quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 7

Loch Ness
DOIS POSTAIS ILUSTRADOS
DA ESCÓCIA
Caríssimo/a: Todos os países e regiões têm os seus postais ilustrados. Qual será o da nossa região? E da nossa terra? Da Escócia há dois que todos conhecemos ou não se tratasse do whisky e do monstro de Loch Ness . 1. Não sou grande apreciador desta “deliciosa quão famosa” bebida. Contudo, há anos o Peter teve a amabilidade de nos levar a uma destilaria. Visita guiada, assim como nas caves do vinho do Porto, terminando com a prova. Já vínhamos a caminho do carro quando, a propósito da água, nos é indicado o local e a forma da extracção do famoso líquido que está na base do Whisky. “São ideias”, pensei eu… e presunção. E lembrei-me daqueles cozinheiros que, nas feiras gastronómicas, vão elucidando que os seus cozinhados lá têm a água que trouxeram da sua terra!… Há dias, com a Enciclopédia Britânica na mão li este esclarecedor parágrafo: “The whiskies produced in each country (Scotland, Canada, Ireland, U. S) are distinctive in character because of differences in method of production, type and character of the cereal grains and, most important, the quality and character of the water employed. For example, Scotch whisky is inimitable because only Scotland can be found the spring water that rises through a red granite formation and then passes through peat moss country.” (EB, 23, 570) [O sublinhado é meu.] Temos que dar razão àqueles que dizem “água da Escócia” referindo-se ao tal whisky inimitável. [Parece que ainda estou a ver um certo ar de dúvida, ainda não estais convencidos… Pois bem, um testemunho insuspeito e de uma dona de casa: - Olha para isto, que maravilha a fazer espuma!… Esta água é mesmo boa, a sopa é só uma fervura rápida e está cozida! E então se não temos cuidado as batatas desfazem-se logo!… Vê lá que quando estão com tosse vão à torneira e bebem aquela água gelada…] 2. Era rapazinho dos meus doze anos quando se me abriram as portas dos armários da biblioteca da ti Madalena Russa. Um dos livros que nos veio às mãos (às minhas e às dos seus filhos, que me aceitavam como seu amigo de brincadeiras e passatempos), foi o que falava do monstro do Loch Ness, com toda a sua fantástica história e fantasmagóricas fotografias… Não foi, pois, sem alguma emoção e curiosidade que aceitámos a viagem proporcionada às margens do célebre loch (esta é uma palavra escocesa que quer dizer lago, pois claro, e que tem a sua pronúncia própria; só ouvindo…). Podia entrar no jogo do Nessie (desculpem: esquecia-me de dizer que os Escoceses chamam ao monstro, carinhosamente, Nessie!) e, sem pôr pitada de pintura, invenção ou imaginação, descrever os momentos que passei ali como dos mais intrigantes da minha vida: nevoeiro frio cerrado, de se cortar à faca, e que foi aumentando à medida que o tempo ia passando… Nós lá íamos espreitando, mudando de margem, para descobrir sombra ou rasto do Nessie… Não víamos nada além do nosso nariz. E ficámos a pensar se não teria sido uma brincadeira ou uma birra do monstro como quem diz “vêm estes armados em espertos e querem logo ver tudo… Muito já eles sabem. Desça o véu!” Li algures duas pequenas frases com as quais quero terminar, mas sem antes confessar a minha admiração pela lição que nos dão ao conservarem estas lendas e mitos como base da sua identidade! Pois então, amigo Nessie: “Para o teu bem espero que não existas. Mas se existes, espero que ninguém te encontre.” Manuel

UM ARTIGO DE ALEXANDRE CRUZ

UM ESPÍRITO ECUMÉNICO
1. O tempo actual não perdoa! Ainda que persistam os pesos institucionais, com a sua habitual cristalização, é irreversível uma transformação renovadora capaz de criar ponte comunicativa com a modernidade, esta que por vezes de moderno tem tão pouco. Duas atitudes serão incompatíveis com um “espírito ecuménico” de abertura aos tempos: uma, o embarcar na aceleração do tempo e ir a reboque das últimas modas; outra, o rejeitar o encontro com a realidade social que se transforma e é transformadora de tantos acessórios. Essas duas atitudes (ora de sedução exclusiva do novo, ora de rejeição da realidade do mundo), que parecem continuar a fazer o seu caminho, serão sinal de que, antes de tudo e com toda a urgência, haveremos sempre mais de apurar e desenvolver os valores da Humanidade (humana, próxima, aqui!). Sem dar primazia à vida real, que é convite à dignificação humana e ao “encontro” criativo com “outros” como nós, todo o castelo das ideias poderá ser insignificante ou, pelo pior, poderá ser mesmo destruidor dos fundamentais ideais e valores. 2. A história humana mostra-nos que falar de “política” sem ter no princípio e no fim de tudo o serviço à Pessoa e ao bem comum, poder-se-ão chegar a ideologias totalitárias capazes das maiores atrocidades; de modo semelhante, a história das religiões diz-nos que falar de “Deus” sem ter na sua raiz a frescura do ideal de dignificação (divinização) sensível de cada Ser Humano, toda a construção pode perder o referencial último, definitivo de tudo, e pelo caminho a incapacidade de diálogo poderá gerar intolerâncias e fundamentalismos trágicos que a história regista. Ergue-se, cada vez mais e em tempos únicos de globalização, por um lado a premência do diálogo inter-cultural-pessoal-étnico-comunitário-filosófico-religioso, por outro a necessidade de valorizar o específico, característico, referencial único de cada um dos parceiros desse diálogo; só nesta via a unidade na diversidade (com inclusão criativa) será luz de entendimento humano e ideal de caminho comum. Em que bases assentará o diálogo? Eis a pergunta mais aprofundada no último século; o diálogo, nem de surdos nem no vazio, só terá “razão” (e por isso pernas para andar) se for ao encontro da Verdade absoluta. Esta, por outras palavras vem-nos dizer que cada ser humano tem uma dignidade divina que nenhum sistema poderá bloquear. Eu e o outro, que pensa diferente de mim, pois eu penso diferente dele. 3. De 18 a 25 de Janeiro de cada ano celebra-se desde o início do século XX a designada Semana Ecuménica, que visa reforçar o espírito de convergência para a reunificação das Igrejas Cristãs (divididas na história por razões e contextos diversos – Séc. XI, divisão ortodoxa essencialmente por questões de cultura e língua; no Séc. XVI, no centro da Europa, a divisão protestante que tem na sua raiz a reacção justificada ao ambiente de cristandade católica que se tardou a renovar, divisão esta de foro filosófico-religioso). Séculos atrás de séculos, lutas atrás de lutas, energias gastas pelo domínio do “outro” que pesasse em importância estratégica e política até nos ambientes de domínio pós-descobertas. Conjunturas complexas estas que, quando não contextualizadas no seu tempo próprio e/ou com desonestidades intelectuais, trazem até ao presente – especialmente na Europa - reacções de pendor laicista, de rejeição religiosa, de euforias científico-tecnológicas, de incapacidade de incluir num projecto de ética comum todas as realidades, também a da fundamentação filosófico-religiosa nas suas virtualidades. Um novo espírito ecuménico está aí, sempre a repropor-se, e sempre a fugir. Quanto adiante poderíamos estar! Será que pelos menores frutos (vive-se na realidade um desencanto ecuménico) temos andado com orações e(m) diálogos de surdos? Quase que poderíamos dizer (como metáfora): Deus já ouviu e concorda! Século XXI, vamos concretizar, passar de orações e boas palavras à unidade efectiva na diversidade, à única Igreja Ecuménica! E depois, a um sempre maior diálogo inter-religioso e inter-filosófico e cultural que ofereça ao mundo horizontes efectivamente comprometidos de justiça, ética, solidariedade, paz mundial! Vamos, todos para o centro, não percamos mais tempo! Deus quer a unidades em diversidade! Porquê esperar mais agarrados a pormenores acessórios deitando a perder o essencial e descolorindo a missão?! 4. Temos a noção do alcance e do limite de nossas palavras. Da palavra “ecumenismo” vem-nos a noção de “casa toda habitada”. Toda a casa hoje do mundo bem precisa de um espírito ecuménico (em cada pessoa) capaz de proporcionar pontes, encontros e laços. É possível bem mais; talvez terá chegado o “tempo”, se as cúpulas religiosas assim desejarem efectivamente as comunidades (apesar de…) estarão na generalidade preparadas. As cúpulas querem mesmo (na sua disposição de abdicar de algo – o que não significa perder a identidade)?! Toda a releitura histórica, de memória e de perdão, do tempos de João Paulo II, terão criado (?) um ambiente de predisposição gerador da capacidade de “recepção” do “outro”. Ao lermos a história das divisões ela regista momentos determinantes de intolerância em que o espírito de cegueira humana gerou razões de exclusão do “outro”. O impulso de todas as razões e da própria nova era que vivemos cria, a cada dia, novas proximidades; estas são um irreversível desafio ao fortalecimento dos diálogos e à conversão de todos para um centro fora de si mesmo. Este centro para os cristãos será Cristo (não uma das Igrejas mas com todas), para as religiões será Deus amor (não uma das religiões mas a partir de todas), para toda a humanidade será a dignidade humana (com a inclusão de “partes” de todas as filosofias de boa vontade). Só um espírito ecuménico dará, hoje, razões à esperança para a UNIDADE que é tarefa de todos, de cada dia! (Este é um argumento transversal, mas que não chega minimamente para um compromisso das cúpulas das Igrejas Cristãs). Vamos!...

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

CENTRO DA GAFANHA DA NAZARÉ

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PROPOSTAS INTERESSANTES
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Segundo anunciou o presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Ribau Esteves, foram já abertas as oito propostas para a requalificação do centro da Gafanha da Nazaré, abrangendo a área do antigo mercado e zonas adjacentes. O autarca considera que as propostas, que responderam ao desafio de um concurso de ideias, são muito válidas e interessantes.
Agora segue-se a fase de apreciação e de escolha, esperando-se que esse melhoramento traga outro visual à cidade da Gafanha da Nazaré, num futuro não muito longínquo.

SEMANA DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

NOITE DE ORAÇÃO
ECUMÉNICA EM AVEIRO
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Hoje, 23 de Janeiro, pelas 21.30 horas, na IGREJA METODISTA DE AVEIRO (Rua Eng. Oudinot, nº62), Cristãos Metodistas e Católicos vão partilhar a oração e a festa, em espírito ecuménico. Esta iniciativa, que há anos se repete, vai servir, também, para cristãos de várias denominações se habituarem a cooperar, no dia-a-dia. Se houver por aí alguém a pensar que o ecumenismo se resume à "morte" das diversas Igrejas cristãs, pela simples integração de todas elas na Igreja Católica, desiluda-se. O caminho do ecumenismo, a meu ver, levará apenas, no respeito pela identidade própria de cada Igreja, à oração, ao diálogo, ao estudo, à participação em múltiplas tarefas sociais e culturais de todos, de mãos dadas e de coração aberto, como irmãos que são, porque filhos do mesmo Pai.
Claro que é bom aproveitar a "Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos", para ao menos se razar em conjunto. Para já, e conforme o hábito, uma vez por ano. Mas que seria interessante e muito bom que iniciativas como esta se repetissem mais vezes, durante todo o ano, lá isso seria.
F.M.

ABBÉ PIERRE NÃO MORREU

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UM GIGANTE
DA MISERICÓRDIA
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A comunicação social anunciou a morte e o funeral de Abbé Pierre, o padre francês que dedicou a sua vida aos sem-abrigo. Morreu aos 94 anos, depois de muitas lutas em favor dos feridos da vida. O Presidente da França, Jacques Chirac, ao referir-se ao seu compatriota falecido, disse que o seu país ficava de luto. Morreu um "gigante da misericórdia", disse o arcebispo de Bruxelas, cardeal Godfried Danneels. Também o Cardeal Roger Etchegaray, presidente emérito do Conselho Pontifício Justiça e Paz, prestou a sua homenagem ao Abbé Pierre, destacando que ele “nunca teve medo de combater”. “A morte do Abbé Pierre toca pessoalmente os franceses, mas também toda a humanidade, por uma razão simples: nunca se cansou de combater, declarando guerra à miséria e desejando que fossem servidos em primeiro lugar os mais sofredores”, disse. Como profeta do nosso tempo nunca se cansou de clamar a urgência de a humanidade inventar os meios para a conquista do seu futuro, sem marginalizados e sem perseguidos. A sua morte, para mim, será mais uma oportunidade para o reler e para continuar a cultivar o sentido de uma vida plena, pela positiva. Dei comigo, hoje de manhã, a reler passagens de dois livros seus - TESTAMENTO e OBRIGADO SENHOR - , ao jeito de quem sente ser sua obrigação homenageá-lo. O fundador da comunidade “Companheiros de Emaús”, para apoio e integração dos sem-abrigo, afinal não morreu. O seu exemplo de fé, longe das comodidades próprias dos bem instalados na vida, vai continuar nas sociedades cristãs, tão cheias de gente esquecida. Diz Abbé Pierre, para quem o quiser ouvir, em o TESTAMENTO: “O homem de hoje é colossal pela enormidade das responsabilidades que pesam sobre ele e minúsculo perante a imensidão das tarefas que em toda a parte o chamam. Mas não podemos, a pretexto de que nos é impossível fazer tudo num dia, não fazer coisa nenhuma! Conservemos no coração a impaciência de fazer. E a indignação na acção.”
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Fernando Martins

UM ARTIGO DE ANTÓNIO REGO

ONDE ESTÁ
O INIMIGO PRINCIPAL?
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Quem chegasse de fora e seguisse os nossos Media, pensaria que nos encontramos em estado de alerta para qualquer coisa. Cá por dentro percebemos que se vive um momento de debate sobre o aborto e se prepara um referendo. Na nossa vida democrática já vimos e ouvimos muitos discursos dramatizados nas proximidades da votação. Temos presente a imagem de políticos e partidos que se apresentaram às urnas como inquestionáveis ganhadores e, no dia seguinte às eleições, tanto vencidos como vencedores reconheceram a teatralidade dos comícios como encenação hiperbólica de quem dramatiza, tendo presente a distância e o desconto entre o discurso inflamado e a realidade. Os políticos já se conhecem no campo de luta e em seguida na partilha do croquete diplomático e de encenação civilizada. Caminhamos nessa direcção. Os argumentos de um e outro lado - sim e não ao aborto - ganham o ponto de inflamação duma normal campanha política com o empolgamento das razões dum e doutro lado a ultrapassarem o somatório técnico de argumentos para se votar no dia exacto numa ou noutra proposta. Mas desta vez não há muitos partidos para eleger. Nem muitas opções para seleccionar. Há o sim e o não ao aborto. Por muito que se diga, em argumentos científicos, técnicos, sentimentais ou morais, coloca-se em jogo abrir à sociedade a lógica de praticar o aborto como acto individual apoiado pelo colectivo, ou como atitude colectiva de recusa ao aborto no respeito pelo drama que cada casal (é disso que se trata) possa viver na escolha que faz sobre o ser que gerou. Para quem defende o aborto, o inimigo é uma pessoa em formação. A gestação, nascimento e evolução são o obstáculo que, segundo os que defendem o aborto, legitima a suspensão violenta do seu crescimento e chegada à luz na vida. Aqui está o cerne do sim ou do não. O resto - aparentes tolerâncias, compaixões, apoios e gestos liberais para quem expulsa do caminho da vida um ser humano - são aconchegos de linguagem para a via mais fácil de resolver o grave problema da vida com um gesto apressado de morte. Aqui esbarra a consciência de qualquer ser humano - ateu, amoral, de ética estreita ou larga, de humanidade escrupulosa ou permissiva. Está escrito no ser, não legislado por qualquer moral de circunstância. Não há muito por onde fugir.

domingo, 21 de janeiro de 2007

IMAGENS DA RIA

Ria de Aveiro ::
APROVEITANDO O CALORZINHO
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Ontem, dei uma voltinha para ver a Ria, numa zona em que até parece que ela está a dormir. Com a maré a rebentar pelas costuras, as águas estavam mansas, serenas, como que a convidarem-nos a descansar também. Sinto que cada dia é sempre diferente de outro dia. Assim a Ria. Todos os dias, e dentro de cada dia, ela oferece-nos cambiantes inesquecíveis. Ora calma, como ontem à tarde, ora mais agitada, inquieta, como que irritada, tantas vezes. Não sei porquê! Talvez aborrecida com os ataques que lhe fazem ou com a indiferença com que a olham. Enfim... Ela, como cachopa bonita, gosta que a apreciem... Pois aqui proponho, neste domingo um pouco cinzento, por enquanto, como sugestão, uma visita à nossa Ria, de encantos raros...
Na foto, vê-se ao longe, embora de forma pouco nítida, a ilha de Sama, que há décadas dava abrigo à Quinta do Rebocho, onde se cultivava um pouco de tudo. Hoje está tudo abandonado, o que é pena. Com gente de imaginação, aquele espaço não poderia acolher, agora, uma estância turística? F.M.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 6

A CRUZADA DAS CRIANÇAS
Caríssimo/a: Só de pensar neste tema, me junto a Augusto Gil a dizer-chorar-rezar:
… Mas as crianças, Senhor, Porque lhes dais tanta dor, Porque padecem assim?
E os adjectivos de pessoa bem instalada na vida não se fazem esperar: incrível, horroroso; inacreditável, horrendo; inimaginável, horripilante… De facto, nunca ouvira qualquer referência e fiquei assim a olhar para as letras como se de um mar de sangue se tratasse, o qual submergia e fazia esquecer a “matança dos Inocentes” de Herodes. Abri o livro “365 Things to Know”, de Clifford Parker, da 12.a impressão, de 1981, na página 18 e li:
“Between 1100 and 1300 the Christians rulers of Europe organised several expeditions, or crusades, to Palestine with the object of recovering the Holy Places from the Saracens. In 1212 happened the strangest and most tragic crusade of them all: the Children’s Crusade. A twelve-year-old shepherd boy named Stephen went to the King of France with a letter which he said came from Christ, and asked him to start a crusade. The King would not, so Stephen announced that he would organise a crusade of children, and that the sea would miraculously dry up to allow them to walk to the Holy Land. Stephen set off and soon collected thirty thousand children. Many of them died from hunger and thirst on the march through France to the sea – a hot summer that year had brought drought to the land. When the survivors reached Marseilles, the port on the Mediterranean, they found that the sea would not dry up to let them cross. Two rascally merchants took them aboard seven ships, promising to take them to Palestine, but their real intention was to sell them into slavery. Two of the ships were wrecked in a storm. The rest reached Algeria, where the children were duly sold. Of the thirty thousand children who set off, only one ever got back to France, and that was after eighteen years of slavery. At the same time as the French Children’s Crusade got under way, another one was started in Germany by a boy called Nicolas. Twenty thousand children set off on this: only one in ten finally returned home.”
Certamente que muitos já conheceriam este facto, mas para quem como eu o ouve pela primeira vez, desenha um mundo de interrogações; à partida, a dúvida: será verdade? Enciclopédia Britânica na mão e no 6º volume, na página 786 lá está: “…the Children’s crusade of 1212…A shepherd boy named Stephen had appeared in France… In Germany a child from Cologne, named Nicolas …” Neste Domingo, apetece-me chamar para a minha beira o Espírito Santo para ter uma conversa muito séria com Ele ou, pelo menos, sussurrar:
- Divino ESPIRITO SANTO, AMOR do PAI e do FILHO, Soprai, soprai, soprai, Varrei, varrei, varrei, Arrancai o nosso coração de pedra E trocai-o por um coração de carne, Instaurai o vosso REINO, REINO de PAZ, de AMOR, De JUSTICA, PERDÃO e MISERICÓRDIA… E “as crianças, SENHOR, Porque lhes dais tanta dor, Porque padecem assim?”
Manuel

UM ARTIGO DE ANSELMO BORGES, NO DN

REFERENDO SOBRE O ABORTO
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Numa questão tão delicada, com a vida e a morte em jogo, não se pretende que haja vencedores nem vencidos, mas um diálogo argumentado, para lá da paixão e mesmo da simples compaixão. Ficam alguns pontos para reflectir.
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1. O aborto é objectivamente um mal moral grave. Aliás, ninguém é a favor do aborto em si, pois é sempre um drama.
2. A vida é um bem fundamental, mas não é um bem absoluto e incondicionado. Se o fosse, como justificar, por exemplo, o martírio voluntário e a morte em legítima defesa?
3. Para o aparecimento de um novo ser humano, não há "o instante" da fecundação, que é processual e demora várias horas.
A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marcos" que não devem ser ignorados. É precisamente o seu conhecimento que leva à distinção entre vida, vida humana e pessoa humana. O blastocisto, por exemplo, é humano, vida e vida humana, mas não um indivíduo humano e, muito menos, uma pessoa humana.
Se entre a fecundação e o início da nidação (sete dias), pode haver a possibilidade de gémeos monozigóticos (verdadeiros), é porque não temos ainda um indivíduo constituído.Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído.
De qualquer modo, não se pode chamar homicídio, sem mais, à interrupção da gravidez levada a cabo nesse período.
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Leia mais no DN

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

UM POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE

O SAL DA LÍNGUA
:: Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer. Não é importante, eu sei, não vai salvar o mundo, não mudará a vida de ninguém – mas quem é hoje capaz de salvar o mundo ou apenas mudar o sentido da vida de alguém? Escuta-me, não te demoro. É coisa pouca, como chuvinha que vem vindo devagar. São três, quatro palavras, pouco mais. Palavras que te quero confiar. Para que não se extinga o seu lume, o seu lume breve. Palavras que muito amei, que talvez ame ainda. Elas são a casa, o sal da língua.

In "O Sal da Língua"

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NOTA: Aqui fica um poema de Eugénio de Andrade. Para além do mais, ele serve para evocar o seu nascimento, que aconteceu a19 de Janeiro de 1923, em Póvoa de Atalaia.

CITAÇÃO

"Não queiras saber tudo.
Deixa um espaço livre para te saberes a ti"
Vergílio Ferreira
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Fonte: Citador

TRÊS EXPOSIÇÕES NA UA

Para ver até Fevereiro
EXPOSIÇÕES FOTOGRÁFICAS
ABREM HOJE
AO PÚBLICO NA UA
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Esta Sexta-feira, 19 de Janeiro, abrem ao público três exposições. Uma mostra fotográfica, que assinala os vinte anos de integração na União Europeia de Portugal e Espanha, e duas exposições de dois alunos do Mestrado em Criação Artística e Contemporânea. Visite-as na Reitoria e na Livraria da UA até Fevereiro.
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Leia mais em UA

MOINHO DO CONDE

Moinho do Conde (Pai ou filho?)
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MOINHO DO CONDE
NA MARINHA VELHA
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Ontem referi, no texto sobre o desastre que ocorreu na Ponte do Forte, o Moinho do Conde, que existiu na Marinha Velha, onde aproveitava os ventos que vinham da Ria e do Mar. Ali se moíam os cereais que se cultivavam na Gafanha da Nazaré, nomeadamente milho, centeio, cevada, aveia e algum trigo. O milho levava de vencida todos os outros por estas bandas.
Recordo que os lavradores iam lá entregar os cereais, pagando com farinha. Não havia sempre utilização de dinheiro, nessa época. Mesmo havendo o moinho do Conde, não faltavam moleiros que vinham, segundo recordo, dos lados de Salreu e freguesias vizinhas. O Padre Resende diz, na sua "Monografia da Gafanha", que outrora os moleiros eram de Videira (Mira), Boco e Lavandeira, e que anunciavam a sua presença aos fregueses, "percorrendo o lugar a tocar o tradicional búzio".
Seja como for, a Gafanha da Nazaré também teve, na minha meninice, o seu moinho, em terra que hoje está inundada pelo Canal de Mira, concretamente na zona do Porto de Pesca e seus acessos.
Não sei se a foto mostra o moinho mais antigo, o tal Moinho do Conde, ou um outro, de seu filho, mais integrado na povoação e não longe do primeiro. Caso para descobrir, por quem tem boa memória visual.
F.M.

SEMANA DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

ROMPER O SILÊNCIO,
CONSTRUIR COMUNHÃO
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O mundo cristão celebra, de 18 a 25 de Janeiro, o Oitavário de Oração pela unidade dos Cristãos. As comunidades cristãs de Umlazi, na África do Sul, apresentam-nos uma proposta de reflexão, oração e intervenção social que aposta no rompimento do silêncio perante situações de sofrimento que somos tentados a esconder. Lançam dois grandes convites: a rezar pela unidade dos cristãos e a unir as forças e as vozes para dar resposta aos sofrimentos da humanidade.
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Leia mais em Ecclesia

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

MAIS UM ATAQUE
INJUSTO
À IMPRESNA REGIONAL
Orientações recentes sobre a imprensa regional vão levar ao fim do porte pago dos jornais enviados aos emigrantes, bem como à proibição de se oferecer o jornal a quem quer que seja, mesmo aos que nele colaboram e às instituições abertas a todos. A luta contra a imprensa regional vem de longe e alguns quadrantes políticos se lhe mudaram a forma, não mudaram os objectivos. Porém, é ela que faz com que não aumentem cada dia os analfabetos letrados, mostra o país real e abre as janelas do mundo, que aproxima as pessoas dos objectivos comuns e aperta laços de vida, que denuncia as prepotências dos diversos poderes e lança iniciativas que respondam a necessidades concretas que uns ignoram e outros abafam. O que se anuncia agora, já com data marcada, além de ser um mau passo, dado por um poder que teima, em muitos aspectos, viver à margem da vida dos cidadãos, é, ao mesmo tempo, uma medida inconcebível que entra, talvez sob pretexto orçamental, por um caminho tão injusto, como perigoso. Um dos laços mais fortes dos emigrantes à sua terra é o jornal da região. Quem visita emigrantes por esse mundo fora ou com eles contacta quando por aí passam férias, sabe que assim é. Os deputados pela emigração já se aperceberam desta medida ou foram ouvidos sobre tais decisões do governo? Acabar com o porte pago quer dizer, traduzido em números, que um emigrante, assinante do jornal semanário da sua terra, terá de pagar, além da assinatura, mais umas centenas de euros. Mas quer dizer ainda, e isto é muito grave, que vivam lá eles pelas terras onde trabalham, o importante é que mandem divisas e façam investimentos. Se se forem secando os afectos que ainda os ligam ao país e à terra onde nasceram, isso é de somenos importância… Todos sabemos como se exprime a sensibilidade dos que lutam pela vida em terras estrangeiras, quando se lhes toca na sua pessoa, sentimentos e interesses. Está aí ao rubro este seu sentir pelo facto de se fecharem consulados, obrigando a deslocações impensáveis, para tratar dos seus problemas. E já vem aí outra medida que os agride… Ainda neste contexto de livre opinião, é bom que se saiba que a imprensa regional vive, em grande parte, de colaboradores graciosos. Escrevo regularmente nos jornais há quase cinquenta anos. Nunca recebi, nem pedi, nem aceitei como paga desta colaboração regular, mais do que a oferta do jornal onde escrevo. Pois, daqui em diante, a administração terá de pagar o jornal que me envia, ou então pagá-lo eu, ou deixar de o receber. Assim mesmo. De igual modo, e por igual razão, vão acabar as ofertas de jornais para escolas, hospitais, centros de convívio e por aí adiante. Quem quiser ler terá de pagar. Uma tristeza sem nome, que mata tantas coisas lindas e louváveis. Não descortino razões para estas medidas, que não sejam o propósito de asfixiar, a pouco e pouco, a incómoda imprensa regional. Um propósito que vem do tempo do PREC. Foi então que se lhe chamou reaccionária, um nome sempre à mão de cabeças vazias de ideias e de corações encarquilhados por ódios e preconceitos. Eu compreendo medidas que ajudem a qualificação dos jornais, estimulem a sua leitura, os tornem desejáveis e esperados. Ao Estado cumpre o estar atento ao que se faz de bem e interessa às populações, e empenhar-se para que se faça mais e melhor. Por este caminho não vai lá. Vou-me interrogando, seriamente, se, para quem governa, a almejada democracia afinal ajuda o país a crescer ou é um empecilho ao seu crescimento. Não voltaremos mais ao pensamento dominante e único de uns tantos inteligentes que já nasceram ricos e agora governam e decidem sem apelo, em contraponto com o povo, que, felizmente, já não se resigna a que outros pensem por ele e o queiram calar por incómodo. Matar a imprensa regional é agredir o povo e as iniciativas de quem quer participar e tem direito a fazê-lo.

ANTIGA PONTE DO FORTE

Recordando um desastre




QUANDO A PONTE
DO FORTE DA BARRA
RUIU

Esta fotografia da antiga ponte do Forte, que ligava a Gafanha da Nazaré às Praias da Barra e da Costa Nova, leva-me a recordar um desastre que, por pouco, não provocou vítimas. A velha ponte, de madeira, mostrava de quando em vez sinais de alguma fragilidade, o que exigia redobrados cuidados. 
A “Auto Viação Aveirense”, que fazia os transportes de passageiros entre Aveiro e as praias, obrigava, com alguma regularidade, todos os passageiros a passarem a pé de um lado para o outro, tanto nesta ponte como na ponte da Gafanha, na Cale da Vila, que permitia a ligação a Aveiro. Saíam do autocarro para o retomar do outro lado da ponte, quer chovesse quer fizesse sol. 
No dia 5 de Julho de 1951, pelas 10 horas, porém, o desastre aconteceu na ponte do Forte. Quando o camião do senhor Manuel Ramos, conhecido por Manuel Russo (ou Ruço?) ia a passar, com cinco toneladas de areia, a ponte ruiu. O proprietário e condutor conseguiu sair de imediato, mas o filho Francisco Ramos, que o acompanhava, ficou debaixo de água durante quatro minutos e meio, segundo lhe afiançou o então mestre Augusto, encarregado da Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA). 
Garantiu Francisco Ramos, que viveu esse drama, que  nada fazia prever que isto pudesse acontecer, pois a ponte, oficialmente, podia suportar sete toneladas de peso. Mas caiu com menos. E o pior poderia ter acontecido naquele dia, pois cinco minutos depois passaria por ali o autocarro da “Auto Viação Aveirense”, cheio de passageiros.
No dia seguinte, procedeu-se à retirada do camião do fundo da Ria. Com a experiência de mestre Augusto, o camião pôde sair com a ajuda de duas barcaças e de talhas, posicionadas nos sítios certos. Quem foi ligar o camião às barcaças, mergulhando as vezes necessárias, foi o “Pezinho” (apelido de um homem cujo nome não me ocorre nesta altura), que tinha a capacidade rara de aguentar uns minutos debaixo de água. 
Feitas as ligações, uma lancha da JAPA arrastou tudo para um espraiado na Marinha Velha, perto do moinho do senhor Conde, que foi demolido há várias décadas, mas que ainda se mantém na minha memória. 
Do areal da borda até à estrada mais próxima o camião foi puxado por juntas de bois. Depois foi reparado e a vida retomada, à espera de uma ponte que oferecesse mais garantias. O que veio a acontecer, não naquele sítio. A nova ponte, a actual, está presentemente a ser reparada. É a que nos liga às Praias da Barra e da Costa Nova. Mesmo de betão, com a idade, mostrava sinais de algum perigo. Acudiram-lhe a tempo. 

 Fernando Martins

VOLUNTÁRIOS NA FÁBRICA

Crianças no Centro da Ciência Viva, em Aveiro
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Centro de Ciência Viva
aceita colaboração
de voluntários
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A Fábrica tem inscrições abertas a todos aqueles que queiram colaborar com este Centro de Ciência Viva de Aveiro. Basta ter tardes ou manhãs livres, à semana ou ao fim-de-semana (a fábrica funciona quase em laboração contínua) e entrar em contacto com a Fábrica. A idade não importa, já que não há idade para aprender a ser solidário. Talvez já lhe tenha passado pela cabeça dar uma mãozinha na Fábrica. Se quiser colaborar com este Centro, envia o teu contacto. Os responsáveis da Fábrica têm muito gosto em falar contigo para juntos verem em que nos pode ajudar. Rua dos Santos Mártires
3810-170 Aveiro - Portugal
Tel. +351 234 427 053 (859)
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SANTO ANDRÉ REABRIU AO PÚBLICO

A MEMÓRIA DE ÍLHAVO PASSA POR ESTE MUSEU

No último sábado, o Navio Museu Santo André reabriu ao público, depois de três meses de encerramento, período durante o qual teve uma “estadia” no estaleiro da Navalria. O navio Santo André regressou ao seu cais de atracagem, no Canal de Mira da Ria de Aveiro, na zona do Forte da Barra e do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré.

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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

UM POEMA DE MIGUEL TORGA

Miguel Torga
CONFIANÇA
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O que é bonito neste mundo,
e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar
outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
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NOTA: Faz hoje anos que faleceu Miguel Torga, um escritor multifacetado que muito aprecio. No dia 17 de Janeiro de 1995, a literatura portuguesa, e mesmo universal, ficou mais pobre, com a morte de um artista que muito a honrou.
Várias vezes premiado, nunca, porém, recebeu o Prémio Nobel da Literatura, que tantos para ele reclamaram merecidamente. Alheio a grupos de pressão e a capelas literárias ou políticas, o mundo não pôde ser acordado para uma arte que Miguel Torga tão bem cultivou. Mas a sua obra, que abarcou todos os géneros, ficou para nos desafiar a apreciar a beleza que de tudo quanto escreveu sobressai.
Em jeito de homenagem, aqui fica um poema, de sua autoria, muito simples, como simples foi tudo quanto nos legou.
F.M.

FUGA AOS IMPOSTOS

GOVERNO QUER
IGNORAR SINAIS
EXTERIORES DE RIQUEZA?
A comunicação social de hoje noticia que o Governo deixou cair as "manifestações de fortunas" na declaração de IRS deste ano, até agora visto como um instrumento fundamental para o combate à fuga e fraude fiscais. É que, ao contrário do exigido em 2006, os impressos do IRS para 2007 não obrigam à declaração de compra de bens.
Não sei se esta situação é resultado de um qualquer lapso, ou se é deliberada. No primeiro caso, há que esperar a correcção urgente; no segundo caso, é motivo para fortes protestos. Tudo isto, porque é inconcebível que o Governo não queira receber os impostos de quem se dá ao luxo de mostrar que é rico. Os trabalhadores por conta de outrem, como é sabido, pagam sempre os impostos devidos. E se é assim, por que razão alguns dos mais ricos ficam tantas vezes à margem das suas obrigações fiscais?
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NOTA: Sem retirar uma vírgula ao que está escrito, devo acrescentar que também é verdade que o Estado pode, se quiser, contornar essa falha, recorrendo ao cruzamento de informações que estão ao seu dispor, graças à informatização dos serviços. No entanto, o facto de os contribuintes declararem anualmente os bens (de custos elevados) que adquiriram, só dignificaria o processo.

FAROL DA BARRA

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FAROL EM CONSTRUÇÃO
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Quem hoje contempla o Farol da Barra de Aveiro, situado no lugar da Praia da Barra, Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, talvez nunca tenha imaginado como é que ele nasceu. Qualquer dia, com mais vagar, hei-de falar disso no meu blogue, para que a história não se perca, com a agitação dos tempos ou com os ventos fortes que costumam varrer a região.
Apeteceu-me publicar esta foto do Farol em construção, para lembrar as extraordinárias transformações que ocorreram desde o seu nascimento, com baptismo inaugural datado de 31 de Agosto de 1893.
Já agora, quando forem à Praia de Barra, apreciem o Farol e imaginem os primeiros tempos com as obras em curso naquela zona... Como tudo era tão diferente!
F.M.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 5

Pintassilgos
OS PASSARINHOS
TÃO ENGRAÇADOS…
Caríssimo/a: A frase sai instintiva mas convictamente: - Mas que bela arrozada! Vem ver: pombos que mais parecem patos! Sete, sete pombos prazenteiros alimentavam-se no pátio da casa; de início, há três anos, eram apenas dois, informam-nos. Corvos, pardais, rolas, gaivotas não têm conta. Duas pegas. Um melro, durante anos, foi companhia nas actividades no quintal. Agora não aparece. Já fiz referência à renovação dos grãos nos comedouros. Junto de muitas casas, assim como em parques e jardins, os abrigos, os ninhos e os comedouros são uma constante. Espectáculo que não se esquece é estar a tomar o café num restaurante, nevar intensamente e observarmos, através da janela, o colorido agitado dos pássaros em torno do alimentador. Também não menos espectacular é ouvir, quiçá na zona mais ventosa do globo: - Sabes, mana, agora aparece um pintassilgo que vem todos os dias comer ali! – e apontava para o comedouro à frente da casa. Entretanto já trazia na mão o livro onde figuravam os pássaros da região e pudemos observar o “nosso” pintassilgo. Contudo o mais espantoso para nós terá sido ver bandos e bandos de patos bravos a cruzar os céus, no seu característico V. Agora troquem de lugar connosco e, no regresso, observem o indescritível: centenas e centenas de patos, ao lado uns dos outros, a debicar no terreno de cultura mais vasto que um campo de futebol! O espanto fez calar o instinto, a “arrozada” deliu-se e ficamos a saborear a poesia de Afonso Lopes Vieira, do nosso livro da 2.a classe:
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Os passarinhos tão engraçados Fazem os ninhos com mil cuidados… Nunca se faça mal a um ninho, A linda graça dum passarinho! Que nos lembremos sempre também Do pai que temos, da nossa mãe!
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Falei de pássaros. Podíamos ter falado de outros animais de mais ou menos porte. Por vezes, parece irem além do carinho e do respeito… E com respeito fica o Manuel Só mais uma coisita: Quanto aos cães!… Também vi ruas sujas… Mas não há dúvida: normalmente os donos são cuidadosos!

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

UM ARTIGO DE ALEXANDRE CRUZ

Violência omnipresente
1. Não há educação (de princípios) que resista! Na tarde de domingo último, por casualidade, alguns minutos de tempo nos sobraram e eis que o “ritual” de ligar a TV foi também o nosso. Seria pelo meio da tarde, em horário nobre de domingo, horas propícias das propostas de programação aliciante para os mais novos. Já sabíamos, e não é novidade para ninguém, que a concorrência feroz, ao segundo, nos nossos canais generalistas, generaliza, precisamente e perversamente, um sensacionalismo de tendências sempre mais fantásticas quanto deseducativas em termos de uma irreverência em que quanto pior (programa) melhor (audiência). Já não tínhamos grandes expectativas. Mas, permita-se-nos a liberdade do “bom senso”, ficámos surpreendidos e perplexos pelo grotesco excesso. Na generalidade dos canais a grande violência reinava no sereno domingo à tarde; e se a violência dos filmes já “faz parte” da vida (temos lamentavelmente de o reconhecer, estamos por tudo!), com os seus impactos negativos, já a violência gratuita e espectacularizada não nos pode deixar indiferentes (pelo menos por agora, até que nos habituemos). 2. Falamos concretamente da luta livre americana. Sabemos que já existe há longos anos esse espectáculo inqualificável, onde a “pancada em cima de pancada”, até partir se for preciso, é o lema. Esse programa há já alguns anos esteve presente no mesmo canal; agora voltou (ao terceiro canal), para semear (que sentimentos?) violência na tarde de domingo. Inqualificável opção de programação de um instrumento admirável que pode ser a TV. No referido programa das lutas de Wrestling, esta uma empresa americana de espectáculos de entretenimento na base da violência, luta-se premeditadamente até haver forças; quase que faz lembrar as lutas das arenas romanas até à morte. Há um quadro grande de lutadores onde droga, escândalo, morte se misturam; para nossa surpresa esses campeonatos nos EUA têm uma proporção impressionante, havendo 14 campeonatos de luta, também de mulheres. Dessa empresa, que vende os seus espectáculos ao mundo sedento, a táctica é declaradamente, com encenação, vender para o público-alvo que são os adolescentes pelos 14 anos e os jovens adultos na casa dos 30. Este é o Wrestling mais "politicamente incorrecto", com linguagem degradante, combate espectacular e violento a ponto de partir braços, pernas, cabeças…mesmo atingindo situações de morte posterior. Essa empresa de entretenimento, desta forma (degradante), superou a sua crise económica recente, vencendo assim a concorrência. Público? Estádio-pavilhão cheio de público eufórico e deliciado (com crianças a assistir ao vivo) a ver os lutadores até ao fim!... 3. Dos filmes aos noticiários, dos game boy às lutas livres, uma sensação de violência omnipresente (on-line) acompanha a história deste tempo, a que se poderá juntar a comunicação social (quando é) sensacionalista. Desta impressão televisiva violenta (consciente ou inconscientemente), a crispação e intolerância passa para os mais novos e desce à escola, à estrada e mesmo à “violência doméstica”. Nesse tal programa americano, no intervalo dizia-se: “Não repita isto em casa”! Não fossem os adolescentes repetirem a experiência dando violentamente na mãe ou no irmão mais novo! Dá vontade de rir, degradante realidade esta que existe e que a concorrência televisiva trás para Portugal como um “doce” de domingo para vencer a “guerra” da audiência. Não há ética, educação, conselho, ideal, visão feliz de mundo, direitos e dignidade humana,… que resista! Andamos a “trabalhar” desnorteados, sem enquadrar as instâncias universais de educação (UNESCO, ONU, …) neste processo de referência da boa LIBERDADE COM REPOSNABILIDADE para sermos HUMANOS, para todas as formas impressionantes de comunicação porem água na sua fervura dos espectáculos da violência. Existem algumas instâncias, nacionais e internacionais, para o efeito, mas… Talvez a proibição (de tudo o que é desumano, indigno e deseduca) terá de fazer parte da liberdade! 4. No ano passado, quando da (mal) designada época dos incêndios as nossas televisões fizeram um pacto de paz, para não transmitir grandes imagens de incêndios nem apresentar “exploração de sentimentos”. Louvável! Mas, apesar de todas as subjectividades nestas realidades, será necessário um pacto transversal de não-violência para as programações televisivas? Ou, descendo à terra de sermos humanos: antes de todas as codificações, não terão os senhores da TV nos seus filhos ou sobrinhos a intuição “daquilo” que será o melhor (ou o menos pior) para uma boa educação dos seus? Terão esta preocupação? Terão eles a percepção da responsabilidade na formação da sociedade do seu canal? Mal vai quando para tudo será necessário códigos (este é o “sinal” evidente de que estamos a distanciar-nos da proclamada “liberdade”). Pelo andar da carruagem, até onde o comboio violento chegará?

AO SABOR DA MARÉ - 3

O FRIO
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Temos de convir que o frio faz parte da vida. O frio físico, está bem de ver, não deixa de ter o seu encanto, sobretudo por nos atrair para a fogueira que nos aquece os pés, depois o corpo todo e, desde o início, a alma. O frio vem sempre, ou normalmente, na época própria. Aparece com o Natal e prolonga-se até fins de Março, quando os sinais de Primavera nos encantam e alegram o espírito. E apesar dos encantos que ele nos traz, para muitos que têm a tal fogueira que nos atrai, não podemos ignorar que não deixa de ser um drama pungente para quem a não tem, como não tem agasalhos para o minimizar. Daí a urgência de pensarmos um pouco nisto, para na hora própria acudirmos a quem passa frio nestas noites, e dias, de fazer tremer o queixo. Eu sei que é complicado sair dos nossos aconchegos para pensar nos que vivem sem o mínimo conforto e sem mantas à altura de lhes emprestarem um pouco de calor. Mas, se quisermos, haverá sempre uns minutos para pegar em cobertores que até já nem usamos, para os levar a quem farão muito jeito. E já que falo do frio físico, que todos sentimos, permitam-me que diga uma palavrinha sobre o frio humano. Esse será o mais agreste, porque tem lugar em todas as estações do ano. Então, se é o mais agreste, temos mesmo que o substituir pelo calor humano, durante todos os dias do ano, nas nossas relações com toda a gente.
Fernando Martins

ABORTO - 14

UM ARTIGO DE ANTÓNIO REGO
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Referendo II
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Uma mobilização organizada,
possivelmente a maior mobilização
de leigos desde os tempos
da Acção Católica
Arrastando bizarrias de alto riso, disparates incomensuráveis, ignorâncias arrogantes e, ao mesmo tempo, reflexões muito sensatas, corre o rio da nossa pequena história em direcção ao referendo do próximo dia 11 de Fevereiro. E, cumpre dizer, tem águas muito saudáveis, intervenções inteligentes e debates enriquecedores para o tempo comum da democracia. Não se esqueça que estamos no segundo tempo do mesmo jogo. O povo português já se pronunciou, em referendo, sobre o aborto. E disse não. Tivera dito sim em 1998 e ficaria aferrolhado pelos zelotas do direito e de alguma esquerda que ainda não percebeu em que país vivemos. Convém, por isso, no meio do ruído, lembrar que estamos a perguntar ao mesmo povo a mesma coisa pela segunda vez. Haja paciência para uma democracia assim. Haja! Mas há aspectos interessantes. Estamos perante uma mobilização organizada. Possivelmente a maior mobilização de leigos desde os tempos da Acção Católica. E desta vez é por uma causa: a causa simples e concreta da vida. Oficialmente a Igreja reafirma a sua inequívoca posição pelo não, na pergunta que é feita no referendo. Mas cada diocese, bispo, paróquia ou movimento, assume os seus dinamismos sem agressão e com respeito por aqueles, mesmo cristãos, que enveredam por outro caminho. O Patriarca de Lisboa enviou uma carta aos Párocos, pedindo que, como “presidentes da assembleia litúrgica, se limitem, durante a mesma, à apresentação da doutrina da Igreja sobre o respeito pela vida. A celebração litúrgica não pode ser lugar de campanha…” Plenas de sensatez e respeito, estas palavras não podem ser tomadas, como pretendem alguns comentadores, por alheamento à campanha que está a posicionar-se neste momento no terreno da opinião pública. O Cardeal Patriarca acrescenta que “isto não impede que o Pároco e a comunidade cristã organizem noutros momentos e espaços debates de esclarecimento… acerca das várias questões que este referendo levanta.” Eis uma orientação sábia e oportuna num momento de mobilização para uma causa que não é um capricho moral ou uma corrente de circunstância. E à volta da qual pululam falácias e ilusionismos numa confusão ardilosa de falsa modernidade. Como se a vida fosse uma questão do passado.