quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Se não formos capazes de ser inteligentes e colaboradores, a crise será cada vez maior


Clamor dos pobres numa sociedade de ricos? 
António Marcelino 

«A situação económica é grave, muitas pessoas, por vezes as mais débeis, estão fortemente atingidas, a classe média, que antes vivia com um certo desafogo, embora com regras, encontra-se em derrapagem. Os problemas multiplicam-se, tanto mais quando não se enfrentam em conjunto. Quem tem de decidir encontra-se ante forças antagónicas que ou apoiam ou nada encontram de válido nas decisões anunciadas ou tomadas.» 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

POPULAÇÃO PORTUGUESA VIVE SITUAÇÃO DE POBREZA

Vasco Lagarto, Ana Margarida, Jorge Ferreira, Maria José Santana,
 Luís Loureiro, Rogério Cação, João Seabra e Sandra Araújo

“O papel da comunicação social na criação de representações, atitudes e comportamentos face à pobreza e exclusão social” foi tema de debate, ontem, no salão nobre da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, promovido pela EAPN Portugal – Rede Europeia Anti-Pobreza. A ação foi organizada em parceria com a Amnistia Internacional e com o Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do ISEG, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que ocorreu no passado dia 17 deste mês. Na mesa redonda, moderada por Sandra Araújo, diretora executiva da EAPN, participaram Ana Margarida Almeida (Universidade de Aveiro), João Seabra (ligado a cidadãos em situação de vulnerabilidade social), Jorge Pires Ferreira (Correio do Vouga), Luís Miguel Loureiro (RTP), Maria José Santana (Diário de Aveiro), Rogério Cação (FENACERCI) e Vasco Lagarto (Rádio Terra Nova). 
Esta iniciativa teve como objetivos contribuir para a informação e sensibilização do público em geral sobre a natureza dos fenómenos da pobreza e da exclusão social, destinando-se a profissionais e voluntários que desenvolvem a sua atividade junto das comunidades locais, bem como da comunicação social e da população em geral. 


Quase metade da população portuguesa vive em situação de pobreza e essa realidade tende a aumentar nos próximos cinco anos, revelou Sandra Araújo, citando um estudo com data de 2009 sobre a perceção da pobreza em Portugal. E sublinhou que o inquérito não se enganou, como hoje está provado, sendo as causas atribuídas ao Governo, ao Estado e à UE. Curiosamente, os inquiridos não se autorresponsabilizaram pela pobreza no nosso país.
Considerando que se apontaram como fatores desta situação a falta de água, luz e quarto de banho em suas casas, quando é certo que o conceito de pobreza diverge de país para país e de continente para continente, foi realçado que cabe à comunicação social (CS) a denúncia daquelas realidades, fundamental na luta pela erradicação da pobreza, na certeza de que todos temos, referiu Sandra Araújo, de nos assumir como atores estratégicos nessa luta, até porque «é possível fazer muito com pouco dinheiro». 
Vasco Lagarto defendeu a ideia de que a questão em análise não deve ser abordada apenas pela aposta na erradicação da pobreza, mas sim pela criação da riqueza, tendo em consideração que se não pode repartir o que não há. Afirmou que «a ajuda que está a chegar a África mata a criatividade e impede o crescimento». Adiantou a moderadora que «crescimento económico não significa menos pobreza». 

Por sua vez, Rogério Cação disse que é urgente «distribuir melhor a riqueza que temos» e salientou que somos, realmente, «uma sociedade geradora de desigualdades, porque não vivemos numa sociedade em que a regra seja a igualdade». Denunciou que «há negócios à volta da pobreza» e referiu que «não é pobre quem quer», frisando que «a riqueza não é hereditária, mas que se herda». 
Luís Loureiro esclareceu que os media tornam visível o que existe no espaço público, mas logo afirmou que «há tanta luz no espaço visível que até já nem vemos nada». Denunciou «a batalha» que existe entre os diversos órgãos da comunicação social (OCS) que espalham ideias, tornando-se urgente fazer mais «alguma coisa»; se não se faz mais, é porque na CS «tempo é dinheiro». 
Jorge Pires Ferreira denunciou que a TV reproduz o que «durante o dia vem nos jornais», duvidando da influência que as televisões exercem sobre as pessoas. Referiu a necessidade de se «apresentarem casos positivos» e divulgarem «boas ideias». 
Maria José Santana considerou as limitações de tempo e de espaço em alguma CS, enquanto pediu mais «diálogo entre mediadores sociais», diálogo «nem sempre fácil». E para João Seabra, o papel dos media é preponderante na luta contra a pobreza. Adiantou, nessa linha, que o trabalho rápido que é feito pelos OCS «nem sempre é correto», o que contribui para «influenciar negativamente a opinião pública». 
Ana Margarida Almeida disse que o papel da CS «num futuro próximo pode ser radicalmente diferente», já que as gerações que estão a caminho «terão comportamentos também radicalmente diferentes». Adiantou que os efeitos da CS nas populações «não se podem medir em dois ou três anos», havendo «défice na formação da pessoa humana» a vários níveis. 
Sandra Araújo frisou ainda que o combate à pobreza não pode apoiar-se «só a partir da ação mais assistencialista e mais caritativa», sendo imperioso «dar condições às pessoas para a participação [na construção do seu futuro] sem as formatarmos». E partindo do princípio de que os media «não mudam nada», admitiu que «podem influenciar». 
Para Vasco Lagarto, «ganhámos liberdade [com o 25 de Abril], mas não perdemos a dependência do Estado». E para Jorge Ferreira, os órgãos de CS «são servidores da sociedade, mas não podem preocupar-se apenas com a erradicação da pobreza». 

Fernando Martins 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A hipocrisia política

Eu imagino quão difícil deve ser governar um país. Quantas vezes, por razões de Estado, é preciso conviver ou lidar com ditadores e tiranos. Foi assim com Khadafi e com outros, ao longo dos tempos. O petróleo e o gás natural, a par de outros interesses empresariais, levaram governantes de todos os quadrantes a receber o ditador líbio, com palmadinhas nas costas e sorrisos de orelha a  orelha. Mas quando o tirano caiu em desgraça, não faltaram antigos amigos a denunciar as suas atrocidades e a pedir a sua derrota. Razões de Estado, dizem. Ou melhor: passar para o outro lado da barricada, porque o petróleo continua por lá em abundância.A hipocrisia sempre me chocou, esteja ela onde estiver. Neste caso, o melhor seria os políticos ficarem caladinhos...

domingo, 23 de outubro de 2011

Novo livro de José Rodrigues dos Santos questiona imagem de Jesus transmitida pela Igreja





«O escritor e jornalista português José Rodrigues dos Santos apresentou hoje em Lisboa o seu novo livro, intitulado ‘O último segredo’, afirmando que os textos do Novo Testamento, os mais importantes do cristianismo, incluem várias “fraudes”.
Aos jornalistas, o escritor declarou que muita desta informação está fechada em “ambiente académico”, que não é do conhecimento do grande público.
José Rodrigues dos Santos acredita ter apresentado “uma imagem diferente de quem era Jesus” com base nos textos da própria Bíblia.
“Nem um único autor do Novo Testamento conheceu Jesus pessoalmente”, disse, no lançamento da obra, perante mais de 500 pessoas, antes de acrescentar que os Evangelhos “são textos anónimos”.
No livro, o autor diz basear-se em “informações históricas genuínas” para apresentar uma obra em que procura “a verdadeira identidade de Jesus Cristo”, fruto de uma investigação que o levou, por exemplo, a Jerusalém.
Esta tarde, Rodrigues dos Santos assinalou que o seu livro “não é um fim, um ponto final, mas um ponto de partida, misturando ficção com não ficção, permitindo aos leitores irem investigar”.»
Ler mais aqui e aqui

Ainda Santa Joana Princesa, Padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro



Texto de Monsenhor João Gaspar

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Princesa Santa Joana há trezentos anos venerada num precioso mausoléu


No dia 23 de Outubro de 1771, os restos mortais de Santa Joana foram trasladados para o túmulo desenhado por João Antunes. Monsenhor João Gaspar assinala com este texto o tricentenário de um acontecimento marcante na então vila de Aveiro


Em 1595-1597 e em 1599-1602, exerceu o cargo de prioresa do Mosteiro de Jesus, em Aveiro, a madre Inês de Jesus ou de Noronha, senhora activa, disciplinadora, renovadora e empreendedora. A sua nobreza de carácter não lhe consentiu que os despojos da Princesa D. Joana continuassem guardados em modestíssima osteoteca, embora patente no meio do coro de baixo, para onde haviam sido transferidos à volta do ano de 1578, depois de exumados da campa rasa. Por 1602-1603, o caixão interior, que continha as relíquias, foi encerrado noutro cenotáfio, de forma sepulcral, de maior grandeza e artifício, além do material ser mais condigno – ébano, coberto e ornado por marchetes de bronze dourado. O ataúde, ostentando o brasão da Princesa, foi colocado no mesmo lugar, agora sobre um supedâneo de pedra de Outil, e cercado de grades torneadas, com semelhantes ornatos de bronze.
Decorrido pouco mais de um século, após um minucioso processo canónico nas respectivas instâncias da Santa Sé, o papa Inocêncio XII, em 04 de Abril de 1693, mandou publicar o breve da beatificação equipolente “Sacrosancti Apostolatus cura”; por tal documento foi oficialmente confirmado o culto imemorial de Santa Joana. Na sequência do faustoso acontecimento, logo sucederam celebrações festivas em vários lugares. O Paço Real, em Lisboa, por ordem de el-rei D. Pedro II, foi dos primeiros a dar exemplo. Em Junho, no Mosteiro de Jesus, D. João de Melo, bispo de Coimbra, que apelidava a Princesa como a “sua Santa”, celebrou Missa pontifical, prometendo participar nas solenidades da beatificação, que viriam a realizar-se no ano seguinte de 1694. E assim aconteceu. De Coimbra vieram a Aveiro os cantores da Capela da Catedral para o oitavário, que culminou, em 12 de Maio, com a faustosa celebração da Eucaristia e com uma imponente procissão; nesta foi levada a primeira imagem da Santa Princesa, em bela escultura em madeira, para a qual se levantou um sumptuoso altar lateral no interior da igreja de Jesus.

PÚBLICO: Crónica de Bento Domingues

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Poema para este domingo



O funcionário cansado
 
   A noite trocou-me os sonhos e as mãos
   dispersou-me os amigos
   tenho o coração confundido e a rua é estreita
   estreita em cada passo
   e as casas engolem-nos
   sumimo-nos
   estou num quarto só num quarto só
   com os sonhos trocados
   com toda a vida às avessas a arder num quarto só
 
   Sou um funcionário apagado
   um funcionário triste
   a minha alma não acompanha a minha mão
   Débito e Crédito Débito e Crédito
   a minha alma não dança com os números
   tento escondê-la envergonhado
   o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
   e debitou-me na minha conta de empregado
   Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
   Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
   Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
   
   Soletro velhas palavras generosas
   Flor rapariga amigo menino
   irmão beijo namorada
   mãe estrela música
   São as palavras cruzadas do meu sonho
   palavras soterradas na prisão da minha vida
   isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
   num quarto só
    
António Ramos Rosa,
in "Viagem através duma nebulosa", 1960

 Nota: Sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO

Reflexão para este domingo


O AMOR, ACIMA DE TUDO

Georgino Rocha

A esplanada do Templo é palco de novo episódio. Os responsáveis dos grupos influentes mexem-se com grande persistência e à-vontade. Aproveitam-se de questões progressivamente mais delicadas e comprometedoras. Depois da política, vem a religião. Agora é o sistema e a hierarquia das verdades que se buscam. Assunto sério, se não houvesse uma segunda intenção: a de experimentar Jesus, a de ver como se posiciona face ao complicado conjunto legal - os peritos apontam 613 mandamentos –, a de saber a qual deles que dá prioridade, que parecer tem sobre o núcleo central da vida dos judeus fiéis à Lei recebida de Moisés.
Os novos contendores pertencem aos fariseus, alegres por saberem que os saduceus se tinham remetido ao silêncio, após a disputa sobre a ressurreição. Era a sua vez e querem “marcar pontos” aproveitando-a com mestria porque têm reduzida influência junto do povo – virão a aumentá-la progressivamente e chegam a constituir a classe preponderante por volta do ano 70 da nossa era, após a destruição do Templo.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 260

DE BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM – 43 



HISTÓRIA COM BICICLETA DENTRO 

Caríssima/o: 

Curioso este escrito de António Mota, no Diário de Notícias, e que nos transporta mais uma vez ao reino dos galináceos sem nos afastarmos das bicicletas: 

«Quem é que não te uma história para contar com uma bicicleta metida nesse enredo? 
Eu tenho várias. E para não perdermos tempo ponho-te já à disposição uma. Assim: 
O meu pai tinha uma bicicleta, roda vinte e oito, muito antiga, muito pesada e muito resistente. Nesse tempo ter uma bicicleta era um luxo. Para ir à feira da vila não era preciso fazer a caminhada. Só era necessário pôr os pés nos pedais e fazê-los dar voltas. E nos sítios em que os caminhos eram muito a pique ou estavam cheios de pedregulhos ou buracos andava-se com ela pela mão. 
E eu fartava-me de namorar a bicicleta, mas o meu pai, por causa das tentações, mal chegava a casa, a primeira coisa que fazia era esvaziar o ar que havia nos pneus. E eu suspirava.