sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O drama dos fogos florestais



Em Portugal, os verões não são apenas épocas de lazer, praias, campo, descontração e preparação para um novo ano de trabalho. São, quase sempre, épocas de fogos florestais, que destroem tudo o que encontram à sua frente, sem dó nem piedade. As altas temperaturas, alimentadas pelo calor sufocante e pelos chãos de folhas ressequidas, qual pólvora à beira da explosão que tudo mata, não perdoam nada. Nem vegetação, nem casas, nem pessoas e seus bens, nem animais. Tudo fica em cinza. 
As mortes de bombeiros, os soldados da paz e apaixonados pela solidariedade fraterna, sem nada esperarem em troca, fazem-nos pensar nos dramas que os fogos provocam e na incapacidade das nossas sociedades para encontrarem soluções de prevenção que minimizem o sofrimento das populações e a destruição da nossa riqueza florestal.
Nesta hora de luto pelos bombeiros falecidos, pelos bombeiros que combatem até à exaustão, pelas pessoas que se veem de um momento para o outro sem nada, mas também de tanta gente que direta e indiretamente apoia os que sofrem, importa reclamar, com urgência, soluções mais eficazes para erradicar, ano após ano, esta calamidade nacional. Os Bombeiros precisam da nossa colaboração? Então não olhemos para o lado.

Fernando Martins


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Papa Francisco







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Torreira de passagem

Todos os anos, durante o período de férias, que para nós podemos dizer que são todos os dias, por enquanto, impomos a nós próprios uma visita à Torreira, praia de tantas boas memórias. Com os nossos filhos, por lá vivemos momentos inesquecíveis, com ponto de partida e de chegada em Pardilhó. Este ano, porém, ficámos um pouco desiludidos por não podermos apreciar o burburinho próprio dos bons dias de praia. O tempo até estava razoável, mas no areal escasseavam as barracas com veraneantes. Turistas também não vimos muitos.
Como positivo, apreciámos o Monte Branco, limpo, airoso, sereno. Num bar com esplanada voltada para a nossa ria saboreámos um bolo regional, bebemos uma água fresca e tomámos um café, tudo servido com esmerada atenção. E contemplámos o barco que deslizava ao sabor da brisa na mansa laguna. Pouca gente, é certo, mas deu para recordar momentos doutrora em que os nossos filhos chapinhavam na beira-ria na tentativa de aprender a dar as primeiras braçadas.
O almoço, num restaurante perto do mar e já nosso conhecido (Restaurante Avenida Praia), foi outro momento digno de registo, ou não fosse o robalo assado na brasa, com os competentes acompanhantes, uma delícia para o nosso palato. Dizem as regras que perto do mar não devemos pedir carne, porque peixe fresquíssimo a pular das redes para a cozinha só na borda d'água se encontra.
Depois ainda demos um salto à praia do Areínho, já no concelho de Ovar. Passagem rápida por Torrão do Lameiro, com as suas quintas, e aí está a praia, desta feita sem vivalma. Bar e restaurante quase às moscas, ambiente circundante abandonado... uma tristeza. Mas a vida é assim... Enquanto umas zonas de lazer se desenvolvem, atraindo multidões, outras morrem sem glória. Mas pode ser que a praia do Areinho volte ao que era. Assim os responsáveis saibam e queiram fazê-la reviver

O sonho da democracia



«Não falta quem aponte os outros para acusar e condenar, desviando, assim, a atenção de si próprio. Um dia, que pode não demorar muito, os acusadores dão em acusados e os juízes em réus. Nos tempos, ainda pouco longos da vida do país democrático, já assistimos a tudo isto: um dia gente válida e noutro dia pouco menos que canalhas…»

António Marcelino

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Martin Luther King

28 de Agosto de 2013


“I have a dream!”

Passam, hoje, 50 anos sobre o célebre discurso que Martin Luther King Jr proferiu sobre os direitos civis dos negros e pelo fim do racismo, nos Estados Unidos da América. Evoca-se este momento histórico na luta pela igualdade racial.
A 28 de agosto de 1963, tinha eu apenas treze anos de idade, Luther King discursava perante 250 mil ativistas no Memorial a Lincoln, em Washington, um acontecimento que serviu de bandeira na luta pela igualdade racial a nível mundial. O Nobel da Paz foi assassinado cinco anos mais tarde, no auge do combate pelos direitos civis da população negra, em 1968, tendo já eu, a memória do acontecimento.
Cinquenta anos depois, a efeméride é assinalada por um presidente negro, o que constitui um grande avanço na conquista da igualdade, mas o filho mais velho de Luther King diz que o sonho “ainda está por cumprir”, usando como referência o recente caso do homicídio do jovem Trayvon Martin.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Fim é o princípio

Marcador com expressão


O Marnoto Gafanhão — 5

Um texto póstumo de Ângelo Ribau



Sal de "pedra" fina



Agora, por cerca de três meses, será sempre, todos os dias, uma repetição do que se fará a partir de depois de amanhã, terça-feira.

Hoje, segunda-feira, o tempo continua bom, com sol. A marinha “pegará macia”, o que quer dizer que o primeiro sal a ser colhido, será de “pedra” fina.
Logo que a moira aqueceu, o marnoto e o moço mais velho, pessoas experientes, pegam nos galhos e vão “bulir” (mexer a moira), misturando-a, para que toda aqueça ao mesmo tempo.
Quando o tempo se mantém sereno, sem vento, esta operação tem de ser repetida, à tarde, agora não para misturar a moira mas para quebrar as “peles” (uma camada finíssima de sal que se forma à superfície, quase como farinha, e que serve para temperar as saladas) que, por falta de vento, se acumularam à superfície. Autorizados pelo marnoto, os moços mais novos aproveitavam esse sal que depois vendiam a quem lho encomendava.
Passados dois dias, após a botadela, chegou a altura de começar a colher o resultado de tanto trabalho.
A marinha era dividida em três mãos (três partes, na vertical), o que quer dizer que só passados quatro dias a primeira-mão voltaria a ser rida.
Os meios eram quebrados (o sal era puxado com um galho dos lados dos meios para o centro dos mesmos —  para os vieiros) e daí, era rido (arrastado com a rasoila para o tabuleiro do sal onde ficava a escorrer). Quando todos os meios estavam ridos, puxava-se todo o sal para cima do tabuleiro que, ficando fora do contacto com a moira, escorria mais facilmente tornando-se mais leve, o que facilitava a dura tarefa de o transportar para cima da eira.

A “Novazinha das Canas” ia finalmente “estrelar” (pôr o primeiro sal em cima das eiras)… Os primeiros marnotos faziam-no com certa vaidade, pois era sinal de que tinham trabalhado bem na preparação da marinha… 
A redura (quantidade de sal colhido) neste dia era pequena. Mesmo assim, lá foi a primeira canastra de sal para cima da eira!
— Estrelámos! — Diz o Ti Marendeiro.
Merendeiro, o moço mais velho, teve a honra de carregar com a primeira canastra…
Enquanto púnhamos as canastras a secar, depois de lavadas no esteiro, olhamos em volta.
— Só as “Cortes de Baixo e a de Cima”, que são mais “valentes”, estrelaram antes de  nós! — Diz o Ti Marendeiro, mostrando satisfação.

Não tardariam oito dias que todas as marinhas estivessem “a sal”, e então a vista da Ria seria maravilhosa, com todos aqueles montículos. Um sonho, mas um sonho em que o Tónio nunca pensara colaborar como efetivo, só nas férias… Enfim, a vida tinha-lhe reservado destas surpresas. E não seria a única. 

Começou a época do sal, a mais difícil e trabalhosa das marinhas.
Era levantar cedo, pegar no cesto com o “tacho” - normalmente um tacho com “caldo” uma sopa consistente para o pequeno-almoço, e um mais pequeno com o “conduto”, que juntamente com um pedaço de broa serviria de almoço - preparado pela mãe, que para tal se tinha de levantar cerca das cinco horas da madrugada.
Chegados à casa do João Banca, era pegar na vela da bateira que aí ficava todas as noites, na jarra da água que todos os dias era cheia - era impossível esquecer a água no ambiente salgado onde se trabalhava. Um moço com a vela ao ombro, outro com a jarra, e íamos para a bateira. Chegados, cada um tomava o seu lugar. Dois, um a cada remo. O marnoto ao leme e os restantes sentados no bordo da bateira, abriam os cestos e comiam a primeira refeição (a mais consistente do dia).
— Vá, toca a comer depressa que os camaradas que vão ao remo “tamem” têm de comer antes de chegarmos à marinha, que hoje lá não falta trabalho!
Chegados, os cestos da comida eram pendurados em cruzetas existentes no intervalo, onde corria sempre água, o que evitava que a comida fosse atacada pelas formigas que abundavam nas marinhas de sal.

E começava a faina.
Ugalhos e rasoilas ao ombros e lá íamos nós para a “mão” onde era para colher o sal. Eram cinquenta meios que teriam de ser colhidos naquele dia. Cada um daria cerca de três canastras de sal.
O Tonio ia rendo e pensando: “Mais ou menos três canastras por meio, vezes cinquenta meios, dá cento e cinquenta canastras, a dividir por três (os moços que transportavam o sal para a eira), dá a cada um cinquenta canastras… cinquenta vezes do tabuleiro até à eira… em média cinquenta metros do tabuleiro à eira, metade carregado com cerca de sessenta quilos de sal, e no retorno com a canastra vazia...”
— Anda-me com essas mãos rapaz, senão adormeces! —  Grita lá de longe o marnoto.