sexta-feira, 11 de maio de 2007

Ares da Primavera


Canais da Ria. Foto da HERA
A RIA NA PRIMAVERA
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Quando vejo as fotos que a HERA nos oferece fico com desejos irreprimíveis de passear pela Ria de Aveiro, para usufruir, mais plenamente, as suas belezas ímpares. Meios não faltam. Tempo também não. Então, por que razão me fico (nos ficamos) a sonhar?

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Um texto de Jorge Pires Ferreira, no CV

ATEUS ANÓNIMOS
Os primeiros cristãos, vindos da cultura hebraica e confrontados com os elevados padrões morais de alguns filósofos gregos, ficaram perplexos. Como conjugar a fé de que Jesus é o único salvador, com tão belas páginas escritas por filósofos, poetas, pensadores que viveram no total desconhecimento de Jesus Cristo e do Povo de Abraão, Moisés e Isaías? Cristãos houve que pretenderam colocar Sócrates, Platão e Aristóteles ao lado dos profetas bíblicos... Surgiu então a “teoria” das Sementes do Verbo. O Verbo de Deus deixa sementes por toda a história e geografia humana. No séc. XX, cunhou-se a expressão “cristãos anónimos” para significar a mesma realidade: homens e mulheres de boa vontade que não conhecem Jesus Cristo. No fundo, são cristãos sem o saberem. Vem isto a propósito de uma expressão de González Faus, que tão adequada é para perceber o cristianismo dos nossos tempos. Diz o jesuíta catalão que “há muitos ‘ateus anónimos’ entre os que se confessam crentes”. González Faus salvaguarda que “só Deus sabe quem são e quantos”, mas parece-me que tal expressão explica bem por que é que uma sociedade composta maioritariamente por cristãos aprova leis iníquas ou não acaba com a pobreza, por exemplo. Faltam cristãos anónimos. Sobram ateus anónimos entre os que usam o título de cristão.
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Fonte: Correio do Vouga

Um artigo de D. António Marcelino


PAIS PRECISAM-SE,
URGENTEMENTE



Pelo modo de falar de muita gente, parece que o pai está a mais na família e no processo normal da educação dos filhos, crianças ou jovens. Indispensável para o ganha-pão, mas dispensável para outras coisas não menos essenciais a uma família equilibrada e feliz.
Não é fácil a vida de muitos casais com filhos pequenos. Dispersão e a dureza do trabalho em circunstâncias difíceis, outras ocupações também importantes, ausências inevitáveis, às vezes por tempo longo, marcam hoje a vida de muitas famílias. O problema agrava-se nas famílias monoparentais, com as mães solteiras e com a facilidade com que se opta e decide pelo divórcio. Vai parecendo, nestes casos que se multiplicam, que é mais importante a realização subjectiva dos esposos ou de cada um, que a necessidade de os filhos terem pais, unidos e que se amem, presentes e activos ante os desafios de gente que cresce e sonha.
Há mães heróicas, como há pais heróicos. Se insisto na presença urgente do pai para uma boa vivência familiar, é porque, hoje, a sua ausência é mais notada, maiores consequências desta, e cresce o número dos pais que se dispensam de estar presentes.
Na campanha recente que acabou por legalizar o aborto, por caminhos ínvios e camuflados, pôde ver-se que, para muita gente, o pai não contava para a decisão da mãe abortar. A interessada era ela, fosse ela quem fosse. Trazia o filho no seio, como se fosse apenas seu, e era a dona do seu corpo… Não vimos pais a reivindicar o direito de pronúncia e de decisão numa causa tão grave e séria, que diz respeito tanto ao pai, como à mãe. E parece que a lei e a sua regulamentação vai mesmo no sentido de esquecer os pais ou de os calar. O pai não vem ao caso e até pode complicar…Sem pai não há filho. Mesmo que este se desenvolva na proveta de um laboratório, o pai será sempre uma referência necessária para a criança que nasce e, por isso mesmo, uma presença indispensável no seio da família e no direito e dever de educar cada filho. Se toda a omissão é consequente, esta é ainda mais. Não o entendem assim os que, eivados de uma mentalidade estéril pela pobreza da sua vivência de humanidade e falta de dimensão antropológico, negam que a diferenciação sexual é irrelevante, porque o que conta é o amor. Mas que amor, e com que conteúdo e sentido?
Já começou, no seio do partido dominante, a preparar-se a opinião pública para que o próximo dia da República seja boa ocasião para legitimar “celebrações fracturantes”, como o casamento dos homossexuais e a adopção de crianças por estes casais. Assim, diz-se, se poderão implementar os “valores republicanos” e actualizar o Código Civil… Não há, num país como o nosso, normalmente de reacção tardia ao vazio das ideias e fácil de enganar com floreados e sorrisos, caminho mais aberto para que passe, impante e impune, o cortejo da incultura e da contra cultura. Podemos também chamar-lhe o cortejo da “democracia musculada”, dado que esta, cada vez mais ausente e pobre, só parece ter a força e a razão do decantado estatuto da maioria parlamentar e governativa.
É evidente que autoridade do pai não se pode anular sem consequências, nem se pode camuflar ao dizer com vaidade “sou um irmão mais velho para os meus filhos”. Pai é pai, irmão é irmão. As subversões de uma realidade natural como esta, têm sempre preço alto e correcção difícil.
A autoridade do pai, em comunhão com a da mãe, não se exerce, por certo, à maneira do “quero, posso e mando”, doutros tempos, ainda acompanhado do grito ou da bofetada. Traduz-se no respeito pelo filho, na aceitação de quem ouve, aprecia e dialoga, na referência de uma vida adulta e séria, no testemunho insubstituível de quem ama, no cuidado em organizar a vida, sem pôr os filhos em lugar onde já não chega nem o tempo, nem a paciência. Um pai que se anula como pai, enfraquece e destrói a família.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

CONDUÇÃO DEFENSIVA

Quantas vezes na semana passada é que falou ao telemóvel enquanto conduzia? Ultrapassou o limite de velocidade só para que os outros não o achassem aselha? Se esqueceu de pôr o cinto às crianças? Portugal poderia salvar anualmente 560 crianças e jovens se conseguisse reduzir a taxa de mortalidade nas estradas para os níveis da Suécia. Já estamos a baixar - mas precisamos de fazer melhor. Que tal um curso de condução defensiva? 

 Fonte: "Agenda '07" do "EXPRESSO"

Um poema de Sophia





A CASA DE DEUS



A casa de Deus está assente no chão
Os seus alicerces mergulham na terra
A casa de Deus está na terra onde os homens estão
Sujeita como os homens à lei da gravidade
Porém como a alma dos homens trespassada
Pelo mistério e a palavra da leveza

Os homens a constroem com materiais
Que vão buscar à terra
Pedra vidro metal cimento cal
Com suas mãos e pensamento a constroem
Mãos certeiras de pedreiro
Mãos hábeis de carpinteiro
Mão exacta do pintor
Cálculo do engenheiro
Desenho e cálculo do arquitecto
Com matéria e luz e espaço a constroem
Com atenção e engenho e esforço e paixão a constroem

Esta casa é feita de matéria para habitação do espírito
Como o corpo do homem é feito de matéria e manifesta o espírito

A casa é construída no tempo
Mas aqui os homens se reúnem em nome do Eterno
Em nome da promessa antiquíssima feita por Deus a Abraão
A Moisés a David e a todos os profetas
Em nome da vida que dada por nós nos é dada

É uma casa que se situa na imanência
Atenta à beleza e à diversidade da imanência
Erguida no mundo que nos foi dado
Para nossa habitação nossa invenção nosso conhecimento
Os homens constroem na terra

Situada no tempo
Para habitação da eternidade

Aqui procuramos pensar reconhecer
Sem máscara ilusão ou disfarce
E procuramos manter nosso espírito atento
Liso como a página em branco

Aqui para além da morte da lacuna da perca e do desastre
Celebramos a Páscoa

Aqui celebramos a claridade
Porque Deus nos criou para a alegria


Páscoa de 1990
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Sophia de Mello Breyner Andresen
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Fonte: Pastoral da Cultura

Um texto de Bagão Félix


O MEU SILÊNCIO... (*)




Se eu tivesse que escolher uma árvore para significar a sublime pureza do silêncio, seria a oliveira, que, indiferente ao calor sufocante ou ao frio penetrante, sobrevive na austeridade do seu ser.
Se eu tivesse que escolher uma cor para exprimir a decantação do som feito silêncio, seria esse paradoxo do branco escuro, que nos acolhe na suavidade do branco e nos sossega na tristeza do escuro.
Se eu tivesse que escolher um tempo para pintar a purificação do silêncio, seria o Outono, com as suas sombras, a sua nostalgia e a despedida multicolor e compassiva das folhas.
Se eu tivesse que escolher os momentos para o pleno usufruir do silêncio nas vinte e quatro horas de cada dia, seriam o enternecimento do adormecer e a suavidade ainda que instantânea do acordar.
Se eu tivesse que escolher um sentimento para compreender o ágape do silêncio, seria o amor maternal para com a criança que, nascida no ventre, se prepara para viver.
Se eu tivesse que escolher um nome de mulher para significar o silêncio na oração, seria Maria; e depois adormeceria envolto na sua tranquilidade.
Se eu tivesse que escolher uma música para partilhar o som do silêncio, seriam os intervalos de respiração no meio da exaltação da abertura Egmont de Beethoven.
Se eu tivesse que escolher um som para traduzir o silêncio do mistério da vida, seria o do choro de uma criança indefesa no meio da violência gratuita.
Se eu tivesse que escolher um mineral que me transmitisse o código genético do silêncio, não seria o do silêncio de ouro, mas o silêncio agreste, telúrico e puro do granito.
Se eu tivesse que escolher uma idade da vida para exaltar o valor humano do silêncio, seria aquela em que o som omnipresente mais asfixiante se torna.
Se eu tivesse que escolher o silêncio da alegria, seriam tão só as palavras não ditas num olhar de afecto serenamente radioso.
Se eu tivesse que escolher o silêncio da harmonia, seria o da reconciliação do futuro com o da purificação da memória do passado, no cruzamento do ruído da rotina.
Se eu tivesse que escolher o silêncio do desespero, seria o do cair das lágrimas depois de já não se terem na imensidão do que foram.
Se eu tivesse que escolher o silêncio da verdade, seria apenas ela, a verdade filtrada pela mudez, a verdade dos inocentes.
Se eu tivesse que escolher o silêncio do medo, seria o do vulcão da coragem de o poder ter.
Se eu tivesse que escolher o silêncio da saudade purificada pela distância da ausência, seria o da solidão da confissão suprema.
Se eu tivesse que escolher o silêncio de um sonho, seria o da serenidade de ele já não o ser.
Se eu tivesse que escolher o silêncio da esperança, seria sempre o da esperança do silêncio.
Se eu tivesse que escolher o silêncio dos silêncios, seria o deserto como antecâmara da eternidade na quietude do tempo e na serenidade do encontro.
Se eu tivesse que escolher uma palavra – só uma – para traduzir a plenitude do silêncio, seria adeus, que é a forma sincopada de nos dedicarmos a Deus.
Se eu tivesse que escolher o meu silêncio…
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*(Adaptado de texto que escrevi para um livro
recentemente editado, “Um minuto de silêncio”,
da editora “Guerra e Paz”)
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Fonte: Correio do Vouga

AS MINHAS REPORTAGENS

MANUEL MELO, PRESIDENTE DA UDIPSS-AVEIRO




Não podemos nem devemos
trabalhar de costas
voltadas uns para os outros


Manuel Melo, fundador e presidente do Centro Social, Cultural e Recreativo de Carregosa, Oliveira de Azeméis, foi eleito e tomou posse, em 14 de Abril, como presidente da direcção da UDIPSS-Aveiro. Os novos corpos gerentes integram representantes de 15 instituições do distrito. A actual direcção propõe-se dar continuidade ao programa definido pela direcção anterior, liderada por Lacerda Pais, que assumiu, entretanto, o cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro.
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Solidariedade – Quantas IPSS há no Distrito de Aveiro e quantas estão filiadas na União Distrital? Manuel Melo – No Distrito de Aveiro há 217 IPSS, 117 das quais estão filiadas na UDIPSS. Mas destas, pouco mais de cinco por cento é que participam nas assembleias e encontros promovidos pela União.
Solidariedade – Isso significa que a nova direcção vai tentar sensibilizar os dirigentes para a necessidade de participarem mais e com mais regularidade nessas assembleias e encontros… Manuel Melo – É verdade. Vamos continuar a alertá-los para que comecem a participar mais e com mais interesse, porque achamos que as assembleias, encontros e outras reuniões proporcionam uma partilha de ideias, dando e recebendo, uns dos outros, informações e sugestões.
Solidariedade – Mas as IPSS recorrem à União, com regularidade?
Manuel Melo – Sim… recorrem com frequência. Vêm aqui pôr questões e procurar respostas de âmbito muito geral: jurídico e laboral, mas também ligadas à Segurança Social. Os dirigentes são atendidos pela nossa advogada e pela nossa funcionária. Vêm pessoalmente e até telefonam bastante. A sede da UDIPSS é hoje uma casa com muita gente e com vida. É sempre uma casa cheia, o que contrasta com as assembleias e outros encontros.
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Leia mais no SOLIDARIEDADE

terça-feira, 8 de maio de 2007

FÁTIMA

Fátima - O pagamento de uma promessa
(Do livro "Fátima", de Leopoldo Nunes - 1928)

PEREGRINAÇÃO ANIVERSÁRIA
- 13 de Maio -



No próximo domingo, o Santuário de Fátima vai estar repleto de peregrinos, na celebração que inaugura os 90 anos das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos.
Pelas ruas de Portugal já caminham, a passo estugado quanto possível, milhares de peregrinos. A meta está em Fátima, onde devem chegar no dia 12, vésperas da grande cerimónia. Os sacrifícios por que passam são enormes. Só Deus saberá medi-los e aceitá-los. Nós, os que ficamos a olhar, ousamos às vezes criticar esses sacrifícios. Não haverá razões para isso. Cada um é livre de os sentir e oferecer a Deus. Ou de não os experimentar.
Confesso que admiro quantos se põem a caminho até Fátima ou outros lugares santos. Gente que, sem respeitos humanos, manifesta de forma livre a sua fé. Vale, pois, a pena pensar nisto. E que Deus ajude quantos peregrinam a Fátima.

Fernando Martins



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O Avé de Fátima


Toda a gente conhece a quadra que faz parte dos cânticos mais conhecidos do santuário. Mas sabe como é que apareceu?


A 13 de Maio,
Na Cova da Iria,
Apareceu brilhando
A Virgem Maria.




Uma quadra simples que faz parte de um dos cânticos mais conhecidos de Fátima.
O “Avé de Fátima” já constava da edição de 1926 do “Manual do Peregrino da Fátima”. As quadras originais terão sido escritas por Gilberto Ferreira dos Santos, devoto de Nossa Senhora, natural de Torres Novas.
As quadras que escrevia, imprimia depois em postais e estampas que distribuía aos peregrinos. Sobre essas quadras originais trabalharam dois poetas: Afonso
Lopes Vieira fez algumas das quadras que ainda hoje se cantam, Monsenhor Moreira das Neves deu-lhes a roupagem definitiva, aquela que hoje se ouve, todos os dias, na Cova da Iria.
O “Avé de Fátima” foi um dos primeiros cânticos em português, em louvor de Nossa Senhora de Fátima.
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Fonte: RR

Um artigo de António Rego

AS TORRES DE FRANÇA
A França pode ser observada por muitos olhares. De respeito, afecto, gratidão, repulsa, desconfiança. Mesmo a partir do nosso país. Sabemos que nos últimos mil anos tem estado na primeira linha do desenvolvimento material e espiritual da Europa. Temos razões de sobra para reconhecer que muitos dados culturais que atravessam a nossa forma de ler o mundo, ou de lá vieram ou por lá passaram. Além de catedrais e mosteiros reconhecem-se os nomes, correntes, escolas, acontecimentos determinantes que de lá surgiram. Filósofos, teólogos, místicos, ateus, agnósticos e laicos. Correntes políticas, sociais, religiosas lá nasceram ou ganharam significado.
Ecos de revoluções transformaram-se em teorias, revoltas juvenis iniciaram correntes. Alguns nem sonham que muitas arrumações mentais e espirituais brotaram do universo cultural de França. E andam por aí, peregrinamente, sustentando ideologias, estratégias de poder, cálculos de prioridades a ocupar muitos lugares preponderantes na sociedade portuguesa. Mesmo com as perdas de influência e autoridade que muitas vezes acompanharam a França, nomeadamente na II Guerra onde foi salva pela Inglaterra e pelos Estados Unidos. A segunda metade do século XX terá testemunhado a perda de influência da língua – não havia erudito português que se não exprimisse em língua francesa – para dar lugar ao mundo anglo - saxónico como um novo pólo de referência em muitas áreas da vida cultural e artística. Não se pode separar este todo do xadrez político que desenhou novos campos de hegemonia no mundo onde a tecnologia se tornou ideológica e cultural. Para nós, a França ainda é a maior cidade portuguesa fora de Portugal. Os milhares de portugueses e seus descendentes fazem de Paris o maior lugar da diáspora. Por muitas razões nunca nos é indiferente o que lá acontece. E, no novo contexto da União Europeia, podemos dizer que o que fomos escutando na campanha eleitoral que terminou com a vitória de Sarkozy, nos faz compreender que há perspectivas de aliança ou rotura num concerto cada vez mais alargado da economia, da cultura e mesmo da religião. Embora esta não se inscreva no frontal de qualquer projecto político - nem é esse o seu lugar - acaba por reflectir-se, pelos seus valores, no todo de um país. E, no caso da França, não é de esquecer que mais de 70% se declaram católicos.

domingo, 6 de maio de 2007

DIA DA MÃE

Um poema de Sebastião da Gama



QUANDO EU NASCI


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais ...
Somente,
esquecida das dores
a minha Mãe sorriu e agradeceu.


Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém ...
Para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos da minha Mãe ...
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Foto de "Missão OMP"

Festas de Santa Joana e do Município



AS VIRTUDES DA PRINCESA JOANA
PRECISAM DE SER MAIS CONHECIDAS




Tudo quanto se fizer para tornar mais conhecidas as virtudes da Princesa Joana será uma mais-valia para a sociedade. As gentes aveirenses, marcadas pela ria e pela maresia, desde há muito se revêem na Princesa que um dia trocou a pompa de Lisboa pela pacata vila de Aveiro, onde procurou encontrar-se mais com Deus e com pessoas que do seu apoio tanto precisavam. E esse encontro foi de tal monta que o Papa Inocêncio XII a beatificou em 1693, elevando-a o Papa Paulo VI à dignidade de Padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro em 1965.
Porque para ser mais amada e seguida é fundamental ser mais conhecida, muitos se têm empenhado na divulgação das virtudes da Princesa que o povo de Aveiro adoptou como filha predilecta, canonizando-a logo após a sua partida para o seio de Deus, a 12 de Maio de 1490. Segundo rezam as crónicas, folhas e pétalas das árvores caíram à passagem do féretro para a sepultura, no Mosteiro de Jesus, como sinal indelével da santidade da filha de D. Afonso V.
Numa perspectiva pastoral de largos horizontes, D. Manuel de Almeida Trindade, então Bispo de Aveiro e actualmente nosso Bispo Emérito, publicou, em 12 Maio de 1979, uma “Carta da Princesa Santa Joana aos Jovens”. Usando um estilo literário muito original, D. Manuel pôs Santa Joana a dirigir-se aos jovens do nosso tempo, aconselhando-os com oportunas recomendações baseadas na sua caminhada vocacional e de fé, recomendações essas que são, também, ainda hoje, para todos nós.
É essa carta que a Comissão Diocesana da Cultura, bem apoiada pela Irmandade de Santa Joana Princesa, oferece nas Festas da Padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro aos jovens aveirenses, no intuito de tornar mais conhecidas as virtudes da Santa Princesa.

Fernando Martins


Um texto de D. Manuel de Almeida Trindade
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CARTA DE SANTA JOANA
AOS JOVENS



Queridos moços e moças:

Sou filha de Reis. Nem por isso fui mais feliz do que a maior parte de vós. Minha mãe morreu quando eu não tinha ainda quatro anos. Sei o que é a dor e a saudade de não ter mãe.
Antes de morrer, minha mãe deu-me um irmãozinho. Chamava-se João. Éramos muito amigos, - é certo – mas de temperamento muito semelhante. Minha preceptora, D. Brites de Menezes, dizia que éramos os dois muito teimosos. Quando é que a teimosia deixa de ser teimosia para ser apenas constância e firmeza de carácter?
Já não conheci D. Pedro, meu avô materno. Morreu em Alfarrobeira. Aquele reencontro – que devia ter sido um encontro – entre meu pai e meu avô, amargurou para sempre a vida de meu pai, que era seu sobrinho. Dizem que a partir de então se tornou diferente. Eu vivi no rescaldo dessa contenda. Vi aquilo de que os homens são capazes quando, em vez de se amarem, se odeiam. Passei a conhecer melhor os homens e as mulheres, as coisas grandes e belas, mas também as coisas mesquinhas de que são capazes. Isso me ajudou a amadurecer mais depressa. Não há nada como o sofrimento e a responsabilidade para fazer amadurecer as pessoas.
Nem todos aqueles que me rodeavam no paço da Rainha, onde vivia confiada à vigilância e ao carinho da fidalga virtuosa D. Brites, eram modelos de vida santa e honesta. As damas da corte de uma princesa não são todas como os anjos da corte celestial. Há as que passam a vida a ver-se ao espelho, a espreitar por detrás das cortinas o namorado que não chega ou tarda em chegar, as que tecem intrigas umas com as outras, exactamente como as meninas que vós próprias conheceis.
Fez-me Deus a mercê de, muito cedo, me dar conta de que a vida tem um sentido. Quando li no sagrado Evangelho a palavra de Jesus: “o Reino dos céus é semelhante a uma pérola de elevado preço que um homem encontrou; depois de a ter encontrado, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou aquela pérola”, - quando li estas palavras, pensei que elas eram ditas para mim. Pouco a pouco uma certeza se foi confirmando em meu coração: eu quero alcançar essa pérola.
Só o tempo me foi revelando o que estava escondido por detrás desta parábola.
Havia no paço um oratório. Um oratório que era meu, onde eu podia recolher-me sem a presença de aias ou de outras testemunhas. Aí, nesse recolhimento, eu passava horas a pensar. Pensava no amor que Deus nos tem. Amor tão grande, que mandou o Seu Filho único ao mundo para nos salvar. Comecei então a ler os sagrados Evangelhos do princípio ao fim. Dizem eles, que, além dos Apóstolos, havia também mulheres que seguiam Jesus de perto. Entrou em mim o desejo de ser do grupo dessa mulheres.
A ter de decidir-me por esta imitação de Cristo, eu desejava que fosse de uma maneira radical. Teimosa como era, não estava no meu feitio deter-me a meio caminho.
Ficai sabendo que as filhas dos reis têm menos liberdade do que as filhas dos aldeões. Para ir do Paço ao Rossio, era preciso movimentar meio mundo. Impensável sair sozinha. Como eu, às vezes, tenho inveja de vós! Apetecia-me descer à Ribeira, passar a tarde com uma velhinha, arrumar-lhe a casa, penteá-la, ler-lhe uma passagem da Bíblia. Mas coisas dessas não me eram permitidas. É terrível ser-se filha de rei. Acreditai-me: é uma espécie de escravatura doirada.
Quem me dera ser livre, não para passar as noites numa boite ou tomar parte nesses concursos snob – snob, sim, pois não têm nobreza alguma – de “misses” que vocês (ou alguém por vocês, pobres raparigas!) agora inventaram, mas para realizar um belo ideal de dedicação pelos outros, como fizeram parentes minhas (D. Isabel de Portugal, por exemplo) ou tantas outras que passaram a vida a fazer o bem e só no coração de Deus deixaram escrito o seu nome!
Um dia decidi-me. Não esqueçais que sou mulher: tenho a astúcia das filhas de Eva. Meu pai regressava de Arzila, da guerra contra os mouros. Regressava vitorioso. Vesti o meu vestido de veludo verde. O verde é a cor da esperança. Adornei-me com as minhas jóias. Dizem que ia bonita. Quando meu pai desceu em terra, dirigi-me a ele para o saudar. Era a mim que competia fazê-lo, dada a minha condição. Pus em jogo todos os recursos literários que os meus mestres me haviam ensinado.
Recordo-me que o discurso terminava assim: Quando os antigos imperadores regressavam vitoriosos de alguma campanha bélica, para mostrar a sua gratidão aos deuses, ofereciam-lhes o melhor que tinham, dando para o seu serviço a filha mais prendada. Vossa Majestade – que é cristão – não será menos generoso para com o Deus verdadeiro do que os pagãos o eram para com os seus ídolos. Peço-lhe que me permita fazer profissão de vida religiosa onde Deus for servido chamar-me.
Senti que uma nuvem de tristeza perpassou pelo semblante de meu pai. Meu irmão e os outros nobres que o acompanhavam não esconderam a sua reprovação, olhando uns para os outros e vozeando. Fiz de conta que não percebi. O que interessava era que meu pai dissesse que sim. E meu pai disse que sim.
Não sabeis, queridos moços e moças, quantas barreiras foi preciso vencer para seguir a minha estrela. Até os representantes do povo fizeram sua a questão: que eu não tinha direito de dispor de mim mesma, que havia razões de Estado que se sobrepunham à minha própria vontade...
Consegui sair (sempre debaixo de escolta!), para o convento cisterciense de Odivelas, nos arrabaldes de Lisboa. Pois mesmo ali vieram, acompanhados de testemunhas e notários, os procuradores do povo, tentando impedir, primeiro com promessas e depois com ameaças, que eu seguisse o meu caminho.
Mas estava decidido. Havia uma força interior que me impelia. Não era o mundo que eu detestava. Longe disso. Era o amor de Jesus Cristo que me chamava, e me chamava para segui-l’o, onde mais de perto O pudesse imitar e servir.
De Odivelas consegui chegar a Coimbra. Não imaginais o que foi essa viagem no pino do verão de 1472. A minha comitiva, da qual fazia parte o meu próprio pai, insistia em que eu ficasse em Coimbra, no mesmo mosteiro onde tinha vivido a Rainha Santa, D. Isabel de Portugal. Era um grande convento – diziam – à beira de uma bela cidade. Não me faltariam ali visitas, conforto e amizades. Mas eu não tinha saído de casa para isso.
O meu desejo e a minha meta era o mosteiro de Jesus de Aveiro – não o mosteiro engrandecido que vós agora conheceis, mas a casa pobre e humilde fundada por D. Brites Leitão, longe do bulício do mundo. Eu estava informada que em Aveiro, a minha pequena Lisboa, podia encontrar a humildade e a pobreza.
Houve relutância à minha volta. Senti-me a combater sozinha. Foi preciso impor-me. Mas vale a pena ser teimosa, quero dizer ser constante e ter firmeza. Só quando a firmeza se alia com a verdade é que a teimosia é virtude. Foi em Aveiro que realizei o meu sonho...


Aveiro, 12 de Maio de 1979
Foto: D. Manuel - Desenho de Gaspar Albino

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


DIZER DEUS
NO DIA DA MÃE


Ernst Bloch, com a espantosa capacidade de deslumbramento frente às grandes experiências, na raiz do filosofar, escreveu: "Se a noite de amor não é clara, o seu fruto é-o ainda menos. Facto bizarro: a criança no ventre da mãe, o mundo indizível no qual dorme o embrião, as mulheres grávidas levam-no para a rua, para as compras, para os bailes. O começo de um mundo e mesmo do mundo em geral encontra-se em letargia e abrasa-se aqui numa mulher acordada; o ponto zero da Pré-História viaja eventualmente entre duas estações do eléctrico, num dia frio e banal de 1928, e os ginecologistas não sabem classificar os mistérios do começo."
Entretanto, as ciências biológicas avançaram. Mas o fascínio do mistério do começo de um ser humano enquanto pré-história de um mundo e do mundo continua igual.
Contamos a nossa idade a partir do dia do nascimento, o dia da chegada à luz. Na realidade, já cá andávamos, mas lá no escuro do ventre materno. Depois da vinda à luz, começamos o processo de fazer-nos. O animal chega ao mundo feito. O Homem nasce prematuro, por fazer, tendo de aprender quase tudo: a andar, a falar, a comportar-se segundo regras. O Homem é por natureza um ser histórico-cultural.
Para qualquer ser humano reflexivo continua misterioso o aparecimento da autoconsciência, tanto a nível filogenético como ontogenético. Quem foram os primeiros seres humanos? Como é que se passou da oclusão da noite do inconsciente à luz da consciência? Alguém se lembra do dia e do local em que, pela primeira vez, disse a si mesmo de modo consciente, iluminado por dentro: eu sou eu?
A escola jungiana também reflectiu sobre este enigma, indo à procura, nos arquétipos, desse processo. E lá está, nas várias culturas, o estádio primeiro, inconsciente, figurado pelo uroboros, a figura mítica em círculo, que exprime a situação inicial, sem começo nem fim, e que pode ver-se representado no andrógino, na serpente circular, no dragão que morde a cauda. Depois, o mito da Grande Mãe é símbolo do afecto, da ternura, mas, representada como devoradora, exprime ao mesmo tempo a luta que se trava no processo de autonomização. É assim que aparece a figura do herói, que é cada ser humano à conquista de si mesmo. Nessa conquista, surgem obstáculos constantes, figurados, por exemplo, no dragão mítico, que é preciso vencer. Despertando para si, o ser humano descobre o tesouro escondido: ele mesmo, adulto, em relação viva consigo, com os outros e com o mundo. Chegar a ser si mesmo é a única verdadeira tarefa, sempre inacabada, de cada Homem.
A imagem do pai e da mãe são decisivas também para a imagem de Deus. Normalmente, os crentes figuram Deus como Pai: Deus é Pai. Mas isso é apenas uma metáfora. João Paulo I - o que foi Papa só 33 dias - disse que Deus é Mãe, provocando a crítica até de cardeais. Mas realmente não há razão para a ira cardinalícia, pois, se se trata de metáforas, porque é que não hão-de os crentes referir-se a Deus como Pai e como Mãe? A Bíblia põe na boca de Deus estas palavras: "Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria. Juro pela minha vida."
Segundo E. Fromm, o psicanalista heterodoxo, é na mãe que encontramos o modelo ideal do amor. De facto, o que é que procuramos senão o amor incondicional? Ora, a mãe ama o filho/filha não porque ele ou ela têm estas ou aquelas qualidades, não pelo que são, mas pura e simplesmente porque são.
Também deste modo encontramos uma boa imagem para Deus. O espantoso na mãe é que ela continua ela, mas, grávida, há nela, sem deixar de ser ela, lugar para o outro dela - o filho ou a filha -, e, ao longo da vida, ao mesmo tempo que eles podem sempre contar com ela o que ela quer é que eles sejam eles. São Paulo foi a Atenas dizer que "é em Deus que vivemos, nos movemos e existimos". É em Deus que somos, tudo é em Deus, mas, como a mãe, Deus quer ao mesmo tempo a autonomia das criaturas, dos homens e das mulheres.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 22

Santa Maria de Vagos

A SENHORA DE VAGOS



Caríssima/o:

Andávamos nós entusiasmados no pedalar furioso, quando pessoa amiga nos perguntou se não tínhamos passado por Vagos. Estranhei a pergunta, pois por lá passáramos mais do que uma vez. A explicação veio a seguir:
- Não sabes que o teu Avô era daí?
Olha se naquela idade eu e os meus amigos lá queríamos saber donde eram e para onde tinham ido os nossos antigos; o nosso querer era ultrapassar o fim do mundo!
E o nosso Avô tem esperado pacientemente até agora. Sem o fôlego da juventude, mas com a mesma genica (o que não quer dizer pujança!), andamos a basculhar os fólios antigos à procura das tais raízes. E lá vamos descortinando que o nosso Avô José Francisco era de Vagos, natural da Gafanha!... Agora me parece que o seu avô, Manuel Francisco Sarabando, é referido pelo P. João Vieira Resende, na Monografia, na página 83, nota, na relação dos fogos da Gafanha em 1802...
Seja, pois, esta lenda uma pequenina homenagem a todos os nossos antepassados que certamente foram romeiros da Senhora de Vagos.

«Uma das lendas sobre a origem do Santuário da Senhora de Vagos conta que, em tempos muito distantes, certo mercador francês, navegando junto à costa, se viu fustigado por medonho temporal, acabando o seu barco por se despedaçar, enquanto o mercador se salvava a custo,e com ele o maior tesouro que o barco trazia – a imagem de Nossa Senhora. O mercador escondeu a preciosa jóia, partindo depois à procura do pároco da vila de Esgueira para que à imagem fosse dado acolhimento condigno. Regressado com o sacerdote ao local, procuraram ambos por todo o lado, mas não encontraram o tesouro, que, entretanto, a outros apareceria pedindo abrigo. E o próprio D. Sancho I, rei de Portugal, avisado em sonhos, partiu de Viseu, onde se encontrava, teve a felicidade de contemplar a preciosa imagem e dotou a capela de avultadas rendas.
Outra lenda liga o aparecimento da ermida à cura da lepra de que sofria certo fidalgo (Estêvão Coelho), em sonhos avisado de que a terrível doença desapareceria com uma visita à Senhora de Vagos, que ele deveria procurar na mata. Partiu o fidalgo e encontrou a imagem. Curado, levantou-lhe pequena ermida e dotou-a de grandes rendas. Após a morte do fidalgo, porém, a Senhora desapareceu da ermida. Só então o povo se deu conta de que os restos mortais de Estêvão Coelho não haviam sido sepultados lá. Trasladados estes para o santuário, a imagem da Senhora regressou também, não mais voltando a ausentar-se.»[
À Descoberta de Portugal, das Selecções do Reader's Digest, 1982, pg. 209]

Esperemos que o tempo esteja mais quente na altura da Romaria!

Manuel

sábado, 5 de maio de 2007

DIA MUNDIAL DO CORAÇÃO

VAMOS TODOS MELHORAR
OS NOSSOS CORAÇÕES?
A este dia, associamos logo a ideia de cuidar do nosso coração, com uma alimentação sadia e um estilo de vida adequado, isto é, sem stresse, sem ansiedades, sem emoções fortes. Raramente lhe associamos a ideia de um coração bondoso, sensível aos sofrimentos dos que nos rodeiam, aberto à solidariedade e à cooperação, disponível para a alegria da partilha. Pois é isso que eu hoje e aqui quero lembrar, se é que queremos construir um mundo de paz e de harmonia, onde cada ser humano seja amado e considerado, mas também livre para viver o belo, o bem e a bondade, rumo a uma sociedade justa e fraterna. Precisamos, no tempo que nos é dado viver e para além dele, de corações que cultivem a compaixão pelos que sofrem, de corações atentos aos marginalizados, de corações sensíveis aos outros, em especial aos desiguais, aos que não comungam dos nossos ideais, aos que experimentam outros valores, aos que se sentem sós. Vamos todos, neste dia e sempre, melhorar os nossos corações?

Ares da Primavera


FAROL COM O SEU SORTILÉGIO
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Desde a infância que o farol me seduz. Há nele um não sei quê que me atrai e me faz voar à cadência da sua luz que alarga horizontes a perder de vista. O sortilégio que dele se desprende, em dias de bruma ou de sol radioso, como o de hoje, vem da sua altura e do seu domínio, que se estende por toda a laguna aveirense. Mesmo de serras mais ou menos longínquas, ele pode ser visto, tornando-se para o viajante um desafio constante.
Por tudo isso, não resisto a fotografá-lo quando com ele me cruzo, quase todos os dias.