domingo, 19 de abril de 2020

ANTROPOLOGIA DA ESPERANÇA ACTIVA

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

Frei Bento Domingues
«O ser humano é estruturalmente desejo. A antropologia, antes de o tentar explicar, deve saber reconhecê-lo.»

1. De uma descendência de animais, hoje desaparecidos, na qual se incluíam geleias marinhas, vermes rastejantes, peixes viscosos, mamíferos peludos, este neto de peixe, este sobrinho-neto de lesma, tem direito a um certo orgulho de alguém bem sucedido. De uma certa descendência animal, que em nada parecia votada a um tal destino, saiu o animal extravagante que viria a inventar o cálculo integral e a sonhar com a justiça [1].
A este delicioso texto do biólogo Jean Rostand (1877-1977) junto outro mais recente – situado em plena crise provocada pela covid-19 – e um pouco menos eufórico de Arlindo Oliveira, professor do IST:
“A espécie humana tem, do seu lado, uma capacidade única para perceber os mecanismos usados pelas outras espécies. É essa capacidade, a inteligência, que nos distingue dos outros animais e dos outros organismos. É essa capacidade que nos permitirá ultrapassar, sem danos significativos para a civilização, mais esta batalha pela sobrevivência. Que não será a última, nem a mais severa. Outros vírus, outras bactérias e outras doenças, potencialmente mais letais, continuarão a ameaçar a nossa sobrevivência como indivíduos e, no caso mais dramático, como espécie. Mas a inteligência humana coloca do nosso lado um arsenal de capacidade inigualável, que permitirá combater qualquer ameaça desta natureza.

O CONTÁGIO DA ESPERANÇA

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias 

Anselmo Borges
1. Naquele fim de tarde escuro do passado dia 27 de Março, quando a chuva começava a cair, o Papa Francisco, sozinho, concentrado, em passos lentos, quase alquebrado como se transportasse aos ombros a cruz da Humanidade toda, atravessou, em silêncio, uma Praça de São Pedro deserta e subiu os degraus para uma plataforma fragilmente iluminada e rezou, sozinho. Uma imagem que fica na memória de todos quantos assistiram àquela caminhada lenta, uma das imagens marcantes desta catástrofe. A apontar para a solidariedade mundial de todos e para a esperança. E disse: “Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair da noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem; pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos.” Aludindo à imagem do Evangelho, acrescentou: “Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda”. Constatando que “nos demos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários”, continuou, sublinhando o que desde a deflagração da pandemia tem sido uma constante sua: “Somos todos chamados a remar juntos, todos carecidos de encorajamento mútuo.” “Estamos juntos neste barco”, ninguém poderá vencer a tempestade sozinho, “só conseguiremos todos juntos”. E incutiu esperança e abençoou o mundo: “Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus.” 

sábado, 18 de abril de 2020

MONUMENTOS E SÍTIOS HISTÓRICOS

Farol da Barra de Aveiro
Forte da Barra 
Celebra-se hoje, 18 de Abril, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios Históricos, com o objetivo de alertar as pessoas para a importância dos mesmos, a partir da história que lhes deu e continua a dar vida. É que, como é normal, nem sempre valorizamos os monumentos e os sítios que existem desde há muito, por tão preocupados andarmos com as nossas tarefas quotidianas. No caso concreto da nossa terra, sabemos da existência do nosso Farol e do nosso Forte da Barra, mas passamos ao largo sem ao menos os fixarmos com atenção. E muito menos pensamos na sua divulgação por diversas formas. 
Penso que este Dia Internacional dos Monumentos e Sítios nos deve sensibilizar para a importância da sua conservação e embelezamento circundante, mas também para a necessidade da sua divulgação, pois tudo isso contribuirá para a valorização. 

sexta-feira, 17 de abril de 2020

CARAVELA VERA CRUZ NA GAFANHA DA NAZARÉ


O confinamento dá nisto: Perdemos os habituais horizontes, dando-nos a sensação de nos sentirmos isolados neste mundo que nos tem dado tantos anos de sonhos, alegrias e ânsias de viajar. Não podendo fazê-lo, limitamo-nos aos desejos de dar umas voltas. Quando pudermos...
Viajar é o sonho de muitos de nós, ou não fosse isso uma forma de nos sentirmos parte integrante do universo. Mas deixemos por ora estas minhas deambulações de uma pessoas confinada às paredes de sua casa e aos muros do seu quintal. 
Hoje, ao tentar pôr em ordem o meu principal computador, que me tem incomodado com avaria que me dá cabo da cabeça, já que de informática não percebo nada, encontrei esta foto da caravela Vera Cruz que fez escala na ria de Aveiro a convite da CIRA, em 2009, para formação das crianças das nossas escolas. Recordo que foram lições vivas direcionadas para as viagens oceânicas dos portugueses de há séculos. E aqui fica a Caravela que ainda deve permanecer na memória dos alunos e professores que a visitaram.

F. M. 

JESUS ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Divina Misericórdia

Jesus ressuscitado realiza várias iniciativas para desvendar aos discípulos, e por eles, a toda a humanidade, a novidade do seu ser e do seu agir: Encontros pessoais e comunitários, marchas e refeições, diálogos e provações. Presenças surpreendentes, ausências súbitas e apresentação das cicatrizes da paixão. Hoje, o relato do Evangelho oferece-nos uma “amostra” de algumas destas iniciativas que realçam a sua divina misericórdia. (Jo 20, 19-31).
A desolação dos discípulos contrasta fortemente com a coragem de Jesus ressuscitado. Eles, amedrontados, estão refugiados em casa trancada, a temerem o que lhes podia acontecer na sequência da condenação do seu Mestre. Este, destemido, apresenta-se no meio deles, sereno e ousado, e saúda-os amigavelmente, desejando-lhes a paz. O contraste não pode ser mais radical e provocador. A atitude de Jesus surpreende-os completamente e deixa-os expectantes. Eles ainda não o haviam reconhecido. Que carga de medo inibidor! Que urgência da “purificação” do coração e da mente para iniciar o caminho da fé no ressuscitado! Que importância atribuída à jovem comunidade reunida em assembleia neste “arranque” decisivo!
“Normalmente vemos e cremos. Esse é o nosso processo de encontro com a realidade, afirma o Cardeal Tolentino de Mendonça no comentário a este Evangelho. O Ressuscitado, inaugura uma nova metodologia. Devemos crer para poder ver. Devemos não tocar para poder tocar. Devemos aceitar o silêncio e a distância para viver de verdade a nova relação que nos traz a Páscoa”.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

A CHUVA E O FRIO


Eu aceito a chuva como fundamental à vida. Sem ela, os campos ficariam tristes, desolados, ressequidos, estéreis. Chuva, sim, com conta peso e medida, nas épocas próprias, um pouco, se fosse possível, ao jeito do velho ditado que diz “Sol na eira e chuva no nabal”. Mas do frio tenho um medo que me pelo. Com ele, sofro imenso e fico sem saber que pensar e dizer. 
Hoje, chuva agora e logo um ar do rei sol, lembrei-me dos tempos em que, de bicicleta ou motorizada, normalmente de regresso a casa, apanhava molhas de tal monta que só com a ajuda da minha saudosa mãe conseguia livrar-me da roupa encharcada. A velha estrada de Aveiro à Gafanha da Nazaré era desabrigada e não havia qualquer hipótese de escapar da chuva, muitas vezes tocada por ventos fortes próprios do inverno. Só por sorte conseguíamos um deficiente abrigo encostados aos palheiros das marinhas. E mesmo entre a Cale da Vila e a Cambeia, lugar onde morava, não havia forma de sair ileso. Hoje, seria quase impensável. Muitos alunos, presentemente, podem contar com o apoio dos pais, sobretudo dos que possuem carro próprio. 

F. M. 

GAFANHA DA NAZARÉ NA CAPA DO CORREIO DO VOUGA



A capa do "Correio do Vouga", órgão oficial da Diocese de Aveiro, ofereceu aos seus leitores um conjunto de fotografias tiradas nas ruas da Gafanha da Nazaré, dando a informação de que «as famílias foram convidadas a pôr uma cruz nas suas casas a partir do Domingo de Ramos.» Há gestos que merecem ser sublinhados, como foi o caso. E o responsável pela edição do semanário diocesano mostra que é um jornalista atento e sensível.
Como é notório, o meu digitalizador não foi capaz de apanhar toda a capa. 

DEUS JÁ ACOLHEU EDUARDO RODRIGUES

O diácono permanente Eduardo Rodrigues foi ordenado em 15 de Agosto de 1993, com 68 anos, por D. António Marcelino, juntamente com mais sete colegas. Era o mais idoso dos ordenados nesse dia. 
Natural e residente em Tamengos, dedicou toda a sua vida de diácono a servir as paróquias do Arciprestado de Anadia. Foi colaborador do Padre Rei na paróquia da Moita, além de ser o grande timoneiro das paróquias confiadas ao Padre Vilarinho, durante a prolongada doença deste, que o obrigou a ausentar-se para a Gafanha da Nazaré, onde faleceu. 
Colaborador incansável do Pároco de Arcos, Tamengos e Aguim — Padre Torrão —, tinha ainda a responsabilidade do cartório destas paróquias, além de ser o responsável da pastoral sócio-caritativa do Arciprestado. 
Até ao momento em que a falta de vista e de equilíbrio o obrigou a deixar as funções pastorais, por volta de 2012, era um dos diáconos mais assíduos à formação permanente, sendo apreciado pela partilha das suas reflexões escritas, bem elaboradas, pois tinha muito gosto em escrever numa prosa bastante erudita. 
Confinado à sua residência até que, há mais ou menos cinco anos, teve de ir para o Lar da Moita com a esposa. O seu estado de saúde foi-se agravando com Alzheimer, mas quis voltar para a sua residência, onde foi assistido pelo Lar cerca de dois anos. 
Faleceu na sua casa com 95 anos no dia 13 de Abril e o seu funeral, com a presença do nosso Bispo, D. António Moiteiro, realizou-se no dia 15 para o cemitério de Tamengos. 
Que o Senhor o recompense com a Sua glória, por tudo o que fez pelas gentes das terras de Anadia, onde era muito considerado.

Manuel Carvalhais, 
Diácono Permanente

terça-feira, 14 de abril de 2020

TRANQUILIDADE



Às vezes imagino-me a gozar uma tranquilidade como a que este meu registo sugere. Tranquilidade, em dias agitados, deve ser assim, longe do bulício dos nossos quotidianos. Envolvido pelo silêncio, embalado pelo arvoredo, um bom livro para enriquecer o espírito com uma história bem urdida, o chilrear da passarada que por ali ciranda e que mais precisaria eu?

AS MÁSCARAS



Está decidido: Temos todos de usar máscaras. Só falta o decreto para regulamentar o seu uso. Quando e onde ou sempre. Sem ela, pelo que ouço, jamais. Mais vale prevenir que remediar. E se é certo que o Covid-19 continua por aí, então todo o cuidado é pouco. Realmente, temos que nos habituar à ideia de que a vida tem de prosseguir a marcha, pois parados não chegaremos a lado nenhum. Com a pandemia o mundo parou. Comeu-se e bebeu-se o que se poupou... e se não arrepiarmos caminho teremos como meta um fim sem honra nem glória. Todos precisamos de trabalhar. As indústrias e comércios têm de abrir portas.Têm de produzir. E nós necessitamos de comprar. As escolas têm de preparar para a vida os que estão com idade para isso. O futuro do mundo está nos que as frequentam hoje. E se a máscara nos pode defender de alguns perigos, por que razão as havemos de rejeitar? Perigoso é andar sem ela... Quem me dá umas dicas para fazer as minhas máscaras?