sexta-feira, 8 de março de 2019

João de Deus nasceu neste dia


Primeiro Amor

Ó Mãe... de minha mãe!
Explica-me o segredo
Que eu mesmo a Deus sem medo
Não ia confessar:
Aquele seu olhar
Persegue-me, e receio,
Pressinto no meu seio
Ergue-se-me outro altar!

Eu em o vendo aspiro
Um ar mais puro, e tremo...
Não sei que abismo temo
Ou que inefável bem...
Oh! e como eu suspiro
Em êxtase o seu nome!...
Que enigma me consome,
Ó Mãe de minha mãe!

João de Deus, 
in 'Campo de Flores'

quarta-feira, 6 de março de 2019

Câmara de Ílhavo apoia o Grupo Desportivo da Gafanha

Assim começam os craques
A Câmara Municipal de Ílhavo atribuiu um subsídio de 109 mil euros ao Grupo Desportivo da Gafanha para a época de 2018-2019, considerando que o clube acolhe 650 atletas em todas as suas modalidades, em especial no Atletismo, Basquetebol, Futebol e Futsal. O subsídio ainda se destina à recuperação da imagem e reestruturação da agremiação, bem como à formação de atletas das diversas faixas etárias.
Tenho para mim que poucos gafanhões terão conhecimento da dimensão do GDG, presentemente com 650 atletas nas diversas secções, o que significa um número elevado de famílias apoiadas na educação dos seus filhos. São atletas que necessitam de treinadores, professores de educação física, massagistas e demais colaboradores, bem como de espaços, campos, sanitários, balneários e equipamentos.  Por  tudo isso, o GDG merece o nosso apoio e aplauso pelo que faz, independentemente dos êxitos ou alguns deslizes, que perder e ganhar é tudo desporto.
Uma saudação para os dirigentes que, voluntariamente, dão o melhor de si ao clube.

FM 

Frutuosa Quaresma para todos


São 10 horas de uma manhã fria e chuvosa. Vai ser assim, mais ou menos, uns dias seguidos. Acabei de chegar ao meu sótão, espaço de tantas cumplicidades com o silêncio que tanto aprecio. É certo que não posso viver no silêncio toda a vida, que o convívio é fundamental na existência. Porém, em cada dia descortino sempre um tempinho para o encontro pessoal com Deus, que nos dá o privilégio da liberdade e das opções. 
A Quaresma tem sido, desde que me conheço como ser pensante e atuante, um mistério que me envolve e embala até à chegada da ressurreição de Jesus, ponto alto e único da nossa fé. Sem essa caminhada de busca,  dificilmente chegaria ao cimo da montanha, de onde se desfrutam horizontes de redenção tornada fraternidade universal. 
Que nesta Quaresma eu consiga fugir um pouco do barulho ensurdecedor das futilidades e ambições desmedidas e tantas vezes mesquinhas. O mesmo desejo aos meus amigos... 
Frutuosa Quaresma para todos. 

Fernando Martins

segunda-feira, 4 de março de 2019

Anselmo Borges: Revolução copernicana na Igreja

Anselmo Borges
1. Foi uma verdadeira revolução copernicana. Com Copérnico, ficámos a saber que não é o Sol que gira à volta da Terra, é a Terra que gira à volta do Sol. Com a Cimeira no Vaticano, de 21 a 24 de Fevereiro passado, para se tomar consciência da monstruosidade da pedofilia na Igreja e pôr-lhe termo, convocada, num gesto inédito, corajoso e histórico, que se impunha, do Papa Francisco, ficámos a saber que, de agora em diante, o centro não continuará a ser ocupado pela Igreja enquanto instituição, mas pelas vítimas, que serão defendidas com toda a seriedade. 
No encerramento, perante os 190 participantes, entre os quais 114 Presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, membros da Cúria, superiores e superioras gerais de ordens e congregações religiosas, peritos e alguns leigos, Francisco, num discurso histórico, muito bem elaborado e com dados arrepiantes sobre o abuso físico e psicológico de menores e adultos vulneráveis não só dentro da Igreja mas transversalmente na sociedade global, incluindo as famílias e outras instituições (nesta abrangência, as vítimas são muitos milhões), comprometeu-se a que a Igreja “não se cansará de fazer tudo o que é necessário para levar à justiça seja quem for que tenha cometido abusos de tipo sexual” e que nunca “tentará encobrir ou subestimar nenhum caso”. 
Perante o horror da pedofilia, afirmou que ela lhe fazia lembrar “a prática religiosa cruel, difundida no passado em algumas culturas, de oferecer seres humanos (muitas vezes crianças) como sacrifício às divindades nos ritos pagãos”. Perante a “monstruosidade da pedofilia” na Igreja, assegurou: “Quero reafirmar com clareza: se na Igreja se descobrir nem que seja um único caso (que representa em si mesmo uma monstruosidade), esse caso será enfrentado com a máxima seriedade”. Prova inequívoca disso foi, ainda antes da Cimeira, a redução ao estado laical do ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, e, depois, no passado dia 26, a sanção imposta ao cardeal australiano George Pell, a terceira figura do topo da Igreja, ex-superministro das finanças do Vaticano, condenado por abuso sexual de menores: enquanto decorre o recurso nos tribunais, está suspenso e impedido de contactar, seja de que modo for, com menores. 

Engenharia do povo na ria de Aveiro



No século XXI, o que estamos a viver, a Ria de Aveiro tem marinas e clubes náuticos capazes de dar guarida às mais diversas embarcações de trabalho e de recreio das gentes das Gafanhas, Ílhavo, Aveiro e demais vilas e aldeias da zona lagunar, de encantos por vezes paradisíacos. Sublinhamos o vocábulo paradisíaco para que se medite sobre a beleza deste recanto que atrai turistas dos mais variados quadrantes, sem que nos demos conta da riqueza paisagística que nos envolve e nos embala. 
Hoje, porém, vamos fixar-nos num pormenor que nunca deixou de nos fascinar. Referimo-nos, concretamente, aos ancoradouros feitos pela povo que se diverte ou trabalha na ria e que necessita de condições adequadas para dar descanso aos seus barcos durante o dia ou à noite. Ancoradouros que foram e são resposta à falta de estruturas suficientes com esse objetivo. 
O povo, com a sua ancestral habilidade, contorna dificuldades e resolve problemas que, frequentemente,  se perpetuam no tempo à falta de melhor. Foi sempre assim e assim há de continuar, até que as entidades competentes criem melhores condições para ajudar os pescadores, e não só. 
Nós sabemos, todos sabemos, que as autoridades não terão capacidade nem meios para construir ancoradouros à medida ou à porta de cada um, mas também é verdade que os pescadores e proprietários de barcos não podem guardar os barcos longe das suas casas ou nas marinas que, julgamos nós, cobram preços nem sempre acessíveis. Daí, esta determinação dos povos lagunares em resolver os problemas à sua maneira. 

Fernando Martins

domingo, 3 de março de 2019

Bento Domingues: Vita Mutatur Non Tollitur (1)

Frei Bento Domingues

"O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno"


1. Para o filósofo L. Wittgenstein, acreditar em Deus significa reconhecer que a vida tem sentido. Hoje, vivemos obcecados pelo futuro que a ascensão da inteligência artificial e a biotecnologia nos desenham. O filósofo tem uma observação que, segundo me parece, conserva toda a pertinência: "sentimos que, mesmo que todas as possíveis questões científicas obtivessem resposta, os nossos problemas vitais não teriam ainda sido sequer tocados".
Concelebro, muitas vezes, a Eucaristia. Para mim, não é uma rotina devocional nem uma obrigação. Implica uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é da ordem da razão, não é a conclusão de qualquer elaboração científica. Muitos chamam-lhe “fé na ressurreição”. São tantos os equívocos acerca do uso dessa palavra que não insisto muito nela.
Jesus Cristo teve um percurso breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento iníquo. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta. No entanto, teve folgo para perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, a sua morte ia carregada com a vida de todos, com esperança para os próprios inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi nas Suas mãos que lhe entregou o seu destino. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.
Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão. São elas as pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.
Frei José Augusto Mourão escreveu um belo poema para uma música do Convento de La Tourette, o célebre convento de Corbusier. É cantado muitas vezes na minha comunidade dominicana: "…Ao pé de Deus hei-de sempre viver/ com Deus cheguei e com ele vou partir" (2.

sábado, 2 de março de 2019

Património: São Jorge



Nota: Da Agenda "Viver em..." da CMI

Tolentino Mendonça: "É possível que o cheiro de Deus nos leve a Deus?"

Tolentino Mendonça

Cheirar a Deus, tocar Deus, olhar para Deus, ouvir Deus, saborear a Deus. " É possível que o cheiro de Deus nos leve a Deus?", Perguntou-se o poeta português José Tolentino esta tarde . O bibliotecário da Santa Sé fechou o primeiro dia do 75º aniversário da revista Vida Religiosa', pelo mapeamento das emoções e sentimentos do crente, o homem e a mulher espiritual ' não se esqueça dos cinco sentidos.'
Em um belo discurso sobre os sentidos e sensibilidade, em que ele misturou parágrafos bíblicos com tratados sobre biologia, engenharia ou versos de Sofía de Mello ou pensamentos de Pessoa ou Susan Sontag. Música, aromas, proximidade ... Porque para "sentir Deus" é necessário "sentir com Deus" e com o que nos rodeia. "Nós nos tornamos analfabetos emocionais", disse o autor de "O Hipopótamo de Deus" (Narcea) e "Para uma espiritualidade dos sentidos" (Fragmenta).

Ler mais aqui 

sexta-feira, 1 de março de 2019

Georgino Rocha: Ser bom discípulo de Jesus

Georgino Rocha

”As redes sociais favorecem uma comunicação rápida e múltipla com pessoas que estão longe, mas prejudicam a comunicação face-a-face, as conversas serenas que entram nos temas sem pressas. Somos cegos que se deixam guiar por outros cegos” 


Jesus, o mestre da lucidez, continua a instrução dos discípulos na planície da Montanha das Bem-Aventuranças. Prossegue os ensinamentos e as propostas de felicidade, citando exemplos da vida concreta, pois é na realidade do quotidiano que se encontram as sementes do ideal a que todos estamos chamados. Recorre a três breves parábolas bem conhecidas dos ouvintes a que dá um sentido novo: A do cego que guia outro cego; a da trave e do argueiro da vista; e a da árvore e seus frutos. E conclui, centrando o alcance das parábolas no homem bom, “que do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal”, e lembrando que “a boca fala do que transborda do coração”.
O sentido novo faz-nos ver a “cegueira” de quem se reduz ao limite do imediato e do egoísmo; da educação para as aparências e o êxito fácil. A trave e o argueiro indicam medidas que distorcem totalmente a realidade e pretendem definir regras de vida. A árvore, tantas vezes usada nos textos bíblicos, comporta um símbolo de sabedoria, de que se destaca o processo de elaboração do bom fruto.
“Vivemos tempos de incerteza e confusão, afirma a Homilética 2019/1, pag. 79, e em vez de pararmos para ver ou escutar a alguém que nos possa orientar, vamos todos sem saber aonde, nem para onde; sem sabermos onde estão os precipícios. Somos cegos guiados por outros cegos. Aonde vai a sociedade? A economia, a política, a educação, a ecologia…? Aonde vai esta Europa cada vez com mais envelhecidos, sem crianças a nascerem e a negar a entrada a outros povos que nos procuram?” Não faltam sintomas de mal-estar generalizado que reclama outra visão da realidade e mais audácia nas propostas de transformação. A começar pela família e avançando por todos os espaços de convivência e organização social e religiosa.
As novas tecnologias, a par dos enormes benefícios, quantos problemas levantam! Basta lembrar a autodependência “obsessiva” e hipersensível e a comunicação simplificada que despersonaliza.”As redes sociais favorecem uma comunicação rápida e múltipla com pessoas que estão longe, mas prejudicam a comunicação face-a-face, as conversas serenas que entram nos temas sem pressas. Somos cegos que se deixam guiar por outros cegos”. E o articulista conclui: “Hoje há necessidade que os instrumentos técnicos se submetam à sabedoria da experiência”.