segunda-feira, 17 de julho de 2006

FAROL DA BARRA DE AVEIRO




Foco luminoso, eléctrico,  foi montado há 70 anos


O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem o não conheça, como um dos mais altos de Portugal e até da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes. À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que podem correr perigos ou desejam chegar à Barra de Aveiro em segurança, os que mais o apreciam, sem dúvida. Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia eléctrica em 1936, completando, este ano, 70 anos de existência. 
Bonita idade para tal melhoramente merecer ser assinalado, embora de forma simples, com esta nota. Se tem lógica e algum merecimento a recordação dessa efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 150 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao director das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol. Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista “Arquivo do Distrito de Aveiro”, em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves: “Há por bem sua majestade el-rei [D. Pedro V] ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, – devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância. 
Sua majestade manda, por esta ocasião, prevenir o sobredito funcionário de que encomendará em França, para ser estabelecido no mencionado local, um farol lenticular de segunda ordem, do sistema de mr. Fresnel, e semelhante ao que se destina para o Cabo Mondego, cujo desenho se lhe envia, com a diferença, porém, de ser girante para o distinguir dos faróis que ficam ao norte e ao sul daquele porto”. 
A Barra de Aveiro tinha sido aberta em 1808 e eram conhecidos os riscos que ela oferecia à entrada das embarcações, “com prejuízos que podem resultar à humanidade e ao comércio”, como se sublinha na referida portaria. No mesmo artigo de Francisco Ferreira Neves, lembra-se que a comissão nomeada para a determinação do local em que deveria ser construído o farol deu o seu trabalho por concluído em 11 de Julho de 1858. Entretanto, os naufrágios sucediam-se entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro, “por falta de sinalização luminosa nesta parte da costa marítima”. 
Os trabalhos não foram tão céleres quando seria de desejar, o que levou o ilustre parlamentar José Estêvão a pedir ao Governo, em 4 de Julho de 1862, na Câmara dos Deputados, a construção de um farol na nossa costa. No ano seguinte, em 15 de Setembro, a Câmara Municipal de Aveiro apresentou a el-rei D. Luís uma exposição, requerendo a edificação de um farol ao sul da barra. Para justificar a sua petição, a autarquia aveirense recorda que importa evitar “os naufrágios que tão frequentes se têm tornado nestes últimos tempos, no extenso litoral entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro”. E acrescenta: “Ninguém pode duvidar, Senhor! que numa costa tão extensa como acidentada, em que as restingas ou cabedelos se formam por a violência das correntes, cuja direcção varia diariamente, um farol evita que os navios, se singram próximo da terra, se enganem no rumo, vencendo as dificuldades da navegação sem correrem o risco de naufragar nos bancos de areia, às vezes em noites bonançosas, como infelizmente tem sucedido entre nós.” 
A resposta do Governo não tardou. No dia 26 de Setembro de 1863, uma portaria governamental ordena que se fizesse o projecto e o orçamento. O projecto foi concluído em 5 de Abril de 1884 e os trabalhos da construção iniciaram-se em Março de 1885. A inauguração oficial do farol aconteceu em 31 de Agosto de 1893. 

Fernando Martins

Um artigo de António Rego

Nos cinquenta anos da morte do Padre Américo
HERÓIS
DO SILÊNCIO
Nos cinquenta anos da morte do Padre Américo vêm ao de cima algumas análises sobre diferentes correntes de educação que podem inspirar a sociedade de hoje na “recriação” possível do ambiente familiar inexistente ou destruído. E, desde logo, surgem teorias que acentuam aspectos mais coincidentes com atitudes não apenas pedagógicas mas também decorrentes de valores – os novos valores do nosso tempo. Por vezes, em contraposição com qualidades cultivadas não apenas num passado recente mas inscritas desde sempre no coração da humanidade e progressivamente reveladas através das gerações inspiradas no cristianismo. Chegamos assim, inevitavelmente, aos conceitos de autoridade, liberdade e responsabilidade na família, educação através de auto-disciplina, respeito por valores considerados fundamentais em todos os ciclos da história da humanidade. Sem deixar de considerar como positiva a evolução pedagógica que se alcançou com novas aquisições na bio-psicologia, percepção do eu, afirmação das diferenças de personalidade e de caminhos, vamos de novo ter à senda das referências essenciais que são, em qualquer circunstância, capazes de conduzir o homem ao desenvolvimento harmónico da sua personalidade e à maturidade do seu ser. Olhando a percepção intuitiva e a entrega pessoal do Padre Américo à causa dos pobres – os rapazes vindos da rua, os idosos marginalizados e os desprovidos de todos os bens - percebemos que um contexto social lhe despertou a veia profética do Evangelho e conduziu apaixonadamente toda a sua vida. Perdido isto, deita-se fora um património, o essencial dum espírito e o carisma dum homem inteligente, santo e corajoso que dedicou toda a sua vida, com exemplar radicalismo, à causa do Evangelho nos pobres. A Obra da Rua, na travessia das diferentes correntes do tempo, sempre teve este fio condutor como a primeira das entregas. Ao celebrar-se os cinquenta anos da morte do Padre Américo ninguém pode, honestamente, esquecer os discípulos mais próximos – os Padres da Rua - que o seguiram e seguem, como heróis do silêncio que dão a vida pela inspiração continuada do Pai Américo. Se é verdade que são as contas de Deus que contam, não podemos esbanjar as palavras e os gestos dos profetas – que não são menores por serem da nossa terra.

domingo, 16 de julho de 2006

Pelo sonho

O MAR A PUXAR-ME
Nasci à beira-mar, com a Ria a abraçar-me com ternura. Silenciosamente, serenamente, a desafiar-me para viagens com horizontes marinhos. Nunca, porém, consegui chegar a esse desígnio. Limito-me a sonhar.
Uma marina, onde quer que a encontre, é sempre um desafio para que o sonho de viajar de barco me leve a outras paragens, a outras terras e a outras gentes. E foi o que me aconteceu, há dias, com a imaginação a vogar para além da tranquilidade do dia-a-dia. Dentro de um barquinho destes. Não com tempestades, mas com a bonança com que sempre alimento o meu espírito.
O mar continua a puxar-me e a atrair-me, desde a infância que já está longe. E se não posso responder a esse chamamento, ao menos deixem-me alimentar o sonho de um dia partir de uma qualquer marina para ir ao encontro de outros.
Fernando Martins

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

Religião e religiões:
para onde vamos?
Agora, quando for a Madrid, já não vou ter a alegria de beber um copo com o meu amigo José María Mardones. Foi-se embora deste mundo no final de Junho. De repente. Sem tempo para uma palavra de despedida. Aos 63 anos.
A última vez que nos encontrámos foi em Setembro, aqui em Portugal, aonde veio para participar, como especialista em filosofia e sociologia da religião, no Congresso sobre "Deus no século XXI e o futuro do cristianismo". A sua comunicação teve como tema: "Religião e religiões: donde vimos, onde estamos, para onde vamos?" Fica aqui, como homenagem, uma síntese pobre da sua análise.
Donde vimos?
Vimos de um cristianismo de cristandade, com pretensões hegemónicas sobre a cultura, a sociedade e a política, que se julgou detentor exclusivo da revelação de Deus e com o monopólio da salvação: "fora da Igreja não há salvação". Nesse cristianismo, aninhava-se uma concepção objectivista da verdade, que implicava a intolerância frente ao erro e a perseguição e liquidação das pessoas sob o pretexto de erradicar doutrinas falsas. Era um cristianismo de coloração fundamentalista e integrista.
Onde estamos?
Estamos a assistir ao "desmoronamento" do cristianismo de cristandade. A descristianização é um dado, a prática cristã é minoritária, a religião perdeu a sua evidência social para passar a ser um assunto pessoal e privado. Assistimos ao mesmo tempo ao "aparecimento de formas de integrismo religioso" no Islão e fora dele. Frente ao relativismo cultural, compreende-se a atracção exercida por "religiões fortes".
Ao mesmo tempo que perde o monopólio religioso - "a religiosidade deambula fora das Igrejas" -, a instituição eclesial cristã está a tornar-se verdadeiramente universal: nos princípios do século XX, mais de 70% dos cristãos encontravam-se no Norte desenvolvido; no início do século XXI, 70% estão no Sul. O que representará para o futuro do cristianismo o facto de a maioria dos seus membros serem africanos, latino-americanos e asiáticos?
Deparamos hoje com uma enorme sede de Mistério. O cristianismo de cristandade, ao colocar no centro o institucional, o jurídico, o doutrinal e dogmático, marginalizou o primado do experiencial, pessoal e místico. Por isso, a crítica à Igreja é acompanhada por apelos constantes a "penetrar dentro da experiência religiosa" e da vivência do Mistério do divino.
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Pagar impostos

Não pode haver portugueses
de primeira e de segunda
Penso que todos os portugueses reconhecem a importância social e económica do Futebol, como dos demais desportos. Com a participação da selecção portuguesa no último Mundial de Futebol o País vibrou e o nome de Portugal foi badalado pelo planeta, graças ao jogo mais atractivo que praticou. Todos estamos gratos aos dirigentes, técnicos e jogadores, mas não podemos endeusá-los. Vem isto a propósito de a Federação Portuguesa de Futebol patrocinar a isenção fiscal para os jogadores que envergaram a camisola das quinas. Cada um, segundo revela a comunicação social, vai auferir, pela sua participação, a bonita verba de 50 mil euros, como prémio. Antes de mais, mesmo que a lei consagre isenções (e consagra-as para os prémios atribuídos pelo Governo), seria uma injustiça, neste caso, por se pretender beneficiar quem ganha, mensalmente, tanto dinheiro. Será que os nossos jogadores precisarão de tais regalias, não lhes bastando a honra e a fama de representar Portugal? Será que o facto de jogarem na selecção não é, para cada um deles ou para a maioria, uma mais-valia que se reflecte nos seus contratos? Passada a euforia da participação portuguesa no Mundial de Futebol, bem alimentada pelos bons resultados alcançados, os portugueses não perdoariam ao Governo que isentasse os jogadores do pagamento de impostos sobre os prémios ou vencimentos auferidos. Os portugueses estão fartos, pelo que ouço e vejo, de haver compatriotas de primeira e de segunda. Quem vive ou sobrevive com ordenados e reformas de miséria, contando os euros no dia-a-dia para não entrar em défice ao fim do mês, não admite nem tolera que os jogadores internacionais de futebol pudessem beneficiar de isenções fiscais.
Claro que a lei as contempla, quando os prémios vêm do Estado (o que não é caso), mas repugna-me a ideia de alguém se lembrar de pedir mais umas benesses para os jogadores de futebol. Em matéria de impostos, como noutras, não pode haver portugueses de primeira e de segunda. Todos têm a obrigação de pagar o que é devido ao fisco. Querer fugir a isso, é crime.
Privilégios, benesses, isenções, regalias, honras especiais e quejandos, que tanto se vêem e reclamam, não são próprios de uma democracia adulta e solidária. Fernando Martins

Gotas do Arco-Íris – 26

QUANTAS
E QUÃO SUAVES
AS CORES
DOS CASULOS!...
Caríssimo/a: Convido-vos a vestirdes a pele do avô da Maria Francisca. Certamente ficaríeis nas nuvens com a descrição daquilo que os pequenitos fizeram com os bichos da seda. Mas o melhor é ler: “SALA DOS 3 ANOS A Maria Francisca, no dia 23 de Abril, trouxe para a escolinha uns bichinhos da seda que o seu avô Manuel lhe ofereceu. Na sala, explicou aos amiguinhos que aqueles animais eram umas lagartinhas, mas que iriam fazer uns casulos e se transformariam em borboletas. Todos ficaram muito contentes com a surpresa e bastante curiosos. A caixinha trazia tantos bichinhos da seda que decidimos dar alguns aos nossos amigos das outras salas (sala 4 e 5 anos, sala mista e ATL), para que eles também assistissem a essa transformação. Os bichinhos da seda, enquanto lagartas, comiam folhas de amoreira que eram colhidas, todos os dias, na nossa amoreira da escolinha (que sorte termos cá uma amoreira!). No princípio, os bichinhos passavam toda a noite sozinhos, na nossa sala. No entanto, estivemos a conversar e decidimos que, cada dia, se sorteava um menino que os levaria para sua casa. Assim, eles teriam companhia e podiam “jantar” e tomar o seu “pequeno almoço”. Acordámos também que, quem levasse os novos amiguinhos, teria de os tratar com muito cuidado e carinho, e não poderia deixar a caixa tapada, pois os bichinhos precisam de ar para respirar. Enfeitámos a casinha dos bichinhos da seda, para que esta ficasse bonita. Foi realizado o sorteio: todos estavam expectantes, pois queriam que saísse o seu nome. O Miguel Cavaco foi o primeiro sorteado, levando para sua casa os bichinhos da seda e trazendo-os no dia seguinte. A ele, seguiram-se todos os outros meninos, que, tal como o Mi, ficavam sempre com um grande sorriso na cara quando ouviam o seu nome. E levaram os bichinhos da seda com grande responsabilidade. Todos os dia os observamos e cantamos a sua canção, que nos fala do trabalho dos bichinhos e da sua transformação em borboletas. Os bichinhos da seda crescem muito depressa: quando cá chegaram eram muito pequeninos e, de dia para dia, foram ficando cada vez maiores (são muito comilões!). Um dia, deixaram de comer e começaram a trabalhar. O primeiro casulo foi tecido, no dia 16 de Maio, em casa da Joana. A este, seguiram-se outros e mais outros e a caixinha foi ficando povoada de pequenos casulos. Eram tantos que tivemos de colocar algumas lagartinhas noutra caixa (na caixa do bolo de aniversário da Patrícia). Foi muito engraçado vermos os fios de seda e observarmos os bichinhos a tecer os seus casulos. A nossa primeira borboleta (crisálida) nasceu no dia 22 de Maio na casa da Sofia. Nasceram mais duas em casa do Bernardo Torres e, quase todos os dias, borboletas novas apareciam. As primeiras começaram a pôr ovinhos. São milhões de ovinhos amarelinhos que estão nas nossas caixinhas. Para o próximo ano, vão nascer imensas lagartinhas. Vamos dando notícia!!!” Pela transcrição do jornal da escolinha Manuel

Violência familiar

O ESTADO TEM A OBRIGAÇÃO
DE ESTIMULAR
BOAS VONTADES
Na agenda do Presidente da República continua o tema da inclusão social. Na semana passada avançou com mais um roteiro, desta vez apostando no combate à violência familiar, que tantas vítimas tem feito. Muitas denunciadas pela comunicação social e outras tantas, ou mais, que permanecem ignoradas entre as quatro paredes, por medo ou vergonha. Mulheres, crianças e homens, sobretudo os mais idosos, sofrem as consequências de familiares sem sentimentos. Violência física e psicológica, cuja solução tem de passar pela intervenção de entidades, as mais diversas, estatais e outras, e de pessoas. Cavaco Silva vai visitar instituições que se têm distinguido no apoio às vítimas de violência familiar e que devem servir de estímulo às comunidades, para que possam assumir mais esta tarefa de apoio a quem sofre as consequências de comportamentos bárbaros de gente sem princípios ou doentes sem capacidade de autocontrolo. O Presidente da República, decerto assessorado por pessoas e entidades bem informadas sobre o assunto, não deixará de mobilizar vontades para que o problema da violência familiar seja encarado com mais entusiasmo. As vítimas precisam, de facto, de pessoas e de instituições que apostem em novas formas de resposta aos dramas sociais de que vamos tomando conhecimento. Falando apenas de mulheres, em 2005 morreram 50 por causa da violência sofrida em casa. Sei que há muitas IPSS e Misericórdias, a par de outras associações ligadas ao social, que vão avançando com respostas concretas a estes casos, dramáticos, da violência familiar, nomeadamente com apoios a mulheres e crianças. Mas muitas outras se ficam pelos tradicionais lares, creches, jardins-de-infância e ATL (o que já é muito bom), tornando-se urgente olhar para o lado, na tentativa de descobrir novas carências sociais. Ficar comodamente preocupados apenas com projectos delineados há anos é que não me parece correcto. Claro que, se é verdade que a iniciativa tem de pertencer às pessoas, comunidades e instituições, também é certo que o Estado tem a obrigação de estimular boas vontades e de apoiar quem quer trabalhar em prol de quem mais precisa, nesta linha da violência familiar, como noutras. F.M.