terça-feira, 24 de setembro de 2019

Ares do Outono - A beleza das árvores, arbustos e flores

Dia a dia vou espreitar se há novo rebento 
Com a chuva que aí está, mais o vento, ora brando ora bravo, teremos de nos habituar a uma vida mais triste? Penso que não. 
Há flores que murcham e caem, mas outras, mais dadas ao frio, hão de resistir. Que a vida, como é habitual, precisa da alegria e da beleza que arbustos, árvores e flores nos dão. 
Mas se elas se forem com o vento, que ao menos saibamos alimentar o prazer da espera pelo seu regresso. E até lá, aprendamos a cultivar outras flores, daquelas que nos enchem a alma com as suas cores e aromas: a amizade, a partilha da nossa alegria, o bem que podemos fazer a quem nos cerca, a aposta na construção de um mundo mais solidário.
Bom Outono para todos.

Fernando Martins

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Pe. César Fernandes celebra 40 anos da sua ordenação presbiteral

O Padre César Fernandes foi ordenado presbítero há 40 anos, mais precisamente em 23 de Setembro de 1979. Depois da ordenação, ingressou nas tropas paraquedistas como capelão, tendo participado na guerra, não para lutar como qualquer militar, mas sobretudo para apoiar quantos tinham de pegar em armas. Moveu-o, como seria compreensível, a luta pela paz e pelo entendimento entre os homens de boa vontade, deslocados para combater por decisões políticas. 
Depois de exercer as tarefas de membro da equipa sacerdotal responsável pela nossa paróquia, passou naturalmente a ocupar a missão de pároco da Gafanha da Nazaré, imprimindo à sua ação um dinamismo adequado ao nosso povo com as suas diversas instituições, sendo notória a sua dedicação e sensibilidade. 
Neste dia de aniversário da sua ordenação presbiteral, cumpre-me felicitá-lo, comprometendo-me a colaborar dentro das minhas modestas possibilidades no dia a dia da nossa paróquia.

Um livro de Humberto Rocha – “A Bruxinha Aprendiz”



O meu amigo e familiar Humberto Rocha teve a gentileza de me oferecer um livro para crianças, denominado “a Bruxinha Aprendiz”. Trata-se de uma peça de teatro escrita para as suas netas e por elas representada em 6 de Julho de 2005. As artistas são a  Clara Vidalinc (Princesa), a Sara Rocha (Bruxa), a Inês Vidalinc (Bruxinha), a Matilde Vidalinc (Bailarina) e a Carolina Rocha (Bailarina). Na altura, tinham, respetivamente, oito, sete, quatro, seis e cinco anos. E pelo que sei, saíram-se muito bem, ou não fosse o avô um mestre na arte Talma, entre outras artes. 
A edição saiu muito enriquecida pelas ilustrações do artista aveirense Jeremias Bandarra que, como já nos habituou há muito, põe no que faz uma sensibilidade notável. O trabalho do Humberto Rocha vale portanto pela ideia, pelo texto, pelo enquadramento familiar, pela magia que sempre encanta crianças e adultos, mas também por nos colocar em contacto com um artista que goza de merecida estima e admiração no mundo das artes plásticas, de onde sobressai um humanismo que muito prezo. 
A história começa, como é típico e em jeito de convite à leitura, com “uma princesa muito bonita, mas muito triste, porque não podia sair do castelo, pois havia uma bruxa má que a transformaria em estátua, caso a apanhasse a passear”.  Boa maneira de começar uma história para cultivar nas crianças o gosto pela fantasia, pelo sonho, pela harmonia, pelo mágico que a vida inúmeras vezes comporta. E como termina? Um segredo para descobrir no livro.  
Os meus parabéns ao Humberto, extensivos à sua família, em especial às artistas a quem ele dedicou este seu trabalho. 

Fernando Martins

Bento Domingues - Acabar com a chantagem

Papa não teme o cisma 
"Escusam de continuar com as ameaças de cisma.
Não o desejo, mas não me assusta e rezo para que não aconteça."


1. O acontecimento mais importante, na liderança da Igreja católica, nos últimos tempos, não pode passar despercebido ou dissolvido no ruído dos noticiários acerca do Vaticano.
O papa Francisco, ao regressar da última viagem apostólica a vários países africanos (Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias), não se limitou a responder às perguntas e curiosidades dos jornalistas, de forma aberta e desinibida, como sempre faz. Desta vez, foi muito mais longe. Decidiu colocar um ponto final na chantagem que se arrastava, dentro e fora do mundo católico, desde o começo do seu pontificado: a ameaça de um cisma.
Para quem conhece alguma coisa da história do cristianismo, não pode ignorar os efeitos terríveis que essa palavra evoca, efeitos que ainda hoje persistem, apesar de todas as iniciativas ecuménicas.
Dada a desenvoltura com que se pronunciou, terá Bergoglio esquecido as catástrofes dessa “bomba atómica” no tecido da Igreja? Essa ameaça não deveria aconselhar o Papa a ter mais cuidado com o que diz e faz e, sobretudo, com o modo provocador como fala e actua? Não saberá que está sempre a pisar terreno armadilhado?
Neste caso, essas perguntas não conseguem esconder uma solene hipocrisia. Dito de outro modo: o papa Francisco para não causar um cisma na Igreja deve renunciar a cumprir o programa do seu pontificado, tornar-se prisioneiro do medo, asfixiar a liberdade de expressão e concordar que o Vaticano continue num regime de monarquia absoluta!

domingo, 22 de setembro de 2019

Outono é já amanhã


Regresso a casa nas vésperas do Outono. Dei pela chegada da estação das folhas que caem pela sensação de um friozinho a que não consigo ficar indiferente. Venha o Outono com as suas marcas que já conheço há décadas. E enquanto a roda do tempo girar para eu reviver é sinal de que estou em pleno uso da razão. 
Já tinha saudades da minha "palhota" e do que nela tenho vivido que a chegada, mesmo de curta ausência, me dá uma sensação de prazer interior muito grande. Que assim seja por muitos anos, são os meus desejos de amante da existência. 
E a vida, como antes, prossegue com espírito aberto ao mundo em contínua renovação,  cada minuto com a sua descoberta, com os seus sinais de aventura de uma humanidade que não parará na busca do progresso, que gostaríamos de felicidade plena para todos. 
Boas entradas no Outono. É já amanhã. 

Fernando Martins

Anselmo Borges - Demissão do Papa Francisco

Papa Francisco chega a Maputo

1. No passado dia 10, após uma viagem apostólica a África, visitando Moçambique, Madagáscar e Maurício, o Papa Francisco, já no avião, de regresso a Roma, deu, como é hábito, uma longa conferência de imprensa. E foi respondendo a muitas perguntas. 


1. 1. Congratulou-se com o abraço histórico da paz em Moçambique: “Tudo se perde com a guerra, tudo se ganha com a paz. O esforço dos líderes das partes contrárias, para não dizer inimigos, é o de ir ao encontro um do outro. É o triunfo do país: a paz é a vitória do país, é preciso entender isso... E isso vale para todos os países, que se destroem com a guerra. As guerras destroem, fazem perder tudo.” 

1. 2. África é um continente jovem, tem uma vida jovem, “se a compararmos com a Europa, e vou repetir o que disse em Estrasburgo: a mãe Europa quase se tornou “avó Europa”. Envelheceu, estamos a viver um inverno demográfico muito grave na Europa.” E acrescentou que leu algures que há um país europeu que em 2050 terá mais reformados do que pessoas a trabalhar, “e isso é trágico”. 
Os jovens em África precisam de educação, “a educação é uma prioridade”. E louvou Maurício, cujo primeiro-ministro tem em mente a gratuidade do sistema educativo. 

1. 3. A xenofobia é “uma doença humana” e, lembrando “discursos que se assemelham aos de Hitler em 1934”, acrescentou: “muitas vezes as xenofobias cavalgam a onda dos populismos políticos”. Mas África transporta consigo também “um problema cultural que tem de ser resolvido: o tribalismo”. Temos de “lutar contra isso: seja a xenofobia de um país em relação a outro, seja a xenofobia interna, que, no caso de alguns lugares de África e com o tribalismo, leva a uma tragédia como a de Ruanda.” 

1. 4. “São fundamentais as leis que protegem o trabalho e a família. E também os valores familiares.” E chamou a atenção para os dramas das crianças e jovens que perdem os seus laços familiares. 

1. 5. “Hoje não existem colonizações geográficas — pelo menos, não tantas como antes.... , mas existem colonizações ideológicas, que querem entrar na cultura dos povos e transformar aquela cultura e homogeneizar a Humanidade. É a imagem da globalização como uma esfera, todos os pontos equidistantes do centro. Ao contrário, a verdadeira globalização não é uma esfera, é um poliedro, no qual cada povo se une a toda a Humanidade, mas preserva a própria identidade.” Contra a colonização ideológica, é preciso respeitar a identidade de cada povo e dos povos. 

1. 6. Opôs-se de novo ao proselitismo em religião, lembrando uma palavra de São Francisco de Assis: “Levem o Evangelho, se for necessário, também com as palavras”. A evangelização faz-se sobretudo pelo exemplo, pelo testemunho. O testemunho provoca a pergunta: “Porque é que vive assim, porque age assim?” Aí explico: “É pelo Evangelho”. “E qual é o sinal de que um grupo de pessoas é um povo? A alegria.” 

1. 7. Não podia deixar sublinhar a urgência da defesa do meio ambiente. No contexto da destruição da biodiversidade, da exploração ambiental e concretamente da desflorestação, não deixou de apontar e condenar de modo veemente a corrupção descarada: “Quanto para mim?”. “A corrupção é feia, muito feia.” 
Revelou que “no Vaticano, proibimos o plástico.” É preciso defender “a ecologia, a biodiversidade, que é a nossa vida, defender o oxigénio, que é a nossa vida. O que me conforta é que são os jovens que levam adiante esta luta”, porque o futuro é deles. “Creio que ter-se chegado ao acordo de Paris foi um bom passo adiante, e depois também outros... São encontros que ajudam a tomar consciência.” E, a menos de um mês do Sínodo para a Amazónia, sublinhou: “Há os grandes pulmões, na República Centro-Africana, em toda a região Pan-amazónica, e outros menores.” 

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Notas do meu diário - Fonte de S. Martinho


I
Tive sêde, e vim beber
À fonte de S. Martinho;
Desde então para te ver,
Não procuro outro caminho.

II
Mas, ao ver-te, a sêde passa,
já não tenho de beber,
Pois a sêde que eu sentia,
Era apenas de te ver...

A Fonte de S. Martinho, em S. Pedro do Sul, tem uma réplica, segundo creio, no espaço hoteleiro onde estou hospedado. Consulta feita, ela existe, realmente, em zona de certo modo escondida, e terá sido construída em 1943. Seja como for, é facto que S. Martinho também tem capela junto às ruínas romanos, em maré de restauro e preservação.

D. Afonso Henriques em S. Pedro do Sul







Dom Afonso Henriques é muito venerado em São Pedro do Sul, particularmente nas Termas mais frequentadas de Portugal, com 35% dos aquistas lusos a preferi-las no cômputo do termalismo português.
Não escasseiam informações turísticas na zona pedestre com notas histórias, que são outras tantas referências da vida das águas quentes (cerca de 70.º) com cheiro a enxofre,  desde há mais de dois mil anos a curar ou a aliviar quem sofre.
Não será de estranhar que uma pastelaria lhe preste uma singular homenagem com a presença do nosso primeiro rei a ocupar um lugar de destaque. Logo à entrada, uma estátua do rei, sentado mas com olhar arguto, olha de soslaio quem entra, com cara de poucos amigos, ao jeito de quem pretende fiscalizar quem vem à cata de doces de todo o país, para acompanhar um saboroso café, tomar um refresco ou acalmar os nervos ou o estômago com um chá quentinho.
Lá dentro, o rei Afonso, o primeiro de seu nome, com sua filha Teresa e seu filho Sancho, que lhe haveria de suceder, podem ser apreciados por todos os clientes, lendo o documento  que Dona Teresa exibe. 
O serviço é pronto e eficaz, acolhedor e asseado, e dá gosto estar por ali a ver quem chega, na perspetiva de encontrar gente conhecida, o que não aconteceu durante toda a semana. 

Georgino Rocha - Elogio à esperteza criativa

DOMINGO XXV


Hoje, no Evangelho, Jesus apresenta aos discípulos uma história surpreendente, escandalosa, desconcertante, provocadora. Um homem rico é gravemente lesado pelo administrador a quem confiou a gestão dos bens. Descoberta e denunciada a fraude, é despedido, mas ele inventa uma saída engenhosa que lhe dá garantias de ter quem o contrate no futuro e revela capacidades que merecem o elogio do proprietário.
Os ouvintes hão-de ter pensado: Como é possível felicitar quem rouba, é corrupto, usa as piores “artes” para assegurar o futuro? Seguindo a bela narração de Lucas, vamos aprofundar o alcance da parábola do administrador infiel, assim conhecida. Lc 16, 1-13
Jesus, na maioria das suas parábolas, mais do que ensinar pretendia provocar, abalar as convicções de crentes acomodados, passivos, quase em letargia. Ouvem e percebem a novidade da mensagem anunciada, mas não se dispõem a pô-la em prática, a fazê-la vida. A de hoje é típica, tem este propósito declarado. 
O elogio à esperteza é feito por um proprietário rico, a um seu administrador desonesto. E surge na narração de uma parábola de Jesus sobre o uso dos bens materiais. Visa despertar o entusiasmo dos discípulos para procederem de igual maneira. E aponta, claramente, para a urgência de, perante situações de risco e de crise, saber encontrar soluções criativas e sensatas.
Os adversários de Jesus riem-se dos seus ensinamentos sobre o dinheiro, considerado por eles como uma bênção de Deus, um sinal da sua providência, uma garantia de predestinação. Quase absolutizavam a sua posse e ostentação. Sem olharem muito à licitude dos meios para o alcançar. E assim, a gente humilde mais empobrecia, enquanto uma minoria, alavancada numa interpretação deficiente da Escritura Sagrada, enriquecia cada vez mais.
Jesus recorre a várias formas didáticas para contestar esta interpretação e restituir aos discípulos e, por eles, a todos nós, a autêntica função dos bens materiais, designadamente do dinheiro. Serve-se de diálogos directos, de ditos sentenciosos, de parábolas-retrato que reproduzem situações de vida conhecidas.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Notas do meu diário – Uma passagem por Santa Cruz da Trapa

AO  POVO - Os filhos e amigos de Santa Cruz da Trapa - 1926
A Lita junto à Cruz no Largo do Calvário



Homenagem da Freguesia de Santa Cruz da Trapa ao saudoso santacruzense Agostinho Valgode

Centro Cultural - Biblioteca César Rodrigues 

Homenagem à Casa do Povo
Poema no Largo do Calvário

Poema no Largo do Calvário

Hoje foi dia de passar por Santa Cruz da Trapa, terra que conheci há uns 40 anos, aquando da nossa ligação, em tempo de férias, a Serrazes. Quase a não reconhecemos, mas disso já estamos habituados. O Turismo alertou-nos para uma curiosidade a ter em conta: O povo quer que a sua vila seja conhecida como terra de poetas, havendo já dois livros publicados a partir de recolhas ou seleção; e como prova desse interesse, no largo há poemas para sublinhar essa pretensão. 
Há décadas, quando por ali cirandámos, demos um saltinho a São Cristóvão de Lafões. O mosteiro  em ruínas, com existência lavrada por volta de 1123, teria sido mandado edificar por D. João Peculiar, que veio a ser Bispo do Porto e Arcebispo de Braga, onde está sepultado. Este D. João Peculiar foi uma personalidade marcante e conselheiro de D. Afonso Henriques. Foi a Roma para convencer o Papa a reconhecer D. Afonso como rei. Tal reconhecimento estaria, como esteve, na base da fundação do Reino de Portugal. 
Quis colher informações, mas o Centro Cultural Casa do Povo e a Biblioteca César Rodrigues estavam encerrados, antes do meio dia de hoje. Um transeunte deu-nos  como provável razão o período  de férias. Paciência... ficará para a próxima visita, se tal vier a acontecer.

Fernando Martins