quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GAFANHÃO OU GAFANHONAZARENO?

Gafanhoas (Década de 40 do século passado)


Há dias, alguém perguntou-nos de que lado estávamos: se do lado do gafanhão ou do gafanhonazareno? Respondemos, com toda a naturalidade, que não estávamos de lado nenhum, embora usássemos a falar e a escrever a palavra gafanhão. E acrescentámos que não estávamos de lado nenhum pela simples razão de que não gostávamos de dividir os filhos desta terra que nos viu nascer, e onde sempre vivemos, em dois grupos que se digladiassem, já que muito de bom nos unia e exigia essa mesma unidade, rumo a um progresso cada vez mais saudável.
Justificámos, no decorrer da conversa, a nossa posição, que não tem nada de teimosia nem de fuga a qualquer tipo de evolução no campo da Língua Portuguesa, por nela acreditarmos, quando tal é de aceitar, com a introdução de novas palavras e termos, quando necessário. Assim: usamos o gentílico gafanhão por estar consagrado há dezenas de anos, talvez centenas, no linguajar do povo e em todos os dicionários que conhecemos; por ser esse o que vem em qualquer livro que fala da Gafanha da Nazaré ou de outra Gafanha; por estar consignado no Guia Ortográfico da Língua Portuguesa; por sentirmos que é necessário impô-lo, sobretudo depois de ter sido considerado depreciativo por alguns povos vizinhos; por gostarmos dele (não soa ele tão bem?); por ser, principalmente em Portugal e no Mundo, a palavra que melhor nos identifica, aos olhos dos outros, segundo cremos; e por não vermos qualquer vantagem em criar outro termo que a substitua. As palavras novas só são de aceitar, a nosso ver, quando não há outras para definirem a mesma coisa, ou quando o povo, com toda a sua autoridade, resolve “criá-las” ou adoptá-las. Não foi o povo que criou o “gafanhão”? Ou terá sido, como poucos pensam, algum letrado a fazê-lo? Foi o povo, não há dúvidas, que começou a chamar “gafanhões” aos que por aqui começaram a aparecer para amanhar as terras até aí improdutivas. Sendo assim, deixemos ao povo da Gafanha da Nazaré, sem quaisquer pressões, o direito de seguir o que melhor lhe convier, talvez por gostar mais. Nós não nos oporemos. Só não concordamos é com influências excessivas, como que a querer impor uma qualquer teoria, venha ela de onde vier.
Também não concordamos que se diga ser urgente dignificar o povo com a alteração do gentílico. Aos que dizem que é preciso substituir gafanhão por gafanhonazareno (gramaticalmente correcto, não duvidamos) por o primeiro ter tido uma carga negativa, lembramos que o povo só se dignifica e sai dignificado, não com mudanças de gentílicos, mas com atitudes educadas de todos nós. Assim, se soubermos, como gafanhões, honrar e dignificar o nosso povo, tendo posturas certas na sociedade e em qualquer sítio em que nos encontremos, estamos a elevá-lo e a impô-lo à consideração do mundo que nos rodeia. E isso não passa, necessariamente, por ser gafanhonazareno ou gafanhão, mas por ser gente que se respeita e respeita os outros.
Porém — acrescentámos ao nosso interlocutor —, aceitamos perfeitamente a opção de outras pessoas por outro gentílico, sem vermos nisso razões minimamente aceitáveis para nos ofendermos ou guerrearmos. Cada um é livre de seguir a opção que muito bem entender, sem ser preciso dividir os filhos desta terra em bons (ou que são pelo gafanhonazareno) e maus (ou que defendem gafanhão).
E também lhe dissemos que, já agora, gostaríamos de saber que nomes haveríamos de dar aos filhos das Gafanhas da Boavista, de Aquém, da Encarnação, do Carmo, da Boa Hora e da Vagueira. Talvez gafanhoboavistenses, gafanhodaquemnenses (será assim que se escreve?), gafanhoencarnacenses, gafanhocarmoenses, gafanhoboaorenses e gafanhovagueirenses. O que dirão os entendidos nestas coisas da linguagem, e os próprios interessados, já que a lei deve aplicar-se a casos semelhantes? Aqui deixamos a questão para que outros, sem agressividade, lhe respondam. Nós demos a nossa opinião, como nos solicitaram. E ponto final, por agora, porque a Gafanha da Nazaré tem muito mais em que pensar, para inovar e evoluir, em tantos campos, se é que quer ocupar o lugar a que tem direito na sociedade em que se insere. E não será por causa desta questiúncula que nos vamos dividir, ao ponto de sairmos dos trilhos da sã convivência e da boa educação.

Fernando Martins

ARES DO OUTONO



UM PÔR DO SOL EM PANGALA


Um pôr do sol em Pangala, na fronteira norte de Angola, a uns 50 quilólmetros. para nascente de São Salvados do Congo (hoje M'Banza Comgo), que já foi a Capital do Reino do Congo, actual Zaire Angolano, Congo ex-belga, Congo ex-francês e outros povos congos a que agora mudaram o nome.
NOTA: Foto e informação do leitor e amigo Ângelo Ribau

terça-feira, 30 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



OUTONO

O outono montou a sua tenda branca sobre os montes;
tiraram-lhe o tapete verdejante.
O ramo do jasmim perdeu os seus adornos
e a rósea olaia deixa cair as suas flores.
O pálido marmelo amarelece; a romã cora;
ó surpresa! terá um deles bebido o sangue do outro?
Os jardins estão assombrados por negros saltadores:
os negros corvos, com as suas vestes manchadas de pez.
Esses bailarinos do outono começaram a agitar-se;
as aves da primavera calaram os seus brandos concertos.
Amáveis servidores, para festejar o equinócio,
trazem os seus presentes ao afortunado príncipe.
E o longínquo mar encarregou a nuvem
de lhe lançar no trono, de presente, algumas pérolas.

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo,

In “A Rosa do Mundo”

Na Linha Da Utopia




As claques e o presidente. É futebol!






1. Há dias, na Assembleia-Geral do Benfica, o caldo entornou-se! No fundo o caldo (das claques do e no futebol) é estruturalmente entornado. Não há muito tempo, até as suspeitas sobre o tráfico de (coisas… e) influências recaíam sobre grandes claques de grandes clubes. Mas tudo passou, como tudo passa, em ambiente de “apitos dourados” e mais apitos (de todas as cores) onde o obscurantismo é o ambiente propício para tudo ser possível. As claques são, hoje, mais um submundo deste mundo social futebolístico onde, tão simplesmente, por exemplo, devemos perguntar “o que fazem”, “onde trabalham”, “como ganham o pão de cada dia”, “como têm todo o tempo do mundo para o futebol”? E ainda: “o que fazem de bom pela sociedade e mesmo pelos clubes para parecer que têm ‘carta livre’”?
2. O caso de que falamos na dita Assembleia (desta como doutras) tem a sua merecida e emblemática apreciação. As claques de futebol que dão tanto jeito aos presidentes na hora de gritar e puxar pelo clube parecem querer “tomar” o poder. O presidente da direcção, na preocupação de uma gestão que tire o clube da bancarrota, vê-se surpreendido com os factos: as claques, como hábito, estão muito pouco (ou nada) importadas na gestão da colectividade e só querem o clube sempre a ganhar, só não querendo que se lhes toque no calcanhar. Quando a claque se sentiu “tocada” na Assembleia, eis que a ordem passou a desordem, a ponto de outro anterior presidente “puxar” (em vão) pelo respeito… Chama-se a polícia, e a Assembleia, à força, terminou. Nem parecia gente do mesmo clube! Parecia mesmo o cenário habitual dos estádios onde, tantas vezes, em jogos chamados “de risco” são às centenas os polícias que procuram dominar a “fera” humana…
3. Pelo andar da carruagem, e como são as emoções que comandam o barco clubístico (e social), qualquer dia os líderes das claques passam a ter um estatuto ainda mais especial; lembramo-nos de há algum tempo o guia da claque “super dragões” ter sido recebido na TV como se de figura ilustre, letrada e genial se tratasse. Tantas vezes alimenta-se o modelo de sociedade que se critica. As claques em Portugal (como afinal na Europa e Américas) são alimentadas pelos senhores da gestão do clube, pois estes precisam daqueles para a emoção ir ao rubro. Mas, no meio de tudo isto, verdade se diga: tanto jogadores, árbitros, treinadores e presidentes passam de bestiais e bestas num instante… E as claques, não merecerão uma análise mais cuidadosa da sua vida, quer do que são por dentro ao que manifestam por fora? Concluindo, em matéria que volta e meia vai sendo refrão de fim-de-semana: é lamentável que tantas vezes essa adrenalina das claques se manifeste em intolerância e em vandalismo com os outros e mesmo com as Estações de Serviço na Auto-Estrada! Mas, cuidado, o assunto tem de ser lidado com pinças, são emoções públicas, e estas são bem perigosas. No fundo, o seu tratamento (determinado ou não) depende sempre do modelo de sociedade que queremos.

Alexandre Cruz

REFERENDOS E DEMOCRACIA

"Por que razão a natureza democrática de umas decisões exige o referendo e nou-tros casos já não depende da consulta popular? Por que razão é “necessário” referendar o Tratado de Lisboa e nunca foi necessário referendar a Constituição portuguesa? Se é tão importante os portugueses dizerem se querem estar na União Europeia, porque não realizar um referendo a perguntar se querem viver numa república ou numa monarquia? Estes exemplos mostram o absurdo do argumento a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa. Não se entende porque nuns casos é necessário “ouvir o povo” e noutros casos já não é." João Marques de Almeida, In Diário Económico

ESCUTAS TELEFÓNICAS




ATENÇÃO, CIENTISTAS,
RESOLVAM ESTE PROBLEMA


Quando o Alexandre Bell inventou o telefone (ou o cientista que reivindicou a mesma descoberta...., na altura), longe estava de pensar que este progresso traria, para além dos imensos benefícios por todos reconhecidos, o crime de tanta gente poder escutar, covardemente, aquilo que estamos a conversar com os amigos.
Lá que haja escutas telefónicas, em situações de guerra ou de crimes graves, devidamente autorizadas, vá que não vá. Mas agora podermos ser escutados sem qualquer regra... vai uma grande distância.
O PÚBLICO de hoje alerta para o facto, real, de uns dez serviços policiais poderem escutar, a seu bel-prazer, o que falamos, pensando nós que em privado.
Aqui fica um alerta para os cientistas investigadores. Descubram uma forma, rápida e eficaz, de ninguém poder aceder aos nossos telefones. Se não descobrirem, será que teremos de atirar para o lixo este aparelhozinho tão importante?

OS DIREITOS DA TERRA



A “verdade inconveniente” de Al Gore deixou algumas dúvidas, como é sabido. Pareceu a alguns que o portador duma causa – a defesa do planeta – estava viciado de protagonismo interesseiro como “mestre da humanidade” a debitar lições pelos recantos ricos do planeta. Nobel da Paz deste ano, ganha a autoridade do que faz e diz no alerta vermelho para a mãe Terra, planeta azul.
Estamos perante uma questão ética, não apenas como afirmação teórica mas como urgente medida de consciência e atitude pessoal e colectiva, cultural e económica. Se todos abandonássemos o planeta no fim deste ano, ele facilmente se recomporia, no dizer de alguns ficcionistas. Sem o homem, com os animais à solta e as sementes, plantas e árvores sem restrições, brevemente – nuns poucos milhares de anos – a terra voltaria à sua atmosfera, fertilidade e equilíbrio. Só que, vazia do homem. E que vale esta terra sem o homem?
Como se percebe já entrámos em sérias implicações com estes exercícios mais imaginários que hipotéticos. Em qualquer caso há factos anotados: o aquecimento global, as mudanças climáticas com as sequelas que vamos conhecendo todos os dias. De novo se questiona sobre o tipo de desenvolvimento por que enveredámos. E como é possível prosseguir ou recuar. Do petróleo ao plástico, das violências quotidianas sobre os ritmos pacientes da natureza, às sucessivas ameaças ao equilíbrio ambiental, pomos em causa todo o nosso sistema de vivência e convivência.
São mais as questões que as soluções. A consciência individual vai-se muitas vezes aquietando face à impotência perante a fome, a desigualdade de oportunidades, a distribuição dos bens. Em matéria de ambiente sabe-se que são os mais poderosos que mais estragam a terra. Mas também se sabe que em qualquer recanto do planeta cada cidadão oferece uma percentagem significativa para o todo, na forma como se relaciona com a água, o ar, a alimentação, os meios de transporte, as opções limpas ou poluentes, os produtos preferidos, os hábitos adquiridos e transmitidos a novas gerações. Ninguém está fora deste barco. Trata-se duma “moral da vida” a que a consciência cristã não pode fugir. Sem nunca travar o progresso. Mas assumindo a responsabilidade de pertença comum do planeta. Para que este se não torne num triste pássaro ferido.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Na Linha Da Utopia



Alerta Amazónico!

1. A ordem do dia irá ser cada vez mais marcada pelas questões ambientais. Como ao longo de cerca de duas décadas tem sublinhado Al Gore, Nobel da Paz 2007, «esta é uma questão moral, que afecta a sobrevivência da civilização humana». Ao olhar para trás, muitos foram os profetas que, do Oriente ao Ocidente, anteciparam a urgência de uma nova relação com a natureza que, afinal, também somos, e a qual devemos preservar. É isso mesmo, no fim de contas, esta é uma questão de “dever” ético.
2. À semelhança de muitos países africanos, por terras brasileiras, desde os tempos mais remotos dos “achamentos”, que os recursos naturais são explorados desmedidamente. De um lado, justificadamente, a necessária sobrevivência humana, do outro o interesse económico explorador que torna impossível uma saudável e urgente preservação. Diante dos que exploram desmedidamente muitos têm sido, em terras brasileiras, os mártires da defesa ambiental, de que poderá destacar Chico Mendes (no Acre, assassinado em 1988) e a Irmã Dorothy Stang que foi assassinada, aos 73 anos de idade, em Fevereiro de 2005.
3. Mas os ritmos dessa exploração descontrolada hoje são outros, bem piores, vão-se agravando, numa velocidade que obriga a fazer as contas ao tempo de vida do “pulmão” amazónico. Hoje, o desejo pelas madeiras tropicais vai desbravando mundos e fundos, onde os interesses madeireiros e agrícolas no extenso Brasil coloca em perigo o mais rico e diverso ecossistema do mundo. Sendo certo que nas zonas de proximidade da Amazónia o “mercado” é o rio e a floresta, o facto é que tanto a desflorestação desordenada como a sua queimada nas carvoarias ou não, além de ir secando o pulmão, representa uma gigantesca emissão de CO2.
4. Com o ritmo a que se vai, com a destruição de cerca de 15 milhões de floresta tropical por ano, são aproximadamente 8 mil milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) emitidas anualmente com o fumo dos incêndios, (para termos uma ideias) “factura” muito superior às emissões dos transportes terrestres. Que temos nós a ver com tudo isto? Que podemos fazer? Que soluções alternativas? A nossa sensibilização será sempre o primeiro passo para a mudança de mentalidade/acção. Mundo global, mais que nunca os bens ou os males de uma comunidade local, mais cedo que parece, chegam a toda a comunidade humana. Afinal, uma cidadania humana planetária, uma TERRA-PÁTRIA, é hoje a casa (OIKOS) comum. Colheremos sempre os fruto do que semeamos! Sem fanatismos, com realismos!

Alexandre Cruz

Beatificação de 498 mártires espanhóis

Crónica de Bento Domingues, no PÚBLICO de ontem.

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domingo, 28 de outubro de 2007

RECONHECIMENTO A D. ANTÓNIO MARCELINO




Na próxima terça-feira, 30 de Outubro, D. António Marcelino vai ser homenageado no salão nobre do Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro. Pelas 21 horas, será lançado um número duplo da revista PRAXIS, que lhe é dedicada, por iniciativa do ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), uma escola criada por D. António Marcelino e por ele dinamizada.
D. António Marcelino, como os bispos que o antecederam em Aveiro, deixou marcas próprias do seu temperamento e do seu reconhecido amor à Igreja, pelo que esta hoemagem, por esta forma, é mais do que merecida. Direi mesmo oportuna, tanto mais que ele foi um homem da comunicação social, ainda antes de chegar à diocese aveirense. Uma vez entre nós, logo começou, semana a semana, a reflectir e a ajudar-nos a reflectir sobre o quotidiano do Povo de Deus em terras da ria, projectando os seus anseios, denunciando injustiças e indicando pistas de valorização pessoal e colectiva.
Recordo-me bem do Congresso dos Leigos e do II Sínodo Diocesano de Aveiro, que implementou, na linha de uma comunidade que se pretendia mais aberta e mais atenta aos apelos de um mundo em mudança. Outras iniciativas e outros projectos mereceram de D. António a mesma atenção, nomeadamente no campo da formação, porque sempre acreditou que sem formação de base e continuada não seria fácil enfrentar os desafios próprios de uma sociedade cada vez mais marcada por influências diversas, frequentemente ao arrepio das verdades cristãs que a enformam.
O ISCRA foi um desses projectos, sendo hoje reconhecido o seu trabalho, na Diocese de Aveiro e muito para além dela. Os seus alunos, clérigos, religiosos e leigos, usufruem, regular ou esporadicamente, dos seus cursos e das suas diversas e diversificadas acções de formação, o que prova à saciedade a visão de um Bispo atento às carências do seu e nosso tempo.
Acredito que cada bispo terá os seus carismas, a sua visão da sociedade, a sua sensibilidade para os problemas emergentes, a sua maneira própria de agir e de se relacionar. D. António Marcelino cumpriu o seu dever e bem. Mas também sabe que os seus horizontes, enquanto cristão e como bispo, continuam em aberto, tanto quanto nós precisamos dele.

Fernando Martins

FESTA DO ATLETISMO














Hoje, dia do Grande Prémio Rádio Terra Nova, houve festa na Gafanha da Nazaré. Não uma daquelas festas que atraem multidões, muitas delas cheias de música pimba, mas uma festa que envolveu a alegria da participação de centenas de atletas nesta iniciativa da Rádio Terra Nova. Atletas de todos os lados de todas as idades correram com alma, dando cada um o seu melhor. E se à partida para as provas estavam tensos e preocupados, a alegria de muitos deles, ao chegar à meta, era bem visível. Tanto nos que cortavam a linha de chegada nos primeiros lugares como nos outros. O importante, pelo que vi, era participar, muito embora a vitória traga aos rostos dos vencedores, o que é compreensível, um riso de felicidade incontida.
Gosto de ver estes atletas que se entregam às provas em que se envolvem com alma, sem esperarem outra paga para além do gosto de vencerem as metas que se impõem a si próprios. Se vencerem as corridas, tanto melhor. Quando chega a hora da consagração, no pódium, então a felicidade atinge o auge, ou não fossem, todos estes jovens, seres humanos e sensíveis.
Vi dirigentes atarefados, treinadores com os conselhos da praxe, cronometristas atentos, assistentes que não se cansavam de aplaudir. Valeu a pena ter saído de casa para homenagear, com toda a simplicidade, quantos puseram de pé e organizaram esta festa, que não contou com grandes atletas olímpicos, mas com atletas que, talvez sem sonharem com isso, possam um dia atingir a fama e receber, só então, a atenção dos grandes órgãos da comunicação social, se as tricas do futebol, nessa altura, não ocuparem também as suas páginas mais modestas, as habitualmente dedicadas aos desportos amadores.
FM

Na Linha Da Utopia



Casa Pia, ainda? Como é possível!



1. Talvez mais ainda em matérias delicadas e alarmantes como esta, e como as conclusões deste processo “casapiano” retardam indefinidamente, o pensar do cidadão espelha o encontro com a verdade do bom senso concreto. O cidadão, ainda que não conheça os mecanismos processuais e morosos (naturalmente sempre justificados) da justiça, manifesta por si ou a razoabilidade da circunstâncias (o que não é o caso) ou a incredulidade alarmante dos factos e dos processos em andamento neste “Casa Pia” sem fim à vista.
2. É, naturalmente, de uma abrangência que não captamos (aliás o bom senso nacional não entende) tudo o que está a acontecer. Os dados estão na praça pública. Após o choque do caso há já alguns anos, entra a justiça em acção pensando-se que “passado era passado”. As recentes declarações de Catalina Pestana (ao jornal Sol, 20 de Out.) como as de Pedro Namora (à Sic-Notícias, 27 Out.), sublinhando que o crime continua são de fazer arrepiar o país. Sai provedor entra provedor; sai juiz entra juiz; sai procurador entra procurador… Mas, pelas palavras de quem está dentro e garante que não se cala, o crime continua!(?).
3. De facto, custa a acreditar que assim seja. Se for mentira e tudo estiver já devidamente “purificado”, então que se chame a atenção dos declarantes (ainda não foram chamados). Mas é verdade que a crueldade pedófila prossegue, então torna-se difícil vislumbrar uma solução para Portugal. Neste país que precisa de um clima de confiança social, onde se deve sublinhar, promover e sensibilizar para os valores positivos na envolvência de todos na resolução dos problemas (que não faltam). Todavia, enquanto a JUSTIÇA não brilhar cintilante, são inexistentes as bases de uma sociedade democrática credível. Continuamos de “castelos no ar”, pois sem essas bases estruturais e edificantes de uma justiça (mais) eficaz e capaz toda a liberdade que se deseja fica turba…
4. Claro que é fácil dizer em cinco minutos aquilo que é um universo tão problemático como este de que falamos. Mas na sociedade portuguesa, a par do prolongamento (ineficaz?) deste caso a que se vieram juntar alguns aspectos da recente revisão do Código Penal nesta área, só o levantar da suspeita de que afinal estamos (quase) na mesma, deixa-nos sem palavras e sem ideias que vislumbrem um fim à vista. Tudo é estranho, tudo é longínquo, tudo parece adiado… que pensará o cidadão que vê recurso em cima de recurso, numa lentidão serena como que tivéssemos todo o tempo do mundo? Será mesmo verdade o que dizem essas recentes entrevistas que o crime continua? “Casa Pia” ainda? Como é possível!
5. Entre a palavra e o silêncio, entre o que se pode dizer / fazer, afinal, o que podem os cidadãos…por uma justiça mais justa? Ou será (esta mais uma) fatalidade as coisas terem de continuar assim mesmo…?! (Ou, ainda, teremos pressa demasiada?!)


Alexandre Cruz

DOCE COMUNHÃO




Do Livro "O PROFETA" de Khalil Gibran

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 44



A PROGENITORA
DO GRANDE POVO DA MURTOSA

Caríssima/o:

A vida tem destas coisas: era para seguir de motorizada pelas terras ribeirinhas que agora tinha encontrado boa companhia no Fernando e sua Kreidler (a minha era uma Zundapp!) - lembras-te da primeira vez que fomos ao Monte por um saco de batatas?!
Mas tenho que fazer uma pausa.
Conheci a Murtosa era eu muito jovem quando, na Gafanha, convivi com dois Homens: o professor Salviano e o padre Domingos. Ambos me abriram horizontes e continuam meus companheiros nos trilhos do Conhecimento e nos rasgos da Fé!
Rendo-lhes a minha sentida homenagem.
O padre Domingos, que agora se aparta de nós, certamente contará com a nossa oração e nos continuará a brindar com o seu sorriso. Bem haja!
E ouçamos o que tem para nos dizer o prof. Jaime Vilar:


«Diz-se, na tradição corrente,que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Carqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.
A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de “Chão das Figueiras”. Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.
Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente “anfíbia” como, séculos depois, escrevia Raul Brandão.»
[Jaime Vilar, Lenda ou Tradição?, Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa, 1993, p. 1]


Manuel
:
NOTA: Regressado de terras sem acentos nem cedilhas, o meu amigo e colaborador Manuel está de novo com a sua asssiduidade por lema a brindar-nos, domingo após domingo, com textos que nos levam a tempos passados, para ficarmos na companhia de amigos que nos foram comuns. Um bem-haja pelas suas preciosas recordações.

sábado, 27 de outubro de 2007

DIA DOS JORNALISTAS PELA PAZ

UMA SOCIEDADE QUE VIVA EM PAZ E PARA A PAZ

Celebra-se hoje, 27 de Outubro, o Dia dos Jornalistas pela Paz. A lógica diz-nos que, se há jornalistas que querem a paz, também haverá outros que tudo fazem para criar guerras entre pessoas e nações. E se os primeiros serão em maior número, os outros, os que querem a guerra, terão de ser catequizados e estimulados para aderirem ao grupo dos primeiros.
Um dia, num curso sobre jornalismo, o palestrante, um jornalista com responsabilidades ao nível sindical, perguntou, para promover o diálogo, qual é, verdadeiramente, a função primordial do jornalista. Choveram as respostas, qual delas a mais curiosa. A todas, o jornalista convidado ia dando a entender que ainda ninguém tinha batido na porta certa… Todos os “alunos” se olhavam, interrogativos, já com curiosidade sobre qual seria a resposta certa. Depois de muito ouvir, o palestrante adiantou com toda a naturalidade: A primordial função do jornalista é contribuir para um mundo melhor.
Aqui está a chave da questão. Se todos os profissionais da comunicação social assumissem esta asserção, decerto o mundo seria de facto um mundo de paz e nunca de guerra. O mundo seria mais justo, mais equilibrado, mais solidário, mais fraterno.
Eu sei, todos sabemos, que esses são os ideais definidos para uma sociedade mais humana e que é preciso lutar para os atingirmos. Mas também é verdade que há gente, na comunicação social e fora dela, por doença, por deformação genética, por taras inexplicáveis, por ódios acumulados sem sabermos como nem porquê, por raivas e interesses mesquinhos, que só estão bem fazendo a guerra, espezinhando a paz, promovendo o mal, fugindo do bem.
Ora, este Dia dos Jornalistas pela Paz devia ser um dia de reflexão, de procura de caminhos de justiça, de verdade, de amor, de liberdade, de democracia, de solidariedade e de caridade. Penso que só estes caminhos poderão conduzir a uma sociedade que viva em paz e para a paz.

Fernando Martins

GRANDE PRÉMIO TERRA NOVA


CENTENAS DE ATLETAS NAS RUAS DA GAFANHA DA NAZARÉ

Amanhã, domingo, as ruas da Gafanha da Nazaré vão encher-se de atletas para o Grande Prémio Terra Nova. Vindos de perto e de longe, pelo simples prazer de participar, já há mais de 800 inscrições, prevendo-se que tal número venha a ser ultrapassado. A meta está no centro da cidade, em frente da Junta de Freguesia, realizando-se as diversas provas, para todas as idades, da parte da manhã. Como também vem sendo hábito, não vão faltar os aplausos para premiarem quem corre, pelo simples gosto de praticar atletismo.

HORA DE INVERNO




Relógios atrasam 60 minutos na próxima madrugada. Às 2 horas, os ponteiros devem voltar para a 1 hora, para entrarmos na chamada "hora de Inverno".

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

FÁTIMA-3

Cristo e Nossa Senhora

Painel, lado esquerdo de quem olha

Painel, lado direito


Espelho de água



Altar com pedra do túmulo de S. Pedro, ao centro




Painel de Siza Vieira


UMA OBRA À MEDIDA DAS NECESSIDADES
ESPIRITUAIS DO MUNDO INTEIRO


Quando entrei na igreja da Santíssima Trindade, fiquei com a sensação de uma grande beleza. Uma beleza sóbria e imponente pelas formas e decorações de enorme riqueza artística. Também de uma beleza que convidava ao silêncio e ao recolhimento. Os meus olhos ficaram fascinados pelo que viram. Arte em todos os pormenores; sem saber que mais admirar. Se a variedade de expressões artísticas, oriundas um pouco de todo o mundo, se a luminosidade serena que tudo envolve, se a ausência de ruídos ou sons do exterior, se a serenidade de quem entra e sai, se a fuga aos estereótipos nos rostos de Cristo e de Nossa Senhora, se o painel atrás do altar, no presbitério, de ouro e terracota, com o título expressivo de “Chamamento Universal da Igreja” .
Depois, o piso inferior, onde sobressaem os painéis de azulejos Siza Vieira, em que o autor procurou representar “A Galilé dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo”. Capelas, salas para encontros, espelhos de água, tudo acoplado a um claustro amplo e bem iluminado.
Era dia de semana, mas a igreja da Santíssima Trindade estava com visitas contínuas, sem possibilidades de ali se desenvolverem actos de culto ou encontros de formação e de espiritualidade. Eu engrossei o número de visitantes na quarta-feira última. Mas estou em crer que, muito em breve, naquele espaço, à sombra da Senhora de Fátima, um fervilhar de actividades dará outra vida ao novo templo e seus anexos. E os que agora criticam o dinheiro que ali se gastou hão-de reconhecer a mais-valia que representa esta obra grandiosa para o século XXI. Uma obra à medida das necessidades espirituais dos católicos do mundo inteiro.

Fernando Martins

Homenagem ao Padre Lé



HOMENAGEIA O SEU PÁROCO

A Paróquia da Gafanha da Encarnação vai homenagear, no próximo domingo, 28 de Outubro, o Padre Lé, que há 50 anos serve aquela comunidade como pároco. A homenagem tem o seu ponto alto na Missa Solene às 12.15 horas, seguindo-se almoço e convívio. O Padre Manuel Ribau Lopes Lé nasceu em 1922 e foi ordenado no dia 20 de Setembro de 1947.
Esta homenagem é, a todos os títulos, merecidíssima. As comunidades não podem, sob pena de se tornarem injustas e ingratas, ficar indiferentes a quem as serve, com dedicação indesmentível. O Padre Lé, que conheço desde que sou gente, é o exemplo perfeito de uma entrega sem limites à Gafanha da Encarnação e à Igreja, estando sempre na linha da defesa dos interesses da comunidade que serve há 50 anos. Não é todos os dias que vemos pessoas que trabalham sem pensarem na reforma e nas comodidades a que essa situação pode conduzir. Por isso, a justeza desta homenagem, que aplaudo vivamente.







FM

AMBIENTE NO PORTO DE AVEIRO


Por respeitar o ambiente e a segurança: Distinguida empresa química instalada no Porto de Aveiro


O Grupo Drovigo, da empresa APD Química, cujas instalações se situam no Porto de Aveiro, recebe, hoje, em Paris, o prémio «European Responsible Care 2007», que distingue projectos que defendam o meio ambiente, a segurança, e a saúde

Com uma actividade baseada na distribuição química, este grupo foi seleccionado entre outras 16 empresas, pelo Conselho Europeu da Indústria Química, que realiza, em França, o Forum Responsible Care, no âmbito do qual terá lugar a cerimónia de entrega deste galardão. O Grupo Drovigo é um operador logístico com sede em Espanha, mas que dispõe de delegações em Portugal desde 2001. Foi fundado nos anos 50, operando por toda a Península Ibérica. As instalações desta empresa no Porto de Aveiro têm capacidade para receber navios até cinco mil toneladas. No ano passado, facturou quase 26 milhões de euros, tendo distribuído cerca de 30 mil toneladas de mercadorias. A ADP Química, empresa em que se insere, tem uma capacidade de armazenamento de 12 mil metros cúbicos de líquidos, e um armazém com três mil metros quadrados. Atribuído anualmente, o prémio «European Responsible Care» tem como objectivo distinguir o melhor exemplo europeu de desempenho ao nível da actuação responsável, e é atribuído por um júri que integra personalidades independentes de diversas áreas, nomeadamente, membros da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, da imprensa e do próprio sector químico. A Actuação Responsável é a designação nacional do Responsible Care, um compromisso ético voluntário da indústria química mundial, que visa a melhoria contínua nas áreas da Saúde, Segurança, Ambiente e comunicação com os stakeholders, na rota do desenvolvimento sustentável. Em Portugal, a Actuação Responsável foi adoptada pela Associação Portuguesa das Empresas Químicas, há 22 anos, sendo, desde então, a entidade coordenadora nacional da Actuação Responsável, a par com associações químicas de outros 52 países. Há dois anos, o prémio foi entregue ao Painel Comunitário de Actuação Responsável de Estarreja.

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NOTA: Vezes sem conta denunciei, de forma construtiva, a falta de respeito pelo ambiente na Gafanha da Nazaré, mormente na área portuária. Ultimamente, porém, a questão ambiental tem vindo à baila, por mor da poluição com origem no Porto Comercial e que afecta esta cidade, passando mesmo para além dela. Os protestos choveram de todos os lados, políticos e outros, porque as pessoas precisam de respirar ares sadios.
Congratulo-me agora com este prémio atribuído a uma empresa sedeada no Porto de Aveiro, pela sua aposta no respeito pela natureza, nela incluindo, naturalmente, os muitos milhares de pessoas. Espero então que este prémio seja estímulo para todas as outras empresas instaladas no Porto de Aveiro.

FM

Na Linha Da Utopia




A Ciência terá limites?

1. Esta é uma pergunta retórica. Claro que a ciência, como tudo quanto é a percepção humana sobre a realidade, tem alcances e tem limites. Este é o título (“A Ciência terá limites?”) de conferência internacional que nestes dias (25 e 26 de Novembro) decorre na Fundação Calouste Gulbenkian (http://www.gulbenkian.pt/) e que conta com a presença de múltiplos especialistas de referência. Mas será um erro considerar-se que estas questões unicamente interessam aos especialistas e cientistas…
2. Tanto os esforços de divulgação científica merecem uma atenção dos cidadãos a estas questões, como o facto de que aquilo que se vai investigando vir a ter impactos decisivos na nossa vida diária (seja à distância de uma década) deverá sensibilizar todos (“qb”) para estas questões. Que o diga a história da Revolução Científica do séc. XVI-XVII, com os seus impactos na transformação de paradigmas (dos modos) sociais e pessoais de viver. Hoje será a revolução genética e comunicacional que nos está a transformar, a ponto de termos que REVER (quase) TUDO.
3. Felizmente que já ultrapassámos os tempos da surdez científica; felizmente que, hoje, a conjugação de esforços em diálogo de ciências torna todos mais comprometidos. Mas o desafio ético (da dignidade humana) apresentar-se-á como o eixo de equilíbrio, dando os pilares tanto dos alcances como das fronteiras da própria ciência. Já lá vão os tempos (?) tanto dos endeusamentos científicos como de pretensões unilaterais do tratamento das questões e da procura da verdade.
4. Os limites estão aí, todos os dias, a desafiar toda a proclamada sociedade do conhecimento. Numa ciência que saiba (sempre mais e melhor) dialogar com a realidade concreta, dir-se-á que os limites da ciência pairam nos limites da própria humanidade; mas não só, também os limites das culturas, das políticas, das religiões, das filosofias: enquanto a fome, a sede, a violência, o desequilíbrio ambiental, os esvaziamentos da DIGNIDADE HUMANA persistirem, os limites gritam e apelam a todas as formas de conhecimento para as resoluções inadiáveis.
4. Um dos nomes de referência convidados à conferência é George Steiner, que, partilhando dos limites da ciência, exemplifica dizendo que «não há nenhum instrumentos de observação, por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das “paredes douradas” externas ou internas do nosso possível universo local. […] O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o fazer voar.» Os dados estão aí. A viagem HUMANA, diferente, continua. Seja ela capaz de integrar todas as formas (humildes) de conhecimento ao serviço da sua própria dignidade. No reconhecimento dos limites estará, também, a ponte de aprendizagem dialogal.

Alexandre Cruz

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

FÁTIMA - 2




O AR QUE ALI SE RESPIRA SABE BEM

Fui a Fátima por necessidade espiritual de respirar um ar diferente. Também para ver ao vivo a nova igreja da Santíssima Trindade, cheia de arte e de símbolos que aos crentes nos mistérios cristãos dizem muito. E muito dizem, ainda, aos que vêem na arte uma dinâmica que nos eleva para o alto, catalisando os valores que nos enformam.
Não importa, a meu ver, dissecar o que se diz a favor e contra Fátima. Não foi a Igreja que impôs Fátima ao mundo, mas foi Fátima que se impôs na Igreja, como tantas vezes tenho ouvido dizer e lido. Importa, isso sim, sublinhar que debaixo da Azinheira me sinto abrigado e livre para assumir o mistério ali experimentado por milhões de crentes e não crentes.
Quando lá vou, sem preocupações de reuniões e de encontros, gosto de falar pouco. Vou mais para ouvir o que se diz e para me debruçar sobre expressões e rostos de gente com fé, na certeza que sinto que não há neles falsidades nem fingimentos. Há devoções que não sabemos medir, há a fé de imensas pessoas que só Deus saberá compreender. Por isso, não me atrevo a criticar quem se arrasta em promessas pelo passadiço agora polido, quem reza fervorosamente sem complexos, quem acende velas atrás de velas, quem fica quedo a meditar na Capela da Adoração, quem fica meditando junto da mais antiga capelinha de Nossa Senhora, quem participa nas missas na Basílica, quem apenas ciranda por ali, quantas vezes à procura de lembranças que de bom gosto pouco têm. Cada pessoa, em Fátima, é para mim um mundo interior onde não ouso penetrar. Deus saberá ler tudo isso.
Porém, permitam-me que apresente hoje um pequeno texto digitalizado, escrito em 1979 por uma jornalista-escritora, Fina d’Armada – FÁTIMA: O que se passou em 1917 –, em que a autora defende a tese de que se tratou de um fenómeno ovnilógico. Que eu saiba, nunca mais ninguém defendeu tal ideia nem esta colheu qualquer aceitação credível nos meios científicos dos mais variados quadrantes e muito menos nos teológicos. Então por que me refiro a este livro? Simplesmente porque Fina d’Armada, logo abrir o seu trabalho, no primeiro capítulo, diz o mais importante. Leiam.





De facto, Fátima “é realmente um bom local de meditação, um local mais próximo do divino, do sonho, do Bem”. Tudo o mais que vem no livro não terá grande interesse. Mas a sua abertura vem mesmo a propósito daquilo que milhões de pessoas buscam e sentem no Altar do Mundo. E foi por isso, então, que eu lá fui ontem.

Fernando Martins
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NOTA: As minhas reflexões sobre o que vi vão continuar neste meu espaço.

MEDOS E PERPLEXIDADE DOS MAIS IDOSOS



Como cuidadosa preparação da opinião pública, em ordem a um clima propício à aceitação da eutanásia, tal como já aconteceu em relação ao aborto, deu-se grande visibilidade a um inquérito nacional feito a idosos internados em lares diversos. Não faltaram opiniões variadas a fazer a leitura do resultado e títulos tendenciosos a orientar para conclusões. Já estamos habituados.
A situação pessoal e social dos mais idosos é talvez o problema mais preocupante e grave a que assistimos hoje. Cresce o número dos que não têm lugar na casa que construíram com muito amor e sacrifício, e que hoje é casa de filhos, demasiadamente ocupados para poderem ser sensíveis; cresce o número de famílias desestruturadas para as quais o idoso se tornou um intruso incómodo; é difícil a situação de muitas famílias em que o casal trabalha fora, vive em casa exígua e rendimento reduzido e leva, ainda e diariamente, o cuidado de um idoso querido que tem consigo e dos filhos que começa a distribuir, por instituições adequadas, ainda o sol vem longe; são muitos os idosos que vivem nos meios rurais com filhos emigrados no estrangeiro ou, embora cá dentro, a quilómetros de distância; não faltam idosos isolados, de quando em quando, roubados e espancados, sem se ver como protegê-los. O tempo de vida alargou-se, mas a vida de um idoso, ainda que em condições regulares de saúde e de conforto, tem exigências múltiplas, nem sempre com resposta fácil.
Por outro lado, surgem, por todo o lado, iniciativas que minimizem as carências e dêem alguma satisfação às situações existentes: casais que regressam à terra para cuidar dos seus idosos; estruturas regulares de apoio a partir de instituições de solidariedade, como lares, centros de dia, apoio domiciliário, acolhimento nocturno, centros de convívio; estímulos do Estado, traduzidos, por exemplo, em pensões sociais e desconto em medicamentos; são múltiplas as actividades de lazer, passeios turísticos, férias em zonas adequadas; preparam-se profissionais e voluntários para tratar idosos e lidar com eles; há literatura diversa a chamar a atenção para os idosos e seus problemas e até meios organizados para aproveitar e valorizar as suas qualidades e capacidades. As situações são muito diversas e o que de uns podem beneficiar, outros desconhecem-no.
Para todos, a família quando a têm, e o amor que dela se espera, porque a ele se tem direito, é e será sempre o maior e o mais indispensável apoio e estímulo ao viver de um idoso. Ninguém pode viver sem amor. Só pensa na morte, dela fala e a deseja, quem não se sente amado. Todos os outros meios, mesmo os mais válidos, ou têm o tempero do amor ou perdem, a pouco e pouco, o seu sentido e valor. Assim o inquérito o revela.
É uma preocupação lamentável a de muitos filhos, sem preocupação de procurar a melhor solução, tentarem internar os seus idosos em lares. Por isso há nestes listas de espera por todo o lado. Para muitos destes filhos, idoso internado é, depois, idoso pouco ou nada lembrado e visitado. E isto é o que mais dói a um idoso, arrumado e esquecido. Só o desabafa com quem confia, mina-lhe por dentro a alegria e a vontade de viver, tem a sensação de indesejado, a vida perdeu o sentido e, no horizonte, só a morte aparece.
A solução para estes casos, que infelizmente aumentam, não é a eutanásia, mas a humanização das relações familiares; o avivar da consciência dos filhos, que também são pais e têm, em relação aos seus idosos, uma dívida nunca paga; o fomento da solidariedade comunitária, que se torna família dos que a não têm; a preocupação dos lares serem lares de família com a família, e não armazéns de quantos mais melhor…
A casa onde viveu, ainda que pobre, é a que o idoso, em situação normal, sempre preferirá. Haja amor de quem o pode e deve dar e os idosos manifestarão a sua verdade. Todos, no seu juízo, preferem a alegria de viver, à pressa de morrer. Todos preferem, a seu lado, quem os ame e lhes prolongue a vida, a quem, anónimo, lhes apresse a morte.

António Marcelino

ARTE NA AUTO-ESTRADA




( Clicar nas fotos para ampliar)


ARTE NA AUTO-ESTRADA

Estou convencido de que muitos utentes das auto-estradas nem tempo têm, quando param nas zonas de serviços, para olhar para as decorações artísticas que as ornamentam. Por vezes, com sensibilidade e quase sempre com motivos históricos.
Pára-se a correr, para meter gasolina ou para tomar um café, e ala que se faz tarde.
Na viagem que fiz ontem a Fátima dei-me ao cuidado de olhar à volta para apreciar. Como, aliás, costumo fazer. E registei o que achei bonito, tendo notado que mais ninguém o fazia. Aqui fica o aperta…
Em Pombal e em Leiria lá estavam os motivos históricos, com o nosso rei D. Dinis num lugar de destaque, que bem o merece. Como rei fez coisas boas e coisas menos boas. Destas não valerá a pena falar. Mas das outras, que foram em grande número, o pela positiva tem aqui cabimento.
Foi realmente um rei empreendedor, com uma visão muito mais ampla do que era habitual, visão essa que bebeu na educação e na formação que recebeu, dos mestres que seu pai, D. Afonso III, lhe ofereceu. Dois mestres, um francês e outro português, que acabaram bispos no Reino. Ayméric d’Ebrard e Domingos Jardo (também formado em França) abriram no jovem Dinis os olhos ao mundo de então, e apuraram nele o gosto pela cultura, pelas artes e pelos saberes. Daí a criação dos Estudos Gerais, raiz da futura Universidade de Coimbra, em 1290, uma das mais antigas do mundo. Também a ele se deve a lei que estabelece como obrigatório o uso da Língua Portuguesa em documentos oficiais. Até aí eram escritos em Latim.
O que ficou dele, ainda, foi o gosto pela poesia, que ele tão bem cultivou e nos legou. Como é saboroso ler as suas cantigas de amor e de amigo.
Pois é uma dessas poesias que aqui deixo aos meus leitores. Com votos de que, a partir dessa, outras possam ler. Estão em qualquer boa antologia de poesia.
Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



Admirável Mundo Plural



1. O mundo, como a vida, conjuga-se no plural. As realidades, tanto na sua grandeza como no seu limite têm sempre muitos ângulos da questão, não são lineares e uniformes, são plurais. Talvez a convivência com a pluralidade tenha sido a maior conquista da espécie humana, como sinal da capacidade de conviver com a diferença de ideias, de pensamento, de filosofias, de políticas, de religiões, de clubes, de modos de viver. Uma conquista angariada em séculos, tantas vezes sangrentos, em que do uniformismo intolerante (muitas vezes fundamentado por visões exclusivistas de foro sócio-político-religioso) foi-se realizando a viagem (humaníssima) até à convivência da pluralidade.
2. Mas não se pense que essa viagem está acabada. Existiram valores (alguns mesmo à revelia) que foram presidindo à construção do pensamento plural, de modo a que este seja a PRESENÇA de todos e não a ausência indiferente. Nos tempos em que estamos, o processo de alimentar as raízes da pluralidade reveste-se de uma urgência inadiável. Para o projecto humano não chega o dizer-se ou reconhecer-se que existem culturas diferentes, que “somos” num tempo plural, multicultural, multiétnico, etc. É bom mas representará só os “mínimos olímpicos”; é pouco para os tempos globais que vivemos! Não sendo preciso ir tão longe, olhe-se, por exemplo, para muitas das comunidades dos EUA, onde cada bairro representa cada comunidade, com exclusividade: comunidades fechadas, impermeáveis à mudança, à diferença e ao diferente.
3. Um dos breves escritos de Eduardo Lourenço (2007), caracterizando muito do indiferentismo do nosso tempo, lembra-nos que o pensamento de Friedrich Nietzshe (1844-1900) “não permite a indiferença”. Diremos que na indiferença não há pluralismo que resista por muito tempo. A pluralidade como um bem social terá, assim, de representar a grandeza da CONVIVÊNCIA HUMANA e não a ausência indiferente do bairro fechado. Que lugar para este alimentar dialogante da pluralidade? Onde e como ocorre esse diálogo constante como plataforma de encontro criativo? Só deste modo passaremos da observada multiculturalidade ao encontro intercultural que (em transculturalidade) nos diz que é muito mais o que nos une como humanos que as diferenças e incompatibilidades que tanto mais acentuamos. Deste modo dialogante já cada minoria terá a sabedoria de se reinterpretar, não vendo o diálogo com medo nem como perca de identidade mas como nova síntese na grandeza em ser humano com os outros.

Alexandre Cruz