sábado, 8 de agosto de 2020

BENTO XVI. UMA VIDA. 1

Crónica de Anselmo Borges 




Encontrei uma vez em Roma Bento XVI, ainda não era Papa. A impressão com que fiquei: um homem afável e tímido. No encontro rápido, falou-me da importância decisiva da pastoral da inteligência. 
Nos últimos dois meses, foi para mim um prazer intelectual imenso poder ler a sua biografia — são 1150 páginas —, escrita por Peter Seewald: Benedikt XVI. Ein Leben (Bento XVI. Uma vida). Pude acompanhar 90 anos de história, a brutalidade esmagadora da Segunda Guerra Mundial, os filósofos e teólogos que também estudei, a reconstrução da Alemanha e da Europa, os debates teológicos que levaram ao Concílio Vaticano II, a primavera do Concílio e o inverno que se seguiu, Maio de 68, o cardeal Ratzinger como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, Bento XVI como Papa e a sua renúncia, o Papa Francisco... Em três crónicas simples — previno que a obra não é fácil —, tentarei apresentar rapidamente alguns flashes desta biografia. 
Uma família modesta: o pai era polícia e a mãe cozinheira. Três filhos: Maria, nascida em 1921, Georg, em 1924, Joseph em 1927, às 4.15 de Sábado Santo. No mesmo dia, às 8.30 já estava na igreja para ser baptizado com a nova água pascal, acabada de benzer, e ao som do canto do Glória: “Cristo ressuscitou”.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Hoje recordámos o passado a pensar no futuro



Hoje foi  dia de recordar  o passado a pensar no futuro, com os pés bem assentes no chão que habitamos. O passado foi e continua a ser a mola-real da caminhada a prosseguir até se atingir a meta que nunca saberemos onde está. Caminhada que começou no dia 7 de Agosto de 1965, na igreja do Bunheiro. Dia cheio de projetos, sonhos e alegrias, nunca de medos ou dúvidas. Eu e a Lita demo-nos com amor para ambos nos projetarmos no futuro através dos filhos. No ano seguinte veio o primeiro e depois mais três. A seguir, mais tarde, três netos. Todos garantem a nossa eternidade no mundo. 
Hoje, portanto, completámos 55 anos de casados com as bênçãos de Deus, que pedimos e aceitámos como crentes que somos. E durante este tempo, com imensas alegrias, paixões, trabalhos e canseiras, as nossas vidas foram pautadas pelo seguimento do bom senso e bom gosto, procurando lutar em união para vencer dificuldades, incompreensões e tristezas que só o amor venceu, enchendo a nossa existência de felicidade partilhada com os que nos cercam. 
Pelo caminho, muitos dos que amámos e nos amaram partiram para o Senhor do universo, não sem antes nos legarem valores que enformaram as nossas maneiras de ser e de estar na vida. Valores marcados pela procura da paz, da verdade, da ternura, da partilha, da justiça,  da fraternidade, da solidariedade e do amor. 
Vivemos este dia na esperança de que ainda haverá muito por fazer, se Deus quiser. Foi um dia para nós com o pensamento nos que amamos, dando-nos um ao outro, e ambos aos outros, sem limites e com otimismo. Cada um com o seu estilo e com a sua sensibilidade. O pessimismo não pode ter lugar nos nossos corações. A vida tem de prosseguir. Continuaremos a sonhar e a acreditar no futuro. Lá no fim, estará Deus de braços abertos para nos acolher no seu regaço maternal. Assim desejamos. 

Lita e Fernando

O SAL DA LÍNGUA

 Um poema de Eugénio de Andrade


O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

In "O Sal da Língua"

NÃO TEMAIS. SOU EU. TENDE CONFIANÇA

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIX do Tempo Comum 



Exortação revigorante dirigida a pessoas amedrontadas. Exortação firme e determinada, num contexto de perigo iminente. Exortação clarificadora de fantasmas possíveis e identificadora de rostos perdidos na noite. 
A cena ocorre no mar de Tiberíades. Os intervenientes principais são Jesus de Nazaré e os discípulos que se deslocam numa barca e já estão longe da terra. A ocasião surge no percurso da travessia. A circunstância é a da tempestade ameaçadora. E os gestos e as palavras que se percebem são de gritaria e de pânico. E não era para menos! Mt 14, 22-33. 
“Esta narração do Evangelho, adianta o Papa Francisco, contém um simbolismo rico e faz-nos reflectir sobre a nossa fé… A invocação de Pedro, «Senhor manda-me ir ter contigo!», e o seu grito, «salva-me, Senhor» assemelham-se ao nosso desejo de sentir a proximidade do Senhor, mas também o medo e a angústia que acompanham os momentos difíceis da nossa vida e das nossas comunidades, marcadas por fragilidades internas e dificuldades externas”. 
Ter medo é humano. Demonstra-o a reacção dos discípulos que fica como metáfora plástica de tantas outras situações em que a vida ou algum bem apreciável está em perigo. Sirva de ilustração a precariedade laboral e o risco de desemprego, a incerteza face ao futuro, as catástrofes naturais, a doença prolongada e a aproximação da morte, o abandono e a solidão, a perda de sentido para a vida, o silêncio aparente de Deus, o fracasso final da existência. Há razões sérias para fazer experiências de medo. Importa assumir o facto e saber tirar os possíveis ensinamentos. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Assim vai o mundo do futebol

Tenho de confessar que há muito resolvi pôr de lado as questões futebolísticas que geram paixões incontroladas e movimentam escandalosas fortunas. Os clubes, pelas mãos e carteiras dos seus dirigentes, passam a vida a anunciar dificuldades, mas de repente o dinheiro surge sempre misteriosamente, com bancos a suportar tudo e a perdoar, segundo se diz, sem grandes explicações. 
Vejam só quanto vem ganhar um conhecido treinador e quanto vai o clube que o contratou pôr à sua disposição para negociar jogadores que garantam o sucesso. Se duvidam deste meu desabafo, leiam aqui.

SABER APRENDER – A estar de férias

Reflexão de Miguel Oliveira Panão


Há quem vá de férias para descansar de um período de trabalho, mas já me partilharam que foram trabalhar para descansar das férias. Onde está o equilíbrio? 

O equilíbrio talvez esteja no modo de viver os períodos de férias. Quantos não começam a pintar, sem serem pintores; escrever, sem serem escritores; cozinhar, sem serem chefs; a fazer desporto, sem serem desportistas; e tudo dá trabalho, mas não cansa. 
O lazer que dá trabalho possui elementos de frescura, novidade, estranheza, na linha de um conjunto de actividades criativas e acessíveis a todas as pessoas. E a experiência pode ensinar-nos muito a não marcar tanto a linha que divide o lazer do trabalho, de tal modo que os processos de aprendizagem em âmbito de lazer possam servir para encarar o próximo período de trabalho após as férias com um novo olhar.

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Foto da Ecclesia 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

GAFANHA: região rica?

Da torre da igreja matriz da Gafanha da Nazaré  para norte

Em 1934, Rocha Madail afirma:

Ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que liberalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro e a horta dos concelhos de Aveiro, Ílhavo, e ainda da maior parte de Vagos.

In "Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança"