sábado, 3 de novembro de 2007

PARA PENSAR



Onde há ódio, que eu leve o Amor;
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde há discórdia, que eu leve a União;
Onde há dúvida, que eu leve a Fé.

Onde há erro, que eu leve a Verdade;
Onde há desespero, que eu leve a Esperança;
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde há trevas, que eu leve a Luz.

Oh Mestre, fazei que eu procure menos
Ser consolado do que consolar;
Ser compreendido do que compreender;
Ser amado do que amar.

Porque é dando que se recebe;
É perdoando que se é perdoado;
É morrendo que se ressuscita
Para a Vida Eterna.


Liturgia das Horas,
na Hora Intermédia de hoje

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

RECORDANDO


Na tranquila tarde do outono seco
e pardacento
viajam meus olhos ao encontro
de encontros esquecidos

Vi então no rumorejar dos pinheiros
o sussurro
de amizades não perdidas
no ar quente da vida

Senti na planura da ria serena
a alegria partilhada
por tantos… tantos…
embalados no meu espírito

Reconheci no corre-corre
dos dias agitados
marcas vibrantes de sonhos floridos
nas tardes que brilham

Compreendi na ternura cálida
que todos se sentam tranquilos
para o bate-papo
no banco da minha memória

Fernando Martins

Fiéis defuntos de 2007

RÁDIO TERRA NOVA: Concurso literário



“HISTÓRIAS DO MAR E DA RIA”


A Rádio Terra Nova, em colaboração com a Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, lançou um concurso literário, destinado a alunos dos Agrupamentos das Escolas dos sete municípios ligados à Ria de Aveiro, nomeadamente, Ovar, Estarreja, Murtosa, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira. Ao concurso, denominado HISTÓRIAS DO MAR E DA RIA”, podem concorrer jovens matriculados no Ensino Básico (1º, 2º e 3º ciclos) e no Ensino Secundário. O prazo de entrega dos trabalhos termina no dia 3 de Abril de 2008.

STELLA MARIS

10 de Novembro, 20 horas


CONVÍVIO COM FADOS E OUTRAS MÚSICAS

Instituições que não promovam o convívio e a partilha estão condenadas ao fracasso. O clube Stella Maris, da Obra do Apostolado do Mar, com sede na Gafanha da Nazaré e vocacionado para servir os homens do mar e da ria e seus familiares e amigos, quer apostar na aproximação das pessoas, proporcionando-lhes bons momentos de confraternização e alegria.
No próximo dia 10 de Novembro, pelas 20 horas, haverá um jantar para quem se inscrever. A ementa, à moda serrana, oferece sopa de castanhas, lombo e vitela assada no forno, mais doces variados, castanhas assadas, jeropiga e outras bebidas.
Os interessados poderão reservar a sua mesa pelo telefone 234 367 012 ou na sede do clube.

FÁTIMA - 4

Porta principal
Painéis do Rosário (lado esquerdo)

Painéis do Rosário (lado direito)


Cruz Alta



João Paulo II



O QUARTO MAIOR TEMPLO DO MUNDO


Quando cheguei à nova igreja de Fátima, a tal que dizem ser uma igreja para o século XXI, não senti que estava perante um templo clássico. De qualquer forma, fui-me habituando à ideia de que os templos não têm que ser sempre do mesmo estilo. Cada época reflecte neles as suas sensibilidades, as artes dominantes e os gostos próprios dos artistas convidados a concebê-los. Nessa perspectiva, percebi que a igreja da Santíssima Trindade começa por ser muito diferente do que os nossos gostos têm guardado lá no âmago. Mas gostei, logo que me fixei na grandiosidade do templo, o quarto maior do mundo.
A porta principal, de grande imponência, ou não seja Cristo a PORTA, está ladeada por dez painéis de bronze, do artista português Pedro Calapez, representativos dos Mistério do Rosário. Depois, as portas laterais, alusivas aos doze Apóstolos, caracterizam-se pela sua simplicidade e com uma referência a cada um dos seus patronos.
No exterior, como que a envolver a igreja, podemos apreciar quatro estátuas: D. José Alves Correia da Silva, primeiro bispo da restaurada Diocese de Leiria, Pio XII, Paulo VI e João Paulo II.
O que registei, num primeiro momento e nos que se seguiram, foi que o povo nutre pelo Papa João Paulo II um carinho especial. Compreende-se. Foi o Papa mais conhecido e mais carismático do século XX e grande devoto de Nossa Senhora de Fátima. Constantemente pessoas a apreciá-lo e a pedir a sua intercessão junto de Deus, depositando flores junto da sua estátua orante.
Depois a Cruz Alta, muito contestada, conforme se tem verificado na comunicação social. De qualquer forma, o que vi foi sintomático: há muitos a contestá-la, mas também há muitos a admirá-la, pela força com que ela nos atrai. Não será fácil, para olhos habituados a um Cristo com rosto, como se vê nos crucifixos, mas estou convencido de que a riqueza simbólica acabará por se impor. Afinal, o autor está a convidar-nos a construirmos, na nossa mente, um Cristo ao gosto de cada um nós. A partir de traços simples, marcantes, poderemos interiorizar um Cristo que nos modificará por dentro, com um rosto que a nossa imaginação e sensibilidade poderão moldar. Talvez por isso, muitos fotógrafos amadores, como eu, não se cansavam de fixar nas suas máquinas aquela Cruz, vista dos mais variados ângulos.

Fernando Martins

Aveiro: Inauguração do Museu prevista para Novembro de 2008




Desde Maio do ano passado que o Museu de Aveiro está a sofrer profundas obras de ampliação e requalificação. Um mega projecto de cerca 5 milhões de euros, projectado pelo arquitecto portuense Alcino Soutinho, que está a decorrer dentro dos prazos. Uma vez concluído, este será dos museus nacionais com maior área de exposição permanente, que conta a história da arte portuguesa entre os séculos XV e XIX
Leia a reportagem de Sandra Simões no Diário de Aveiro

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

ARES DO OUTONO


OUTONO

Recolhe-se a morrer a Natureza.
O ar é fruto e mosto. Nos pomares
O moribundo Outono põe a mesa
E despeja o seu sangue nos lagares.

A Natureza expira; e, na tristeza
Da lenta morte que lhe vem dos ares,
Morre em paz, finda em sonho e em certeza,
Depois de abastecer todos os lares.

Anda na vida a lentidão do sono.
Maternalmente, as árvores, fraquíssimas,
Mal sustentam o fruto. O Inverno vem…

Assim expira o renascente Outono,
Em tardes que são mortes sereníssimas
De dias bons e que viveram bem…

Afonso Lopes Vieira

Na Linha Da Utopia

TODOS (OS) SANTOS

1. É uma “multidão incontável”, como nos diz o livro do Apocalipse de João. Ninguém no mundo tenha a pretensão de contar o incontável, pois não é uma questão de números mas de qualidade. A Celebração de Todos os Santos faz-nos parar, reparar, viajar, (re)encontramo-nos nos nossos, os que vivemos com os que já partimos. É um gesto, um sinal, um carinho que quererá significar a continuada presença, pois cada ser humano nasce (do e) para o infinito de Deus. Sim, a dignidade humana fala-nos muito acima do finito da histórias e das coisas que todos os dias temos ou não temos em mãos.
2. É a celebração de TODOS os Santos. Todos, mesmo todos, não só para alguns! No fundo, nesse “todos” estão os que viveram do AMOR, os que dialogaram (ou em consciência recta dialogariam) com o “outro”; são os que amaram (Deus é Amor) de todas as nações, culturas, religiões, modos e formas de vida. Os que viveram a comunhão vivem agora essa comunhão de sentido existencial (muito acima do corpo biológico) com a fonte de todo o SER, Deus, o único Absoluto que é acolhido de forma criativamente diversa nas diferentes religiões e culturas e que no Cristianismo assume-se como uma PESSOA! Que proximidade directa e relacional admirável, Deus entre nós, como nesse desejado natal de todos os dias e todas as noites.
3. Dia de Todos os Santos, o dia da maior abertura de espírito! Não dia de todos os “santinhos”, isso não existe, a não ser em ainda muita da pesada tradição que continua a tardar em criar ponte directa com cada contemporaneidade. “Santos” sim, o mesmo é dizer: caminhantes na busca de uma perfeição absoluta, esta que está sempre acima do que somos, sempre a puxar por nós, no mundo do trabalho, das escolas, da sociedade, da comunidade humana. Lembra-nos este dia o essencial: somos bem mais que matéria, somos SER, consciência, lugar de diálogo existencial…que nos recria a esperança e o sentido da vida. No fim de tudo, e na medida em que amamos a vida, esta, transformando-se, só pode continuar, no eterno, no nosso espírito, numa presença carinhosa de paz com todos, com tudo.
4. Não é algo instrumental, não é uma coisa técnica, não tem fórmulas, tal como a paz, a poética, a liberdade, a felicidade e o amor não as tem. É bem mais profundo e a sua percepção depende da profundidade de cada coração humano que corajosamente se sabe abrir às possibilidades (e)ternas do amor. Cada gesto, cada vela, cada flor, será esse horizonte pacífico que em Deus nos torna presentes uns nos outros. Como diz Agostinho da Silva, «o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno». Não amesquinhemos, neste dia libertemos esse nosso “eterno” num abraço terno aos nossos; esse abraço que cada dia se quer multiplicar na construção da justiça e da paz!


Alexandre Cruz

VIVER A REALIDADE NUM MUNDO COMPLEXO

O desafio para pensarmos em que mundo vivemos e o que é que nele fazemos que seja determinante e válido, para nós e para os outros, é um desafio que nos afecta e, por vezes, nos incomoda. É mais fácil vivermos de ideias feitas e dados pacificamente adquiridos, que viver com interrogações permanentes, prontos a mudar de rumo, se aquele em que navegamos nos leva a becos sem saída, escolhos inesperados e perigosos, águas mornas e paradas que, para nos iludirem, ainda reflectem o sol do Inverno.
Por mais que se publicite o conforto, a verdade é que, para quem quiser permanecer vivo, responsável e actuante, o conforto e a instalação acabaram. A viagem de uma vida activa faz-se agora sobre a crista da onda e de barco a remos contra a maré. Não dá para os que enjoam com facilidade, nem para aqueles que têm lugar cativo no sofá cómodo da sua sala ou de qualquer outra.
Hoje, tanto os responsáveis políticos como os das grandes instituições que venceram ou julgam ter vencido o tempo, correm o risco de viver num passado que já não existe e de olhos fechados a um presente que se vai construindo à revelia de regras e princípios, aos quais não se reconhece grande cotação. Nivelar a vida com a mesma rasoura é um passo curto e fácil, mas ineficaz e perigoso. Predomina o efeito da mudança imparável
O mundo secularizado defende a sua autonomia e as suas regras e não é mais o mundo dependente da religião ou que se inspira nos seus princípios morais. A Igreja, nos tempos que correm e depois de um concilio ecuménico, não é mais a Igreja da gloriosa cristandade ou a Igreja armadilhada contra as diversas formas de oposição, religiosas ou políticas. A família não é mais a família tradicional em que convivem pais filhos e netos e em que o homem é sempre o detentor único da autoridade, mas a família nuclear e dispersa, com relações internas mais difíceis e poderes repartidos. A escola deixou de ser o espaço normal de educação e transmissão de saber e tornou-se uma instituição que já não se entende a si mesma e de que o Estado se apropriou, como dono único de um brinquedo perigoso, provocando nela mudanças a torto e a direito, à revelia de alunos, pais e professores e surdo ao rumor insistente da opinião pública.
Um mundo diferente exige respostas diferentes, gente com sabedoria, acordada para a realidade e capaz de tomar posição equilibrada e séria, ante os problemas que enfrenta. No que toca à Igreja e aos seus responsáveis, nada de mais urgente. Os redutos de persistente cristandade e os grupos de gente azeda que em tudo vê inimigos, não podem travar uma acção pastoral realista que sabe o que programa, o que faz, qual o sentido das suas decisões e sempre aberta à participação dos seus membros, chamados a pensar o caminho que importa andar e a andá-lo em comum. Muitos planos e programas parece darem pouca atenção às pessoas concretas, hoje tão diferentes nas suas experiências humanas e religiosas, que enfrentam mudanças culturais sérias, assimilam critérios e optam por modelos de vida indiferentes a acções apostólicas correntes, que, não raro, vão pouco além da generosidade dos agentes pastorais tradicionais. No nosso espaço religioso coabitam cristãos esclarecidos, pagãos baptizados, gente de muitas crenças e algumas pertenças, muitos indiferentes. E, por vezes, até visitam o templo e seus anexos ou vão passando pelo adro, ateus e agnósticos satisfeitos consigo próprios. Um mundo plural que deve marcar o rumo de uma acção própria que, por sua natureza, não pode ser indiferente ou inócua. Gente que ainda gravita no espaço religioso experimenta no seu mundo secular formas de participação activa, a que a Igreja não pode ficar alheia.
Ao mesmo tempo, a verdade que se propõe tem de casar com a realidade que se vive, de outro modo aumenta a insignificância do que se é e se propugna. Um mundo complexo é para uma Igreja serva um desafio apaixonante, nunca um convite à alienação. A Igreja sempre teve por vocação enfrentar desafios. É esse o seu caminho.

António Marcelino

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GAFANHÃO OU GAFANHONAZARENO?

Gafanhoas (Década de 40 do século passado)


Há dias, alguém perguntou-nos de que lado estávamos: se do lado do gafanhão ou do gafanhonazareno? Respondemos, com toda a naturalidade, que não estávamos de lado nenhum, embora usássemos a falar e a escrever a palavra gafanhão. E acrescentámos que não estávamos de lado nenhum pela simples razão de que não gostávamos de dividir os filhos desta terra que nos viu nascer, e onde sempre vivemos, em dois grupos que se digladiassem, já que muito de bom nos unia e exigia essa mesma unidade, rumo a um progresso cada vez mais saudável.
Justificámos, no decorrer da conversa, a nossa posição, que não tem nada de teimosia nem de fuga a qualquer tipo de evolução no campo da Língua Portuguesa, por nela acreditarmos, quando tal é de aceitar, com a introdução de novas palavras e termos, quando necessário. Assim: usamos o gentílico gafanhão por estar consagrado há dezenas de anos, talvez centenas, no linguajar do povo e em todos os dicionários que conhecemos; por ser esse o que vem em qualquer livro que fala da Gafanha da Nazaré ou de outra Gafanha; por estar consignado no Guia Ortográfico da Língua Portuguesa; por sentirmos que é necessário impô-lo, sobretudo depois de ter sido considerado depreciativo por alguns povos vizinhos; por gostarmos dele (não soa ele tão bem?); por ser, principalmente em Portugal e no Mundo, a palavra que melhor nos identifica, aos olhos dos outros, segundo cremos; e por não vermos qualquer vantagem em criar outro termo que a substitua. As palavras novas só são de aceitar, a nosso ver, quando não há outras para definirem a mesma coisa, ou quando o povo, com toda a sua autoridade, resolve “criá-las” ou adoptá-las. Não foi o povo que criou o “gafanhão”? Ou terá sido, como poucos pensam, algum letrado a fazê-lo? Foi o povo, não há dúvidas, que começou a chamar “gafanhões” aos que por aqui começaram a aparecer para amanhar as terras até aí improdutivas. Sendo assim, deixemos ao povo da Gafanha da Nazaré, sem quaisquer pressões, o direito de seguir o que melhor lhe convier, talvez por gostar mais. Nós não nos oporemos. Só não concordamos é com influências excessivas, como que a querer impor uma qualquer teoria, venha ela de onde vier.
Também não concordamos que se diga ser urgente dignificar o povo com a alteração do gentílico. Aos que dizem que é preciso substituir gafanhão por gafanhonazareno (gramaticalmente correcto, não duvidamos) por o primeiro ter tido uma carga negativa, lembramos que o povo só se dignifica e sai dignificado, não com mudanças de gentílicos, mas com atitudes educadas de todos nós. Assim, se soubermos, como gafanhões, honrar e dignificar o nosso povo, tendo posturas certas na sociedade e em qualquer sítio em que nos encontremos, estamos a elevá-lo e a impô-lo à consideração do mundo que nos rodeia. E isso não passa, necessariamente, por ser gafanhonazareno ou gafanhão, mas por ser gente que se respeita e respeita os outros.
Porém — acrescentámos ao nosso interlocutor —, aceitamos perfeitamente a opção de outras pessoas por outro gentílico, sem vermos nisso razões minimamente aceitáveis para nos ofendermos ou guerrearmos. Cada um é livre de seguir a opção que muito bem entender, sem ser preciso dividir os filhos desta terra em bons (ou que são pelo gafanhonazareno) e maus (ou que defendem gafanhão).
E também lhe dissemos que, já agora, gostaríamos de saber que nomes haveríamos de dar aos filhos das Gafanhas da Boavista, de Aquém, da Encarnação, do Carmo, da Boa Hora e da Vagueira. Talvez gafanhoboavistenses, gafanhodaquemnenses (será assim que se escreve?), gafanhoencarnacenses, gafanhocarmoenses, gafanhoboaorenses e gafanhovagueirenses. O que dirão os entendidos nestas coisas da linguagem, e os próprios interessados, já que a lei deve aplicar-se a casos semelhantes? Aqui deixamos a questão para que outros, sem agressividade, lhe respondam. Nós demos a nossa opinião, como nos solicitaram. E ponto final, por agora, porque a Gafanha da Nazaré tem muito mais em que pensar, para inovar e evoluir, em tantos campos, se é que quer ocupar o lugar a que tem direito na sociedade em que se insere. E não será por causa desta questiúncula que nos vamos dividir, ao ponto de sairmos dos trilhos da sã convivência e da boa educação.

Fernando Martins

ARES DO OUTONO



UM PÔR DO SOL EM PANGALA


Um pôr do sol em Pangala, na fronteira norte de Angola, a uns 50 quilólmetros. para nascente de São Salvados do Congo (hoje M'Banza Comgo), que já foi a Capital do Reino do Congo, actual Zaire Angolano, Congo ex-belga, Congo ex-francês e outros povos congos a que agora mudaram o nome.
NOTA: Foto e informação do leitor e amigo Ângelo Ribau

terça-feira, 30 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



OUTONO

O outono montou a sua tenda branca sobre os montes;
tiraram-lhe o tapete verdejante.
O ramo do jasmim perdeu os seus adornos
e a rósea olaia deixa cair as suas flores.
O pálido marmelo amarelece; a romã cora;
ó surpresa! terá um deles bebido o sangue do outro?
Os jardins estão assombrados por negros saltadores:
os negros corvos, com as suas vestes manchadas de pez.
Esses bailarinos do outono começaram a agitar-se;
as aves da primavera calaram os seus brandos concertos.
Amáveis servidores, para festejar o equinócio,
trazem os seus presentes ao afortunado príncipe.
E o longínquo mar encarregou a nuvem
de lhe lançar no trono, de presente, algumas pérolas.

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo,

In “A Rosa do Mundo”

Na Linha Da Utopia




As claques e o presidente. É futebol!






1. Há dias, na Assembleia-Geral do Benfica, o caldo entornou-se! No fundo o caldo (das claques do e no futebol) é estruturalmente entornado. Não há muito tempo, até as suspeitas sobre o tráfico de (coisas… e) influências recaíam sobre grandes claques de grandes clubes. Mas tudo passou, como tudo passa, em ambiente de “apitos dourados” e mais apitos (de todas as cores) onde o obscurantismo é o ambiente propício para tudo ser possível. As claques são, hoje, mais um submundo deste mundo social futebolístico onde, tão simplesmente, por exemplo, devemos perguntar “o que fazem”, “onde trabalham”, “como ganham o pão de cada dia”, “como têm todo o tempo do mundo para o futebol”? E ainda: “o que fazem de bom pela sociedade e mesmo pelos clubes para parecer que têm ‘carta livre’”?
2. O caso de que falamos na dita Assembleia (desta como doutras) tem a sua merecida e emblemática apreciação. As claques de futebol que dão tanto jeito aos presidentes na hora de gritar e puxar pelo clube parecem querer “tomar” o poder. O presidente da direcção, na preocupação de uma gestão que tire o clube da bancarrota, vê-se surpreendido com os factos: as claques, como hábito, estão muito pouco (ou nada) importadas na gestão da colectividade e só querem o clube sempre a ganhar, só não querendo que se lhes toque no calcanhar. Quando a claque se sentiu “tocada” na Assembleia, eis que a ordem passou a desordem, a ponto de outro anterior presidente “puxar” (em vão) pelo respeito… Chama-se a polícia, e a Assembleia, à força, terminou. Nem parecia gente do mesmo clube! Parecia mesmo o cenário habitual dos estádios onde, tantas vezes, em jogos chamados “de risco” são às centenas os polícias que procuram dominar a “fera” humana…
3. Pelo andar da carruagem, e como são as emoções que comandam o barco clubístico (e social), qualquer dia os líderes das claques passam a ter um estatuto ainda mais especial; lembramo-nos de há algum tempo o guia da claque “super dragões” ter sido recebido na TV como se de figura ilustre, letrada e genial se tratasse. Tantas vezes alimenta-se o modelo de sociedade que se critica. As claques em Portugal (como afinal na Europa e Américas) são alimentadas pelos senhores da gestão do clube, pois estes precisam daqueles para a emoção ir ao rubro. Mas, no meio de tudo isto, verdade se diga: tanto jogadores, árbitros, treinadores e presidentes passam de bestiais e bestas num instante… E as claques, não merecerão uma análise mais cuidadosa da sua vida, quer do que são por dentro ao que manifestam por fora? Concluindo, em matéria que volta e meia vai sendo refrão de fim-de-semana: é lamentável que tantas vezes essa adrenalina das claques se manifeste em intolerância e em vandalismo com os outros e mesmo com as Estações de Serviço na Auto-Estrada! Mas, cuidado, o assunto tem de ser lidado com pinças, são emoções públicas, e estas são bem perigosas. No fundo, o seu tratamento (determinado ou não) depende sempre do modelo de sociedade que queremos.

Alexandre Cruz

REFERENDOS E DEMOCRACIA

"Por que razão a natureza democrática de umas decisões exige o referendo e nou-tros casos já não depende da consulta popular? Por que razão é “necessário” referendar o Tratado de Lisboa e nunca foi necessário referendar a Constituição portuguesa? Se é tão importante os portugueses dizerem se querem estar na União Europeia, porque não realizar um referendo a perguntar se querem viver numa república ou numa monarquia? Estes exemplos mostram o absurdo do argumento a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa. Não se entende porque nuns casos é necessário “ouvir o povo” e noutros casos já não é." João Marques de Almeida, In Diário Económico

ESCUTAS TELEFÓNICAS




ATENÇÃO, CIENTISTAS,
RESOLVAM ESTE PROBLEMA


Quando o Alexandre Bell inventou o telefone (ou o cientista que reivindicou a mesma descoberta...., na altura), longe estava de pensar que este progresso traria, para além dos imensos benefícios por todos reconhecidos, o crime de tanta gente poder escutar, covardemente, aquilo que estamos a conversar com os amigos.
Lá que haja escutas telefónicas, em situações de guerra ou de crimes graves, devidamente autorizadas, vá que não vá. Mas agora podermos ser escutados sem qualquer regra... vai uma grande distância.
O PÚBLICO de hoje alerta para o facto, real, de uns dez serviços policiais poderem escutar, a seu bel-prazer, o que falamos, pensando nós que em privado.
Aqui fica um alerta para os cientistas investigadores. Descubram uma forma, rápida e eficaz, de ninguém poder aceder aos nossos telefones. Se não descobrirem, será que teremos de atirar para o lixo este aparelhozinho tão importante?

OS DIREITOS DA TERRA



A “verdade inconveniente” de Al Gore deixou algumas dúvidas, como é sabido. Pareceu a alguns que o portador duma causa – a defesa do planeta – estava viciado de protagonismo interesseiro como “mestre da humanidade” a debitar lições pelos recantos ricos do planeta. Nobel da Paz deste ano, ganha a autoridade do que faz e diz no alerta vermelho para a mãe Terra, planeta azul.
Estamos perante uma questão ética, não apenas como afirmação teórica mas como urgente medida de consciência e atitude pessoal e colectiva, cultural e económica. Se todos abandonássemos o planeta no fim deste ano, ele facilmente se recomporia, no dizer de alguns ficcionistas. Sem o homem, com os animais à solta e as sementes, plantas e árvores sem restrições, brevemente – nuns poucos milhares de anos – a terra voltaria à sua atmosfera, fertilidade e equilíbrio. Só que, vazia do homem. E que vale esta terra sem o homem?
Como se percebe já entrámos em sérias implicações com estes exercícios mais imaginários que hipotéticos. Em qualquer caso há factos anotados: o aquecimento global, as mudanças climáticas com as sequelas que vamos conhecendo todos os dias. De novo se questiona sobre o tipo de desenvolvimento por que enveredámos. E como é possível prosseguir ou recuar. Do petróleo ao plástico, das violências quotidianas sobre os ritmos pacientes da natureza, às sucessivas ameaças ao equilíbrio ambiental, pomos em causa todo o nosso sistema de vivência e convivência.
São mais as questões que as soluções. A consciência individual vai-se muitas vezes aquietando face à impotência perante a fome, a desigualdade de oportunidades, a distribuição dos bens. Em matéria de ambiente sabe-se que são os mais poderosos que mais estragam a terra. Mas também se sabe que em qualquer recanto do planeta cada cidadão oferece uma percentagem significativa para o todo, na forma como se relaciona com a água, o ar, a alimentação, os meios de transporte, as opções limpas ou poluentes, os produtos preferidos, os hábitos adquiridos e transmitidos a novas gerações. Ninguém está fora deste barco. Trata-se duma “moral da vida” a que a consciência cristã não pode fugir. Sem nunca travar o progresso. Mas assumindo a responsabilidade de pertença comum do planeta. Para que este se não torne num triste pássaro ferido.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Na Linha Da Utopia



Alerta Amazónico!

1. A ordem do dia irá ser cada vez mais marcada pelas questões ambientais. Como ao longo de cerca de duas décadas tem sublinhado Al Gore, Nobel da Paz 2007, «esta é uma questão moral, que afecta a sobrevivência da civilização humana». Ao olhar para trás, muitos foram os profetas que, do Oriente ao Ocidente, anteciparam a urgência de uma nova relação com a natureza que, afinal, também somos, e a qual devemos preservar. É isso mesmo, no fim de contas, esta é uma questão de “dever” ético.
2. À semelhança de muitos países africanos, por terras brasileiras, desde os tempos mais remotos dos “achamentos”, que os recursos naturais são explorados desmedidamente. De um lado, justificadamente, a necessária sobrevivência humana, do outro o interesse económico explorador que torna impossível uma saudável e urgente preservação. Diante dos que exploram desmedidamente muitos têm sido, em terras brasileiras, os mártires da defesa ambiental, de que poderá destacar Chico Mendes (no Acre, assassinado em 1988) e a Irmã Dorothy Stang que foi assassinada, aos 73 anos de idade, em Fevereiro de 2005.
3. Mas os ritmos dessa exploração descontrolada hoje são outros, bem piores, vão-se agravando, numa velocidade que obriga a fazer as contas ao tempo de vida do “pulmão” amazónico. Hoje, o desejo pelas madeiras tropicais vai desbravando mundos e fundos, onde os interesses madeireiros e agrícolas no extenso Brasil coloca em perigo o mais rico e diverso ecossistema do mundo. Sendo certo que nas zonas de proximidade da Amazónia o “mercado” é o rio e a floresta, o facto é que tanto a desflorestação desordenada como a sua queimada nas carvoarias ou não, além de ir secando o pulmão, representa uma gigantesca emissão de CO2.
4. Com o ritmo a que se vai, com a destruição de cerca de 15 milhões de floresta tropical por ano, são aproximadamente 8 mil milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) emitidas anualmente com o fumo dos incêndios, (para termos uma ideias) “factura” muito superior às emissões dos transportes terrestres. Que temos nós a ver com tudo isto? Que podemos fazer? Que soluções alternativas? A nossa sensibilização será sempre o primeiro passo para a mudança de mentalidade/acção. Mundo global, mais que nunca os bens ou os males de uma comunidade local, mais cedo que parece, chegam a toda a comunidade humana. Afinal, uma cidadania humana planetária, uma TERRA-PÁTRIA, é hoje a casa (OIKOS) comum. Colheremos sempre os fruto do que semeamos! Sem fanatismos, com realismos!

Alexandre Cruz

Beatificação de 498 mártires espanhóis

Crónica de Bento Domingues, no PÚBLICO de ontem.

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domingo, 28 de outubro de 2007

RECONHECIMENTO A D. ANTÓNIO MARCELINO




Na próxima terça-feira, 30 de Outubro, D. António Marcelino vai ser homenageado no salão nobre do Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro. Pelas 21 horas, será lançado um número duplo da revista PRAXIS, que lhe é dedicada, por iniciativa do ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), uma escola criada por D. António Marcelino e por ele dinamizada.
D. António Marcelino, como os bispos que o antecederam em Aveiro, deixou marcas próprias do seu temperamento e do seu reconhecido amor à Igreja, pelo que esta hoemagem, por esta forma, é mais do que merecida. Direi mesmo oportuna, tanto mais que ele foi um homem da comunicação social, ainda antes de chegar à diocese aveirense. Uma vez entre nós, logo começou, semana a semana, a reflectir e a ajudar-nos a reflectir sobre o quotidiano do Povo de Deus em terras da ria, projectando os seus anseios, denunciando injustiças e indicando pistas de valorização pessoal e colectiva.
Recordo-me bem do Congresso dos Leigos e do II Sínodo Diocesano de Aveiro, que implementou, na linha de uma comunidade que se pretendia mais aberta e mais atenta aos apelos de um mundo em mudança. Outras iniciativas e outros projectos mereceram de D. António a mesma atenção, nomeadamente no campo da formação, porque sempre acreditou que sem formação de base e continuada não seria fácil enfrentar os desafios próprios de uma sociedade cada vez mais marcada por influências diversas, frequentemente ao arrepio das verdades cristãs que a enformam.
O ISCRA foi um desses projectos, sendo hoje reconhecido o seu trabalho, na Diocese de Aveiro e muito para além dela. Os seus alunos, clérigos, religiosos e leigos, usufruem, regular ou esporadicamente, dos seus cursos e das suas diversas e diversificadas acções de formação, o que prova à saciedade a visão de um Bispo atento às carências do seu e nosso tempo.
Acredito que cada bispo terá os seus carismas, a sua visão da sociedade, a sua sensibilidade para os problemas emergentes, a sua maneira própria de agir e de se relacionar. D. António Marcelino cumpriu o seu dever e bem. Mas também sabe que os seus horizontes, enquanto cristão e como bispo, continuam em aberto, tanto quanto nós precisamos dele.

Fernando Martins

FESTA DO ATLETISMO














Hoje, dia do Grande Prémio Rádio Terra Nova, houve festa na Gafanha da Nazaré. Não uma daquelas festas que atraem multidões, muitas delas cheias de música pimba, mas uma festa que envolveu a alegria da participação de centenas de atletas nesta iniciativa da Rádio Terra Nova. Atletas de todos os lados de todas as idades correram com alma, dando cada um o seu melhor. E se à partida para as provas estavam tensos e preocupados, a alegria de muitos deles, ao chegar à meta, era bem visível. Tanto nos que cortavam a linha de chegada nos primeiros lugares como nos outros. O importante, pelo que vi, era participar, muito embora a vitória traga aos rostos dos vencedores, o que é compreensível, um riso de felicidade incontida.
Gosto de ver estes atletas que se entregam às provas em que se envolvem com alma, sem esperarem outra paga para além do gosto de vencerem as metas que se impõem a si próprios. Se vencerem as corridas, tanto melhor. Quando chega a hora da consagração, no pódium, então a felicidade atinge o auge, ou não fossem, todos estes jovens, seres humanos e sensíveis.
Vi dirigentes atarefados, treinadores com os conselhos da praxe, cronometristas atentos, assistentes que não se cansavam de aplaudir. Valeu a pena ter saído de casa para homenagear, com toda a simplicidade, quantos puseram de pé e organizaram esta festa, que não contou com grandes atletas olímpicos, mas com atletas que, talvez sem sonharem com isso, possam um dia atingir a fama e receber, só então, a atenção dos grandes órgãos da comunicação social, se as tricas do futebol, nessa altura, não ocuparem também as suas páginas mais modestas, as habitualmente dedicadas aos desportos amadores.
FM

Na Linha Da Utopia



Casa Pia, ainda? Como é possível!



1. Talvez mais ainda em matérias delicadas e alarmantes como esta, e como as conclusões deste processo “casapiano” retardam indefinidamente, o pensar do cidadão espelha o encontro com a verdade do bom senso concreto. O cidadão, ainda que não conheça os mecanismos processuais e morosos (naturalmente sempre justificados) da justiça, manifesta por si ou a razoabilidade da circunstâncias (o que não é o caso) ou a incredulidade alarmante dos factos e dos processos em andamento neste “Casa Pia” sem fim à vista.
2. É, naturalmente, de uma abrangência que não captamos (aliás o bom senso nacional não entende) tudo o que está a acontecer. Os dados estão na praça pública. Após o choque do caso há já alguns anos, entra a justiça em acção pensando-se que “passado era passado”. As recentes declarações de Catalina Pestana (ao jornal Sol, 20 de Out.) como as de Pedro Namora (à Sic-Notícias, 27 Out.), sublinhando que o crime continua são de fazer arrepiar o país. Sai provedor entra provedor; sai juiz entra juiz; sai procurador entra procurador… Mas, pelas palavras de quem está dentro e garante que não se cala, o crime continua!(?).
3. De facto, custa a acreditar que assim seja. Se for mentira e tudo estiver já devidamente “purificado”, então que se chame a atenção dos declarantes (ainda não foram chamados). Mas é verdade que a crueldade pedófila prossegue, então torna-se difícil vislumbrar uma solução para Portugal. Neste país que precisa de um clima de confiança social, onde se deve sublinhar, promover e sensibilizar para os valores positivos na envolvência de todos na resolução dos problemas (que não faltam). Todavia, enquanto a JUSTIÇA não brilhar cintilante, são inexistentes as bases de uma sociedade democrática credível. Continuamos de “castelos no ar”, pois sem essas bases estruturais e edificantes de uma justiça (mais) eficaz e capaz toda a liberdade que se deseja fica turba…
4. Claro que é fácil dizer em cinco minutos aquilo que é um universo tão problemático como este de que falamos. Mas na sociedade portuguesa, a par do prolongamento (ineficaz?) deste caso a que se vieram juntar alguns aspectos da recente revisão do Código Penal nesta área, só o levantar da suspeita de que afinal estamos (quase) na mesma, deixa-nos sem palavras e sem ideias que vislumbrem um fim à vista. Tudo é estranho, tudo é longínquo, tudo parece adiado… que pensará o cidadão que vê recurso em cima de recurso, numa lentidão serena como que tivéssemos todo o tempo do mundo? Será mesmo verdade o que dizem essas recentes entrevistas que o crime continua? “Casa Pia” ainda? Como é possível!
5. Entre a palavra e o silêncio, entre o que se pode dizer / fazer, afinal, o que podem os cidadãos…por uma justiça mais justa? Ou será (esta mais uma) fatalidade as coisas terem de continuar assim mesmo…?! (Ou, ainda, teremos pressa demasiada?!)


Alexandre Cruz

DOCE COMUNHÃO




Do Livro "O PROFETA" de Khalil Gibran

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 44



A PROGENITORA
DO GRANDE POVO DA MURTOSA

Caríssima/o:

A vida tem destas coisas: era para seguir de motorizada pelas terras ribeirinhas que agora tinha encontrado boa companhia no Fernando e sua Kreidler (a minha era uma Zundapp!) - lembras-te da primeira vez que fomos ao Monte por um saco de batatas?!
Mas tenho que fazer uma pausa.
Conheci a Murtosa era eu muito jovem quando, na Gafanha, convivi com dois Homens: o professor Salviano e o padre Domingos. Ambos me abriram horizontes e continuam meus companheiros nos trilhos do Conhecimento e nos rasgos da Fé!
Rendo-lhes a minha sentida homenagem.
O padre Domingos, que agora se aparta de nós, certamente contará com a nossa oração e nos continuará a brindar com o seu sorriso. Bem haja!
E ouçamos o que tem para nos dizer o prof. Jaime Vilar:


«Diz-se, na tradição corrente,que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Carqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.
A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de “Chão das Figueiras”. Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.
Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente “anfíbia” como, séculos depois, escrevia Raul Brandão.»
[Jaime Vilar, Lenda ou Tradição?, Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa, 1993, p. 1]


Manuel
:
NOTA: Regressado de terras sem acentos nem cedilhas, o meu amigo e colaborador Manuel está de novo com a sua asssiduidade por lema a brindar-nos, domingo após domingo, com textos que nos levam a tempos passados, para ficarmos na companhia de amigos que nos foram comuns. Um bem-haja pelas suas preciosas recordações.

sábado, 27 de outubro de 2007

DIA DOS JORNALISTAS PELA PAZ

UMA SOCIEDADE QUE VIVA EM PAZ E PARA A PAZ

Celebra-se hoje, 27 de Outubro, o Dia dos Jornalistas pela Paz. A lógica diz-nos que, se há jornalistas que querem a paz, também haverá outros que tudo fazem para criar guerras entre pessoas e nações. E se os primeiros serão em maior número, os outros, os que querem a guerra, terão de ser catequizados e estimulados para aderirem ao grupo dos primeiros.
Um dia, num curso sobre jornalismo, o palestrante, um jornalista com responsabilidades ao nível sindical, perguntou, para promover o diálogo, qual é, verdadeiramente, a função primordial do jornalista. Choveram as respostas, qual delas a mais curiosa. A todas, o jornalista convidado ia dando a entender que ainda ninguém tinha batido na porta certa… Todos os “alunos” se olhavam, interrogativos, já com curiosidade sobre qual seria a resposta certa. Depois de muito ouvir, o palestrante adiantou com toda a naturalidade: A primordial função do jornalista é contribuir para um mundo melhor.
Aqui está a chave da questão. Se todos os profissionais da comunicação social assumissem esta asserção, decerto o mundo seria de facto um mundo de paz e nunca de guerra. O mundo seria mais justo, mais equilibrado, mais solidário, mais fraterno.
Eu sei, todos sabemos, que esses são os ideais definidos para uma sociedade mais humana e que é preciso lutar para os atingirmos. Mas também é verdade que há gente, na comunicação social e fora dela, por doença, por deformação genética, por taras inexplicáveis, por ódios acumulados sem sabermos como nem porquê, por raivas e interesses mesquinhos, que só estão bem fazendo a guerra, espezinhando a paz, promovendo o mal, fugindo do bem.
Ora, este Dia dos Jornalistas pela Paz devia ser um dia de reflexão, de procura de caminhos de justiça, de verdade, de amor, de liberdade, de democracia, de solidariedade e de caridade. Penso que só estes caminhos poderão conduzir a uma sociedade que viva em paz e para a paz.

Fernando Martins

GRANDE PRÉMIO TERRA NOVA


CENTENAS DE ATLETAS NAS RUAS DA GAFANHA DA NAZARÉ

Amanhã, domingo, as ruas da Gafanha da Nazaré vão encher-se de atletas para o Grande Prémio Terra Nova. Vindos de perto e de longe, pelo simples prazer de participar, já há mais de 800 inscrições, prevendo-se que tal número venha a ser ultrapassado. A meta está no centro da cidade, em frente da Junta de Freguesia, realizando-se as diversas provas, para todas as idades, da parte da manhã. Como também vem sendo hábito, não vão faltar os aplausos para premiarem quem corre, pelo simples gosto de praticar atletismo.