sábado, 4 de fevereiro de 2023

A CRIAÇÃO, A RESSURREIÇÃO, O MAL E DEUS

Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Passados dez anos sobre um aviso —  na prática, para a opinião pública, a condenação de Andrés Torres Queiruga, pelo episcopado espanhol —, vem ele, numa entrevista à Vida Nueva, esclarecer que a sua teologia quis ser sempre "um serviço livre ao Evangelho" e que, com o Papa Francisco, aparece, felizmente, cada vez mais como "legítima uma crítica sã e livre na Igreja".
Retomo o que então escrevi sobre quem considero — e não sou o único — um dos maiores teólogos católicos vivos. Para mim, A. Torres Queiruga foi e é o teólogo que, de modo mais profundo e conseguido, enfrentou o cristianismo com a modernidade e a modernidade com os cristianismo. Deixo aqui três aspectos que considero nucleares do seu pensamento.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

LUÍS MOITA NO LADO CERTO DA HISTÓRIA

“Luís Moita continuará bem vivo na memória dos que com ele aprenderam a estar no lado certo da história: na luta pela paz, a descolonização, a democracia mais avançada possível, a espiritualidade viva. Antes e depois do 25 de Abril, uma referência cívica e moral de várias gerações"

Li aqui e aqui 

NOTA: Sinto-me solidário com o que tem sido escrito e dito sobre Luís Moita, um lutador incansável pela democracia e pelos direitos humanos, enquanto sacerdote e depois de assumir o papel de leigo na vida académica, social e cultural do nosso país. 

PAPA FRANCISCO E AS MÃOS

Papa Francisco 
na República Democrática do Congo

“Agora quero pedir-vos para durante alguns momentos olhardes, não para mim, mas concretamente para as vossas mãos: abri as palmas das mãos e fixai nelas os olhos. Amigos, Deus colocou nas vossas mãos o dom da vida, o futuro da sociedade e deste grande país”

“Para que servem estas minhas mãos? Para construir ou destruir, dar ou reter, amar ou odiar? Vê! Podes apertar a mão e fechá-la, torna-se um punho; ou podes abri-la e colocá-la à disposição de Deus e dos outros. Aqui está a opção fundamental, desde os tempos antigos.”

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

CONÍMBRIGA - UM SONHO DE NOVA VISITA


Passei há anos por Conímbriga e gostei muito do que vi. O cicerone foi rápido e claro. Com papelada na mão, tive acesso a vestígios palpáveis de uma civilização que deixou marcas indeléveis. Nesse tempo, já gostava de tirar fotografias que hoje volto a partilhar. E se Deus quiser, talvez lá possa ir num dia de sorte.

PELO TOURO OU PELO TOUREIRO?

A primeira vez que fui ao Brasil, perguntei por que não havia touradas, uma excepção em quase toda a América Latina onde elas despertam interesse e aficion. Um amigo explicou-me:
A coisa tentou-se, mas o negócio não deu, não. Em 1950, quando Mendes de Morais foi prefeito do Rio, mandou construir uma praça de touros ao lado do Maracanhã. Encomendou touros e toureiros no México e para promover melhor as corridas deixou que a entrada fosse gratuita. Aquilo ficou cheio mas teve que acabar. Não é que o povo torcia pelo touro? Era. Aplaudia o touro e assobiava o toureiro. Aí os toureiros se desmoralizaram muito e a coisa não tinha condições.
Creio que o Brasil corresponde àquela parte de mim que também torce pelo touro, que homenageia a sua fúria solitária, a sua coragem desacompanhada, contra o jogo, a astúcia e as vantagens dos homens.

António Alçada Baptista

In A PESCA À LINHA - ALGUMAS MEMÓRIAS

NOTA: Hão de estranhar os meus amigos esta história do escritor Alçada Baptista, falecido 7 de dezembro de 2008. Eu explico: quando hoje alinhava alguns livros numa estante veio às minhas mãos um livro deste escritor que muito apreciei e ainda aprecio. E daí as histórias que partilhava com os seus leitores. Ao publicar a história do touro e do toureiro no Brasil, celebro a sua memória.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

AS FAFEIRAS

Gaspar Albino
«Desarreigadas da sua terra, das suas famílias, as fafeiras constituíam o grosso do pessoal que nelas trabalhava.
Na seca de Lavadores, na Barra [Gafanha da Nazaré], até dispunham dum dormitório. Mas a maior parte das moças que trabalhava nas secas da Cale da Vila vivia em grupos, em acomodações disseminadas pelo povoado, paredes meias com as famílias locais e com estas muito intimamente ligadas.
A forma como se instalavam e viviam na / 19 / Gafanha, longe da sua terra, fazia com que se estabelecesse uma relação muito forte com a encarregada da sua seca.
É que, pelas décadas de 50 e de 60, também neste sector, havia uma grande fidelidade à empresa de pesca em que cada grupo trabalhava. Um grupo de jovens mulheres, quase todas solteiras e casadoiras, que se comportava de forma coesa, como se de uma irmandade se tratasse, e aceitando, de forma natural, a liderança de uma colega mais experimentada nestas andanças do trabalho nas secas.
Era com esta chefe pacificamente aceite que a encarregada tudo tratava.»

Gaspar Albino

NOTA: Esta é uma boa oportunidade para recordar um generoso  amigo que muito estimava pela sua delicadeza, mas também  pelas artes que cultivava com esmero. 

O TEMPORAL ENCOMENDADO

A história que levou à construção
da nossa atual Av. José Estêvão


«O visconde da Luz veio certificar-se por seus próprios olhos das razões que militariam a favor da construção ou da sua desnecessidade, apregoada em alta grita pelos foliculários locais que se opunham a José Estêvão.
Joaquim de Melo Freitas relata o episódio que convincentemente determinaria as conclusões do ilustre visitante, com o bom humor e a elegância que lhe eram habituais:
Embarcaram no cais, e fizeram-se ao largo. Neste instante o vento desencadeia-se, as marés agitam-se em balanços desesperados; o barco dançava sobre a espuma da ria, e o mastro, curvado pelo vendavaI, gemia e estalava com o impulso cego das lufadas. A chuva desatou-se por fim em torrentes, e não tardou uma trovoada medonha.
O visconde da Luz ordenou imediatamente aos barqueiros que voltassem para traz porque não gostava da chuva nem do temporal. José Estêvão, a cada relâmpago que alumiava o céu, brusco e temeroso, esfregava as mãos de contente e dizia com esplêndida alegria:
— Encomendei-o de propósito; eu desejava que você se convencesse de que a estrada era precisa e até urgente... Desminta-me agora se é capaz!
A encomenda era o temporal.
Dentro em pouco — prosseguia — procedia-se à construção da estrada, da estrada que chegou a registar, há meses, em vinte e quatro horas, num domingo de verão de 1965, um movimento de cerca de seis mil veículos automóveis.»

Eduardo Cerqueira,

em “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2,  1966