sábado, 4 de abril de 2020

ACHEI AS PÉROLAS QUE TINHA PERDIDO



Em 7 de maio de 2008, registei, no Forte da Barra, esta imagem que guardei num recanto qualquer dos meus caóticos arquivos. Não sei se a publiquei. Só sei que a perdi, mas dela me lembrei algumas vezes. Na hora do batismo dei-lhe o nome de pérolas, penso que com oportunidade. Hoje reencontrei-me com ela, partilhando-a agora com os meus amigos,  com desejos de uma Páscoa sem o bicho horrendo que dá pelo nome de COVID-19.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

PRÉMIO ÁRVORE DA VIDA PARA EDUARDO LOURENÇO

«O ensaísta Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes 2020, atribuído pela Igreja católica, através do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, para destacar um percurso ou obra que, além de atingirem elevado nível de conhecimento ou criatividade estética, refletem o humanismo e a experiência cristã.
«Numa atenção compreensiva e crítica aos problemas culturais e sociais emergentes no mundo contemporâneo e numa renovadora mitografia do ser lusíada, desde há meio século Eduardo Lourenço constituiu-se no mais reputado pensador português da atualidade», destaca a justificação do júri, que atribuiu o Prémio por unanimidade (texto integral nos artigos relacionados).»

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RAMAL DO PORTO DE AVEIRO CELEBROU ANIVERSÁRIO


A institucionalização do Dia do Porto de Aveiro ocorreu a 3 de abril de 2006, data que evoca a abertura barra naquele dia e mês de 1808, graças ao saber e arte de Luís Gomes de Carvalho. Na altura, o acontecimento foi considerado por ele como o 2.º Dia da Criação, como se lê na carta que endereçou ao príncipe regente D. João, futuro rei D. João VI, que se encontrava no Brasil para aí manter as chaves do poder, ameaçadas pelos tropas napoleónicas. 
Desde então e até aos nossos dias, o Porto de Aveiro tem contribuído para o desenvolvimento da região e do país com projeção em vários quadrantes mundiais, movimentando mercadorias e apoiando pescas, com registos que não param de crescer. 
Presentemente, o Porto de Aveiro já ocupa um honroso 4.º lugar no ranking dos portos nacionais, depois de Lisboa, Leixões e Sines, sendo justo salientar que o nosso porto tem quatro grandes valências: Porto Comercial, Industrial, Pesca Costeira e Pesca Longínqua. 
No passado mês de março, no dia 27, cumpriram-se dez anos da inauguração do Ramal Ferroviário que nos liga à Europa, depois de um moroso processo de mais de três décadas que fez parte integrante do Plano Diretor de Desenvolvimento e Valorização do Porto e Ria de Aveiro, elaborado em 1974. 
A APA (Administração do Porto de Aveiro) refere, em nota alusiva à efeméride, que nesta década circularam pelo Ramal 6225 comboios, tendo chegado a atingir o valor de quatro composições diárias no período de um ano, o que equivale a uma cota modal de 30% para a exportação e 15% para o total do tráfego. Sublinha a mesma nota que a eletrificação do Ramal do Porto de Aveiro ficou concluído em 2015, o que permite a mudança para locomotivas elétricas, que potenciam o desempenho ambiental daquela via. 
Refere ainda que estimativas de meados de 2016 apontavam para perto 5900 veículos (50 por dia) e uma redução de cerca de 90% de CO2, tendo em conta o padrão de veículo normalmente utilizado para o trânsito de mercadorias em causa. 
É oportuno frisar que o Porto de Aveiro tem dialogado com autarquias e instituições voltadas para as questões ambientais, nomeadamente a ADIG (Associação para Defesa dos Interesses da Gafanha) e departamentos estatais, no sentido de preservar a qualidade do ar, no respeito pelas pessoas das freguesias vizinhas das áreas portuárias. 

Fernando Martins 

O MEU LUGAR NA PAIXÃO DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo de Ramos

Aproximam-se os dias da Páscoa e Jesus procura um local condigno para a sua celebração. Encarrega os discípulos desta tarefa e dá-lhes instruções precisas. Vão à cidade, encontram a pessoa indicada, (possivelmente amiga), transmitem-lhe o desejo de Jesus e esta aceita ser hóspede do grupo. Lc 22, 14-23.56.
A celebração da ceia pascal acontece, fruto desta colaboração generosa, em que muitos intervêm, sobretudo Jesus que realiza a suprema maravilha da Eucaristia, antecipa para “sinais” o que vai suceder e abre horizontes de esperança aos limites do tempo.
Timothy Radcliffe, teólogo dominicano, no artigo intitulado “No isolamento, dar vida a gestos de comunhão”, afirma: “No coração da fé cristã há um homem morto em total isolamento. Foi erguido sobre a cruz e, acima da multidão, sem qualquer contacto, transformado em nu objeto. Parece até que se sentiu separado do Pai, e as suas últimas palavras, segundo os Evangelhos de Marcos e de Mateus, foram: «Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?». Naquele momento, Ele não só abraçou as nossas mortes. Ele fez totalmente sua a solidão que todos nós, por vezes, suportamos, e que milhões de pessoas estão hoje a viver”.

terça-feira, 31 de março de 2020

O COVID-19 E OS MAIS VELHOS


Ser velho é um dom para quem lá chega, sobretudo se mantiver lucidez. É sinal de que viveu, passou por imensas experiências e pode transmitir saberes. Todos percebemos que, por razões diversas, muitos se desinteressam da vida ou são levados a isso por pressões, dificuldades, incapacidades ou descuidos dos que os rodeiam no dia a dia. Os velhos necessitam, tão-só, de se sentir úteis, ativos, interessados pela vida e envolvidos em atividades compatíveis com as suas situações de saúde. 
Vem isto a propósito do que nos tem mostrado a calamidade provocada pelo coronavírus (COVID-19), com destaque para os que vão morrendo. Fragilizados, porventura desmotivados, não tiveram tempo nem forças para sobreviver dignamente. 
Todos sabemos que há lares e famílias que cuidam dos seus idosos com muito amor, proporcionando-lhes razões para se sentirem úteis, dando-lhes tarefas motivadoras e criativas, onde cada um possa sentir-se como agente ativo de uma sociedade integradora. Há idosos com sensibilidades desaproveitadas, com artes nunca exibidas, com conhecimentos camuflados, com saberes por partilhar. 
Não ignoramos que há pessoas que vão perdendo capacidades físicas e mentais com o passar dos anos, mas também sabemos que a vida agitada das sociedades vai descartando os mais velhos, como quem descarta coisas inúteis. E se é verdade que o envelhecimento é fruto dos avanços da medicina e da qualidade de vida que a nossa sociedade tem permitido, também é certo que todos teremos de dar o nosso contributo para a dignificação dos que tanto nos deram. 

Fernando Martins

O QUE OS PRENDE ALI?


Pelo jeito, é um casal de rolas. Macho mais emproado e fêmea mais tímida. O que os prende ali? Hora de descanso em tarde friorenta? Pensativos quanto ao futuro? Filhos que desapareceram? Temerosos pelas tempestades anunciadas? Fome? Sonhos de uma primavera que tarda em chegar? Algum milhafre à vista? 

F. M.

PERMANECER EM CASA...

A cadeira está à minha espera
O Governo, através dos meios de comunicação social, lembra o que foi decretado para evitar a propagação do coronavírus. Os resultados ainda não são conhecidos porque os números teimam em chegar mais alto, estando longe o cume da montanha. Só quando se iniciar a descida é que poderemos respirar de alívio. Para já, persistem todas as dúvidas sobre uma pandemia como nunca se viu na minha geração. 
Permanecer em casa será doloroso para muitos, quer por conviverem mal com o isolamento quer por necessitarem da natureza, da brisa refrescante e do contacto com vizinhos e amigos. 
Eu sou dos que apreciam estar em casa para ler tranquilamente, conversar com quem chega, ouvir a música que me devolve a harmonia e atualizar as notícias sobre o maldito bicho, na esperança de mais dia, menos dia, me congratular com a sua derrota. 
Os estragos estão a ser medonhos, de tão inesperados e mortíferos estarem a ser, mas depois, quando voltarmos à vida normal, se é que poderemos considerar uma vida normal a que se seguir, outras catástrofes se esperam. A economia do país, das empresas, das famílias e dos trabalhadores há de mostrar os rastos da passagem do coronavírus. 

F. M. 

domingo, 29 de março de 2020

NASCER DE NOVO

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

É o ser humano que, ao desumanizar-se, corrompe a natureza. As dimensões da questão ética são globais.

1. Se, como foi noticiado, o cardeal Burke tiver dito, perante as ameaças da covid-19, “que devemos poder orar nas nossa igrejas e capelas, receber os sacramentos e participar em actos de oração pública”, espero que alguém o convença a despir-se das pompas cardinalícias, a envolver-se em saco e cinza para pedir perdão, através dos meios de comunicação social, a crentes e não crentes por essa pouca vergonha [1].
Passemos ao título desta crónica. É a proposta mais séria para não alimentar ilusões para depois do presente pesadelo colectivo. Antes, porém, importa lembrar algumas evidências esquecidas para nos situarmos, com lucidez, neste tempo de agendas suspensas ou alteradas.
O ser humano surgiu na terra como um dos menos equipados e mais desarmados do reino animal. Os seus instintos são rudimentares e parcas as suas defesas.
Essa situação escondia um tesouro único no seu corpo revelado pela palavra que o singulariza. É o tesouro da inteligência emocional, da razão discursiva, do afecto desinteressado, da liberdade criadora e destruidora, da imaginação, a louca da casa para o bem e para o mal.
São recursos inesgotáveis. A partir de elementos preexistentes, possibilitam o gosto de estabelecer conexões mentais surpreendentes, de inventar, de inovar, de criar e recriar. Como escreveu Einstein, a criatividade é a inteligência a divertir-se [2].

A SABEDORIA DE VIVER

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Num número especial de “Philosophie magazine” passa-se em revista as “sabedorias do mundo” e refere-se concretamente a Índia, a China, o Japão, as Américas e a África. Dele retirei alguns provérbios, contos, estórias..., que levam a pensar. Aliás, grandes pensadores europeus, como Schopenhauer e Heidegger, foram beber a essas sabedorias, sobretudo às sabedorias orientais, inspiração para a sua filosofia. 
Em tempos de imediatismo consumista e alarve, quando a banalidade impera e o prazer e o ter são corrosivamente tudo, é bom parar e ouvir, no silêncio, a voz da sabedoria e do sentido. É esse o propósito simples do que aí fica.

1. A sabedoria

“Um dia, um homem veio ver um sábio e perguntou-lhe: Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?” O sábio não respondeu. Tendo repetido várias vezes a pergunta sem resultado, o homem retirou-se. Mas regressou no dia seguinte e fez a mesma pergunta: “Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?” Não recebeu resposta. Veio de novo no terceiro dia: “Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?” Por fim, o sábio dirigiu-se a um lago e, entrando na água, pediu ao homem que o seguisse. Chegado a uma profundidade suficiente, agarrou-o pelos ombros e manteve-o debaixo da água, apesar dos esforços que ele fazia para se libertar. Ao cabo de uns instantes, o sábio largou-o e, quando o homem voltou, com grande dificuldade, a respirar, o sábio perguntou-lhe: “Diz-me, quando estavas metido dentro da água, qual era o teu maior desejo?” Sem hesitação, o jovem respondeu: “Ar! Ar! Precisava de ar!” – “Não terias preferido a riqueza, os prazeres, o poder, o amor? Não pensaste em nenhuma destas coisas?” – “Não, Mestre, eu precisava era de ar e só pensava nisso.” – “Pois bem, continuou o sábio, para adquirir a sabedoria, é preciso desejá-la tão intensamente como há pouco desejaste ar. É preciso lutar por ela, excluindo toda e qualquer outra ambição na vida. Ela deve ser a única aspiração, noite e dia. Se procurares a sabedoria com esse fervor, encontrá-la-ás um dia.” (Conto filosófico).

sábado, 28 de março de 2020

E A MISSA?

Igreja mais aberta a novos horizontes


Há um velho ditado que ouvia em pequeno e que levava a sério: “Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda-feira sem preguiça.” Era recordado com frequência pela minha mãe… E eu acreditava piamente. 
Com o tempo, fui dando conta de que não era bem assim. Só batia certo o que dizia respeito ao domingo. Quando experimentei um sábado sem sol, com chuva torrencial e vento ciclópico, lembrei o caso à minha mãe que logo adiantou tratar-se de um sábado muito raro, mas mesmo muito raro. Deu-se o mesmo com uma segunda-feira em que eu acordei com vontade de a ajudar na lida da casa. Mas ela voltou à carga: Mas conheces algum domingo sem missa? — questionou-me a minha saudosa mãe. Realmente, o que dizia respeito ao domingo era verdade indiscutível. 
Com o coronavírus (COVID-19), aconteceu, pela primeira vez na minha vida, com mais de oito décadas, a suspensão das Eucaristias e outras cerimónias comunitárias, mantendo-se as privadas, isto é, sem participação das pessoas. 
A Missa é a celebração fundamental da igreja católica, tornando presente o mistério da fé dos crentes assente na paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. E «Todos participavam fielmente no ensino dos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações», lê-se nos Atos dos Apóstolos». 
Ao longo do tempo, a celebração das missas estendeu-se aos doentes e outros via televisão e rádio, mas com o maldito vírus que está a causar estragos por todo o mundo, não se vislumbrando a sua morte nem cura para muitos dos que são atacados por ele, a Igreja alargou-as aos católicos, em geral, por diversas formas de comunicação oferecidas pelas novas tecnologias. Não é o mesmo, mas sempre é uma boa forma de manter viva a fé dos crentes. E talvez esta abertura mais alargada da Igreja aos meios de comunicação social seja um ponto de partida para novos horizontes. 

Fernando Martins 

NOTA: Reeditado em 1 de abril de 2020