"Sem empenhamento em fazer acontecer, na sociedade,
o que celebramos, caímos no ritualismo"
1. As hierarquias eclesiásticas são muito tentadas a criar
charadas para os párocos e os teólogos resolverem. O Crisma passou a ser
exigido para se ser padrinho ou madrinha de outros sacramentos. Esta norma
coincidiu com a progressiva falta de cristãos para satisfazer essas condições.
Foi, então, decidido antecipar a idade para receber esse sacramento. Pior a
emenda que o soneto. O Crisma passou a inscrever-se no fenómeno a que o Papa
Francisco chamou a debandada da juventude, depois da catequese e da comunhão
solene. Estamos sempre a ouvir esta observação: sou baptizado, fiz todas as
comunhões, até sou crismado, mas isso já foi há muito tempo.
Não tem de ser assim. Um catolicismo iniciático deve ter
várias etapas, desde o nascimento à Santa Unção. O Crisma, no Ocidente, deveria
ser entendido como o Sacramento da responsabilidade pelo futuro da própria
vida, da sociedade e da Igreja. Neste sentido, a idade mais aconselhável seria
a do momento em que os jovens se preparam para tomar a sua vida nas próprias
mãos, seja qual for o itinerário da sua escolha. O modelo é o do próprio Jesus.
Foi depois de ter recebido o Espírito Santo que apresentou o programa da sua
intervenção pública, um programa carregado de dimensões sociais e políticas: o
Espírito do Senhor está sobre mim porque Ele me ungiu (crismou) e enviou para
evangelizar os pobres; para libertar os presos e os oprimidos, para dar vista
aos cegos, e para proclamar um ano de graça do Senhor [1], isto é, um Jubileu!