terça-feira, 13 de novembro de 2018

Para abrir o apetite: Castanhas assadas


Para abrir o apetite, que outra coisa me não cabe a mim, aqui ofereço uma foto do meu arquivo. Perto dos Arcos, na Praça Melo Freitas, já lá estão as castanhas assadas, quentes e boas. Pelos olhares dos curiosos, em jeito de quem tenta perceber o segredo, a fornada a seguir é deles. Bom apetite.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Massacre no cemitério de Santa Cruz

12 de novembro de 1991



É sempre importante lembrar que neste dia, 12 de novembro,  de 1991, aconteceu o terrível massacre no cemitério de Santa Cruz, em Timor Leste. Foi um acontecimento brutal que correu mundo, acordando-o para os direitos do povo timorense, desejoso da sua independência. 
O massacre de Santa Cruz, em Timor, mostrou ao mundo o que estava a passar-se naquela ex-colónia portuguesa, ocupada, à força, pela Indonésia. Os governantes do nosso país e outras instituições bem clamavam pela libertação do povo timorense, mas todos faziam ouvidos de mercador, ignorando ou fingindo ignorar o sofrimento de uma nação, que os portugueses ajudaram a nascer. 
Os grandes do mundo, os que põem muitas vezes os interesses pessoais acima dos interesses dos mais frágeis, nunca quiseram ouvir quem pedia justiça e o direito de viver livre. Faz precisamente nesta data 27 anos que o massacre aconteceu e até parece que todos já esquecemos o sofrimento dos timorenses, como se eles não precisassem de nós, dos nossos apoios e da nossa solidariedade fraterna. 
Evoco esta triste efeméride para que não caia no saco sem fundo do esquecimento coletivo, na certeza de que as gerações atuais precisam de conhecer os dramas por que muitos passaram em defesa da liberdade. 

Fernando Martins

domingo, 11 de novembro de 2018

Deus, livra-me de deus

Bento Domingues

«Ver crescer movimentos religiosos, com nome cristão, a proporem “como evangelistas” um anti-Evangelho, e o absoluto contrário das Bem-Aventuranças, exige que rezemos como Mestre Eckhart: Deus, livra-me desse deus.»

1. Seja em que campo for, ninguém tem boas razões para ser arrogante ou resignado. Não vimos de nós mesmos e precisaremos sempre dos outros para existir como humanos. A religião saudável nasce do acolhimento e da ousadia de imaginar e pensar. O dominicano José Augusto Mourão, professor de semiótica, dizia que a fórmula Eu encontrei Deus era obscena. Mas não é menos obscena a declaração do cientista ao decretar que Deus não existe por nunca se ter cruzado com ele na sua investigação. 
O texto religioso nasce no seio da interpretação da realidade do mundo em que vivemos e da convicção de que a sua dimensão empírica não esgota a complexidade do real. Há linguagens que sempre teimaram em sugerir o que é indizível e invisível nas práticas científicas. 
Como diz E. Schillebeeckx, a auto-revelação de Deus é dada em experiências humanas interpretadas. Nunca temos acesso à Palavra de Deus de modo imediato. Estritamente falando, a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas um conjunto de testemunhos de fé de crentes que se situam numa tradição particular da experiência religiosa. 
Para S. Tomás de Aquino, é muito razoável afirmar que Deus existe, mas saber como Deus é excede a capacidade humana. A preocupação da boa prática teológica consiste, sobretudo, em mostrar como Deus não é e como é ridículo transpor para Ele os nossos vícios e aberrações. 
A liturgia é uma celebração e a homilia não é uma aula de teologia. Mas deve haver muito cuidado na leitura e interpretação dos seus textos bíblicos. O Livro do Apocalipse é a obra poética mais subversiva que conheço e, como observa Frederico Lourenço, uma das verdadeiras obras-primas literárias da Bíblia. No fim da missa de Todos os Santos, veio ter comigo uma pessoa a lamentar o destaque que eu tinha dado a uma passagem desse grande poema. Ela já o tinha tentado ler e desistiu porque daquele delírio não se podia tirar nada de prático para o quotidiano da vida cristã.

Um poema de Eugénio Beirão para este domingo


“FINJO QUE SOU POETA”

Finjo que sou poeta
e construo flores de palavras
que uso na lapela.
Mas poeta eu não sou.
Assomo apenas à janela
a contemplar os astros;
e com luminosos traços
ensaio dizer o deslumbramento.

Eugénio Beirão

In Os Dias Férteis

Marcelo



«É pena que o país não revele mais orgulho pela excelente imagem que o nosso presidente da República deu ao mundo, na sua intervenção na Websummit. Interrogo-me sobre os Estados em que o respetivo titular seria capaz de ter uma prestação idêntica.

E eu não votei nele, note-se!»


Nota: Faço minhas as palavras acertadas do ex-embaixador e excelente cronista,  na minha ótica. 

Dia de São Martinho


A tradição manda que a 11 de novembro de cada ano se celebre o Dia de São Martinho, o santo que partilhou a sua capa com um mendigo. Seria, como sempre nesta época, cá pelo ocidente, a altura das temperaturas baixas, vento e chuva. No fundo, pretende-se homenagear a nossa disponibilidade para olhar os que, a nosso lado, sofrem as agruras do tempo. 
A tradição também nos manda comer castanhas assadas, o que se fará entre nós, com gosto. Sabem bem e quanto mais quentinhas, melhor. Regadas, naturalmente, com jeropiga ou bebida semelhante. 
Cá para nós, que ninguém nos ouve, as melhores castanhas são as assadas pelos assadores ambulante, que em Aveiro têm lugar cativo nas pontes ou por ali à volta. 
Bom apetite, que não deve faltar, e bom proveito. São os meus votos.

F. M.

Notas:

1. São Martinho nasceu na Panónia cerca do ano 316, de pais pagãos. Depois de receber o Baptismo e de renunciar à carreira militar, fundou um mosteiro em Ligugé (França), onde levou vida monástica sob a direcção de S. Hilário. Foi depois ordenado sacerdote e, mais tarde, eleito bispo de Tours. Foi modelo insigne de bom pastor; fundou outros mosteiros, dedicou-se à formação do clero e à evangelização dos pobres. Morreu no ano 397.

Da Liturgia das Horas

 2. Provérbios

Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho
No dia de S. Martinho, castanhas, pão e vinho.
No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o vinho.
Dia de S. Martinho, fura o teu pipinho.
Pelo S. Martinho, todo o mosto é bom vinho
Veräo de São Martinho säo três dias e mais um bocadinho.
Vindima em outubro que o São Martinho to dirá
Pelo São Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.

sábado, 10 de novembro de 2018

Boa vindima e bom vinho

Anselmo Borges

1. Há um texto famoso do Papa Pio X (foi canonizado) que exprime bem o que a Igreja não é nem pode ser. Mas foi esse o modelo que tantos, contra a vontade de Jesus e até contra a consciência democrática, quiseram impor, incluindo Pio X: "A Igreja é, por natureza, uma sociedade desigual. É uma sociedade composta por uma dupla ordem de pessoas: os pastores e o rebanho, os que têm um posto nos diferentes graus da hierarquia e a multidão (plebs) dos fiéis. As categorias são de tal modo diferentes umas das outras que só na hierarquia residem a autoridade e o direito necessário para mover e dirigir os membros para o fim da sociedade, enquanto a multidão não tem outro dever senão o de aceitar ser governada e cumprir com submissão as ordens dos seus pastores." (na Encíclica Vehementer Nos).
Este é o modelo de uma Igreja desigual e hierárquica, desembocando numa hierarcocracia, "o domínio absoluto de uma casta de celibatários - reais ou em muitos casos fictícios - sobre toda a Igreja", como escreveu Victorino Pérez Prieto.
Jesus, ao contrário, tinha dito: "Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós faça-se o servo de todos. Pois também eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos."

2. Durante o passado mês de Outubro, de 3 a 28, esteve reunido em Roma o Sínodo dos Bispos sobre os jovens e, durante os debates e agora no documento final, mostra-se uma vontade real de mudança. Nesse documento, lê-se expressamente que o Sínodo quer que se avance para uma "Igreja participativa e co-responsável". Participaram 267 padres sinodais de todo o mundo, 49 auditores, 23 peritos e 30 jovens, também de todo o mundo. Estes jovens não votaram, mas puderam exprimir-se e até apoiaram ruidosamente algumas afirmações - um deles até terá perguntado ao Papa se podiam dar uma assobiadela no caso de total discordância, ao que Francisco respondeu: a mim podeis fazê-lo, a eles é melhor não. Escreveram uma carta ao Papa, declarando: "As novas ideias precisam de espaço e tu deste-no-lo."