américas, da Ásia, de África), espelhada em múltiplos afastamentos de teólogos que por uma “parte” (de pensamento diferente) é-lhes fechado o “todo” do seu esforço de inculturação? 4. Enfim, nada de novo! Se a Igreja fosse uma “entidade” qualquer, podia-se compreender um apelo “dirigido” de renovação de quem (podendo) não renova a casa... Não é fácil, mas o primeiro passo será a abertura teológica às “questões”… Ao ser comunidade “discípula” toda ela, a Igreja, não consegue conciliar essa “falta”… Ou, será que, num pluralismo das comunidades locais, poderão os seus pastores avançar com renovações nos “ministérios”? Para já não falar nas urgentes renovações (aprofundamentos dogmáticos como renovação) de linguagem sobre a fé no mundo de hoje? Claro que se pode aplicar o refrão (conformista) de que a renovação começa pela base… Enfim! E quando esta, nas suas necessidades, colide com (ainda) uma ideia de unidade como uniformidade (em vez de pluralidade)? Ou será uma renovação para continuar (na mesma)? Já agora, na recente grande entrevista da Rádio Renascença sobre esta temática (só com três bispos), onde estavam os essenciais LEIGOS? 5. Vale a pena ler o livro do grande teólogo (na prateleira) Hans Kung, “Porque Sou Cristão?”. Deste(s), num espírito ecuménico e universalista nascerá o futuro. No encontro gratificante onde ninguém perde a identidade! (Ainda estamos aqui?…) Pelo contrário, aprofunda-se a essencialidade que nos une. O tempo o exige para ser possível a renovação em ordem ao FUTURO. (Enfim, tudo isto, nada de novo! Ou melhor, tudo sempre novo, na Pessoa divina que comanda este pesado Barco! Procurámos, numa forma de escrever, não dizer tudo o que tem sido dito, de que está tudo quase bem e que o mundo é que não entende… Temos mesmo de renovar! Mas, sem simplismos, não chega “remendo novo em pano velho”!)
Alexandre Cruz

domingo, 25 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia

UM MERCADO POLÍTICO?
1. A estratégia do líder da oposição, como resposta ao semelhante modelo de liderança governativo, tem dado azo ao catapultar do conceito de “empresa” para um universo social e político, quase universalizando a ideia de que tudo tem que dar lucro porque para tudo terá de haver um mercado. Já das últimas décadas, mesmo o fenómeno futebol, que lida com multidões, foi trazendo, de sobremaneira, à ribalta, essa obrigatória compensação de um popular investimento, a que se junta a conquista a todo o custo em palco de uma vitória sempre procurada, e onde, a certa altura, pouco importa o que acontece no meio, ou qualidade, do jogo. 2. No plano sociopolítico, o árbitro acabará por ser o critério. E este vai-se moldando ao jeito do melhor terreno para escolher o melhor ponto de partida rumo à vitória. Ver um partido político (que se julgava ser um espaço criativo e comprometido eticamente na visão de coerente proposta social) ao jeito da gestão de uma empresa (divinização da empresa?) significará centrar na lógica de mercado-lucro toda a visão de vida e da sociedade. No pressuposto da salvaguardada dignidade, nada temos a opor ao “mercado” quando ele representa o esforço da proposta concorrencial na base da qualidade… Mas, transferir tudo (e as ideias sociopolíticas especialmente) para a lógica de consumo não será o fim das ideias, ou fazer delas um negócio? 3. Neste cenário para que caminhamos (?) as ideias irão contar cada vez menos, e as lideranças provirão do laboratório fermentado da oportunidade estratégica, em vez de tudo brotar duma serena e profunda visão da vida experienciada e dos valores sociais que se buscam. São algumas, neste corredor da fama, as realidades que espelham a pequenez defraudada das ideias. Poderemos colocar neste escalão menos superior, por exemplo, muitas das linhas de pensamento-acção das juventudes partidárias? Serão estas, na essência, hoje, uma expectativa de potencialidades esfumadas? A liberdade, para uma igual dignidade humana (e de oportunidades), que nos trouxe ao presente, está a deixar-nos a meio do caminho, prisioneiros (agora pelo não andar das ideias) da quantidade (populista)? 4. Em Portugal, quando da expansão dos canais TV, esse “mercado” omnipotente trouxe-nos os maiores espectáculos da vulgaridade. Deu-se mais o que mais vendia! Na generalizada indiferença de uma possível sociedade democrática, democracia ao que parece estar a ser deixada só para o parlamento (que temos…), estaremos a caminhar para este beco mercadorista em termos sociopolíticos? Se de um lado do jogo são os números que reinam e do outro a resposta eleva a “empresa” como modelo de vida, que futuro social?! Antes do mercado, já havia (e há) pessoas. (E ainda - “Mercado”: Também como o regularmos “qb” se nos deixarmos comandar por ele?) Alexandre Cruz

DIA INTERNACIONAL PARA A ELIMINAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES



Vivemos, infelizmente, num mundo cheio de violência. Desde sempre, aliás, a violência foi uma triste realidade na humanidade, que se desejava fraterna e solidária. O tema da violência faz parte dos nossos quotidianos e não admira que haja, portanto, um dia consagrado à luta contra a que é exercida sobre a mulher. Normalmente por homens, maridos e outros, numa atitude covarde de quem, sabendo-se fisicamente mais forte, descarrega a sua ira contra a mulher. Gostaria de ver esses valentões a desafiarem um qualquer da sua igualha, mas mais possante…
Sabe-se que, infelizmente, há muitas mulheres espancadas que calam, temerosas ou por vergonha, a agressividade de que são alvos. Também, julgo eu, numa tentativa de evitar o desmembramento da família, com consequências gravíssimas para os filhos, eternas vítimas. Mas penso que estas mulheres, vítimas silenciosas, deviam merecer mais apoio da sociedade e das instituições a vários níveis. Não estamos em tempos de uma pessoa sofrer violências toda a vida, tanto de ordem física como psicológica. Há que estudar e implementar estruturas de apoio às vítimas de maus-tratos. Sei que existem algumas instituições para isso, mas também sei que tudo corre bem nas primeiras impressões, caindo as mulheres, depois, em situações de sobrevivência deprimentes.
Que este dia sirva, realmente, para todos nos debruçarmos sobre esta questão. A vida tem de ser vivida em ambientes de paz e de compreensão, de amor e ternura, mas nunca em climas de violência.

FM