quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Por terras de Miguel Torga






(Ler o poema a seguir)

A UM NEGRILHO

Na terra onde nasci há um só poeta
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Miguel Torga

Andei hoje por terras de Miguel Torga, o poeta, diarista, contista, novelista e romancista que ocupa lugar de destaque na minha biblioteca. Fui com familiares que me levaram nas asas do sonho a calcorrear montes agrestes de São Martinho de Anta, nas terras transmontanas, em busca de marcas que o escritor nos legou. Com ele nos cruzámos e aqui partilho o que revivi em pensamento.

O Pe. José Manuel já partiu para o Pai

Faleceu ontem,  18 de agosto, na Unidade de Cuidados Paliativos de Salreu, o Pe. José Manuel. Tinha 74 anos. Nascido em Beduído, Estarreja, a 30 de junho de 1946, entrou para o Seminário de Santa Joana em 1957 onde se manteve até 1967. 
De 1967 a 1968 frequentou o Seminário dos Olivais em Lisboa; de 1968 a 1969, o Instituto Superior de Estudos Eclesiásticos e, entre os anos 1975 e 1981, o Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, no Porto. 
O Pe. José Manuel foi ordenado presbítero por D. Manuel de Almeida Trindade a 18 de julho de 1982, na igreja paroquial de Beduído – Estarreja. 
O Pe. José Manuel desempenhou ao longo da sua vida diversas tarefas eclesiais com dedicação e sentido pastoral, seguindo uma postura serena e responsável. Cultivava um estilo próprio que o levava a preparar-se, cuidadosamente, para intervir no âmbito da sua missão, enquanto sacerdote e cidadão. 
Amanhã, quinta-feira,  D. António Moiteiro celebra missa de corpo presente pelas 14h30 em Fermentelos. Pelas 17h00 terá lugar missa em Beduído, terra natal do Pe. José Manuel, onde irá depois a sepultar. 
Que Deus o acolha no seu regaço maternal.

FÉRIAS: Ver o mar sempre a mudar



"As férias são um tempo propício para exercitar o olhar: sobre uma praia ter os olhos abertos para o céu; deter-se a ver o mar que está sempre a mudar de cor e de forma; ver como uma formiga transporta uma migalha de pão; observar como é feita uma flor…"

Enzo Bianchi

Ler mais aqui 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

RETALHOS: O pobre e o rico

"O que distingue um pobre de um rico não é a quantidade de horas que trabalha: é ter de trabalhar para viver. O rico só trabalha porque quer. Está a fazer uma vontade a si próprio — foi para ali que lhe deu."

Miguel Esteves Cardoso, 

Mulheres da ria



Fonte: Livro "AVEIRO - Imagens de um século", do espólio de coisas de Aveiro deixado por João Sarabando.  Edição de Campo de Letras, Junho de 1997.

MULHERES DA RIA: Os da beira-ria sabem, como eu sei, que as mulheres da região trabalhavam na agricultura e noutras tarefas domésticas, mas ainda na ria, quer na apanha do moliço, arrolado e no sal. Ao lado dos homens e sós. Raul Brandão, que andou por aqui, fala disso e da capacidade que elas tinham para governar a casa. Contudo, não se tem falado muito dessa realidade. Eram corajosas, determinadas e responsáveis. Pessoalmente, conheci muitas com aquelas capacidades. Quando os maridos emigravam ou se tornavam marítimos, as mulheres da região assumiam todas as funções de governo e dos trabalhos da casa.

É o tempo que temos

Praia do Farol (foto do meu arquivo)

Acordei hoje com o tempo chuvoso e algum frio a compor o ramalhete de um Agosto nada gostoso. É o tempo que temos neste Verão de confinamentos e ameaças à nossa ânsia de viver. Um amigo disse-me há dias, quando saudei, ao que julgo, as férias a que tínhamos direito na época estival, que, quanto a estações do ano, por cá, apenas temos duas: O Inverno e a da CP, em Aveiro. Realmente, é o que estamos a sentir. É claro que nós ainda temos capacidades para aproveitar uns dias de sol, de vez em quando, levando os outros dias a pensar na forma de lhes dar a volta. Cá por mim, refugiado nos meus cantos e recantos, fico na expetativa de ver o sol a brilhar, aproveitando-o ao máximo para retemperar o ânimo. Venha ele que eu cá estarei para o saudar, se Deus quiser.

AVEIRO: Rotunda do Marnoto

 

Quem sai da Gafanha da Nazaré, tendo por destino a cidade de Aveiro, não pode deixar de contemplar a rotunda dedicada ao Marnoto, figura ímpar da paisagem lagunar. Era ele quem superintendia no amanho da salina ou marinha de sal, contratando, para isso, os moços, na abertura da Feira de Março. O marnoto chegava, olhava quem andava por ali à espera de ser contratado para a safra, apreciava a eventual capacidade física dos candidatos e com um aperto de mão selavam o acordo. Outros tempos. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

São Salvador: 110 anos de actuação


«Junta de Freguesia de São Salvador, em Ílhavo, lançou-se, no ano passado, num projecto de recuperação, conservação e organização do seu arquivo e de outra documentação que se encontra na sua posse, dos finais do século XIX até à actualidade. O projecto, que teve o seu início em Maio de 2019 e foi recentemente apresentado, tem como objectivo colocar ao serviço da comunidade um conjunto de fontes históricas que “de outro modo permaneciam desconhecidas ou perdidas definitivamente”. O Diário de Aveiro falou com Hugo Calão, que está à frente do projecto, e que deu conta de que há muito trabalho por fazer nesta área no distrito.

Diário de Aveiro: Como surgiu a ideia de recuperação, conservação e organização do arquivo e outra documentação da Junta de Freguesia?

Hugo Calão: A ideia surgiu da preocupação da Junta de Freguesia de Ílhavo, e do seu presidente, João Campolargo, em estabelecer um projecto de organização arquivística com o propósito de conhecer e salvaguardar o espólio documental, uma preocupação de longa data. O seu principal objectivo seria colocar ao serviço da comunidade, científica e cultural, actual e vindoura, as fontes históricas da sua actuação na freguesia que, de outro modo, ficariam desconhecidas ou possivelmente perdidas definitivamente.»

Nota: Texto e foto do Diário de Aveiro online. 

Ler  no Diário de Aveiro em papel 

Um profeta do contágio - David Quammen

Carlos Fiolhais recomenda


«Como é que Quammen previu, no seu livro de há oito anos, a actual pandemia? No seu website diz com alguma modéstia que não foi ele, mas sim os especialistas com quem falou. Tem razão. Mas o seu mérito foi ter estado com as pessoas certas nos lugares certos. Sim, a probabilidade era grande de haver uma nova pandemia causada por um vírus passado de animais para humanos, uma mensagem, bem clara no livro, que o autor resume no seu site do seguinte modo: “Sim, haverá uma Próxima Grande Pandemia. Será causada por um vírus. Esse vírus será novo para os seres humanos, saindo de um animal selvagem. Que tipo de animal? Muito possivelmente um morcego. Que tipo de vírus? Muito possivelmente, um vírus influenza ou um coronavírus. Sob que circunstâncias o vírus entraria nos seres humanos? Alguma situação de contacto próximo e desastroso entre humanos e animais selvagens - como no interior ou perto de um mercado de animais vivos na China, por exemplo.”»

Ler o texto de Carlos Fiolhais (Físico) aqui  ou aqui 

Morreu o nosso “Mascarilha”



Talvez por distração, um dos nossos gatos, o “Mascarilha”, morreu atropelado numa das ruas da Gafanha da Nazaré. Talvez por distração, porque era um gato vadio, daqueles que dificilmente dão a mão porque preferem andar de um lado para o outro, sem lei nem roque. Mas o “Mascarilha”, assim batizado pela nossa filha Aidinha, por ter os olhos rodeados de sombras, tipo máscara, talvez próprio da raça, já estava um pouco familiarizado com a Lita, que diariamente lhe dava comida sadia e água límpida. Gostava de dormir a sua soneca num recanto qualquer, dentro de casa ou arredores, brincava que se fartava e trepava as árvores com uma velocidade estonteante. Mas era um animal muito sensível, pois vomitava quando comia o que não devia. 
No fundo, apesar de vadio, o “Mascarilha” criou raízes por aqui e todos gostávamos de o ver, de lhe dirigir piadas, de o estimular a viver em sociedade, convivendo com os demais. Porém, às vezes irritava-se com algum gato de quem não simpatizava. Depois de andar por aí, regressava ao seu poiso habitual. Mas há dias não veio e a Lita bem o procurou e chamou, correu arredores e buscou em zonas menos acessíveis... e nada. E garantiu com o dom de quem conhece hábitos e manias dos gatos que acolhe:
— O “Mascarilha” desapareceu... se calhar morreu ou roubaram-no, por ser bonito e ter bom porte. 
Não acreditámos e até dissemos que o gato devia aparecer mais dia menos dia. Mas nada. 
Vai daí, a Lita foi à cata dele pela vizinhança e acabou por ficar a saber que um gatinho tinha sido atropelado não muito longe da nossa residência. 
— Seria ele?...
A vizinha já o tinha enterrado no seu quintal, convencida como estava de que era um puro vadio. 
A Lita quis identificar o gato enterrado  com os seus próprios olhos. Os vizinhos e amigos, percebendo o seu desgosto, resolveram desenterrar o gato. Era, realmente, o “Mascarilha”. Entregaram-lhe o seu cadáver para ser sepultado no “cemitério” de animais que temos no nosso quintal. A Lita ficou mais tranquila, mas muito dorida. E  já se virou para os demais gatos que vivem por aqui. Mas o “Mascarilha” não sairá da sua e nossa memória tão cedo. 

Fernando Martins