domingo, 15 de abril de 2012

A MÚSICA AJUDA OU ATRAPALHA?

CRÓNICA DE BENTO DOMINGUES NO PÚBLICO DE HOJE



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Da Oração


Em O Profeta, de Khalil Gibran



Não vos posso ensinar a orar por palavras. 
Deus não ouve as vossas palavras a não ser quando Ele próprio as murmura através dos vossos lábios. 
E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas. 
Mas vós que nascestes nas montanhas e nas florestas e nos mares, encontrareis a oração nos vossos corações, e se escutardes na quietude da noite, ouvi-los-eis dizer em silêncio: 
«Nosso Deus, que sois o nosso eu alado, é a vossa vontade em nós que quer. 
E o vosso desejo em nós que é desejado. 
É a vossa vontade para que tornemos as nossas noites que são vossas, em dias que são igualmente vossos. 
Não vos podemos pedir, pois conheceis os nossos desejos antes de nós próprios nascermos, vós sois o nosso desejo, e em dar-nos mais de vós, dais-vos todo.»

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 286


PITADAS DE SAL – 16 



A FAUNA DAS MARINHAS: 
PEIXES E OUTROS ANIMAIS 

Caríssima/o: 

Quando na conversa vem à baila “as marinhas”, para além do sal, logo se pensa em “enguias”; e tem a sua lógica. Sem muito esforço, todos recordamos cenas reais tal como a que pintou João Pereira de Lemos: 

«A caminho das Pirâmides, pelo Canal de Aveiro, deparámos com um espectáculo insólito. Os marnotos, que também são pescadores por arte e ofício, tinham aberto as “bombas” do viveiro para apanharem o peixe, montando uma rede. Robalos, tainhas e solhas, ao serem arrastados pela força da água, ficaram no saco do botirão ou caixilho, mas as enguias foram ficando no fundo até ao último fio de água, enfiando-se na lama. 
Então um homem, munido de uma foice com o gume cegado, e como quem corta a lama em fatias, com golpes certeiros e violentos, arrancava as enguias da lama, projectando-as pelo ar a longa distância, parecendo gravetos contorcendo-se no ar. Aí a uns quinze metros, dois homens segurando cestos de duas asas, redondos como os de ir a erva, esperavam as enguias vindas pelo ar como quem espera uma dádiva do céu, sem contudo deixarem de andar às correrias de um lado para o outro para as apanharem sem tocarem de novo a lama e limos. Junto com as enguias vinham pedaços de lama negra, que se colava ao corpo, deixando-os pintalgados e caricatos! 
É um espectáculo que proporciona gargalhadas a todos os presentes. servindo de gáudio e proveito.» [A Ria de Aveiro – um olhar resvés, p. 102] 

As marinhas sempre foram “viveiros de enguias”...

sábado, 14 de abril de 2012

POESIA PARA ESTE TEMPO

Um poema de José Luís Tavares, por sugestão do caderno Economia do EXPRESSO




«Apesar da ignorância da rota desses navios
que descem o tejo, da mulher que nos subúrbios
os vê passar tão rente à sua mágoa,
da moça tímida espiando o mundo
da janela que em breve o escuro virá selar,

ficam bem os sinos esvoaçando sobre a tarde
de inverno em que buscas a justa palavra
e não vê deus a tua aflição: o que cala,
o que finge, o que mente — agreste destino
que te cabe, tingido pelo clarão da dúvida.

Mas ficam bem, ficam bem as meretrizes
de rápido volteio, as matronas alvoroçando-se
para o chá, o aplicado médio funcionário
calculando o produto interno bruto, o amoroso
pagando diária corveia de soluços, os altos
dignatários recebendo honras e tributos.

Sobretudo fica bem a mulher gorda espremendo-se
num ginásio desfeita em suor e penitência.
Mas também ficam bem o contrafactor vigiado
pela lei, o usurário de sebo nos fundilhos,
o proxeneta de olhar felino e os desabrigados
desta rua (embora sobre eles caia o duro
gume do inverno, deles é o reino dos céus).

Ficam bem os poetas pobres que padecem
todo dia a fome da beleza, os críticos
impotentes ficam muito bem, os pretos desta praça
que são alegres e passam bem, o cívico
que ganha o dia de olho no parquímetro
fica bem apesar dos amáveis impropérios.

Ficam ainda bem os canídeos que defecam
nos passeios e as madames que os trazem
pelas trelas sempre prontas a pregar civilidades
a esses que falam alto e têm modos estrangeiros.
Mas que fiquem bem as raparigas de cabeças ocas
que têm como único tesouro a juventude
para que não seja a lamentação
o tributo dos vindouros dias.

Só eu não fico bem, senhor meu,
que aguardo toda a tarde pelo poema
que não vem, embora navios subam
o tejo aulindo através do nevoeiro.
Mas tudo está bem quando é o deus
quem assim o quer.»



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O RESSUSCITADO ESTÁ NO MEIO DE NÓS!

Reflexão de Georgino Rocha



A experiência que os discípulos vivem no primeiro dia da semana ao cair da tarde transforma radicalmente a sua vida. É única e converte-se em fator decisivo para todos os que estão chamados à fé cristã radicada na Páscoa de Jesus. É envolvente da pessoa toda, dos seus sentimentos mais básicos, das suas convicções mais elevadas. É o embrião da comunidade eclesial que, ao longo dos tempos, se vai organizar e configurar de modos vários.
O medo surge como o pólo aglutinador destes sentimentos. O grupo procura segurança por “medo dos judeus”. Fecha-se em casa e tranca as portas. A conversa certamente versaria os últimos acontecimentos referentes a Jesus Nazareno que haviam seguido como Rabi. E como tudo tinha findado na condenação à morte. Eliminado este, que lhes restaria? Talvez o pior. As buscas acabariam por descobrir onde se encontravam. Havia que acautelar-se. Procuram refúgio e proteção. Vivem da saudade que intensifica o medo. Deixam morrer as réstias de esperança que a memória de alguns ditos do Mestre teimavam, em vão, manter vivas. Também os ecos da visita das mulheres ao sepulcro vazio lhes suscitam estímulos de expectativa. Mas nada superava a ameaça pendente nem a angústia do isolamento.

Google evoca Robert Doisneau


«Robert Doisneau (14 de abril de 1912 - 1º de abril de 1994) foi um famoso fotógrafo nascido na cidade de Gentilly, Val-de-Marne, na França. Era um apaixonado por fotografias de rua, registrando a vida social das pessoas que viviam em Paris e em seus arredores, mas também trabalhou em fotografias para publicações em revistas, assim como a famosa fotografia "O Beijo do Hotel de Ville" (Paris, 1950).»

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O Acordo Ortográfico: inútil e prejudicial

Texto de Anselmo Borges no DN


Escola vem do grego scholê, que significa ócio. Mas este ócio nada tem a ver com preguiça. Do que se trata é do tempo livre para o exercício da liberdade do pensar, do aprender e do tornar-se cidadão enquanto ser humano pleno e íntegro, numa sociedade livre. Sempre pensei - uma das heranças do meu pai - que a escola deve ser o lugar da saída da ignorância e da opressão, em ordem ao progresso e à realização plena do ser humano. Lugar de educação e formação.
A palavra educação vem do latim: educare (alimentar) e educere (fazer sair, dar à luz, elevar). Cá está: alimentar e fazer com que cada um/a venha à luz, realizando as suas potencialidades, segundo o preceito paradoxal de Píndaro: "Homem, torna-te no que és": o Homem já nasce Homem, mas tem de tornar-se plenamente humano.
Aí está a razão da educação como o trabalho mais humano e humanizador, de tal modo que o filósofo F. Savater pôde justamente considerar os professores "a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático". Porque o que é próprio do Homem não é tanto aprender como "aprender de outros homens, ser ensinado por eles".