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terça-feira, 16 de maio de 2017

Fátima e Papa na imprensa internacional


«A profunda devoção mariana do papa Francisco encontra no contexto de Fátima um lugar «ideal» para manifestar-se com todo o seu vigor. Na cidade portuguesa, com efeito, onde o culto à Virgem é particularmente sentido, o amor por Maria, traço característico dos fiéis da América Latina, é o sinal forte de uma peregrinação que pretende lançar uma mensagem de paz num mundo atravessado por conflitos e tensões.
Do "Times" ao "New York Times", do "Guardian" ao "Los Angeles Times" emerge com evidência o significado de uma viagem que, recordando a dimensão mariana, reitera a urgência de abater os muros e superar as divisões.»

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sábado, 13 de maio de 2017

Papa Francisco: Não queiramos ser esperança abortada



Não é muito frequente estar com os olhos e o coração fixos no ecrã da televisão tanto tempo. Desta vez, pus de lado tudo para saborear a presença entre nós do Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para ser Bispo de Roma e, portanto, pastor universal dos católicos. 
Vi-o vestido de branco, sem adereços dourados, sorriso franco, postura afável, sensível a gestos de aproximação à sua passagem, beijando crianças e doentes, carinhoso nas atitudes, falando e ouvindo com naturalidade. Silencioso no momento próprio junto da imagem de Nossa Senhora… de pé, com centenas de milhares de peregrinos em silêncio absoluto também. Gesto raro em multidões ansiosas. Velas ao alto iluminam sentimentos porventura de vida nova para muitos. Há papas inspiradores como Francisco; há símbolos que estimulam corações adormecidos. E o Papa Francisco, 80 anos de vida cheia, retira-se para descanso. 
Disse o Papa Francisco em Fátima: «A Virgem Mãe não veio aqui, para que a víssemos; para isso, teremos a eternidade inteira, naturalmente, se formos para o Céu. Mas Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida sem Deus e profanando Deus nas suas criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre.» E noutra passagem da sua homilia da Eucaristia da canonização dos dois pastorinhos, Francisco e Jacinta, que sempre disseram terem visto e ouvido a Mãe de Deus, lembrou que «a vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida». «Não queiramos — adiantou o Papa — ser uma esperança abortada».
Citando João Paulo II, salientou: «Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.» 
Assisti, via televisão, quase a tudo. Em Fátima seria garantidamente diferente. 

Fernando Martins

Nota: Foto da Ecclesia

domingo, 30 de abril de 2017

Infernos não faltam


Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


Fátima dá uma imagem do catolicismo português que não corresponde à reforma desencadeada pelo Papa Francisco. Falta-lhe ser o centro da nossa evangelização.

1. Pesadelos do Inferno, evidências do Purgatório e tristezas do Limbo faziam parte da paisagem religiosa da minha infância. As Alminhas do Purgatório habitavam em dois nichos na minha aldeia. Suscitavam devoção e reciprocidade: “Vós, que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” As pessoas lembravam-se e, para tudo o que precisavam, a elas recorriam, sabendo que aliviavam as suas penas. Em favor delas não podiam fazer nada, mas, quando invocadas com promessas cumpridas, eram uma fonte de graças para todas as ocasiões. Não desempregavam Santo António ou S. Bento da Porta Aberta, mas estavam mais à mão. As esmolas que recolhiam serviam para mandar dizer missas pelas mais abandonadas.
Eram Alminhas pintadas. Um dos nichos ficou muito estragado e foi pedido a um habilidoso de muitas artes, que periodicamente passava por lá, para o repintar. Perguntou: querem ver as Alminhas a irem para o céu ou a continuarem no Purgatório? É claro, a irem para o céu. Veio um Inverno rigoroso e a pintura desapareceu. O pintor não aceitou a queixa acerca da má qualidade das tintas. Tinham ido todas para o céu.
O Inferno era outra história. Por tudo e por nada, uma mãe zangada com os filhos (ou até com o gado), juntamente com um palavrão, exclamava: metes-me a alma no Inferno! Não era grave. Grave, muito grave, eram os sermões de preparação para o “confesso”: quem não confessasse, com todas as circunstâncias, os pecados mortais e morresse nessa situação, ia direitinho para o Inferno. A alma caía num lago de fogo, atiçado por uma multidão de diabos feios e maus e nunca mais de lá saía. O relógio infernal repetia “sempre, nunca”: aqui entraste, aqui ficas e daqui nunca sairás!
O Inferno era eterno, mais eterno que o infinito amor de Deus que nada podia fazer contra essa Instituição. O diabo tinha vencido o Anjo da Guarda e o próprio Deus.
Para as pessoas de bom senso, não havia lenha para tanta eternidade nem alma que aguentasse tanto fogo! Um bom caminho para a descrença: um deus que fabrica tais enormidades é inacreditável.
O Limbo, nem triste nem alegre, para onde iam as crianças que morriam sem baptismo, era o além mais povoado, não passava de um eterno aborrecimento. Bento XVI encerrou-o sem protestos.

2. Voltei a ler as Memórias da Lúcia de Jesus. O que diz acerca do Inferno não excede o que também eu ouvi em criança: “Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros.” [1] Como sugestão para um filme de terror, não está nada mal. Diz a Lúcia que a Jacinta perguntava: “Porque é que Nossa Senhora não mostra o inferno aos pecadores? […] Às vezes perguntava ainda. Que pecados são os que essa gente faz para ir para o inferno? Não sei, talvez o pecado de não ir à Missa ao Domingo, de roubar, de dizer palavras feias, rogar pragas, jurar. E só assim por uma palavra vão para o inferno? Pois! É pecado. Que lhes custava estar calados e ir à Missa? Que pena que eu tenho dos pecadores, se eu pudesse mostrar-lhes o inferno!” [2]
Passando da Terceira para a Quarta memória, há revelações curiosas. “Então Nossa Senhora disse-nos: não tenhais medo, eu não vos faço mal. De onde é vossemecê? Sou do Céu. E que é que vossemecê me quer?, lhe perguntei. Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora, depois direi quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui uma sétima vez. E eu, também vou para o Céu? Sim, vais. E a Jacinta? Também. E o Francisco? Também, mas tem que rezar muitos terços.
“Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham morrido há pouco, eram minhas amigas e estavam em minha casa a aprender a tecedeiras com minha Irmã mais velha. A Maria das Neves já está no Céu? Sim, está. Parece-me que devia ter uns 16 anos. E a Amélia? Estará no Purgatório até ao fim do mundo. Parece-me que devia ter 18 a 20 anos. Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores? Sim, queremos. Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.” [3]

3. Nossa Senhora mostrou que era uma pessoa muito organizada e pouco supersticiosa com o dia 13. Estou um bocado desapontado com a pouca originalidade das suas revelações e pedidos. Por tudo o que li, parece-me que os Pastorinhos levaram para os locais do seu pastoreio o que rezavam em família, o que aprendiam no catecismo e nas pregações. Deviam ser crianças bastante impressionáveis. A revelação mais extraordinária é, também, a mais incrível: não bastando à Amélia ter sido violada, vir de Nossa Senhora a afirmação de que ficaria no Purgatório “até ao fim do mundo”, é de mais. Isso não se faz!
A edição crítica das Memórias de Lúcia de Jesus, as investigações históricas já realizadas e em curso, vão oferecer um panorama da vida e religiosidade da freguesia de Fátima que irão atenuando os delírios acerca destes fenómenos nomeados como aparições ou como visões.
O que mais falta não é só a revisão crítica da pastoral católica da época. Muitas das suas concepções alojaram-se na história de Fátima. Desamparada, em Portugal, de uma prática crítica de reflexão teológica até ao Vaticano II, e até muito depois, Fátima dá uma imagem do catolicismo português que não corresponde à reforma desencadeada pelo Papa Francisco.
Falta-lhe ser o centro da nossa evangelização, como veremos.

[1] Lúcia de Jesus, Memórias, Edição crítica de Cristina Sobral, Fátima 2016, pp.186-187.
[2] Ib., pp. 188-189.
[3] Ib., pp.230.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

A revolução de Francisco: irreversível?

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias


1 A propósito do meu livro sobre o Papa Francisco: Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo, que acaba de ser publicado, e a partir de debates provocados por ele, muitos me têm feito a pergunta em epígrafe: será a revolução de Francisco irreversível?

2 Antes de mais, em que consiste esta revolução? Diria que ela tem várias vertentes, distinguindo concretamente duas: uma mais imediatamente para dentro da Igreja e outra para fora, embora seja perfeitamente pertinente perguntar se ainda faz sentido este "dentro" e o "fora".

3 A revolução da Igreja dentro dela própria é, acima e antes de tudo, a conversão, isto é, tentar fazer que os católicos, a começar pelos cardeais, bispos, padres, se convertam ao Evangelho de Jesus. De facto, o fascínio deste Papa vem daí: do facto de ele se comportar como Jesus enquanto revelação do Deus que é Pai e Mãe e cujo nome é Misericórdia. Ele vive uma vida simples, humilde, abraça e beija as pessoas, manifesta-lhes afecto e ternura, a começar pelos mais pobres, frágeis, abandonados, humilhados e ofendidos... Por palavras e obras.
Sendo a Igreja uma imensa instituição, evidentemente que tem de haver uma revolução nas estruturas. Aí está a reforma da Cúria, tolerância zero para a pedofilia, transparência no Banco do Vaticano, onde são intoleráveis a presença de máfias, corrupção, desvios.
No plano do governo, impõe-se o respeito pelos direitos humanos também no seio da Igreja, concretamente, respeito pela liberdade de pensamento e expressão; Francisco não condenou teólogos. Não se pode continuar num centralismo romano, com o objectivo da romanização da Igreja. Francisco tem posto em marcha a sinodalidade, isto é, um processo que conduza a Igreja à participação de todos, incluindo leigos e leigas, em todos os níveis da vida eclesial: nas paróquias, nas dioceses, na Igreja universal. Se a Igreja "somos todos", como repete Francisco, o poder tem de ser participado por todos, sem esquecer os diferentes carismas. Por outro lado, se a Igreja é uma instituição global, não pode propugnar a uniformidade, tem de haver inculturação, isto é, há a necessidade de atender às várias culturas no modo de viver o Evangelho, nos diferentes planos: teológico, moral, pastoral, celebrativo-litúrgico, organizacional. Uma Igreja em rede, a cuja unidade na caridade preside o Papa.
Atenção especial vai merecer a necessidade de as comunidades poderem celebrar a Eucaristia. Aqui, é inevitável o fim da lei do celibato obrigatório, começando pela ordenação de homens casados. Esse processo está aliás a caminho. Numa entrevista recente a Die Zeit, Francisco declarou que a falta de vocações é "um problema enorme e como tal a Igreja tem de resolvê-lo". Mais recentemente, o cardeal Walter Kasper disse que é preciso agir: "A discussão é urgentíssima. O Papa pensa que esta discussão vale a pena; vê-a com bons olhos. Os episcopados podem aproximar-se do Papa e fazer-lhe a correspondente petição. O Papa responderá positivamente. Agora depende das conferências episcopais." E não pode haver discriminação para as mulheres; como disse o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, nada impede que o seu sucessor seja uma mulher.
Exigência maior é a continuação do impulso para o diálogo ecuménico entre as Igrejas cristãs e o diálogo inter-religioso. Mais um exemplo de Francisco: apesar dos ataques bárbaros e infames contra os cristãos coptas no Egipto, no Domingo de Ramos, ele segue para o Cairo nos dias 28 e 29 deste mês, acompanhado por Bartolomeu I, patriarca ortodoxo de Constantinopla, numa visita assente no "espírito de tolerância e diálogo", activando esse diálogo no encontro com o Papa dos coptas e com o grande imã da universidade islâmica do Cairo Al-Azhar. Francisco sabe que o número dos cristãos e dos muçulmanos juntos é superior a mais de metade da humanidade.

4 Muito recentemente, uma das pessoas em quem Francisco mais confia, o jesuíta Antonio Spadaro, lembrava que "o Papa Francisco é um grande líder, talvez o líder moral do mundo". É, de facto, um líder político-moral planetário - está em curso o estudo da possibilidade de uma visita a Moscovo e sobretudo a Pequim -, que tem uma palavra essencial a dizer em problemas decisivos de humanidade e para a humanidade: questões da paz (e aí estão as suas intervenções positivas na relação entre Israel e a Palestina, Cuba e os Estados Unidos, Colômbia, Venezuela; irá em breve ao Sudão do Sul, juntamente com o arcebispo anglicano de Cantuária...), questões de justiça social num mundo globalizado (o centro da economia tem de ser a pessoa humana e não o deus Dinheiro), questões de ecologia (a Laudato Sí fará história), questões de bioética também no que se refere a problemas novos colocados pela ciência e a tecnologia, por exemplo, pelas NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas e do cérebro em geral)...

5 A. Spadaro também lembrava que "há oposições que se tornam raivosas, dão-se conta de que Francisco está a falar a sério". Francisco também confessou ao padre Adolfo Nicolás, superior dos jesuítas até há pouco tempo: "Criticam-me porque não falo suficientemente como Pontífice e porque não actuo como um rei". Daí, a pergunta: que marca deixará o seu pontificado?
Penso que é praticamente impossível voltar atrás em relação concretamente ao estilo que imprimiu: a simplicidade, uma Igreja "em saída", participativa, sinodal, mais pastoral, centrada no Evangelho e não no Direito Canónico. Reverter o processo seria desastroso para a Igreja e para o mundo. De qualquer modo, Francisco também confessou a Adolfo Nicolás: "Peço ao Bom Deus que me leve quando as mudanças forem irreversíveis."

Anselmo Borges, 

sexta-feira, 10 de março de 2017

Francisco: um quase-testamento (2)

Crónica de Anselmo Borges 


1 - Para o Papa Francisco, a definição de Deus é misericórdia, mas sem uma concepção delicodoce, pois a misericórdia é exigente. Avisa que é preciso ser coerente; não se pode ter uma vida dupla: "Sou muito católico, vou sempre à missa, mas não pago o justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios... É daí que vem ouvirmos tantas vezes: "ser católico como aquele?, é melhor ser ateu"."
Na frente do seu combate está a idolatria do dinheiro, como aconteceu com Jesus: o dinheiro transformado em ídolo absoluto é incompatível com a fé no Deus da Vida: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Por isso, diz "não" a uma economia da exclusão e da iniquidade. "Essa economia mata"; vivemos "na ditadura de uma economia sem rosto e sem objectivos verdadeiramente humanos"; "a cultura do bem-estar anestesia--nos"; acusado de comunista, responde: "esta mensagem não é marxismo, mas Evangelho puro."

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Fátima dá para tudo (1)

Crónica de Frei Bento Domingues



«Não poderá a ancestral cultura do sofrimento 
ser iluminada pela alegria do Evangelho?»


1. Estou sempre a ser interrogado sobre as razões da vinda do Papa Francisco a Fátima.. A resposta também é sempre a mesma: não sei. A adivinhação nunca me fez companhia. De qualquer modo, dentro de poucos meses, já estaremos a interpretar as declarações do peregrino Bergoglio. Toda a gente tem, no entanto, direito a conjecturas, filhas de desejos e receios. Há quem diga que, em Portugal, os bispos e os padres não são conhecidos pelo seu entusiasmo com a linha reformista do Papa Francisco e que as dioceses e paróquias se ressentem muito desse minguado interesse. Além disso, consta que existem grupos organizados para resistir às novidades deste argentino.
Se assim for, não estaremos a ser muito originais. Ana Fonseca Pereira, no PÚBLICO da passada segunda-feira, deu uma boa amostra das manobras da oposição organizada ao Papa Francisco, ao mais alto nível, e robustecidas pela eleição de D. Trump. Nesse sentido, a peregrinação a Fátima — seguindo uma tradição que já vem de Paulo VI — teria uma significação de grande alcance. Fátima não é o melhor símbolo do esquerdismo católico, mas a multidão que se vai concentrar a 12 e 13 de Maio, em Fátima, apoiada pelos grandes meios de comunicação social, não vai mostrar apenas que Fátima continua a ser a maior peregrinação do Ocidente, com ecos em todos os continentes. Não poderá esse fenómeno religioso converter-se num dos grandes focos da nova evangelização e de uma Igreja de saída para todas as periferias existenciais?

sábado, 31 de dezembro de 2016

O segredo de Francisco: tempo para o ócio silente

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



Deixo aqui os meus melhores votos para o novo ano, desejando a todos saúde, paz, realizações felicitantes e também o que me parece de suprema urgência: ao longo do ano todo, algum tempo para o ócio silente.

Uma das características da nossa época, que causa estragos sem fim, é a agitação geral e frenética, consumista, que tudo devora. O nosso tempo não tem lugar para o ócio, aquele ócio de que fala a scholê grega. Vivemos, como dizia o grande bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, na "agitação paralisante e na paralisia agitante", isto é, não vivemos verdadeiramente. Porque o autenticamente humano está recalcado. Vivemos na dispersão agitada e agitante, sem encontro autêntico connosco e, portanto, também com os outros e com o essencial da vida. A net contribui frequentemente para fazer aumentar esta agitação alienada e alienante, e até estupidificante, pois todos podem agora, escondidos no anonimato cobarde, pronunciar-se sobre tudo, mesmo desconhecendo completamente as temáticas e as suas complexidades, ou, mediante manipulações algorítmicas a favor de interesses, enganar. Na presente agitação e atomização temporal, submersos pelo tsunami informativo e pela competição tóxica, é muito difícil erguer uma identidade pessoal integrada, íntegra e consistente. Também por isso, não vejo as pessoas mais felizes, pelo contrário, aumentam as depressões. Realmente, para se alcançar a felicidade, é essencial o apaziguamento e a serenidade interiores, o estar de bem consigo. Hoje são conhecidos, através da imagiologia cerebral, os efeitos benéficos da meditação no cérebro, concretamente sobre o stress e a ansiedade. Significativamente, o verbo mederi, com o radical "med-", que significa "pensar, medir, julgar, tratar um doente, curar", está na base etimológica de três palavras: meditação, moderação e medicina. O reconhecer-se, a presença de si a si mesmo não significam de modo nenhum narcisismo, pois, quando se pára, se pensa e reflecte, lá no mais profundo, encontramos o mistério da Fonte donde tudo provém e a que estamos religados, em interconexão com todos e com tudo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Ser atleta é correr para o «mistério»

Papa pede desporto para todos, 
apela ao fim da corrupção 
e diz que ser atleta é correr para o «mistério»


Na presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, Francisco realçou que «é importante que todos possam participar nas atividades deportivas». «Neste momento penso também em muitas crianças e jovens que vivem às margens da sociedade. Todos conhecemos o entusiasmo das crianças que jogam com uma bola furada ou feita de trapos nos subúrbios de algumas grandes cidades ou nas ruas das pequenas vilas.»
(...)
«Seria triste, para o desporto e para a humanidade, se as pessoas deixassem de confiar na verdade dos resultados desportivos, ou se o cinismo e o desencanto levassem a melhor sobre o entusiasmo e a participação alegre e desinteressada. No desporto, como na vida, é importante lutar pelo resultado, mas jogar bem e com lealdade é ainda mais importante»
Papa Francisco


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domingo, 2 de outubro de 2016

A verdadeira religião é crítica

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


 
1. Tinha recomendado a um amigo, enfastiado com as produções açucaradas de espiritualidade pós-moderna e com as passerelles de diálogo inter-religioso, o último livro de Anselmo Borges, o questionador das manifestações da religiosidade, da religião e das religiões[1]. É um agrupamento de textos essenciais acerca do essencial.
Avisei o potencial leitor de que não são as razões que encontramos para crer em Deus e as que temos para não crer que nos fazem crentes ou ateus. Virou-se para mim apreensivo: mas, então, em que ficamos?
Não podemos ficar. Os que repousam nas suas convicções continuam o mesmo sono dogmático. Os despertos são peregrinos. É normal que, na presente condição humana, precisem de “estações de serviço” para continuar a viagem. Mas quando se diz que o nosso coração não conhecerá quietude a não ser quando repousar no infinito, imagina-se, de forma ilusória, o infinito como termo de uma caminhada.

domingo, 24 de julho de 2016

Papa Francisco e os jovens em 10 frases


Espero que façam barulho
Não olhem a vida da varanda
Não beber a fé espremida
Não aos jovens de museu, sim aos jovens santos
Viver, em vez de ir vivendo
Sonhai grandes coisas
Aprendamos a chorar
Sede castos, sede castos
É preciso andar contracorrente
Quem não arrisca não caminha

Propomos uma recolha de dez frases, na expectativa de outras surpresas "fora do programa" que o papa Francisco poderá reservar nos dias da próxima Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, Polónia, durante os dois encontros no Parque Jordan de Blonia (a cerimónia de acolhimento dos jovens, na próxima quinta-feira, 28 de julho, e a via-sacra da sexta-feira seguinte) e no "Campus Misericordiae" (vigília de sábado) e a missa conclusiva, no domingo, dia 31. A puxar por Francisco, segundo as previsões oficiais, estarão entre um milhão e meio e dois milhões de jovens, de 187 países.

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sábado, 16 de julho de 2016

Dois Papas

Crónica de Anselmo Borges 


1. Há quem suspeite que o Papa emérito, Bento XVI, possa ser um dos centros de oposição ao Papa Francisco.
E apresentam razões para essa suspeita. Há quem pergunte porque é que continuou no Vaticano. Mais grave será, ainda no exercício das suas funções, ter feito arcebispo o seu secretário, Georg Gänswein, que nomeou, ao mesmo tempo, para Prefeito da Casa Pontifícia, garantindo assim que ficaria permanentemente informado do que faz o seu sucessor. Em 1972, ainda professor, escreveu um ensaio académico, manifestando abertura à admissão à Eucaristia dos divorciados recasados, no caso de a nova união ser sólida, haver obrigações morais para com os filhos, não subsistindo obrigações do mesmo tipo em relação ao primeiro casamento, "quando, portanto, por razões de natureza moral é inadmissível renunciar ao segundo casamento". Ora, este ensaio foi retirado das "Obras Completas" de Ratzinger, cuja edição está a cargo do cardeal G. Müller, um dos opositores a Francisco, concretamente nesta questão. E, recentemente, Gänswein veio dizer que Bento XVI não abandonou o ministério de Pedro, antes fez dele "um ministério expandido, com um membro activo e um membro contemplativo", numa "dimensão colegial e sinodal, quase um ministério em comum".

terça-feira, 17 de maio de 2016

Jubileu Diocesano da Pastoral Sócio Caritativa


«Na bula de Proclamação do Ano Santo da Misericórdia o Papa Francisco refere no número 14 que “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há-de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é connosco”.»

sábado, 30 de abril de 2016

Os doutores da letra

Crónica de Anselmo Borges 


«A família é o espaço fundamental 
para o amor, a alegria, a doação»

1. Sobre a verdade há duas perguntas: "O que é a verdade?" e "Quem é a verdade?" Pilatos perguntou a Jesus: "O que é a verdade?" Jesus não era filósofo no sentido estrito e, assim, não colocava o acento na pergunta: "O que é a verdade?", com todos os debates que implica. Jesus estava interessado na verdade que cada pessoa é e na sua felicidade e realização plena, respondendo de modo praxístico à pergunta: "Quem é a verdade?" A verdade é cada pessoa na sua dignidade. Jesus veio para que essa dignidade não seja espezinhada, mas exaltada e concretizada adequada e plenamente no reino de Deus, aquele reino do Deus que é amor e misericórdia, que criou não para a sua maior honra e glória, mas para que todas as pessoas se possam realizar em plenitude. Todas. Esse é o interesse de Deus. Essa é a verdade do Evangelho enquanto notícia boa e felicitante.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Frei Bento Domingues em Aveiro

CUFC | 4 de maio | 21 horas


A Exortação Apostólica “A Alegria do Amor” foi divulgada pelo Papa Francisco no dia 8 de Abril. Exigindo uma nova pastoral, o seu fio condutor é a misericórdia para ir ao encontro de todas as famílias. 
Aproveitando a estada em Aveiro de Frei Bento Domingues na primeira semana de maio, o CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) convida toda a comunidade académica e todos os interessados para participarem na reflexão que o frei Bento se disponibilizou a fazer sobre este novo documento do Papa. 
Será dia 4 de maio, uma quarta-feira, às 21h, no CUFC.

domingo, 13 de março de 2016

O gosto perverso de acusar

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

«Ainda persiste o gosto 
de novas formas de apedrejar 
"suspeitos" em praça pública


1. Bergoglio, desde que foi nomeado bispo de Buenos Aires, empenhou-se em transfigurar, a partir da sua prática, o imaginário religioso do confessionário. Viu que era preciso fazer dos lugares de tortura psicológica e moral espaços e tempos de festa, mediante a manifestação da misericórdia infinita de Deus no comportamento dos confessores.
O sacramento de reconciliação tem e teve muitos nomes, até o de "tribunal". Numa aula de teologia dos Sacramentos, um estudante, ao ouvir tal designação, exclamou: só podia ser um tribunal fascista! Para o Papa Francisco, o confessionário tornou-se um dos lugares da prática mais profunda da sua teologia da libertação e da sua actuação pastoral.
No passado dia 9 de Fevereiro, na celebração da Eucaristia, rodeado de franciscanos Capuchinhos, disse-lhes directamente: "a vossa tradição é a do perdão, oferecer o perdão". Só aquele que se sente pecador pode ser um grande perdoador no confessionário. Os que se julgam puros e mestres sabem apenas condenar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Papa Francisco no México

Papa elogia multiculturalismo, 
cita Nobel da Literatura 
e pede santuários de vidas refeitas

«A experiência demonstra-nos que quando se busca o caminho do privilégio ou do benefício para poucos em detrimento do bem de todos, mais cedo ou mais tarde, a vida em sociedade transforma-se num terreno fértil para a corrupção, o tráfico de drogas, a exclusão das culturas diferentes, a violência e até o tráfico humano, o sequestro e a morte, que causam sofrimento e travam o desenvolvimento», afirmou o Papa Francisco.
E acrescentou: «Não ponham a sua confiança nos "carros e cavalos" dos faraós atuais, porque a nossa força é a "coluna de fogo" que rompe, dividindo em dois as águas do mar, sem fazer grande rumor», apelou, antes de exortar o episcopado a não perder «tempo e energias nas coisas secundárias», como «intrigas», «murmurações e maledicências», abandonando «projetos vãos de carreira» e «planos vazios de hegemonia».

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domingo, 24 de janeiro de 2016

Os antibióticos do Papa

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

«Para certas gripes 
não bastam aspirinas e chá de tília»

1. Dizem-me que a Igreja Católica, em Portugal, está a cair de sono. Alguns acrescentam: pode dormir à vontade porque só quando Fátima entrar em crise é que será preciso algum cuidado. Ainda não chegamos aí.
Bocas são bocas e má-língua é má-língua. Para o confronto com a realidade, talvez fosse preferível promover algumas sondagens e iniciativas de jornalismo de investigação para responder às seguintes questões:
Como reagem, que dizem e fazem os católicos portugueses – sejam eles leigos, religiosos, padres e/ou bispos – perante as atitudes, as intervenções, os gestos e as declarações do Papa Francisco?
Qual a influência das suas orientações no modo de viver a fé cristã nas paróquias, nas dioceses, nos movimentos, nas congregações religiosas, nos colégios e na universidade católica?
Como é recebida na vida pessoal, familiar, profissional, na intervenção social e política o seu exemplo e as suas propostas?

sábado, 9 de janeiro de 2016

O futuro da Igreja. 1

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges
«Cardeais e bispos não são "príncipes" 
nem podem viver como "faraós"»

Papa Francisco

Estive com ele uma vez, em Paris, e impressionou-me muito a sua imensa cultura e simplicidade. Intelectual de enorme prestígio, ocupou a cátedra de História das Mentalidades Religiosas no Ocidente Moderno, no Collège de France. Autor de numerosas obras mundialmente conhecidas, Jean Delumeau acaba de publicar L"Avenir de Dieu (O Futuro de Deus), com o seu percurso de vida intelectual e espiritual ao longo de 60 anos. Católico de fé assumida, diz-se "humanista cristão" e interroga-se sobre as inquietações do presente e o futuro do cristianismo. Do alto da sabedoria e da autoridade dos seus 92 anos, propõe, já na conclusão, uma série de reformas urgentes para a Igreja, que, dada a sua importância, apresento hoje e no próximo Sábado.
Antes dessa conclusão, Jean Delumeau atravessa, em síntese, os grandes temas das suas investigações científicas, no quadro da história das mentalidades, como: o medo, o pecado e a culpabilização, a confissão, o perdão, o sentimento de segurança, o paraíso e as suas imagens, a Europa de hoje. E deixa pensamentos sábios, que obrigam a reflectir. Assim, no contexto da imagem terrífica de Deus, que tem de ser revista, escreve:

domingo, 27 de dezembro de 2015

Será a Bíblia blasfema?

Crónica de Frei Bento Domingues 

«O iaveísmo histórico veicula 
uma teologia nacionalista, 
por vezes, de uma extrema violência»

1. Quando se tenta explicar a violência das religiões ou contra as religiões resvala-se facilmente para a justificação do crime.
Nos últimos tempos, repetem-me: o Papa Francisco considera o terrorismo, em nome de Deus, como uma blasfémia, mas, nesse caso, o Antigo Testamento (AT) não é também ele blasfemo?
O exegeta, Armindo Vaz [1], referindo-se a Dt 20,10-18 [2], apresenta Moisés a falar a Israel deste modo:
“Quando te aproximares duma cidade para combater contra ela…, Iavé teu Deus a entregará nas tuas mãos e passarás a fio de espada todos os seus varões, as mulheres, as crianças, o gado; tudo o que houver na cidade, todos os seus despojos, o hás-de tomar como espólio…Quanto às cidades destes povos que Iavé teu Deus te dá em herança não deixarás nada com vida; consagrá-los-á ao extermínio: hititas, amorreus, cananeus, ferisitas, hivitas e jebuseus, como te mandou Iavé, teu Deus, para que não vos ensinem a imitar todas essas abominações que eles faziam em honra dos seus deuses: pecaríeis contra Iavé vosso Deus”.
As explicações históricas do autor são importantes, mas insuficientes.

domingo, 22 de novembro de 2015

Papa Francisco é uma «bússola» para o mundo

Papa Francisco é uma «bússola» para o mundo 
e o «encontro» é o maior desafio que lança à Igreja, 
diz Tolentino Mendonça



O padre José Tolentino Mendonça considera que «a palavra forte e firme do papa Francisco é verdadeiramente uma bússola» e o termo «"encontro", no seu dinamismo, representa talvez o maior desafio que faz à Igreja».
As declarações do vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa foram proferidas no programa "Il diario di Papa Francesco", que a televisão Tv2000, da Igreja católica em Itália, transmitiu esta quinta-feira.
Na emissão em direto, o anterior diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura foi convidado a eleger uma palavra das palavras que caracteriza o ensinamento de Francisco, tendo escolhido «encontro», substantivo que se lhe apresenta como um «programa».

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