quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Mensagem de D. António Marcelino

Temos um  novo Bispo em Aveiro!

Venho dar a todos vós, caríssimos diocesanos, uma boa notícia. Neste dia, em que completo 76 anos de idade e 31 de episcopado, quase 26 destes vividos convosco e ao vosso serviço, quis o Santo Padre dispensar-me do governo diocesano e nomear, como meu sucessor, o Senhor D. António Francisco dos Santos, Bispo Auxiliar de Braga e originário da Diocese de Lamego. Noutro local deste jornal podereis ver a sua biografia e os serviços apostólicos e pastorais a que foi sendo chamado.
Sinto muita alegria nesta escolha do Santo Padre. D. António Francisco, como iremos chamar-lhe e logo veremos, é um homem simples, aberto, amadurecido e experiente, um padre exemplar, culto, apostólico e bem preparado para a missão, um Bispo próximo e acolhedor, com sensibilidade e grande compreensão das exigências que hoje são postas à Igreja e das realidades humanas e sociais.
A mensagem que ele quis, já neste dia, dirigir à Diocese, e hoje mesmo publicada, denuncia bem o seu espírito sacerdotal e apostólico. Ele a dirige de Roma, onde participa num encontro para bispos, sendo hoje mesmo recebido por Bento XVI. A entrada na Diocese, será, por sua vontade, no dia 8 de Dezembro, festa litúrgica da Imaculada Conceição e 34.º aniversário da sua ordenação sacerdotal.
Até lá, pede-me o Papa que continue a dirigir a Diocese como Administrador Apostólico, com as faculdades e as responsabilidades que este título canónico comporta.
D. António Francisco, ainda com muitos compromissos assumidos em Braga, passará, porém, pela Diocese, para ir conhecendo pessoas e instituições e se aperceber, de perto, da nossa realidade social e pastoral. Rezemos, a partir de hoje, pelo novo Bispo, dom de Deus à Diocese de Aveiro, para que ele seja, como é seu desejo, um Pastor à maneira de Jesus Cristo, o Bom Pastor.

António Marcelino,
Administrador Apostólico

NOVO BISPO DE AVEIRO

Posted by Picasa

D. António Francisco dos Santos
entra na diocese em 8 de Dezembro
Por solicitação da Nunciatura Apostólica em Portugal, a Agência ECCLESIA informa que o Papa Bento XVI nomeou como novo Bispo de Aveiro D. António Francisco dos Santos, até agora Bispo Auxiliar de Braga. Bento XVI aceitou a renúncia do governo pastoral da Diocese de Aveiro, apresentada por D. António Marcelino, dado este ter completado o limite de 75 anos de idade (em conformidade com o cân. 401, parágrafo 1, do Código de Direito Canónico). D. António Francisco dos Santos foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga por João Paulo II a 21 de Dezembro de 2004. Na Conferência Episcopal Portuguesa tem a responsabilidade de presidir à Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios. O novo Bispo de Aveiro é natural da Freguesia e Paróquia de Tendais, Concelho de Cinfães, Diocese de Lamego. Nasceu a 29 de Agosto de 1948, filho de Ernesto Francisco (já falecido) e de D. Donzelina dos Santos. Frequentou a Escola Primária de Tendais, Cinfães, de 1955 a 1959; ingressou no Seminário Menor Diocesano de Resende, em 1959 e concluiu o Curso Superior de Teologia no Seminário Maior de Lamego em 24 de Junho de 1971. Foi ordenado Diácono em 22 de Agosto de 1971 e fez estágio Pastoral na Paróquia de S. João Baptista na Vila de S. João da Pesqueira. O Arcebispo D. António de Castro Xavier Monteiro ordenou-o sacerdote na Catedral de Lamego, a 8 de Dezembro de 1972. Foi então nomeado coadjutor da Paróquia de S. João Baptista de Cinfães de 8 de Dezembro de 1972 até Junho de 1974. Em Julho de 1974 foi enviado para Paris para continuar os estudos de Filosofia e Sociologia. Concluiu a Licenciatura de Filosofia na Faculdade de Filosofia do Instituto Católico de Paris, em 1977, e o Mestrado em Filosofia Contemporânea, na mesma Faculdade em 1979. Foi aluno da Escola Prática de Altos Estudos em Ciências Sociais e do Centro Nacional de Investigação Científica de Paris (C.N.R.S.), onde obteve o Diploma de Sociologia Religiosa. Durante estes anos de estudos em Paris, foi membro da Equipa Sacerdotal da Paróquia de S. João Baptista de Neuilly-sur-Seine, assumindo a responsabilidade Pastoral da Comunidade Portuguesa Emigrante. De volta a Portugal foi nomeado Professor e membro da Equipa Formadora do Seminário Maior de Lamego, desempenhando cumulativamente as funções de Secretário e Ecónomo do mesmo Seminário. Foi ainda membro do Conselho de Presbíteros e vice-Reitor do Seminário Maior de Lamego, de 1986 a 1991. A 19 de Março de 1991 é investido como Cónego Capitular da Sé de Lamego. Em Setembro deste mesmo ano é nomeado delegado Episcopal para a Formação do Clero, Responsável da Pastoral Universitária da Cidade, Secretário Diocesano da Pastoral das Migrações e Membro da Equipa Sacerdotal da Paróquia de Santa Maria Maior de Almacave. Da sua acção na Diocese de Lamego destacam-se ainda a passagem como Chefe de Redacção no Jornal Diocesano “Voz de Lamego”, de 1992 a 1998; a 13 de Abril é nomeado Vigário Episcopal do Clero; foi Pró-Vigário Geral da Diocese entre 20 de Janeiro de 1996 e 2 de Dezembro de 1998; presidiu ao Centro de Promoção Social Rural de Lamego e foi irector Espiritual Diocesano do Movimento dos Cursos de Cristandade. A 19 de Março de 2000 é nomeado Pró-Vigário Geral da Diocese de Lamego; membro da Equipa Sacerdotal da Paróquia de Santa Maria Maior de Almacave; professor do Instituto Superior de Teologia do Núcleo Regional das Beiras da Universidade Católica Portuguesa; conselheiro Espiritual das Equipas de Nossa Senhora; vice-Presidente da Associação de Ajuda Mútua do Clero de Lamego (Fraternidade Sacerdotal); e membro da Direcção da ASEL – Associação dos Antigos Alunos dos Seminários de Lamego; A 21 de Dezembro de 2004 foi nomeado Bispo titular de Meinedo e Auxiliar da Arquidiocese de Braga, por João Paulo II. Foi ordenado Bispo, na Sé de Lamego, a 19 de Março de 2005.
: Fonte: Ecclesia : Foto: Correio do Vouga

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

JOÃO XXI, UM PAPA PORTUGUÊS

Há 730 anos, Pedro Hispano era entronizado
como João XXI Assinalam-se hoje 730 anos sobre o dia em que o Cardeal Pedro Julião, ou Pedro Hispano, era entronizado Papa João XXI, em Viterbo, na Catedral de São Lourenço. O único português que foi Papa era natural de Lisboa, sendo designado, no seu tempo, como filósofo, teólogo, cientista e médico, e autor de várias obras científicas. Estando em Roma, depois de participar no Concílio Ecuménico de Lião, tratou o Papa Gregório X de uma doença dos olhos, sendo elevado a Cardeal em 1274. Foi Papa com o nome de João XXI, desde Setembro de 1276 a Maio de 1277. A sua morte deveu-se a um desastre na Catedral de Viterbo, cujas as obras acompanhava. Ficou ali sepultado. A importância do seu talento de homem de ciência mereceu-lhe ser referido por Dante, na Divina Comédia (Paraíso, canto XII). Fonte: www.patriarcado-lisboa.pt.

APELO URGENTE

APELO
Há apelos aos quais não posso, nem devo, ficar indiferente. Quem puder ajudar, faça-o quanto antes. Não fique só a pensar nos que nada têm.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Nós precisamos de TI ! Precisamos da TUA ajuda. TU, que estás a ler esta mensagem. Precisamos da TUA generosidade, da TUA boa vontade, da TUA oferta. Somos um grupo de AMIGOS DE MOÇAMBIQUE e estamos a preparar um contentor para ajudar as crianças de Inharrime – Centro Laura Vicuña das Irmãs Salesianas. É necessário ALIMENTAR uma missão
e uma comunidade pobre com centenas de crianças órfãs... ALIMENTOS: PRIORITÁRIO Enlatados (salsichas, sardinhas, atum)
Leite em Pó PARA CRIANÇAS (principalmente recém-nascidos)
Papas Lácteas (Nestum, Cerelac...) MEDICAMENTOS: Desparasitantes; Antimaláricos;
Multivitamínicos/ferro; Antibióticos;
Antiflamatórios; Analgésicos; Anti-alérgicos;
Pomadas para queimaduras e antifúngicas. CONTACTOS: filomena.pires@sapo.pt (969 474 878);
Local de entrega das ofertas:
Colégio Maria Auxiliadora, Rua de Trouville, nº4, Monte Estoril Tel.214 680 156 FICAMOS A AGUARDAR A TUA OFERTA
– TENS ATÉ DIA 30 DE OUTUBRO
NÃO HÁ TEMPO A PERDER OUTROS: Sabão em barra; Atoalhados; Lençóis; Cobertores

Um artigo de António Rego

DUAS FRENTES
Os tempos não deixam de nos surpreender. No Vaticano, com um Porta-voz novo e um Secretário de Estado acabado de empossar, eis que surge matéria complexa e imediata para os dois, na sequência dum discurso do Papa Bento XVI na Aula Magna da Universidade de Regensburg aos representantes do mundo científico. A citação dum texto medieval, recentemente lido por Joseph Ratzinger, despoleta uma série de reacções nalguns sectores muçulmanos, de tal forma que se torna em caso diplomático e político, para não falar da violência com que algumas igrejas cristãs foram atingidas. O Papa, no seu discurso, tocou o ponto nevrálgico de incompatibilidade total entre fé e violência ou "difusão da fé pela espada". Mas esta referência tem um enquadramento. Bento XVI fala a gente da ciência para dizer que a razão não pode expulsar Deus da vida e a fé não pode separar-se da razão. Neste contexto surgem as citações que apenas uma leitura apressada ou fanática interpretará como ofensa ou agressão a Maomé. Parece que chegamos de novo ao nervosismo de linguagem que os media utilizam para tornar vivas as suas crónicas e o uso de textos e pretextos para incendiar a opinião pública. Honra a grande parte dos responsáveis de comunidades islâmicas que entenderam o que Bento XVI tinha dito e até alguns agradeceram a explicitação de princípios duramente cultivados pelas correntes lúcidas e moderadas do Islamismo. O texto tal como pretendia incluir Deus na ciência e no mundo contemporâneo com a inevitabilidade da razão, também recusava a espada como instrumento de implantação da fé. Bento XVI, por ocasião do Angelus manifestou-se magoado pela interpretação enviesada das suas palavras. E recordou que o seu discurso" era um convite ao diálogo franco e sincero, com grande respeito mútuo." Importa neste momento realçar o papel dos comentadores dos media que perceberam a falsa armadilha que se estava a lançar não apenas à Igreja mas ao próprio mundo ocidental. O conjunto de leituras sobre o incidente revelou o risco das sínteses precipitadas que se pretendem fazer passar por análises. E pela separação completa entre um discurso que recorda a história, não para ofender ninguém, mas para reafirmar a urgência da presença de Deus no mundo de hoje, proclamada pelo Cristianismo e pelo Islamismo. Mas com a recusa total da violência como arma política ou religiosa.

Imagens do mar

O PESCADOR, EM BUARCOS

Se for à Figueira da Foz, aconselho-o a caminhar, calmamente, pela marginal, até Buarcos. Lá mais adiante, um pouco longe do centro da Figueira, é certo, não pode deixar de apreciar este monumento ao pescador daquela terra, de tantas tradições marítimas, e não só. É verdade que há menos pescadores, mas sempre há por ali quem pesque saboroso peixe que dá vida a bons pratos, nos muitos restaurantes daquelas praias. Verá que, com o passeio e com a maresia a abrir-lhe o apetite, e depois com uma boa caldeirada, dará graças a Deus por tanta paz que tudo isto lhe pode oferecer.

Bom passeio e bom apetite.

Fernando Martins

Um artigo de Acácio Catarino, no CV

Voluntariado
com sensibilidades
diferentes
São bastante diversificadas as sensibilidades dentro do voluntariado e em relação a ele. O mais tradicional não se designava por “voluntariado”, exceptuando o caso dos bombeiros e pouco mais; outrora designava-se por serviço, “ajuda”, dádiva, partilha, assistência, caridade...
Normalmente, esse voluntariado achava-se associado à dádiva de outros, para além do trabalho, e não recebia compensação das despesas efectuadas. Não considerava necessário um quadro legal de regulação, nem um quadro de direitos e deveres. As palavras “responsabilidade” e “compromisso” traduziam melhor o seu tipo de relacionamento.
Pelo contrário, o voluntariado mais recente assume naturalmente a designação, considera necessários os quadros legal e de direitos e deveres, bem como a compensação das despesas efectuadas. Insiste bastante no imperativo da organização e até defende que o trabalho voluntário, caracterizado pela gratuitidade, deve ser tão profissionalizado como o remunerado, qualquer que seja o número médio de horas semanais de serviço.
Compreensivelmente, observam-se reservas mútuas entre o voluntariado mais tradicional e o mais recente, podendo afirmar-se que se estão a aproximar um do outro. Observa-se até uma verdadeira convergência das diferentes famílias e histórias de voluntariado.
Umas e outras vão tomando consciência daquilo que as une e sabendo conciliar aquilo que as diferencia.Trata-se de um processo evolutivo merecedor de simpatia e de atenta ponderação.
:
Fonte: Correio do Vouga

Um artigo de Alexandre Cruz

Diálogo de surdos?
1. Não é fácil chegarmos ao entendimento dialogante quando os canais de recepção têm meias leituras sensacionalistas ou análises ideológicas de quem vê o outro não como irmão mas com distância desconfiada. O “caso” do belíssimo e profundo discurso “racional” de Bento XVI sobre questões que em leitura descontextualizada incendeiam a “emoção colectiva” menos atenta e pouco cuidadosa em “ler o conteúdo com olhos de ler” diz-nos que no chamado diálogo inter-religioso há muito a aprender. Será caso para dizer que nem todas as razões a “razão” conhece, e quando a inesperada reacção acontece é sinal de que as ondas de sintonia andam muito desencontradas. Afinal, como dialogar? Haverá lugar no “diálogo” para as verdades fundamentais? Será possível chegar aos consensos que estimulem positivamente as emoções colectivas que tantas vezes carecem da dose “qb” de “razão”? É possível, da parte da chamada teologia ocidental, escolher outras citações menos delicadas? Afinal, onde param, mais uma vez, as facções do Islão que poderiam por água na fervura dando o verdadeiro sentido ao texto e apaziguando os ânimos? No fundo, qual o lugar da “razão” no diálogo? Será possível o diálogo inter-religioso sem dizermos que “Deus não tem nada a ver com a guerra nem, quer nada com a guerra”? Ou no “diálogo” haverá lugar só para meias verdades que vão entretendo?... Das tantas análises, sob os diversos prismas que no fundo de tudo vão ao encontro da relação entre o ocidente e o mundo islâmico, foi de apreciar os testemunhos insuspeitos de líderes de outras religiões ou personalidades que se consideram indiferentes ao fenómeno religioso, que manifestaram apreço objectivo pela profundidade do discurso académico de Bento XVI sobre as relações entre “Fé, Razão e Universidade; Memórias e Reflexões”; para alguns, que leram todo o texto e só depois fizeram comentário, foi mesmo novidade bem estimulante toda a fundamentação filosófica e teológica do discurso que, na fronteira, procura despertar os horizontes da inteligência humana. Assim, o primeiro passo, princípio de honestidade intelectual, será sempre o ler todo o texto e só depois se pronunciar sobre ele; não um alinhar em meias leituras com slogans sensacionalistas, como acaba por denunciar o próprio director do Público, José Manuel Fernandes, referindo-se ao mau jornalismo que contribuiu para a confusão. 2. Em verdade, o que disse Bento XVI? Mesmo dos meios menos simpáticos para com o Papa alemão vai-se notando uma admiração na coragem que ele tem em, num espírito de pluralismo cultural, chamar os nomes às “coisas”. Não se pense que ele terá dito algo de novo, de modo algum; o que ele disse uma boa parte da população do mundo o diz: “agir de modo irracional é contrário à natureza de Deus” pois é diminuição de humanidade; ou seja, sem qualquer apologia ‘caseira’ mas em discurso aberto a questões universais, sublinha que a Fé deverá conter dose “qb” de razão, tem estrutura, pensamento, razoabilidade…e mal vai quando a emoção sem razão cresce a ponto da convicção não ser pensada; este, sem o bom senso, é o salto para o fanatismo... Não é novidade este apelo que afinal corresponde ao espírito da dignidade e dos direitos humanos; já em Agosto de 2005, na sua viagem a Colónia (Alemanha), Bento XVI confrontou os representantes islâmicos com o fenómeno do terrorismo, afirmando que "os programadores dos atentados demonstram que desejam envenenar os nossos relacionamentos e destruir a confiança, servindo-se de todos os meios, até mesmo da religião, para se oporem a todos os esforços de convivência pacífica e tranquila". Porque nesta altura não existiram manifestações?... Separando as águas, seja Papa conservador ou progressista, seja líder desta ou daquela religião ou de filosofia social ou política, seja trabalhador em fábrica, professor, aluno ou “cidadão” comum que cada dia faz o melhor que está ao seu alcance, seja mesmo indiferente (ainda) às questões de um sentido para a vida, sempre que “alguém” disser que a “guerra santa” é um mal objectivo e que a religião nunca deve ser confundida com a violência, aí estamos mais próximos da “verdade” absoluta de que “Deus é amor”. 3. No meio de tudo isto, é certo que poderão existir outras citações sobre pensadores passados menos sensíveis, certamente. Mas o fundamental de tudo será que para haver “diálogo inter-religioso”, de facto, a “verdade” objectiva da rejeição da violência, do fundamentalismo e do mal terá de ser um ponto de convergência de todos. E mais: talvez tenha chegado o tempo do Islão puro, moderado, ter “palavra” forte de moderação e bom senso nas seitas extremistas islâmicas… Onde estão os moderados no papel de moderadores? É essencial! Ou terão, eles próprios, medo de ser acusados de “ocidentalizados” e por isso preferem calar-se deixando andar? Já em outros escritos sublinhámos que, infelizmente, fanatismo existe em imensos lados e instituições, e não só no âmbito religioso; fanático e fundamentalista será o que não atingiu a maturidade do “diálogo” que complementa e enriquece a todos. O discurso de Bento XVI talvez tenha sido também “uma verdade inconveniente” e delicada mas, no fim de tudo, pode apresentar-se como um programa para “aprendermos mais a dialogar” (sem guerrear). Seria uma urgência histórica, continuando a apurar as “condições do diálogo” pois não é possível dialogar com “armas” ou desconfianças!... Talvez este seja o novo muro de Berlim que caberá ao Papa entreabrir pela estrada da “razão”… A-ver-vamos (ou não), assim seria tão importante no mundo globalizado! É verdade que diálogo à força é impensável, seria de surdos; mas que bom seria que todas as forças humanas se colocassem em fecundo diálogo para melhor nos conhecermos e mais futuro projectarmos!...

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Televisões de cabeça perdida?

Alma sã em corpo são
Confesso que me intriga o comportamento de gente que aposta em programas com cenas de sexo em horas acessíveis a muita gente. Gente jovem e gente menos jovens. Diz Francisco Penin, o director de programas da SIC, onde uma telenovela com essa marca vai passar, que esta é uma aposta da estação, porque, sublinha, “estas cenas fazem com que mais gente veja a série". É pena, a meu ver, que responsáveis por uma televisão, com responsabilidades na formação das pessoas, insistam em programas com conteúdos que possam ferir sensibilidades, à custa da conquista das audiências. Ainda há meses, em Aveiro, o jornalista José Carlos de Vasconcelos garantiu que os programas, com qualidade, mais tarde ou mais cedo acabarão por merecer a preferência do povo, pelo que urge avançar com eles. Mas não há dúvida, pelo que se vê, que há directores, com responsabilidades nessa matéria, que teimam em seguir os caminhos mais fáceis, por mais degradantes que eles sejam, em detrimento do que possa contribuir para o enriquecimento das pessoas, ao nível da formação moral, cultural, social e cívica. E o mais caricato disto tudo é que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que já iniciou um processo de averiguações para saber por que passou a SIC “spots” promocionais da série, com cenas de sexo, durante o dia, não consegue levar as pessoas à razão. Em resposta, Francisco Penin frisa que a conversa que teve com aquela entidade não teve qualquer efeito na decisão de passar os episódios, depois das 23 horas, sabendo ele, como sabe toda a gente, que a essa hora ainda há crianças e adolescentes de pé e a ver televisão. Continuo a pensar que neste País, que é o nosso, não faltam directores de programas, afinal, para quem o lucro justifica todos os procedimentos. E o mais grave é que, de certeza, não lhes hão-de faltar apoios publicitários de firmas ligadas a produtos que consumimos. Claro que essas séries apenas se destinam a pessoas sem mente sã. E que, por essas e por outras razões, dificilmente chegarão a ser gente de alma sã em corpo são. F.M.

Imagens da Ria

FOI ATRAPALHAÇÃO NA MANOBRA
Tive ontem, pela tarde, a visita do ex-arrais Gabriel Ançan. Está velho. Sempre são setenta e quatro anos de idade, dos quais cinquenta e três de arrais, em seis costas. Mas ainda hoje, à ré de um barco sardinheiro, não faria má figura. É de cerne, o Ançan, e do mais rijo. Nunca esteve doente… Salvou para cima de cento e vinte vidas. Ainda novo, perdida estaria a tripulação da barca francesa Nathalie se não fora ele. A mulher do capitão, desvairada pelo terror, atirou-se do convés para o mar: recebeu-a o Ançan nos braços. “Pesava menos que um lenço de assoar, mas como vinha tocada do alto, ainda me fez arrear um bocado os cotovelos.” … Ainda garoto foi dos que foram buscar a Senhora D. Maria II a Ovar. O Senhor D. Luís qui-lo para seu arrais. “Ainda estou novo, meu Senhor, e aqui não há quem me substitua.” Como intermináveis formalidades burocráticas lhe entravassem, durante três anos, a pensão requerida, tirou-se dos seus cuidados e partiu para Lisboa com dez tostões no bolso… Chegado às Necessidades, respondeu ao familiar de serviço: “Diga a Sua Magestade que é o Ançan, e verá como ele me recebe logo”… E da visita ao Senhor D. Carlos, só lhe ficou o remorso de ter saído de proa, isto é, de costas para o Rei. “Foi atrapalhação na manobra!” Chegou a ver todos os filhos, três, arrais como ele; e era lindo, comovedor e exemplar, ver sair, ao mesmo tempo para o mar, quatro companhas, de quatro Ançans. E se deixou a faina não foi porque já não pudesse fazer-lhe frente. “Ainda me não assusto, mas já não salto para bordo nem acudo às aflições com a prontidão de outros tempos e, tendo levado a vida a salvar gente, não quero arriscar-me a que me salvem a mim”. (Cunha e Costa, Paisagens, perfis e polémicas) In “Geografia de Portugal”, de Amorim Girão : Nota: Foi respeitada a ortografia

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Combate à pobreza

Governo quer prioridade
ao combate à pobreza
de crianças e de idosos
O Governo aprovou as linhas gerais do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) até 2008, documento que pretende dar prioridade ao combate à pobreza de crianças e idosos, e à integração de imigrantes e deficientes. Estabelecido para o período de 2006-2008, o PNAI é o documento multi-sectorial e multi-dimensional de coordenação estratégica e operacional das políticas de combate à pobreza e à exclusão social, em observância da Estratégia de Lisboa e fundado em objectivos comuns aplicados a todos os Estados da União Europeia.
Os grandes objectivos que vão estruturar a elaboração do PNAI são: A definição de um número restrito de prioridades fundamentais para obter resultados no combate à exclusão; A identificação de um número restrito de metas de cariz instrumental, garantindo que as mesmas se encontram devidamente alicerçadas em medidas concretizáveis e com financiamentos garantidos;A identificação de resultados que possam ser mensuráveis e devidamente avaliados.
Deste modo, o PNAI visa a adopção de medidas que permitam combater a pobreza persistente e encontra-se estruturado em torno de três prioridades: Combater a pobreza das crianças e dos idosos; Corrigir as desvantagens na educação e formação; Ultrapassar as descriminações e reforçar a integração das pessoas com deficiência e dos imigrantes.
"O PNAI tem prioridades bem definidas, instrumentos, medidas e metas quantificadas", referiu o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, no final da reunião do Conselho de Ministros.
Além das prioridades ao combate à pobreza de crianças e idosos e integração de deficientes e imigrantes, Vieira da Silva declarou que o PNAI privilegiará também acções que visem "corrigir as desvantagens na educação e formação".
"Combater as desvantagens na educação e na formação é lutar para que não se perpetuem os ciclos de pobreza", justificou o membro do executivo, sublinhando que o plano "pretende envolver a sociedade civil e as autarquias".
"Vamos fazer uma abordagem territorial dos problemas, porque as questões que se levantam apresentam uma abordagem diferenciada consoante as regiões do país", explicou.
:

CITAÇÃO

O Papa e o islão VASCO PULIDO VALENTE
Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava".
O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto.
O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristão um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele. :
In "PÚBLICO" de ontem
::
Leia mais em Ecclesia

Dia Europeu sem Carros 2006

22 de Setembro
com ruas só para peões
Com o objectivo de sensibilizar a população para uma boa utilização do domínio público, a Câmara Municipal de Ílhavo vai organizar, pelo quinto ano consecutivo, o Dia Europeu sem Carros que se realiza no próximo dia 22 de Setembro. Nesse dia a circulação automóvel será interdita entre as 9 e as 19 horas, numa área pré-definida nas Cidades de Ílhavo (Av. Mário Sacramento) e da Gafanha da Nazaré (do cruzamento para o Centro Cultural até aos semáforos junto à Igreja Matriz), onde se realizarão várias actividades desportivas, recreativas e educacionais direccionados a todo o público, mas em especial às Crianças das Escolas e Jardins de Infância do Concelho de Ílhavo.

domingo, 17 de setembro de 2006

Nossa Senhora dos Navegantes

PROCISSÃO PELA RIA DE AVEIRO
ATRAIU MUITA GENTE
Como sempre, a procissão pela Ria, com saída do porto de pesca longínqua, na Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, rumo ao Forte da Barra, atraiu muita gente. O cais estava cheio de pessoas que gostam de presenciar o ambiente. Pelo que vi, por ali estavam muitos gafanhões, mas também aveirenses e ilhavenses, que ano após ano renovam o gosto de ver e de passear pela Ria. Os barcos, de todos os tamanhos e feitios, iam repletos. Para mim, que tive o prazer de estar com o antigo prior da Gafanha da Nazaré, Padre Miguel Lencastre, que iniciou, na década de 70 do século passado, esta procissão, em honra de Nossa dos Navegantes, que se venera no Forte da Barra, a festa deste ano teve um valor especial. Com ele, recordei o que foram esses tempos, em que foi preciso dar novo fôlego às festas paroquiais, e percebi, então, quanto o Padre Miguel estava feliz, por mais uma vez se encontrar com os paroquianos que não o esquecem. Ontem, sábado, participou na missa de acção de graças que se celebrou no Stella Maris, presidida pelo prior da Gafanha da Nazaré, Padre José Fidalgo. Naquela casa me falou da sua alegria por estar nesta terra, do prazer de conviver com o povo, de entrar no Stella Maris, uma estrutura diocesana vocacionada para o apoio aos homens do mar, que soube dinamizar após o 25 de Abril e que ainda se mantém actual, nesta altura em fase de reestruturação, em obediência às exigências de hoje. Alguém me segredou a importância desta festa e desta procissão. “Podiam acabar todas as festas, mas acho que esta devia continuar, porque é sentida de modo especial pelas populações desta região.” Concordo. Mas também compreendo que o sortilégio da festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes vem muito da procissão pela Ria. A Ria de Aveiro é um pouco, ou muito, a matriz das nossas sensibilidades. Somos, de certo modo, filhos da laguna, cujos cheiros, cores e sabores nos invadem desde a nascença. Nós, os povos ribeirinhos, nascemos inundados pela maresia. Ouvimos, na serenidade da noite, o mar e a ria, e os nevoeiros matinais até parece que vêm salgados. Por isso, o encanto de tudo o que acontece de bom na Ria. Fernando Martins

RECORDANDO - Festa da Senhora dos Navegantes


Barcos preparam-se para a procissão

Numa tentativa de sensibilizar os historiadores gafanhões, e não só, para se debruçarem, com entusiasmo, sobre o passado do nosso povo no que diz respeito à Festa da Senhora dos Navegantes, nada melhor do que começar por um pequeno texto que extraímos da Monografia da Gafanha do Padre João Vieira Rezende, que foi pároco da Gafanha da Encarnação. Diz assim: 
“No Forte, freguesia da Gafanha da Nazaré, começou a ser construída em 3 de Dezembro de 1863 a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, sob a direcção do exímio engenheiro Silvério Pereira da Silva, a expensas dos Pilotos da Barra, sendo então piloto-mor um tal senhor Sousa. Custou 400$000 réis. Na parede está fixada uma lápide que diz: «Património do Estado». 
Há de interessante e invulgar nesta capela as suas paredes ameadas e a ombreira da porta principal, de pedra de Ançã, lavrada em espiral com arco em ogiva. Celebra-se a sua festa na última segunda-feira de Setembro com enorme concorrência de forasteiros das Gafanhas, de Ílhavo, Aveiro e Bairrada. Nesse dia Aveiro é um deserto por se terem deslocado para ali muitos dos seus habitantes. A procissão ao sair do templo segue por sobre o molhe da Barra e regressa pela estrada sul que vem do farol. 
A festa é promovida pela Junta Autónoma da Barra.” Tanto quanto sabemos, a capela que tem como padroeira Nossa Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, é o mais antigo templo das Gafanhas, mantendo com rigor a traça original, apesar das obras de restauro e conservação por que tem passado. Pequenina, ali está inserida, e bem, no complexo portuário que entretanto foi nascendo, dando, ao mesmo tempo, sinais de que vai crescer ainda mais. 
A Senhora dos Navegantes, que os nossos pescadores e mareantes tanto veneraram nos tempos dos nossos avós, não deixará, contudo, com a sua ternura de Mãe, de velar por quantos sulcam as águas do mar, não já na Faina Maior, que o bacalhau que comemos já é mais importado do que pescado pelos portugueses, mas sobretudo nos transportes marítimos e na pesca costeira. Espera-se também que a Senhora dos Navegantes olhe, atenta, para os que hão-de recolher-se à Marina da Barra, ainda em fase de estudo e discussão, e às outras existentes na laguna, para fugir dos temporais ou para desfrutar das paisagens únicas que a Ria de Aveiro oferece. E já agora, que Ela inspire bom senso a quantos projectam uma Marina mais completa, para que as populações ribeirinhas não venham a ser prejudicadas, antes possam usufruir de uma infra-estrutura de nível internacional. 
Do texto do Padre Rezende, registamos, como ponto de partida para uma análise mais profunda, o pormenor, significativo, da construção da capela ter sido iniciativa e a expensas dos Pilotos da Barra, não se sabendo se houve, ou não, qualquer pedido ou sugestão das populações, entidades eclesiásticas, políticas ou autárquicas. Ainda seria curioso saber se o piloto-mor, o tal senhor Sousa, era pessoa da nossa região e ligada à Igreja. 
Por outro lado, seria interessante descobrir-se como apareceu aqui a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, como se escolheu a imagem e quem deu a sugestão para a confecção do rosto. Teria sido tudo trabalho do piloto-mor? O facto de as paredes do templo serem ameadas prende-se, compreensivelmente, à existência do Forte Novo ou Castelo da Gafanha, numa certa homenagem à defesa da zona das investidas por via marítima dos inimigos da Pátria. 
Debrucemo-nos, então, um pouquinho sobre a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que não tinha nada de procissões pela Ria de Aveiro. Essas vieram mais tarde, por iniciativa do Padre Miguel Lencastre, prior da Gafanha da Nazaré entre Abril de 1973 e Outubro de 1982. 
Tanto quanto nos diz a memória, a Festa da Barra (como também era conhecida) da nossa meninice, já lá vai mais de meio século, tinha a marcá-la, como pormenor mais típico, a procissão até ao mar. Era sempre na última segunda-feira de Setembro, pois no domingo anterior realizava-se a festa da Senhora da Saúde, na Costa Nova. 
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes atraía mais o povo de Aveiro e Gafanha da Nazaré e a de Nossa Senhora da Saúde era mais ao gosto das gentes de Ílhavo e Gafanha da Encarnação. A uma e a outra associavam-se os veraneantes a banhos nas praias da Barra e Costa Nova, respectivamente. 
No dia da festa, de manhã, tinha lugar uma procissão da igreja matriz da Gafanha da Nazaré para o Forte, sendo transportada em andor a imagem antiga de Nossa Senhora da Nazaré (Já restaurada, como pode ser apreciada no altar-mor da Gafanha da Nazaré), com os membros da Irmandade que tem por patrona a padroeira da paróquia a prestarem-Lhe as devidas honras, com as suas opas brancas, murças azuis e bastão (pau a imitar uma vela de cera). 
Anos depois, chegaram a levar o andor com a imagem numa carrinha de caixa aberta, numa clara violação das tradições. A procissão até ao mar começava obviamente na capela e seguia pelo molhe que dá acesso à Meia-Laranja. Presidia o prior da Gafanha da Nazaré, incorporavam-se as irmandades e os “anjinhos” e o povo acompanhava atrás. Não faltava a música. 
Os foguetes estralejavam e o colorido das opas e murças emprestava dignidade ao acto. Na Meia-Laranja havia a bênção do mar e de quantos dele viviam ou nas praias apanhavam banhos de sol, voltando a procissão agora pela rua que ligava a Barra ao Forte, atravessando pela segunda vez a ponte de madeira que só os mais velhos podem recordar. Na Meia-Laranja, os veraneantes associavam-se com devoção ao gesto da bênção do mar e das gentes, recordando, talvez, quantos foram tragados pelas águas revoltas do mar embravecido. 
As gentes ribeirinhas sempre tiveram muito respeito pelo mar, ou não fosse ele o amigo que dá sustento ou destrói vidas indefesas. Por isso, a adesão dos povos da beira-mar aos festejos em honra de Nossa Senhora dos Navegantes. Como nota final, queremos realçar o facto de a Festa da Senhora dos Navegantes ter tido, durante muitos anos, como organizadores, a Administração e os trabalhadores da Junta Autónoma da Barra, depois Junta Autónoma do Porto de Aveiro, antecessoras, de certo modo, da actual APA (Administração do Porto de Aveiro). 
Os trabalhadores, muitos domingos antes da festa, percorriam as Gafanhas, Aveiro e Ílhavo, de saco ao ombro e de saca na mão, recolhendo donativos para as muitas despesas. Tudo se perdeu no tempo. Mas é com gosto que registamos o facto de a APA apoiar logisticamente a festa em Honra da Senhora dos Navegantes, associando-se ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que a organiza, à Paróquia, ao Stella Maris e Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, à Câmara Municipal de Ílhavo, ao Instituto Português da Juventude, ao povo amigo das tradições e a todos os que a tornam possível, agora com a aliciante procissão pela Ria, que lhe dá um outro encanto. 

Fernando Martins