quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO

Foto de Ângelo Ribau
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Alegria! Alegria!
Ó céu do meu País,
Onde as nuvens até são quase luminosas,
Ó Sol de Maio a rir nos canteiros de rosas,
Ó Sol Alegre, ó Sol Brilhante, ó Sol Feliz
Para quem o Inverno é um momento apenas.
Sol de ingénuas manhãs e de tardes serenas,
Ó Sol quente de Julho, ó Sol das romarias,
Queimando e endoidecendo as multidões sadias,
Sol candente do Algarve, ó Sol doce do Minho,
Florindo amendoais ou a espumar no vinho.
Sol das searas de oiro e dos vergéis de Outono
Palpitantes de cor como um largo poente;
Sol que ao dormir a terra o seu fecundo sono,
Lhe dás sonhos de luz, voluptuosamente.
Sol das eiras do milho e da roupa a corar,
Sol dos verdes pinhais e das praias trigueiras,
Ó Sol moreno e forte a resplender no mar
Tisnando as carnações mais as velas ligeiras
Ó Sol moreno, ó Sol alegre, ó Sol feliz
Sendo ainda clarão na hora da agonia.

- Canta a glória da Luz, canta a glória do dia
Em todo o meu País!

João de Barros

In Vértice, revista de cultura e arte, Junho de 1952

DIAS POSITIVOS


Desafio espiritual


Al Gore e o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas foram os escolhidos para o Nobel da Paz. A escolha do comité norueguês não foi consensual. Raramente é. Não se pode agradar a gregos e a troianos. E qualquer opção implica exclusões – logo, permite que qualquer um diga que há um lóbi de qualquer coisa por detrás da escolha. Mas a contestação recai principalmente sobre o norte-americano. É difícil ser americano nos tempos que correm.
Um ponto, porém, é de realçar no discurso daquele que, em 2000, teve mais votos do que Bush, mas não foi eleito para a Casa Branca (não foi injustiça – todos sabiam que as regras eleitorais dos EUA permitiam e permitem que tal aconteça). Diz Al Gore, e é de crer que o repita quando, no dia 10 de Dezembro, receber o prémio: “A crise do clima não é uma questão política, é um desafio moral e espiritual para toda a humanidade”.
Não é difícil, para os cristãos, entender que assim seja. A crise do clima é a Criação a dar sinais dos maus-tratos por parte do ser humano, que em vez de ter cultivado o jardim (expressão do Génesis) que é de Outro, andou e anda a explorá-lo como se fosse seu. Já João Paulo II havia dito, num Dia Mundial da Paz, que a Paz com Deus, a paz entre os homens e a paz com a natureza andam todas ligadas.
A crise do clima é um puxão de orelhas ao nosso egoísmo geracional, ao nosso hiperconsumismo. Tudo acabará por ser resolvido com medidas políticas globais, mas estou certo de que, individualmente, isso implicará a adopção de virtudes morais e espirituais, com novos sentidos para a temperança, a solidariedade, o jejum e a abstinência...

J.P.F.
In Correio do Vouga

Na Linha Da Utopia


O perdão da dívida


1. Não se pense que falamos do “perdão da dívida” aos países pobres. Esse perdão seria bem-vindo, pois verdade se diga que muita da riqueza dos países ricos é conseguida à custa dos recursos explorados nos países pobres. Muitas destas nações em maior dificuldade estarão ainda a acolher a novidade efectivamente democrática e a encetar caminhos de real desenvolvimento, este que foi sendo travado pelo interesse estratégico de grandes (con-sideradas) potências ocidentais. Esse “perdão da dívida externa” tem merecido as maiores atenções e divulgações e, no fundo, não se trata de perdão mas sim de JUSTIÇA. Felizmente muitas têm sido já as vozes, da política às artes, sensibilizadoras para esta justiça do perdão da dívida, permitindo aos países de economia pobre um novo arranque no seu processo de justo desenvolvimento. Embora perdão sem um novo compromisso sociopolítico cai em saco roto…
2. Falamos de outro pretenso perdão (esquecimento, será?) de dívida. O caso do pai rico banqueiro que não sabia que seu filho havia pedido ao banco alguns milhões de contos (alguns, tanto faz o número para quem vive nessas esferas!), e, pelos vistos, pelo passar dos dias e das ideias, a dívida já deve estar quase perdoada!... Acontece tudo neste país!... Claro que, de facto, oficialmente, pouco se sabe e quase nada se deve dizer sobre o caso. Mas, o simples facto dessa possibilidade existir nessa gigante entidade bancária do país continua a fazer vir à luz do dia a desconfiança das entranhas dos processos, das agendas económicas, do modo como – em regime de pretensa igualdade de dignidade no tratamento das questões – uns continuam a ser mais iguais que outros. Pobre (rico) país!
3. Felizmente levantaram-se algumas vozes…mas que até têm lá os seus interesses, não vão os euros parar a outra algibeira! Mobilizaram-se entidades competentes, mas tudo em versão soft (leve), pois está consagrado prioritário a “imagem” em relação à “ética” dos milhões. Um arrastamento de silêncios e cumplicidades demonstra-nos bem a raiz dos nossos travões a um desenvolvimento justo, onde os tempos e lugares da ética e transparência terão de ser a fasquia de referência em qualquer área comum. Segundo os analistas da especialidade, essa entidade já havia passado um complexo “verão quente” ao que agora este caso denuncia maus hábitos de um “sistema”. Mas, não será possível ir à boleia por muito tempo; quando a ética de esvai abre-se a permeabilidade a tudo... No implacável mundo económico, não se resiste muito tempo na suspeita, a todo o custo se procuram seguranças. Assim, ISTO, por quanto tempo?!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


AINDA HÁ LIÇÕES DE VIDA

A ideia generalizada de que é impossível erradicar a pobreza no mundo não pode levar-nos a cair no desânimo, nem a limitar-nos na acção diária em favor dos mais pobres. Começando, naturalmente, pelos pobres que existem no pequeno mundo que nos rodeia. E às vezes, temos de o reconhecer, há projectos que podem estimular-nos para uma intervenção mais activa na sociedade.
Há anos participei numa cerimónia em que se homenageava um amigo meu, conhecido pela sua entrega aos outros. Celebrava ele uma data marcante da sua vida, penso que os 25 anos da sua ordenação sacerdotal, à qual se associou a comunidade em que exercia o seu múnus pastoral.
A comunidade, atenta à situação, entendeu oferecer-lhe um automóvel novo, já que o seu, antigo, estava bastante gasto pelo uso. Então resolveu quotizar-se para no dia da festa lhe entregar o cheque com a verba necessária.
Depois das palavras de circunstância, mescladas pelos elogios à sua entrega à comunidade, um membro da comissão organizadora da homenagem simples e de acção de graças sai da assembleia e dirige-se ao homenageado, a quem entregou o cheque, com a sugestão de que seria para um carro novo. Depois dos agradecimentos da praxe, o homenageado diz, com alguma alegria, mais palavra menos palavra: vem mesmo a calhar; este dinheiro vai direitinho para uma cozinha social; há gente que passa fome; o carro pode esperar.
Belo exemplo. Uma grande lição de vida que jamais esquecerei. E a cozinha social ainda hoje existe, fornecendo refeições económicas a quem tem algum dinheiro para as pagar; os que nada têm comem na mesma, porque não podem passar fome.

FM
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Nota: Não divulgo o nome deste amigo para não ferir a sua sensibilidade.

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza



NÃO NOS ESQUEÇAMOS DE PARTILHAR


O dia que hoje assinalamos – Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza – tem mesmo de nos fazer pensar. Confesso que nem sei bem o que hei-de dizer, depois de tanto já ter lido sobre o tema. É por demais evidente que todos estamos muito agarrados àquela ideia de que “pobres sempre os teremos”, ficando, por isso, muito tranquilos. Verdade seja dita que pobres não são só os que não têm o essencial para se alimentarem no dia-a-dia. Há muitíssimas formas de pobreza, mas a que mais vem à colação é a que está ligada à falta de pão. As outras “pobrezas” ficam relegadas para um plano secundário. Nesta linha, aceita-se a velha máxima, porquanto não estará ao nosso alcance debelar a pobreza que é a infelicidade de muita gente. Quando muito, poderemos admitir que, mesmo aí, haverá sempre a possibilidade de algo sair de nós para ajudar quem sobre, no corpo ou na alma.
Voltando então à pobreza que caracteriza a falta de meios para viver com dignidade, custa-me aceitar que os cientistas, nomeadamente os economistas, não consigam descobrir formas palpáveis que conduzam à erradicação da pobreza.
Há cerca de um ano foi premiado com o Nobel o criador do banco do microcrédito, para ajudar famílias e pessoas no lançamento de projectos que oferecessem meios de sustento. Depois tudo se calou. Os grandes bancos e os seus lucros fabulosos, mais os seus escândalos de permeio, distraíram-nos. Os pobres continuam por aí, à nossa porta inclusive. Os pobres envergonhados, diz-se, estarão a ser cada vez mais. Serenos, indiferentes mesmo, nós todos continuaremos a saber disso e de muito mais, mas pouco fazemos para erradicar a pobreza.
Eu sei que há muita gente que se dedica aos outros, abdicando de tudo, mas continuo a pensar que a luta contra a pobreza tem de passar, também, pela luta em favor de mais justiça social, de mais envolvimento das pessoas nos lugares de decisão, de mais denúncia do que está mal, paralelamente ao anúncio de decisões que sirvam para apoiar e estimular os que mais precisam.
E já agora, não nos esqueçamos de partilhar, no dia-a-dia, o que pudermos com os que sofrem à nossa porta.

FM


Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


Oito propostas prioritárias

No assinalar do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza - 17 de Outubro -, a Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal (REAPN) apresenta “8 propostas de acção estratégicas prioritárias” para que o assinalar deste dia “não se transforme em mais uma rotina sem significado e, sobretudo, sem consequências”.
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Ler mais em Ecclesia

NOTA: Foto que me foi enviada por um amigo para este dia

Na Linha Da Utopia



Pobreza: o beco sem saída?

1. Já desde os tempos antigos, falar a “estômagos vazios” é literatura que cai em saco roto. Quando os que têm pão em abundância discursam simpaticamente sobre os que não o têm, e rapidamente passam a outro assunto pelas naturais pressas da agenda e da vida, estamos, no fundo, diante de ideias surdas e mudas, que adiam esta resolução fundamental dos mínimos da dignidade humana. É assim que, salvaguardando esforços heróicos de pessoas e entidades, vamos continuando na manutenção da pobreza. Verdade sublinhada se diga, se os senhores do mundo quiserem, que HOJE será possível terminar com a pobreza extrema.
2. Por ironias do calendário (ou talvez não), depois do Dia Mundial da Alimentação (16 de Outubro), celebra-se o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza (17 de Outubro). Como as cerejas, num encadeado sempre crescente em que as consequências são novas causas de pobreza, os modelos globais da hiperconcentração dos poderes (macroeconómicos) vão-nos dizendo que “a lei do mais forte” é implacável para quem não se adapta ou tarda em conseguir vislumbrar o caminho. Das antigas (rurais) às novas formas de pobreza (citadina), da envergonhada à desavergonhada, o certo é que até algumas formas clássicas (a horta e o galinheiro!) de sobrevivência foram recebendo a ordem de fechar, deixando o pão ainda mais longe e (mesmo) a ociosidade bem mais perto.
3. A margem da sociedade está a ficar cada vez maior. Os publicitados números económicos espelham o seu fruto, não permitem respirar muitas famílias já de cinto bem apertado, numa classe média que tende a esvaziar-se. O antídoto sempre foi a FORMAÇÃO: esta é a chave da porta de uma sobrevivência que se vai abrindo a novas formas de resolução dos problemas. Formação, tanto para o mundo longínquo (sem água nem pão), como para nós que tardámos em aceitá-la, com motivação e compromisso, será a ferramenta salvadora. Lá longe, muitos ditadores vão impedindo o acesso a essa renovadora qualificação dos povos; cá perto, como é possível que tantos e tantos adolescentes abandonem levianamente a sua formação escolar?! Como tudo se conjuga nessa indiferença da entrada no “beco”?
4. E mais: por exemplo, há dias observámos (e libertámos) num dos parques de estacionamento da cidade uma luta entre duas pessoas; eram dois sem-abrigo, arrumadores de carros, vindos de outro país. Um julgava-se proprietário desse parque e não queria aceitar o outro que lhe vinha “tirar” alguns clientes; álcool e fumo fazem parte dessa vida, dando ao menos para aquecer as noites que começam a ficar frias (o chamado Natal ainda está longe, também é só um dia)… E como podemos proclamar que está tudo bem quando cresce o número de excluídos da sociedade? E como “ensinar a pescar” com mais eficácia e compromisso? E como ligamos mais a política (seja económica) e um ensino como estratégia nestas questões de fundo? E como...

Alexandre Cruz

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Dia Mundial da Alimentação

PAPA LEMBRA AS CRIANÇAS

O Papa Bento XVI assinala este Dia Mundial da Alimentação com um olhar especial sobre as crianças, defendendo o “direito de todos os seres humanos à alimentação”.
Numa mensagem enviada ao director-geral da FAO, o Papa lamenta que os esforços levados a cabo em todo o mundo não tenham permitido diminuir “significativamente” o número de pessoas atingidas pela fome.
A mensagem enviada a Jacques Diouf faz uma referência especial à situação das crianças, “primeiras vítimas desta tragédia que sofrem pela falta de desenvolvimento físico e psíquico”.
Na celebração do Dia Mundial da Alimentação, dedicado este ano ao tema “O Direito à Alimentação", Bento XVI aproveita para ligar o drama da fome ao respeito pelos Direitos Humanos, frisando que os dados disponíveis mostram que a falta de alimentos não está ligada apenas a causas naturais, “mas sobretudo a comportamentos humanos e a uma deterioração geral de tipo social, económica e humana”.
Segundo o Papa, “é necessária uma consciência de solidariedade que considere a alimentação como um direito universal, sem distinções nem discriminações”.

Fonte: Rádio Renascença

Dia Mundial da Alimentação

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL


A agenda diz-me que hoje é o Dia Mundial da Alimentação. E porque é uma agenda do nosso País e para a classe média alta, recomenda que devemos evitar açúcares, gorduras, óleos e aditivos.
É natural que haja cuidados com a alimentação, tanto mais que há muitas doenças que resultam do consumo imoderado de certos produtos, feitos a gosto dos nossos apetites. E dos nossos olhos. Afinal, o homem é o único animal, dizem, que come com os olhos. É, então, importante comer com moderação, optando pelos produtos mais saudáveis. Bom apetite, apesar de tudo. Amanhã direi por que motivo a nossa moderação até pode ter uma finalidade bem útil e importante.
Já agora, aprenda a calcular o índice de Massa Corporal, dividindo o seu peso, em quilos, pela sua altura ao quadrado, em metros. Se o resultado estiver entre 18,5 e 24, parabéns.

Na Linha Da Utopia



Alargar (ou limitar) o debate europeu?


1. Aproximam-se dias importantes para o projecto europeu. 50 anos depois do Tratado de Roma (já ineficiente no nova Europa) procura-se a todo o custo a assinatura de algo, de documento, de um tratado com linhas comuns. De uma ideia de Constituição “chumbada” pela França e Holanda, nestes últimos tempos o receio é tanto que se procuram ler mesmo em novas nomenclaturas essa esperança continuadora do inédito percurso europeu pós-guerra.
2. Mas talvez o maior de todos os problemas continue a ser a distância das comunidades locais em relação ao sonho europeu. Quando os votos nos possíveis referendos europeus derivam (ou não) do estado da situação económica, dos custos ou dos benefícios, tal facto demonstra-nos bem em que critérios temos andado. Dir-se-á que já no princípio assim era: o carvão e o aço, como permutas geradores de “laços” que ao menos evitassem a guerra como solução dos problemas.
3. O assunto (europeu) anda, mais que nunca, a ser lidado com pinças. A tal ponto que, de receio em receio, o “lema” norteador é mesmo evitar referendos, não venham estes a desiludir as expectativas. Neste contexto, por défices anteriores de explicar a Europa aos europeus, será que chegámos a uma situação em que o melhor será fechar, silenciar, limitar o debate europeu? Quase como uma operação clínica, qualquer distracção pode ser fatal. Os tempos actuais são de ansiedade, mas, melhor seria que ao longo dos tempos passados se tivesse conseguido alargar, efectivamente, o debate europeu.
4. O mundo precisa de uma Europa viva, com ideias, muito para além de um afirmado “racionalismo” (este hoje já quase sem razão, asfixiado na tecnologia); a Europa precisa de se repensar à luz do mundo e dos seus valores constitutivos. Nestes estarão tanto um pluralismo inclusivo de visões dignificantes como a constatação de matrizes que ergueram esta forma de democracia. Não será o esvaziamento de si mesmo que dará a capacidade acolhedora da diferença de pensamento e de modo de vida. Na Europa da dignidade humana, por ilusão ou confusão (no entendimento do que significa “pluralismo”), por medo ou pré-conceito, temo-nos esvaziado, quase esquecendo (pluralmente) donde vimos.
5. Claro, neste terreno pantanoso (pela “rama”), é tanto mais difícil saber para onde vamos. Ainda assim, continuará a ser histórico o caminho europeu; mas será tanto melhor quanto mais cedo se “escancarar” um debate aberto de uma Europa social e existencial no Séc. XXI. Parece que por agora este debate antropológico continua a ser adiado; o que se procuram são mesmo as assinaturas, não ideias que saibam ser unas e plurais. Pena, mais uma oportunidade adiada (?)!

Alexandre Cruz